LOCAL: Paul da Barroca (Alcochete)

Nos últimos Noticiários Ornitológicos têm sido apresentadas bastantes observações do Paul da Barroca. Dado que nem toda a gente conhece este paul, deixo aqui uma foto do dito.



Para mais informações e outras fotos do Paul da Barroca, ver aqui

Gonçalo

Ha' uma pergunta que anda comigo ja' ha' algum tempo e que e':

O que e' que a Barroca tem?

(e diria Carmen Miranda)

Tem fartura de Ibis, tem
Tem Papa-ratos tambem
Tem Tecelao como ningueeem!

Bom, mas um pouco mais a serio, o que e' que a Barroca tem para ter a maior concentracao de exoticas por metro quadrado do pais, e abundancia de raridades ou especies escassas? E' o facto de ser muito visitada por observadores de aves e estar a um tirinho de Lisboa? E' o facto de um avicultor deixar escapar mais especies que buracos tem a A8? E' um alinhamento astral que a todos escapa? E' o lagostim-vermelho que ali e mais mimoso? E' tudo isto junto? E havera' ai pelo pais mais Barrocas a espera do observador atento?

Quem quiser ensaiar o bitaite mais ou menos fundamentado, nao se acanhe e diga de sua justica!

Olá Pedro,

A verdadeira razão não sei, mas há um aspecto que gostaria de salientar: na Barroca encontras uma das melhores manchas e mais extensas manchas de caniço da região de Lisboa. Este factor, aliado possivelmente a um adequado grau de salinidade da água, poderão ajudar a criar condições óptimas para a colonização por parte das exóticas.

Para sustentar esta tese, comparemos as condições da Barroca com as de outros locais. Começo pelo vizinho estuário do Tejo e aqui nota que já não tens grandes caniçais (há bastantes valas com caniço nas lezírias da Ponta da Erva e alguns caniçais de dimensão razoável entre o Mouchão das Garças e a zona de 38 Moios, mas provavelmente todos eles em águas demasiado salinas). No estuário do Sado a maioria dos caniçais desapareceu e os que restam estão provavelmente em comunicação com o estuário, logo com um teor salino elevado. No Algarve acontece a mesma coisa e na Lagoa de Santo André é igual. Em todos estes locais não tens exóticas a criar ou tens populações muito reduzidas.

Mas há outros locais que atraem exóticas em bom número. Um deles é o Paul da Tornada, também ele suficientemente afastado do mar para não sofrer em demasia a influência da salinidade excessiva e este local alberga muitos tecelões.

Refiram-se igualmente os pauis da várzea de Loures, com destaque para o paul das Caniceiras, onde também já foram observadas diversas espécies de exóticas, algumas delas a nidificar. Também este paul se situa em água doce, pois não tem comunicação directa com o estuário.

Em suma, embora desconhecendo se é este o factor determinante, parece-me haver aqui alguma correlação entre a existência de caniçais em águas não salobras e a colonização por parte de espécies exóticas. Isso ajudaria a explicar a grande concentração de exóticas na zonas Barroca.

1 abraço,
Gonçalo

No Baixo Mondego a zona onde existe a maior concentração de exóticas é no estuário, mais propriamente na Insua, numa zona de influencia de marés com elevada salinidade.

Mas tambem todos sabem que à semelhança dos ornitólogos da região da Beira Litoral, que têm as suas manias, registadas noutras salas deste fórum, a passarada afina pelo mesmo diapasão

Olá Paulo,

É interessante esse aspecto. Quais as exóticas representadas no local a que fazes referência?

1 abr
Gonçalo

Euplectes afer
Euplectes orix
Ploceus melanocephalus (ou melanocephala, não tenho presente o nome correcto)
Ploceus cucullatus

A presença deve-se com bastante grau de certeza à existência de Typha (a de folha mais estreita) que é utilizada na construção de ninhos. Esta espécie de planta é dificil encontrar na quantidade aqui existente noutros pontos do Baixo Mondego. Todos os ninhos encontrados encontravam-se construidos com este material.

Abraço

Paulo

Hoje de manhã estive na Barroca e aquilo estava animado: montes de íbis-pretas, um papa-ratos, várias garças-brancas-grandes (umas 5) - nem estava à espera de encontrar esta bicharada toda nesta altura do ano. Isto para além do garçame habitual e dos proverbiais "coelheiros".

O caso do papa-ratos na Barroca é especialmente enigmático: a espécie anda por lá o ano todo, nem se percebe muito bem se é residente no local...

Muitas e variadas rapinas, incluindo Elanus, A. pennata e C. aeruginosus.

Limícolas também havia bastantes, nomeadamente maçarico-das-rochas e m. bique bique (pousados um ao lado do outro, permitindo excelente comparação) e uns quantos pernas-verdes. E depois montes de andorinhas de várias espécies, assim como guarda-rios "a dar cum pau".

Em termos de exóticas havia muitos bispos-de-coroa-amarela em traje de cerimónia e também bastantes "tamagochis", em contrapartida apenas um telecão-de-cabeça-preta.

Em suma, quantidade e qualidade.

vou lá muita vez quer de manhã ao fim de semana quer de tarde durante a semana
os papa ratos são assiduos por lá,.. na ribeira a chegar as primeiras casas habitualmente os gorazes, de manhã peneireiros comuns e cinzentos nos postes á beira da estara são comuns alem do que referiste, Gonçalo, muitos patos garças brancas pequenas, grandes e reais, tambem ja vi por lá garçotes, gralhas, poupas,.....

gorazes não vi, peneireiros comuns havia uma data deles, assim como gralhas e uma poupa.

o garçote não se mostrou.

Observações de hoje na Barroca:

- Ardeola ralloides, 2 (os bichos do costume no sítio do costume)
- Plegadis falcinellus, 200 a 250
- Platalea leucorodia, 10
- Phoenicopterus roseus, 20
- Circaetus gallicus
- Aquila pennata, 1 forma clara
- Gallinago gallinago, 5

Eu também fui lá ontem, mas mais cedo provavelmente, e estavam 7-8 Gorazes juvenis na ultima vala

Achei interessante o número elevado de Plegadis para esta época do ano (já no ano passado vi muitas a 31 de Agosto); havia muitas aves anilhadas, são provavelmente oriundas das colónias da Andaluzia.

Alguém sabe em que data começam a chegar as aves não nidificantes?

Hoje uma visita matinal à Barroca rendeu 46 espécies das quais destaco as seguintes:

• Nycticorax nycticorax, 1 adulto e 1 juvenil no sítio habitual dos Ardeolas (que hoje não se mostraram)
  Plegadis falcinellus, já vai sendo habitual
  Phoenicopterus roseus, ca. 10
  Accipiter nisus, 1
  Pandion haliaetus, 1
  Tetrax tetrax, 11 - primeira vez que observo esta espécie no local
  Pluvialis apricaria
  Remiz pendulinus
  

E claro os já clássicos

• Euplectes afer
  Ploceus melanocephalus
  Estrilda astrild
  
  

Hoje de manhã estive no paul da Barroca, uma visita que rendeu 49 espécies (este total é bastante elevado para um local tão reduzido).

As espécies mais interessantes:
Nycticorax nycticorax, vários a descansar nas árvores
Egretta alba, 1
Tringa erythropus, 2
Tringa totanus, 4
Tringa nebularia, 4
Tringa ochropus
Remiz pendulinus

Toda esta variedade de Tringas não é muito habitual neste sítio, embora não seja realmente surpreendente dada a proximidade ao estuário do Tejo.

Nos últimos tempos tenho notado uma redução do número de tecelões-de-cabeça-preta, será que estão em regressão (tal como outras espécies de exóticas) ou terão simplesmente um comportamento mais discreto nesta época do ano?

Penso que provavelmente devem ser mais discretos nesta época do ano, pois tive a mesma sensação o ano passado e nesta Primavera voltaram a aparecer em bom número e eram relativamente fáceis de observar. Mas não possuo outros dados que me permitam afirmar com certeza.
É de facto um local impressionante... muitas espécies num curto espaço

Gonçalo Elias escreveu:
Nos últimos tempos tenho notado uma redução do número de tecelões-de-cabeça-preta, será que estão em regressão (tal como outras espécies de exóticas) ou terão simplesmente um comportamento mais discreto nesta época do ano?

É possivel, eu tenho ideia de anteriormente ser mais fácil ve-los, mesmo na época de reprodução, do que actualmente, eu ainda tentei perceber se existe alguma tendência no eBird para esse local, e parece talvez haver, mas os dados são muito poucos para se concluir alguma coisa, mas talvez seja significativo que apesar do aumento de observadores a usar o eBird o numero de aves registadas seja menor de ano para ano? Ou correm tudo a X porque são exoticas?