Inspecções costeiras

No início dos anos 1990 era realizadas pelo SNPRCN (o organismo que deu origem ao ICN, depois ICNB e ICNF) as chamadas inspecções costeiras nas praias portuguesas. No âmbito destas inspecções, eram percorridos a pé vários quilómetros de praias, com vista a detectar aves mortas, e geralmente eram encontradas muitas aves marinhas.

As espécies mais frequentes eram alcídeos e gaivotas, mas também apareciam mobelhas, procelariiformes e outras espécies.

Alguém sabe se este tipo de inspecções ainda é realizado na actualidade?

Ainda hoje deparei-me com uma gaivota e um ganso-patola mortos numa praia, curiosamente onde já vi um arau morto petroleado ( na altura do Prestige) uma gaivota tridáctila e várias gaivotas suponho que o movimento das ondas contra os rochedos e as correntes proporcionem estes arrojamentos

Olá Gonçalo,

não sei se é a isto que te referes, mas quanto entrei para biologia havia uma monitorização da zona costeira Coast Watch. Num pequena pesquisa encontrei este blog e pelos vistos já vai na 23ª edição.

http://coastwatch-coastwatch.blogspot.pt/

abraço
Carlos

Olá Carlos,

Não é bem a mesma coisa, parece-me.

Tanto quanto me recordo, os resultados eram publicados no Airo (isto no tempo em que esta revista estava sob a alçada do SNPRCN). Vou ver se consigo encontrar algum dos relatórios e colocarei aqui.

A propósito da enorme mortalidade de aves marinhas (principalmente papagaios-do-mar) que se verificou no início deste ano no Atlântico Norte, em que dezenas (ou centenas) de milhares de aves deram à costa no NW de França, N de Espanha e SW de Inglaterra (e com os esforços de contabilização nalguns casos ainda a decorrer), o Tim van Nus e eu procurámos contabilizar o número de aves mortas nos 10 Km que distam entre as praias de São Jacinto e Torreira, Aveiro. Obtivémos autorização da Reserva Natural das Dunas de São Jacinto para incluir a praia da reserva neste levantamento. Os números de aves marinhas mortas foram os seguintes: 94 Papagaio-do-mar (Fratercula artica), 6 Gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus), 4 Gaivota-tridáctila (Rissa tridactyla), 4 Torda-mergulheira (Alca torda), 3 Alcatraz-do-Norte (Morus bassanus), 1 Negrola (Melanitta nigra), 1 Airo-comum (Uria aalge), 1 Famego (Larus canus), 1 Mobelha-grande (Gavia immer), 1 Pombalete (Fulmarus glacialis), 1 gaivota de espécies não identificada (Larus sp) e 1 ave não identificada.

Aproveito para perguntar se alguém tem conhecimento sobre a realização de iniciativas similares, sabendo de antemão (pelo Noticário Ornitológico nº 567; mas sem referência à distância de amostragem) que o Jorge Araújo da Silva documentou elevadas mortalidades na costa da Apúlia e estuário do Cávado, e/ou (repetindo a pergunta do Gonçalo) se alguém sabe algo sobre a realização recente de inspeções sistemáticas da costa para a contabilização do arrojamento de aves marinhas.

Pedro Lopes Moreira escreveu: (...) o Tim van Nus e eu procurámos contabilizar o número de aves mortas nos 10 Km que distam entre as praias de São Jacinto e Torreira, Aveiro. Obtivémos autorização da Reserva Natural das Dunas de São Jacinto para incluir a praia da reserva neste levantamento. Os números de aves marinhas mortas foram os seguintes: 94 Papagaio-do-mar (Fratercula artica), 6 Gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus), 4 Gaivota-tridáctila (Rissa tridactyla), 4 Torda-mergulheira (Alca torda), 3 Alcatraz-do-Norte (Morus bassanus), 1 Negrola (Melanitta nigra), 1 Airo-comum (Uria aalge), 1 Famego (Larus canus), 1 Mobelha-grande (Gavia immer), 1 Pombalete (Fulmarus glacialis), 1 gaivota de espécies não identificada (Larus sp) e 1 ave não identificada.
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Levantamento muito interessante.
Já agora os totais apresentados foram obtidos entre que datas?

Relativamente a informação sobre este tipo de estudo/levantamento, não tenho informação adicional ao já anteriormente indicado pelo Gonçalo, pois apenas tenho um artigo numa velhinha revista "Airo" Nº 2 de 1991 (José Pedro Granadeiro e Mário A. Silva) onde é referido um programa de monitorização entre 1982/83 até 1985/86 e retomado na época de 1990/1991 (e cujos resultados são apresentados no artigo). Posteriormente a esta data desconheço por completo se este ou outros programas semelhantes foram retomados.

Cumprimentos
António Gonçalves

Obrigado António G pelo feedback.

Esqueci-me de referir; o levantamento foi em 14-3-2014. Ou seja, todas essas aves foram contadas num só dia. Obrigado pela referência do Airo Nº2. Também há um trabalho de Granadeiro et al. 1997 Ardeola 44 Beached bird surveys in Portugal 1990-1996 (apanhei-o nos conteúdos de livre acesso da Ardeola); entre 90 e 96, em que foram percorridas 5330 km de praia, o total de papagaios-do-mar foi 88. Numa só saída de 10 km tivemos 94 ind dessa espécie...cerca de 57 vezes mais mortalidade (bichos / km) do que a média observada entre 90-96. Pelas notícias web este é um dos 'bird wreck' mais catastróficos desde que há registos.

Hoje na Praia de Santo André, Aver-o-Mar, Póvoa de Varzim estavam duas tordas mergulharias um arau e um corvo marinho mortos todos com aspecto relativamente recente

António A Gonçalves escreveu:apenas tenho um artigo numa velhinha revista "Airo" Nº 2 de 1991 (José Pedro Granadeiro e Mário A. Silva) onde é referido um programa de monitorização entre 1982/83 até 1985/86 e retomado na época de 1990/1991 (e cujos resultados são apresentados no artigo). Posteriormente a esta data desconheço por completo se este ou outros programas semelhantes foram retomados.

Lembro-me desse artigo, aliás, não tenho a certeza se não há mais que um. Procuraste nos outros volumes do Airo, António?

Andei à procura disso no site do ICNF que até há pouco tempo disponibilizava online todas as edições do AIRO, infelizmente parece que as páginas deixaram de estar disponíveis...

desculpem...onde disse 57 é de facto 570 vezes mais mortalidade de papagaios-do- mar (desprezando claro a pouca representatividade que representa 1 transecto de 10 km em uma data, etc, etc)...i.e. (94 bichos/10 km)(transecto de 14-3-2014 São Jacinto - Torreira) / (88 bichos/5330 km)(valores 90-96 de Granadeiro et al 1997) = 569

Tanto quanto me é possível sistematizo todos os registos de observações de aves, incluíndo as mortas. Em fevereiro anotei nos meus cadernos de campo alguns dados por mim obtidos, aos quais adicionei os que me chegaram do corpo de vigilantes do Parque Natural do Litoral Norte e dos membros de um grupo de coordeno no facebook. Em março já aqui publiquei (em LOCAL: Estuário do Cávado) os números que me pareceram mais interessantes, mas ainda continuo a contar mais aves arrojadas desde as praias da Estela - Póvoa de Varzim até à foz do Cávado - Esposende. Oportunamente farei uma compilação do que registei na quadrícula UTM NF19 (litoral norte).

Como desconheço se alguma vez alguém se interessará por isto (sobretudo ao nível "institucional"), ficará entretanto nos meus arquivos.

As que vir mando-te

Finalmente consegui ter acesso aos Airos antigos e encontrei um dos artigos sobre inspecções costeiras a que fiz referência anteriormente.

O artigo que se segue, com 5 páginas, foi publicado no Airo 2(2) de 1991.

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As digitalizações que aqui coloquei anteriormente desapareceram, por isso aqui vão novamente