Gaivotas mais atrevidas roubam peixe e pão aos mais distraídos

Gaivotas mais atrevidas roubam peixe e pão aos mais distraídos
Data: 10.07.2013
Fonte: porto24.pt / Lusa  


O pipilar das gaivotas ouve-se por todo o lado no centro do Porto.

São gaivotas e parecem bebés a gritar com fome no telhado do prédio verde azeitona junto à estação de metro da Trindade, no Porto, roubam sardinhas no Marquês e há ainda as mais ousadas que atacam clientes da Padaria Ribeiro.

O pipilar das gaivotas de pata amarela ouve-se em cada beco, rua, praça, praceta, avenida ou bairro do centro do Porto.

Os sons transportam turistas e população residente para uma qualquer praia paradisíaca, embora tudo não passe de uma ilusão auditiva.

“Nunca se viu tanta gaivota como nestes dias de calor”, disse Maria Alice Silva, de 61 anos, uma vítima de roubo de peixe pelas “bichas” gulosas que esperam que se distraia para lhe levar o peixe de uma banca que tem na Praça do Marquês de Pombal.

A crise “já chegou às gaivotas”, brinca, piscando os seus olhos azuis e justificando a abundância daquelas aves aquáticas com a “fome no mar” e com o facto de haver pessoas desleixadas que largam o lixo em sacos abertos na rua, transformando o ato num convite expresso ao ataque voraz das “bichas”, como Maria Alice gosta de as apelidar.

Os telhados da Praça dos Leões e da Praça Carlos Alberto também são alojamento fácil para aquelas aves. A esplanada de uma das padarias mais famosas da cidade é visitada amiúde por elas e há até clientes que fogem com medo, contou à Lusa Ana Maria, da Padaria Ribeiro, na Praça Guilherme Gomes Fernandes.

“Elas perderam a vergonha e atacam as pessoas para comer. Se for preciso até partem a loiça da esplanada”, refere.

Na Leitaria da Quinta do Paço, na mesma praça e conhecida pelos bolos éclairs, os ataques destemidos das gaivotas para sacar comida repetem-se também, principalmente se as pombas já por ali andarem, conta Tiago Silva, explicando que as gaivotas comem as pombas e voam para locais onde elas poisam.

Gaivotas da cidade
Em voos picados ou simplesmente a planar, as gaivotas e o seu pipilar vieram para ficar na cidade do Porto e há até quem diga que são gaivotas da cidade.

“Estas gaivotas já são da cidade. Já nascem cá no Porto e ficam a morar nos bairros”, sustenta Joaquim Silva, que confessa já ter sido atacado por uma gaivota mais endiabrada.

No Bairro Fernão Magalhães, no Bonfim, as gaivotas são também às dúzias, porque há muitos idosos que gostam de lhes dar pão, desabafa Fátima Veloso, desesperada por o seu carro ser todos os dias atacado pelos dejectos das gaivotas.

“É terrível”, diz, desconsolada, recordando o cheiro incomodativo.

Há cada vez mais gaivotas no miolo urbano das cidades costeiras como Lisboa, Porto, Peniche, Setúbal ou Portimão e o fenómeno está a aumentar com a actual vaga de calor, disse um especialista em ecologia de aves e director do Departamento de Conservação da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

O fenómeno das gaivotas viverem cada vez mais nas cidades costeiras regista-se há 5 ou 10 anos, mas acentuou-se com a actual vaga de calor, explicou Domingos Leitão, referindo que as gaivotas-de-patas-amarelas são uma espécie “oportunista” que se adapta bem a ambientes urbanos e às pessoas, e que aproveitam o lixo das cidades e da indústria piscícola.

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