ESPÉCIE: Pega-azul (Cyanopica cooki)

É um facto conhecido desde há várias décadas que a distribuição da pega-azul apresenta uma descontinuidade na metade norte do Alentejo (grande parte dos distritos de Évora e Portalegre). De facto, a pega-azul tem no país dois núcleos populacionais importantes - um no Alto Douro, na Beira interior e no extremo norte do Alentejo e outro na Estremadura, no Ribatejo, no Baixo Alentejo e no Algarve -, mas na zona de transição entre dois núcleos a espécie ocorre em densidades muito baixas e parece estar mesmo ausente de certas áreas.

Esta descontinuidade já tinha sido documentada nos atlas de nidificantes, e é posta agora ainda mais em evidência através do e-bird, cujo mapa aqui reproduzo. Repare-se no vazio de observações que existe na parte norte do Alentejo.

Olá Gonçalo,

realmente a distribuição da espécie tem essa descontinuidade. Parece-me é que não é tão marcada como se vê no mapa, provavelmente algumas das ausências são resultado de menos observadores e do número de registos disponíveis no e-bird nesta altura. Existem vários registos na zona da Ponte de Sôr, na faixa "Alter do chão - Mora", Vimieiro, Borba/Vila Viçosa e Arronches que compõem um pouco mais o mapa, mas ainda assim tem realmente algumas "falhas" na distribuição.

Abraço
Carlos

Olá Carlos,

Concordo que o mapa do e-bird poderá estar incompleto, mas creio que o número de observadores não explica tudo, isto porque para diversas outras espécies (desde logo a pega-rabuda, mas também os picanços, ou o abelharuco, por exemplo) não existe tal descontinuidade. Existe portanto informação no e-bird para essas regiões.

Independentemente do grau de cobertura, parece-me inquestionável que a pega-azul ocorre em densidades baixas nessa região. Aliás, o mapa de abundância do novo atlas evidencia bem as diferenças entre as várias regiões (e no caso do atlas a cobertura foi bem mais uniforme). As razões para esta escassez permanecem um mistério.

olá,

eu concordo contigo, acho que é uma questão interessante e valerá a pena tentar perceber o porquê das densidades serem menores nesta região. O mapa que mostras reflecte muito bem o padrão da espécie, só achei importante dar mais uns dados pois menores densidades e ausência são coisas diferentes. Os dados que existem para aquela zona, evidênciam uma presença da espécie mais esparsa, interrompendo a distribuição que tem à escala nacional.

Abraço
Carlos

A propósito de descontinuidades na distribuição da pega-azul... a população dos concelhos de Sintra e Cascais parece estar completamente isolada.

Para já sim, e para além de isolada é minúscula.

Sim, mas pelo que ouvi dizer nos Oitavos andam lá sempre

Gonçalo Elias escreveu:Sim, mas pelo que ouvi dizer nos Oitavos andam lá sempre

Sim, basta colocar comida para gatos e elas aparecem

José Frade escreveu:

Gonçalo Elias escreveu:Sim, mas pelo que ouvi dizer nos Oitavos andam lá sempre

Sim, basta colocar comida para gatos e elas aparecem

Bem, se calhar são fatelas

José Frade escreveu:

Gonçalo Elias escreveu:Sim, mas pelo que ouvi dizer nos Oitavos andam lá sempre

Sim, basta colocar comida para gatos e elas aparecem

Tão típico.

Gostam pouco gosta...

Bem, no Arneiro (Nisa) existem centenas!

Miguel Berkemeier escreveu:Bem, no Arneiro (Nisa) existem centenas!

Sim, o extremo norte do Alto Alentejo e a parte mais meridional da Beira Baixa tem densidades muito elevadas, no entanto em certas zonas do Alentejo as densidades são muito baixas, como por exemplo nos concelhos de Gavião, Avis, Fronteira ou Estremoz.

O mapa que coloquei no início deste tópico foi à vida por isso aqui fica outro actualizado

Gonçalo Elias escreveu:O mapa que coloquei no início deste tópico foi à vida por isso aqui fica outro actualizado

A densidade de charnecos a Nordeste de Évora (Estremoz, Redondo, Borba, Vila Viçosa e Elvas) é de facto muito inferior a outras zonas da região. Não conheço suficientemente bem os concelhos de Arraiolos, Sousel e Fronteira mas acho que a situação é semelhante. No entanto esta falta de registos também está muito influenciada pela falta de observadores nestes locais. No concelho do Alandroal são cada vez mais comuns e tenho-os visto com maior regularidade, já em Vila Viçosa são bem mais raros e a  "clareira" da imagem só não é contínua nesta zona porque tenho dado alguma cobertura ao concelho. Acho que a espécie se tem expandido na zona, mas de uma forma muito mais lenta.. Alguma explicação para isso?

JP Gonçalves escreveu:esta falta de registos também está muito influenciada pela falta de observadores nestes locais.

Isso pode ser parte do problema, mas não explica tudo porque noutras espécies comuns não se nota esta falha. Alguns exemplos: Corvus corone, Lanius meridionalis, Turdus merula, Merops apiaster ou Upupa epops, só para referir algumas espécies comuns, de dimensão semelhante e razoavelmente conspícuas têm todos imensos registos nas áreas onde, aparentemente, não há Cyanopica, como facilmente se confirma pesquisando no eBird.

JP Gonçalves escreveu:No concelho do Alandroal são cada vez mais comuns e tenho-os visto com maior regularidade, já em Vila Viçosa são bem mais raros e a  "clareira" da imagem só não é contínua nesta zona porque tenho dado alguma cobertura ao concelho. Acho que a espécie se tem expandido na zona, mas de uma forma muito mais lenta.. Alguma explicação para isso?

É possível que de facto se esteja a expandir na zona (também se expandiu noutras regiões do país). As explicações para estas ausências nem sempre são óbvias, os bichos têm as suas preferências e há sítios que são evitados mesmo quando, aparentemente, reúnem condições.

Saliento também que a ausência ou escassez da pega-azul nessa parte do Alentjo já é conhecida desde há várias décadas. Deixo-te aqui a imagem da página dedicada a essa espécie no primeiro atlas de nidificantes (trabalhos de campo 1978 a 1984, publicado em 1989). Repara no buracão que existe nessa região e vê o que diz o texto. E nota que mesmo nessa altura já era sugerido que a espécie se estava a expandir.

E agora o mapa do segundo atlas.

Nos distritos de Évora e Portalegre a coisa aparece um pouco mais composta mas continua a ter muitas falhas, sugerindo que nessa região a espécie ocorre em densidades muito baixas.
Note-se que não é um problema de falta de cobertura, pois todas as quadrículas tiveram pelo menos 12 horas de visitas sistemáticas. Deve mesmo ter a ver com a escassez da espécie nessa zona.

Por comparação com o primeiro atlas, é também de notar a expansão da espécie no nordeste (onde anteriormente não fora registada), aparecendo agora em toda a extensão do Douro Internacional e mais acima, até à zona de Vimioso.

Nas minhas recentes prospecções na área do PNSSM pude constatar que a pega-azul teve uma importante expansão nesta região, ocorrendo agora em áreas serranas, onde não tinha sido detectada durante o atlas de aves realizado há 20 anos.