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E a natureza aqui tão perto, na cidade de Almada

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Mensagem por Gonçalo Elias Qua Dez 26, 2012 11:44 am

E a natureza aqui tão perto, na cidade de Almada
Data: 26 de Dezembro de 2012
Fonte: publico.pt

Livro de Ricardo Guerreiro é um álbum de fotografias da vida selvagem às portas, senão mesmo dentro, do espaço urbano. A cobra-de-ferradura, o golfinho-comum, o sapo-corredor são algumas das personagens.

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Guarda-rios no Parque da Paz, no FeijóRICARDO GUERREIRO

As fotografias do guarda-rios, uma ave de aspecto exótico pelo seu azul metálico, surpreendem. “Ah, que lindo azul!”, dizem a Ricardo Guerreiro, fotógrafo da natureza, quando vêem as imagens. “É de onde? Da América do Sul?” Mas quando ele responde que é possível encontrar esta ave aqui muito perto, no concelho de Almada, onde cresceu e vive, o espanto é evidente.

Ricardo Guerreiro, 35 anos, que frequentou a licenciatura de física mas que se dedica à ornitologia e à fotografia da natureza, observou o guarda-rios no Parque da Paz, um local onde as pessoas costumam ir passear e correr no Feijó. “O guarda-rios encontra-se na Europa e Ásia”, explica o fotógrafo, que já obteve o segundo lugar no concurso Europe’s Countryside Alive, em 2005, e em 2010 foi finalista do concurso internacional de fotografia de aves marinhas Save Our Birds da associação Birdlife da África do Sul.

Agora quis revelar a toda a gente a natureza de Almada, num projecto iniciado em Abril do ano passado, e o resultado é o livro Almada Natureza Revelada, de 224 páginas e capa dura, à venda por 15 euros, que teve o apoio da câmara municipal e da Sciaena — Associação de Ciências Marinhas e Cooperação. “Como fotógrafo da natureza freelancer, o que conheço bem são portas fechadas. Tive a sorte de ter uma associação e um município que contribuiu para este projecto numa altura em que só se fala da crise”, sublinha. “A minha ideia é que as pessoas apreciem o que lhes é próximo e, muitas vezes, banal. Esta beleza não salta logo aos olhos.”

Como muitos de nós vivem na cidade, onde passamos grande parte da vida, Ricardo Guerreiro quis mostrar que não é apenas em África, no Alasca ou noutros sítios exóticos ou na televisão que se pode ver vida selvagem. “No sítio onde vivo há muitas coisas para ver. Podemos desfrutar aqui da natureza. Às vezes, o ser humano não presta atenção ao que está próximo.”

Não havia nenhum livro fotográfico sobre a vida selvagem no concelho de Almada, sublinha o fotógrafo, deixando no entanto uma ressalva: “É essencialmente um álbum fotográfico, com um texto introdutório em cada capítulo. Não é um guia, nem faz um inventário.”

Que natureza aparece então no livro? Exemplos não faltam: a cobra-de-ferradura, captada no mesmo Parque da Paz e ainda nas Terras da Costa, na Costa da Caparica; o peneireiro e o falcão-peregrino a sobrevoarem o rio Tejo; o sapo-corredor e o sardão na Mata dos Medos, também na Costa da Caparica; ou a salamandra-de-pintas-amarelas no Seminário de São Paulo, em Almada.

Ou ainda o golfinho-comum ao largo da Praia do Rei, novamente na Costa da Caparica, ou as cagarras, aves marinhas mais associadas à Madeira e aos Açores: “São comuns na nossa costa, embora desconhecidas de muitas pessoas.”

Nos jardins urbanos, o número de cogumelos surpreendeu-o. “No mesmo dia, cheguei a contar oito a dez espécies diferentes.”

As fotografias da vida selvagem de Almada também chegaram a Lisboa, à estação de metro da Baixa-Chiado, onde até 30 de Dezembro as imagens que resultaram deste projecto podem ser apreciadas.

Nestas aventuras atrás da natureza, o fotógrafo acabou por acumular algumas peripécias dignas de nota. E há logo uma que lhe vem à cabeça: estava um dia na Cova do Vapor, na Trafaria, onde tinha descoberto ninhos de uma ave, o borrelho-de-coleira-interrompida, nas dunas perto da praia. Deixou a câmara fotográfica perto de um dos ninhos e afastou-se, com binóculos e um disparador pronto a carregar, à espera da chegada da fêmea. Um pescador avistou-o entretanto e quis saber o que andava ele a fazer de binóculos: “Ó amigo, o que está a fazer a olhar para as dunas?”

Receando revelar que havia ali borrelhos-de-coleira-interrompida e o que estava realmente a fazer, Ricardo Guerreiro foi vago. “Estou a tirar fotografias, têm de ser à distância...”

Não ficou sem uma resposta do pescador, no mínimo desconcertante. “Tem de fotografar o borrelho, que faz o ninho nas dunas. E tem de ir mostrar isso à câmara municipal, para haver protecção dos animais!”

Tudo porque estas aves, quando deixam os ninhos e há agitação à sua volta, ficam imóveis na praia como estratégia de protecção. O problema é que, não estando alertado para este comportamento, quem vai com máquinas limpar as praias acaba assim por matá-las inadvertidamente.

“O pescador deu-me duas lições: uma por saber estas coisas sobre os animais; e outra por ir contra a minha ideia pré-concebida.”
Gonçalo Elias
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