Situação da Larus michahellis atlantis em Portugal Continental

A propósito desta foto, estive a ler o que diz o Klaus Malling Olsen sobre a distribuição das várias subespécies em Portugal e transcrevo para aqui o que já coloquei como comentário nessa foto:

No livro do Olsen diz o seguinte:
- L. m. michahellis para sul das Berlengas até golfo de Cádiz e Gibraltar
- L. m. 'lusitanius' para norte das Berlengas até ao país basco
- L. m. atlantis, Açores, provavelmente também Madeira, Canárias, costa atlântica entre o norte da Península Ibérica e Marrocos

Ou seja, eles sugerem que seja regular na costa continental...?

Viva,

Como podem falar assim com tanta certeza de subespécies?
Nesse livro tb fala da hibridação entre as espécies de gaivotas?
Devem a andar a fazer análises geneticas nos locais de nidificação, talvez.


Cump,

Julgo que essa classificação é para ser considerada "em progresso" (não sendo para ter como definitiva). Por exemplo, as aspas no lusitanius indicam que ele não sabe bem (nem ninguém...) o que é esse taxon (foi descrito de aves das Berlengas). Os limites entre os taxa de gaivotas não estão bem demarcados como estão aparentemente noutras aves, havendo hibridação com fartura. Penso que são tudo mais sugestões pessoais (que podem estar próximas da verdade) do que coisas para serem tidas como factos consumados.
Não percebo muito bem é o "provavelmente" na distribuição da atlantis. Na descrição original das atlantis foram incluidos, se não me falha a memória, 2 espécimes das Canárias (para além dos espécimes dos Açores) e por isso não compreendo muito bem a dúvida. São também as mesmas que criam nas Selvagens (embora aqui haja poucas, uns 20 casais).

O problema é que nos estudos que se fez foram sempre usadas aves de ambos os arquipélagos e inclusive das Berlengas e Marrocos.
Geneticamente é aceite que ssp. atlantis, é realmente diferente de ssp. michahellis, mas incluindo sempre aves de Portugal continental, contudo alguns autores defendem ssp. "lusitanius" para acosta continental Oeste.
Que eu saiba até agora nimguem pegou no problema, para tentar perceber o taxon de três fenotipos aparentemente diferentes:
- Southern Atlantis (Marrocos, Canárias e Madeira)
- Azorean Atlantis (Açores)
- Iberian Atlantis (Costa oeste de Portugal e Norte de Espanha)

Eu pensava que os exemplares tipo eram todos dos Açores, embora na descrição original acho que Dwight já mencionava a Madeira e costa Oeste Marroquina.Dwight, J, (1922), Description of a new race of the Lesser Black-backed Gull, from the Azores, Am. Mus. Novitates, 44: 1-2.

Os exemplares no artigo são dos Açores (8 machos, 6 fêmeas e 3 juvs) e 2 das Canárias (1 macho e 1 juv), fui agora confirmar. O espécime tipo é um macho colhido no Faial. É tão escuro o manto desses bichos que a designação original, para quem não sabe, era Larus fuscus atlantis.

Voltando a esta questão das lusitanius... há dados novos sobre a distribuição desta população?

Quer dizer, em Portugal supostamente teríamos lusitanius nas Berlengas (e nas cidades mais a norte) e michahellis no resto da Estremadura e no Algarve, mas será mesmo assim? Pergunto isto porque as Berlengas e a costa da Estremadura estão tão próximas que me parece improvável não haver aí misturas...

Não Gonçalo, tanto quanto sei só haverá fenótipo "lusitanius" em território nacional, embora haja com certeza uma variação clinal de Norte para Sul.

Sim Rui, mas não me fiz entender: de acordo com os dados / teorias actuais, quais os limites norte e sul dessa tal população? coincide com os limites do país?

Geneticamente a ssp. "lusitanius" não é reconhecida pois não foi encontrada variação genética significativa entre a pop. da costa oeste Ibérica da dos Açores ou já agora com as do mediterrâneo, embora já haja diferenças com as aves da madeira.
A ssp. "lusitanius" é descrita com base em fenótipo diferente de ssp. michahellis e ssp. atlantis, e terá os seus limites na costa norte de Espanha e na costa sul de Portugal ou mesmo na Andaluzia até Barbate/Cadiz.

Obrigado Rui.

Só uma pequena emenda porque parece-me que deixei a coisa não muito explicita. Geneticamente há diferenças entre as aves dos Açores e da costa Atlântica da Ibéria em relação ás do Mediterrâneo, não são é tão significativas quanto as apresentadas pelas aves da Madeira e da costa de Marrocos em relação a todas as outras populações, sobretudo às do Mediterrâneo.

Este assunto da biogeografia e das subespécies é muito interessante. Li há uns anos um livro em que era dado um exemplo de uma espécide de gaivota que à medida que vai variando a longitude vai tendo subespécies diferentes, mais ou menos nas mesmas latitudes do hemisfério norte.

recupero este tópico para esclarecer uma dúvida sobre as lusitanius:

RuiCaratao escreveu:A ssp. "lusitanius" é descrita com base em fenótipo diferente de ssp. michahellis e ssp. atlantis, e terá os seus limites na costa norte de Espanha e na costa sul de Portugal ou mesmo na Andaluzia até Barbate/Cadiz.

então isso quer dizer que o Olsen está mal no que se refere à distribuição das lusitanius?

Sim Gonçalo, a distribuição das "lusitanius" está digamos desatualizada no Olsen e pode fazer confusão a muitos. na verdade não se vêm diferenças significativas entre o Algarve e o norte do país.

Ok Rui estou esclarecido quanto a esta parte.

Mas já agora diz-me, por favor: sabes se as micaelas francesas ou de outras regiões fora da costa atlântica da P.I. aparecem muito por cá?

A grande maioria dos projectos com anilhas de côr é espanhol, e tens menos aves anilhadas à medida que caminhas para leste da distribuição, ainda assim: Croácia, Itália, Argélia, sérvia, Grécia, Bulgária...

A grande maioria das anilhas vistas na nossa costa são provenientes do sul de Espanha, mas também são observadas aves argelinas em movimentos dispersivos, ao contrário das nossas aves e da costa norte de Espanha que parecem ser mais sedentárias realizando movimentos curtos.