Em curso processo de extermínio da cegonha-branca no litoral norte

Viva caríssimos!

Há mais de 10 anos que registo a nidificação de Ciconia ciconia no litoral norte, mais precisamente na quadrícula UTM NF 29 (no limite dos concelhos de Esposende e Barcelos). A fidelidade do primeiro casal ao local inicialmente selecionado levou, inclusive, a EDP a instalar um aro de suporte ao ninho num dos seus postes AT. Certamente, não equacionaram, então, que poderia estar ali o núcleo fundador de uma comunidade prolífera. Agora que aquela empresa já conta com vários ninhos desta espécie nas suas estruturas de distribuição de energia na região de entre Douro e Minho, assumiu, com todo o despudor, a necessidade de combate à expansão destas aves para o noroeste do nosso território. Não alheada desta ação, a comunidade de observadores de aves minhotos já iniciou o debate. E eu próprio já encetei diligências junto das autoridades locais que, além de me parecerem pouco interessadas no assunto, demonstraram sobretudo uma grande impreparação para me esclarecem sobre o sucedido.

Assim, dirigi-me ao ICNF:

« …/… O processo de expansão da cegonha-branca (Ciconia ciconia) no território continental nacional trouxe alguns casais desta espécie ao litoral norte, designadamente aos vales do Lima, do Cávado e do Ave. Tal ocorrência tem sido muito saudada pela crescente comunidade de observadores de aves da região que agora se lamenta pela ação da EDP que além de remover os ninhos existentes em Vila do Conde junto à ponte da A28, em Cristelo – Barcelos e em Barqueiros/Rio Tinto – entre os concelhos de Barcelos e Esposende, instalaram nos respectivos postes os habituais dispositivos anti-nidificação. Conhecendo o designado programa «Cegonha-branca» da EDP, compreendendo os seus propósitos e considerando que me refiro a três casais muito fiéis aos locais de reprodução, venho pelo presente meio solicitar a Vªs. Exªs. que me esclareçam se aquela empresa já vos indicou os locais definidos para a instalação das plataformas de substituição e quais as datas em que prevêem tal procedimento. …/… »

E a resposta foi célere e categórica:

« ... informamos que após contacto com a EDP fomos informados de que no caso dos ninhos que refere não está prevista a instalação de qualquer plataforma de nidificação alternativa após a remoção, devidamente autorizada pelo ICNF. Em qualquer dos casos apenas serão colocados sistemas dissuasores de nidificação. Informamos ainda que de acordo com os Procedimentos da EDP Distribuição para remoção / transferência de ninhos de cegonha-branca existentes em apoios da rede eléctrica, aprovados pelo ICNF, a colocação de plataformas de nidificação alternativas será efectuada sempre que se reconheça a inexistência de condições adequadas de nidificação para a espécie, nas imediações do apoio de rede tais como árvores, arvoredos ou outras estruturas adequadas à construção dos ninhos.

Marina Sequeira
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P.
Divisão de Gestão de Espécies da Fauna e da Flora »


Percebi. Compreendi. E até entendi. Mas dispensem-me dos programas (destinados ao fracasso) de reintrodução de espécies icónicas onde elas nunca existiram e que mais não passam do que tentativas claras de greenwashing!

Cumprimentos

Jorge

PS: Não tenho a mínima dúvida de que nesta batalha, a elétrica terá de instalar os chamados “sistemas dissuasores” em cada um dos milhares de postes da região, sob pena de a perder irremediavelmente.

Já escrevi isto no FB e volto a referir aqui: é pena que isto tenha acontecido exactamente antes do censo nacional que terá lugar em 2014... corre-se o risco de esses distritos ficarem em branco novamente...

Gonçalo Elias escreveu:Já escrevi isto no FB e volto a referir aqui: é pena que isto tenha acontecido exactamente antes do censo nacional que terá lugar em 2014... corre-se o risco de esses distritos ficarem em branco novamente...

Também repito: não me parece ... não me parece...

ICNF escreveu:Procedimentos da EDP Distribuição para remoção / transferência de ninhos de cegonha-branca existentes em apoios da rede eléctrica, aprovados pelo ICNF, a colocação de plataformas de nidificação alternativas será efectuada sempre que se reconheça a inexistência de condições adequadas de nidificação para a espécie, nas imediações do apoio de rede tais como árvores, arvoredos ou outras estruturas adequadas à construção dos ninhos.

ICNF escreveu:informamos que após contacto com a EDP fomos informados de que no caso dos ninhos que refere não está prevista a instalação de qualquer plataforma de nidificação alternativa após a remoção, devidamente autorizada pelo ICNF

Na verdade o que sabem as cegonhas? Está claro que os técnicos do ICNF, sabem mais do que elas e decidiram que não há condições viáveis para se reproduzirem ali!  

Em Tougues à beira do Ave o procedimento foi o mesmo-. É triste mesmo triste

Meus amigos,

Eu que já ando nisto há uns aninhos, ainda sou do tempo que ninho tirado correspondia a colocar um alternativo, muitas vezes mediante colocação de um apoio dedicado. Com o aumento da população e a alteração da preferência das cegonhas pelos postes (em detrimento das árvores e estruturas humanas) o número de ninhos em estruturas da rede eléctrica aumentou imenso (recomendo que vejam o livro do Gonlçalo Rosa que aborda esta questão ou o relatório do último censo nacional, elaborado por ele) e como tal passou a ser "um problema". Deixou de ser necessário o fornecimento de plataformas alternativas, o que é compreensível, pois era um encargo brutal para uma espécie que já não está em risco. Infelizmente não se teve em conta nesta decisão o panorama regional, sendo que em algumas áreas, e dado o reduzido número de casais, talvez se justificasse a criação de alternativas, ou pelo, menos, a inviabilização antecipada dos postes como locais de nidificação, para que depois não tivessem que ser removidos os poucos ninhos existentes.

Mas voltando a este caso concreto: como o Jorge muito bem referiu, estas empresas hoje em dia tem uma enorme preocupação com a imagem e fazem muito para que esta se mantenha imaculada. Basta relembrar o caso das 18 ou mais cegonhas que foram electrocutadas este Outono na envolvente do aterro de Corroios (situação levantada pelo Jó num poste anterior) as aves foram prontamente removidas pela empresa, mal se começou a aventar a possibilidade de o assunto se tornar demasiado publico. Creio que inclusivé já foram realizadas correcções nessas linhas para minimizar o problema (em Portimão foram logo após 2 notícias a relatar incêndios causados pelas cegonhas electrocutadas).
Como tal a minha sugestão é que se escreva directamente à empresa a mostrar o descontentamento pelo procedimento, inclusivé a ameaçar mudar de fornecedor. Outra acção que seguramente terá efeito é chamar a comunicação social. Nada como uma boa reportagem na televisão ou num diário para chamar a atenção. Por outro lado envolver as ONGA poderá ser outra forma de presão, caso estas se queiram meter nisso.
Pela minha parte estou disposto a ajudar no que for preciso.

Abraços

Tens razão Carlos, no caso aqui da envolvente do aterro Moita/Palmela e conforme promessa do responsavel sul da EDP aquando de uma conversa que tive com ele in loco, prometeu e cumpriu. De (parece-me) nove apoios "matadores", oito sofreram alterações profundas e julgo que já não irão provocar problemas quando as cegonhas novas começarem a sair do ninho pro ano. Só foi deixado um e ele proprio ja me tinha dito que iria ser um problema alterar aquele.