ESPÉCIE: Rolieiro (Coracias garrulus)

Esta espécie ainda não tem um tópico próprio por isso abro este.

Tenho a sensação de que esta espécie tem vindo a desaparecer de uma grande parte do país.

Quando comecei a ver aves, há quase 30 anos, tive oportunidade de ver rolieiros em diversas regiões do país de onde hoje parecem estar praticamente ausentes.

Vejamos a situação em cada região:

- Trás-os-Montes - vi um rolieiro em parada nupcial em Miranda do Douro em Maio de 1992, no ebird não aparece qualquer outro registo na região nordeste em época de reprodução;
- Beira Alta - observei a espécie perto de Figueira de Castelo Rodrigo em Junho de 1996, também nesta região (província) a espécie deve ter desaparecido, dado que no ebird não existe mais nenhum registo em época de reprodução;
- Beira Baixa - nunca vi rolieiros na Beira Baixa; tanto quanto sei costumavam aparecer na campina de Idanha, mas no ebird não há qualquer registo de Primavera;
- Alto Alentejo (distrito de Portalegre) - em tempos vi a espécie em diversos concelhos da região, nomeadamente Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e Elvas (era especialmente numeroso neste último concelho), mas há muitos anos que não vejo nenhum e a situação no ebird é elucidativa: apenas um registo de Primavera em 2016, nenhum em 2015 ou 2014, um em 2013, outro em 2012 mas nenhum em 2011 ou 2010. Será que a espécie ainda nidifica no distrito?
- Alentejo Central (distrito de Évora) - o concelho de Mourão era aquele onde o rolieiro era mais frequente, mas esta situação parece estar a alterar-se para pior. No ebird há apenas um registo em 2015 (já em Julho) e não há quaisquer registos em 2014, 2013, 2012, 2011 ou 2010;
- Baixo Alentejo (distrito de Beja) - parece ser a única região onde subsiste uma população "saudável" de rolieiros, no entanto é de assinalar o seu desaparecimento da margem esquerda do Guadiana, onde ocorria no passado.

Ou seja, em menos de três décadas passámos de uma situação em que havia roleiros a nidificar em todos (?) os distritos do interior para uma situação em que a espécie se encontra confinada a uma única região (Castro Verde e arredores).

Observei 1 casal em Maio em Vila Fernando- Elvas

Nos 80, aparentemente, ainda nidificou nesta área semi-aberta entre focos densos de árvores, várzeas e pousios/baldios secos ácidos e arenosos ( https://www.google.pt/maps/@39.4156907,-9.1662867,300m/data=!3m1!1e3 ) sendo o ninho num dos plátanos junto à estrada (da foz) para onde a ave se dirigia de bico cheio.
Julgo que esta espécie depende da grande abundância (por espaço, no seu limitado território) de insectos de determinado tipo e dimensões, situação que não ocorre hoje ou locais favoráveis são já raros. Contrariamente aos cucos por exemplo, que se especializam noutros tipos de invertebrados ou suas larvas e ainda são adaptáveis e ocorrem (insectos e cucos), por variados biotopos.
Portanto, se ocorreu na minha zona, foi provavelmente uma das primeiras insectívoras diurnas estivais a desaparecer, muito antes mesmo dos Oriolus ou Lanius sp. estivais e independentemente de qq alteração posterior na paisagem.
Nessa época, ainda se ouviam Oriolus e Lanius senator a cada "esquina", estes últimos também algo dependentes de insectos "secos" (em termos de habitat) mas menos dependente dos de dimensões superiores.
Desapareceram daqui aves e espécies de insectos, até por exemplo o conhecido "abundante" Melolontha papposa (e presa importante para aves grandes), muitos destes talvez alguns endémicos por descrever...

Aves cuja abundância local ou mesmo recente presença contraria uma tendência de declínio, como por exemplo os Noitibós e abelharucos, não "contam" no aspecto referido pois os progenitores destas não se limitam ao território do ninho, alternando-se por vasto e diverso "mapa" para obter recursos.

Viva caríssimos!

Julgo que esta informação será interessante sobretudo para a malta do litoral norte: - nos dias 18 e 19AGO2016 foi observado um Rolieiro (Coracias garrulus) na agra entre a zona urbana e as dunas de Belinho, Esposende.

Não sendo fácil explicar a melhor maneira de chegar ao local, junto envio uma imagem assinalando área em que a ave tem estado “estacionada”.

Cumprimentos

Jorge Araújo da Silva

Permanecem 4/5 espécimes em S.Martinho do Porto (acesso reservado) desde o fim de semana de 20 de Agosto. É um prazer ve-los a deliciarem-se com a bicharada nas bordaduras do milho.

Anda igualmente por lá um número significativo de Sisões (+/-20).

Cumprimentos,
RMB

Mais um Rolieiro entre Porto Covo e Vila nova de Milfontes a 28/08/2016

Local não constante no Atlas. Infelizmente não registei qualquer evidência de nidificação.
38°18'53.41"N
 8°40'56.35"W

pode ser passagem, quando foi Agostinho?

A semana passada. Dois dias seguidos no mesmo local. Encontrava-o sempre na linha telefónica junto à estrada.

Em Maio são frequentes as observações de aves em passagem.

Não é de agora, mas há 4 anos, em Setembro de 2014, "aterraram" dois rolieiros no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Estiveram lá cerca de duas semanas.

https://ebird.org/view/checklist/S35000665

Gonçalo Elias escreveu:Em Maio são frequentes as observações de aves em passagem.

Obrigado, pode ser esse o caso. Por curiosidade, se fosse amostragem para o Atlas seria "possível" ou sem qualquer evidência?
"Ave observada em possível habitat de nidificação durante a época de reprodução."

Essa é uma questão de dífícil resposta pois há muita subjectividade na avalição do que é um habitat possível.

No atlas anterior (1999-2005) foi considerado que todos os registos de narceja efectuados no sul do país, e por isso o mapa de nidificação aparece cheio de bolinhas dispersas pelo sul do território. Em minha opinião esta foi uma opção decisão errada, já que temos invernantes até meados de Abril e o mapa vai dar uma ideia incorrecta da área de distribuição desta espécie. E há outros casos de invernantes ou aves de passagem em que isto aconteceu. Mas cada caso deve ser visto separadamente, há espécies que de repente colonizam zonas onde não era conhecida a sua ocorrência no passado. Num caso como este que descreves, eu sou da opinião que o procedimento mais correcto (nem sempre exequível) seria acompanhar o local durante uma ou duas semanas para ver se a ave se mantinha por lá, de modo a excluir a possibilidade de passagem.

Obrigado, nunca participei, talvez para o próximo já esteja "competente".