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Pisco-de-cauda-azul, nova espécie de ave registada para Portugal

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Pisco-de-cauda-azul, nova espécie de ave registada para Portugal Empty Pisco-de-cauda-azul, nova espécie de ave registada para Portugal

Mensagem por jheitor Seg Set 17, 2012 3:50 am

Pisco-de-cauda-azul, nova espécie de ave registada para Portugal

17 de Setembro de 2012 | 07:53

fonte: barlavento.pt

António Marques é um reconhecido ornitólogo algarvio, com 30 anos de experiência, e responsável pelos trabalhos de monitorização da estação de anilhagem de aves de Loulé (Fonte da Benémola). Para além deste seu trabalho de anilhagem no campo, também recolhe anilhas de aves que eventualmente morrem atropeladas ou encontradas por alguém

Foi numa desta situação que «me foi entregue uma anilha com a respetiva patinha e que tinha a inscrição Suécia», referiu António Marques. Encontrar aves com anilhas estrangeiras não é raro, por isso António Marques, tratou de entrar em contacto com as autoridades suecas para saber a espécie a que pertencia a pata.

Na sequência do pedido, as informações que chegaram do país nórdico, «foi que a ave foi anilhada em Utklippan, no Sul da Suécia, em 15 de outubro de 2011, e encontrada morta em Boliqueime 96 dias depois, em 19 de Janeiro de 2012, a 2724 quilómetros de distância. Nada de incomum para um pássaro. A grande surpresa veio ao saber a identidade da ave - era um macho juvenil de pisco-de-cauda-azul (Tarsiger cyanurus), uma espécie nunca antes observada em Portugal».

Na verdade, até para a Suécia esta espécie é rara – só 32 indivíduos foram anilhados neste país, mas este número está rapidamente a aumentar à medida que a distribuição desta espécie se está a expandir para a Europa – esta é uma ave tipicamente asiática, ocorrendo mais raramente nos países do Norte da Europa (Finlândia e parte europeia da Rússia). No Inverno deslocam-se para o Sul do continente asiático, pelo que a ave algarvia se desviou muito da rota normal!

«A descoberta do pisco-de-cauda-azul no Algarve é importante por várias razões. Para além de ser um registo, mesmo que acidental, de uma espécie antes desconhecida em Portugal, é um importante testemunho da forma como as rotas migratórias das aves evoluem ao longo do tempo. Por enquanto, animais como este que venham parar nestes lados da Europa não deverão ter muito sucesso, mas quem sabe, num futuro longínquo, com o aumento progressivo da espécie no continente europeu, talvez o pisco-de-cauda-azul venha a estabelecer-se como uma ave portuguesa» – considerou o ornitólogo algarvio.

Segundo António Marques, «encontrar uma espécie nova de ave para Portugal não é algo que aconteça com frequência. Parece muito pouco provável que as autoridades suecas se tenham enganado na identificação do espécime, mas com uma pata apenas ficaria sempre uma réstia de dúvidas quanto à identidade da ave, sobretudo num achado tão singular».

Por esta razão Júlio Neto, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, tratou de realizar as análises genéticas necessárias para confirmar a identidade da ave. Retirada uma amostra de DNA da pata da ave, Júlio Neto utilizou técnicas de biologia molecular para estudar um gene específico (designado ND2) para o qual já era conhecida a sequência para o pisco-de-cauda-azul. Feitas as comparações entre a amostra da ave do António Marques e a sequência do gene ND2 já conhecida de um destes piscos asiáticos, o investigador conseguiu concluir que eram idênticas, ou seja, ambas as amostras pertencem a aves da mesma espécie.

Quando passeamos nos nossos parques, quando vamos à praia, sempre que estamos no nosso quintal, e ouvimos a grande diversidade de espécies de aves a cantar, raras são as vezes que nos apercebemos que uma grande parte delas são animais migratórios, que anualmente realizam grandes movimentos entre os locais onde se reproduzem e os refúgios de inverno.

Estes pequenos animais dispõe de um grande arsenal de «tecnologias» naturais de navegação que lhes permitem deslocarem-se na época e orientação corretas, e cuja eficácia quase envergonham os nossos sofisticados sistemas de GPS: dependendo da espécie, têm capacidade de se orientarem pelas estrelas, pelo campo magnético da Terra ou pela posição do Sol, com cada ave a utilizar estes mecanismos de acordo com a sua programação genética e com a experiência adquirida de migrações anteriores.

Embora cada espécie tenha uma ou outra rota preferencial, seguida pela grande maioria dos indivíduos, alguns acabam por se desviarem do caminho ideal, acabando em terras onde não é suposto os encontrarmos.

Graças à dedicação de algumas (poucas) pessoas em Portugal dedicadas à anilhagem de aves, muito se vai sabendo sobre a vida migratória. Pena é que, no caso do António Marques e seus companheiros de jornada, tenham que prescindir do descanso semanal para se dedicar à notável causa, tudo à sua custa sem apoio algum.

http://www.barlavento.pt/index.php/noticia?id=53945
jheitor
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