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Nove pessoas e um radar salvam as aves da morte certa em Sagres

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Mensagem por Paulo Alves Qui Nov 22, 2012 12:29 pm

Nove pessoas e um radar salvam as aves da morte certa em Sagres
Data: 22/11/2012
Fonte: publico.pt

Desde 2010, o parque eólico do Barão de São João, perto de Sagres, é vigiado durante o Outono. Quando as aves se aproximam, os aerogeradores param. Até agora, a medida tem funcionado

Vento é o que não falta em Sagres. E o biólogo Alexandre Leitão sabe bem do que se trata. Durante 108 dias por ano - de 15 de Agosto a 30 de Novembro -, Leitão e mais oito pessoas enfrentam-no praticamente do nascer ao pôr-do-sol. Passam o dia ao ar livre, de binóculos em punho, a vigiar o horizonte. A sua missão é evitar que as aves - sobretudo as grandes planadoras, como os grifos ou as águias - colidam contra os 25 aerogeradores de um parque eólico ali construído há três anos.

Estamos no Barão de São João, Lagos, onde a serra, dobrada numa sequência de montes e vales, desagua no planalto que conduz ao mar. A ponta de Sagres fica a cerca de 20 quilómetros de distância. Neste eixo, passam milhares de aves durante o Outono. É uma das mais importantes rotas migratórias do país. Mas também é um ponto ideal para se fazer do vento electricidade.

Há vários parques eólicos instalados na serra algarvia naquela região. No entanto, só o do Barão de São João é vigiado em permanência. Desde 2010 a empresa de consultoria ambiental Strix mantém aquele pequeno exército de vigilantes a postos para mandar parar os aerogeradores sempre que há risco de aproximação das aves.

Praticamente nenhuma escapa ao rastreio de um radar adaptado àquela função e que identifica tudo num raio de oito quilómetros. "É o instrumento mais forte que temos para a monitorização", afirma Alexandre Leitão. O segundo instrumento é humano: a vista. Há oito postos de vigia, na área do parque e num perímetro à sua volta. Uma nona pessoa está de guarda em Sagres.

No dia em que o PÚBLICO visitou o parque eólico, bastou que um bando de grifos levantasse voo para os lados de Sagres para que soasse o alarme. "Em segundos, eles metem-se aqui dentro do parque eólico", diz Leitão, antes de alertar a empresa Parque Eólico do Barlavento, a dona dos aerogeradores: "Estamos aqui com uma situação, vamos ter de parar todo o parque."

Os grifos que por ali passam nessa época vêm sobretudo da própria Península Ibérica e rumam em direcção a África, para o Inverno. Mas não é a partir de Sagres que atravessam o oceano. A principal rota migratória de aves planadoras na Europa passa pelo Bósforo, na Turquia. A segunda mais importante utiliza o estreito de Gibraltar.

Dar a Sagres é um acidente. As que ali chegam - cerca de cinco mil - são sobretudo aves juvenis, que estão a fazer a migração pela primeira vez e não conhecem o caminho. Quando se deparam com o largo mar, compreendem logo que não o podem vencer. "As aves planadoras não conseguem migrar a bater as asas sem parar", explica Ricardo Tomé, director científico da Strix. Necessitam de correntes ascendentes para se manterem a planar. "É como uma asa delta", exemplifica Tomé.

Impedidas de prosseguir, as aves andam às voltas entre Sagres e a serra, à procura do caminho. E é aí que a hipótese de passarem entre os aerogeradores é maior. Embora não seja uma espécie ameaçada, a possibilidade de morrerem muitos grifos é elevada. Ao mesmo tempo, outras aves planadoras em risco de extinção - como o abutre-preto ou a águia-real - aparecem muitas vezes misturadas com os bandos de grifos. "A morte de um ou dois indivíduos por ano já causa alguma mossa à população", diz Ricardo Tomé.

Os grifos e outros abutres têm tudo para dar de cabeça contra um aerogerador. São bichos que vêem muito bem para baixo e para cima, mas têm um grande ponto cego à frente. São também aves muito grandes, com até 2,5 metros de envergadura e sete quilos de peso, sem agilidade para manobras rápidas.

No parque do Barão de São João, nenhuma ave planadora morreu, desde que começou o trabalho de monitorização. Em 2011, o parque esteve parado durante 84 horas - 1% do ano. Como a monitorização era uma medida obrigatória para o licenciamento, as paragens já estavam desde o princípio previstas. "Está até abaixo do que esperávamos", afirma Luís Villa de Brito, responsável da Parque Eólico do Barlavento, empresa detida pela alemã E.O.N.

Quem observa os grifos a passarem pelo meio dos aerogeradores estanques, compreende o que significa aquela medida. Alexandre Leitão já viu um grifo apanhado noutro parque eólico. "Estava cortado ao meio, limpinho, como se tivesse sido com uma faca", recorda. "É um cenário bem desagradável".

http://www.publico.pt/portugal/jornal/nove-pessoas-e-um-radar-salvam-as-aves-da-morte-certa-em-sagres-25631222
Paulo Alves
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