Cantos em Outubro

Os nomes das duas são terríveis, nunca sei qual é qual.

PNicolau escreveu:Os nomes das duas são terríveis, nunca sei qual é qual.

Exacto, até porque a estrelinha-de-poupa não tem poupa nenhuma

Gonçalo Elias escreveu:

PNicolau escreveu:Os nomes das duas são terríveis, nunca sei qual é qual.

Exacto, até porque a estrelinha-de-poupa não tem poupa nenhuma

Bem, há 3 nomes.

Estrelinha-de-poupa, Estrelinha-real e Estrelinha-de-cabeça-listada.
Todos são equivalentes e nenhum esclarece nada.

Acabadinho de chegar a casa e depois pesquisar acerca dos Genus dos Parus (e bem me parecia que já tinha visto outra nomenclatura mas é daquelas coisas), um resumo de hoje de madrugada na mata das Caldas da Rainha:

- Gaio
Não tão intenso em “display” como se vê na Primavera quando perseguem em grupos as fêmeas, mas mais rico com variações, tagarelices e imitações baixinho e seguido (gritos ou se forem de bútio, gavião ou açor são emitidas geralmente mas alto), o que considero verdadeiro canto.

Ontem em Óbidos de noite:

- Mocho galego (macho),
- Bubo bubo (dois machos, distantes, até se ouvem 3 às vezes).
- Carriça.

Cantos de Outubro noutros anos, talvez esporádicos/raros para a época e que não constaram ainda aqui:

- Melro (não contei com os das cidades e zonas iluminadas).
- Tordoveia (zonas de pinhal)

Cantos relativamente comuns mas difíceis de interpretar:
- Chapim-rabilongo (acho que este só com mais experiência ex-situ mas existe exibição vocal (canto), que implica treino da mesma especielmente durante juventude e que provavelmente tem funções sociais que podem ter mais tarde papel nos parejamentos:


Na minha opinião, no estorninho já abordado aqui, passa-se semelhante mas... nalgumas aves sociais complica-se.
Nalgumas aves, caso do Gaio abordado acima (e nalguns outros corvídeos) por exemplo, ou mais evidentemente nos picapaus que foram substituindo o “verdadeiro" canto e até a vez a voz por outros meios mais eficazes de cortejamento e de marcação territorial, os vestígios não desapareceram totalmente.
Cantos de aves menos sociais também sofrem variações, algumas significativas, ao longo do ano e da circunstância. Alguém reparou quantas possíveis estrofes pode ter o nítido e "monótono" canto de um rouxinol-bravo e como as usa para determinado fim, época do dia (ou noite) e do ano?

Ps: Nunca aceitei "canto" como algo bem definido, mesmo que centrando-se numa função bem definida. E aceito que se duvide e se questione até que ponto o "treino" de vocalizações "display" ou versões mais descontraídas contam para um registo desse tipo de vocalização, ainda por cima sabendo que uma ave pode treinar outras vocalizações de função distinta, principiante na juventude, como gritos de aviso e alarme sendo por exemplo alguns desses muito específicos e já claramente relacionados a uma função (sem serem efectivamente ou sempre aplicados como alarme, são-no como "para essa função").
E o estudo disto, até onde foi? Só para perceber e sobretudo demonstrar a distinção entre um treino, ou já outra qualquer aplicação, do grito de alarme de certa espécie, as observações devem ser muito atentas até com aves conhecidas individualmente e seguidas e documentadas a tempo inteiro.

Hoje no Alvor:

Streptopelia decaocto
Luscinia svecica (primeira vez que ouvi o canto desta espécie!)
Cisticola juncidis
Parus major
Estrilda astrild
Serinus serinus
Carduelis chloris
Carduelis carduelis
Carduelis cannabina

Hoje em Castro Marim e VR Santo António:

Luscinia svecica (segunda vez que ouvi o canto desta espécie)
Certhia brachydactyla (primeira vez que ouvi o canto desta espécie em Outubro)
Parus major
Lanius meridionalis
Carduelis carduelis
Emberiza calandra

Hoje, em Sampaio (Ermesinde):

- chamariz;
- rouxinol-bravo;
- carriça;
- pisco-de-peito-ruivo;
- rabirruivo-preto;
- chapim-real;
- peto-real;
- pintassilgo;
- estrelinha-de-cabeça-listada;
- felosa-comum.

Para registar cantos durante o mês de Outubro, é favor usar este tópico

Serinus serinus no Jamor, 02/10/2016.

Quinta da Cardiga, Golegã 02/10/16

Troglodytes troglodytes
Cettia cetti
Sylvia atricapilla
Phoenicurus ochruros

Paul do Boquilobo, Golegã 03/10/16

Troglodytes troglodytes
Cettia cetti

2 de Outubro, Perais (VV Ródão):
Lullula arborea
Emberiza calandra

2 de Outubro, Montalvão (Nisa):
Emberiza calandra (canto muito 'manhoso')

4 de Outubro, albufeira do Caia:
Streptopelia decaocto
Galerida cristata
Troglodytes troglodytes
Emberiza calandra

5 de Outubro, Portalegre:
Lullula arborea
Cyanistes caeruelus
Parus major
Troglodytes troglodytes
Cettia cetti
Erithacus rubecula
Emberiza cirlus

5 de Outubro de 2016, Lezíria Grande de Vila Franca de Xira

Emberiza calandra
Cettia cetti

08 de Outubro de 2016, Sampaio (Ermesinde):

Streptopelia decaocto
Picus viridis (coloco aqui porque está no primeiro post deste tópico, mas na minha opinião o som habitual é um chamamento...)
Cyanistes caeruleus
Parus major
Troglodytes troglodytes
Cettia cetti
Phylloscopus trochilus (uma frase completa)
Sylvia atricapilla
Erithacus rubecula
Phoenicurus ochruros
Serinus serinus

9 de Outubro, Alter do Chão:
Galerida cristata
Certhia brachydactyla

m.d., Castelo de Vide
Monticola solitarius
Phoenicurus ochruros

Ricardo Melo escreveu:
Picus viridis (coloco aqui porque está no primeiro post deste tópico, mas na minha opinião o som habitual é um chamamento...)

É possível que tenhas razão, tenho de verificar o que é dito sobre isso na bibliografia, de qualquer forma saliento que esse som é ouvido com muita frequência na Primavera e poucas vezes no Verão e no Outono.

Após uma consulta ao BWP em CD-Rom pude constatar o seguinte:

- a vocalização mais conhecida dos vãrios pica-paus não é de facto descrita como "song" mas sim como "advertising call"; neste sentido, coincide com a visão defendida pelo Ricardo
- contudo, verifiquei que o mesmo acontece com o torcicolo e até com o cuco, em ambos os casos o som mais conhecido é descrito como "advertising call (song)"; o mesmo se passa com os strigiformes, por exemplo com a coruja do mato, cuja vocalização habitual é descrita como "advertising call"
- da amostra que consultei, parece-me que apenas no caso dos passerifomes (em inglê smuitas vezes referidos como "songbirds") é que se considera que existe o canto do macho, o que significa que para não passeriformes não seria correcta falar de "canto".

De qualquer forma, ainda vou tentar consultar outras fontes para perceber se esta visão é consensual.

Lisboa, 10/10/2016

Certhia brachydactyla
Troglodytes troglodytes
Regulus ignicapilla
Erithacus rubecula
Phoenicurus ochruros

Sendo considerado canto ou não, há diversos sons efectuados por muitas espécies não passeriformes que são claramente nupciais. Por exemplo, no recente Undiscovered Owls do Magnus, é descrita uma vocalização nupcial de Tyto alba que só é feita na época reprodutora, se não me engano pelos machos.

O mocho-galego também tem um "canto", o Picus sharpei tem chamamento e canto (como é descrito no xeno-canto).

Discutir o que é ou não considerado canto por alguns autores parece-me filosófico, até porque na prática o que mais interessa, penso eu, é a funcionalidade do som.

Concordo contigo, de qualquer forma parece-me mais ou menos claro que certas espécies ou grupos de espécies não têm nenhum som a que se possa chamar canto, nomeadamente as espécies coloniais (creio que todas ou quase todas), os corvídeos, os patos ou os abutres, só para dar alguns exemplos.

Em tantas aves é impossível decifrar o que cada vocalização significa sem conhecer intimamente cada "espécie" (e diversidade intra). Tanto factor influi praqui   ... evolução, a relação filogenética (mas nem sempre), a ecologia da ave, tudo o que "acontece" e influi no cérebro de cada autor e como evolui em determinado individuo num circulo tudo menos fechado. Como, e com que, intenção usa os sons, os mistura e às "intenções" (funções?) também.

Gonçalo Elias escreveu:Cos corvídeos

Não concordo no caso dos corvídeos.
No caso dos gaios é bem claro, com perseguições de vários machos a uma fêmea na Primavera, cada um deles em intenso "display" de plumagem, agilidade e vocal (com imitações rebuscadas).

No caso do pica-pau-verde abstenho-me, mesmo após observações no campo e de espécies homólogas. Não sei qual a origem nem que treinos ou aprendizagem o tal som sofre até se ouvir na Primavera repetitivamente. Talvez até nem seja inato, o que, a meu ver, já apontaria para verdadeiro canto e não uma mistura de expressões comportamentais ("mistura", se é que se podem separar claramente, apesar de nalgumas aves parecerem separar-se bem, não sendo isto demasiado "antropomórfico" já que a humana é a melhor especialista a quebrar a barreira das espécies na comunicação... o que também varia individualmente lol....).

10 de Outubro, Castelo de Vide:
Lullula arborea
Sylvia melanocephala *
Parus major
Estrilda astrild
Emberiza cirlus

* - primeira vez que registo o canto desta espécie em Outubro

11 de Outubro, Vale Gonçalinho, Castro Verde:
Lanius meriodionalis vários chamamentos diferentes, algumas variações que nunca tinha ouvido.

HL escreveu:11 de Outubro, Vale Gonçalinho, Castro Verde:
Lanius meriodionalis

Esse canta frequentemente, e concordo com um velho livrinho-guia que diz que é mau cantor .
Gritos, "chamamentos específicos" diversos (algo alterados), imitações, em geral intervaladas e às vezes quase isoladas.
Como os gritos para várias funções podem também variar, quase sempre não se identifica um canto deste em menos de 10-20s.

Mais tempo a confirmar um vocalista estive eu há dias, a ouvir um Oriolus macho cantar perfeitamente quase a meio de outubro, entre pausas de total silêncio.
Naaa.... estorninho preto. O malandro...
E foi o mesmo que quase me fez apontar há meses uma (re)nidificante para a zona...
Nunca vi esse estorninho, nem antes nem agora, mas o Oriolus está fora da lista seguramente e já o estava 99% antes.

15 de Otubro, Ofir:
- Strix aluco, 2 ind a vocalizar (durante cerca de 10 min) pela 1:45h.

À 1h45 da manhã?!? A essa hora devias estar a ouvir muita coisa, mas não era Strix aluco!