Tordo-comum (Turdus philomelos) - locais de reprodução em expansão

Bom dia,

Ontem fui até à Lagoa de Pataias (fica no pinhal de Leiria, para quem não conhece) e fui surpreendido pelo canto dos tordos-comuns. No total vi e ouvi (canto) quatro aves desta espécie. Sei que o último atlas das aves nidificantes refere que esta espécie na altura estaria em expansão... e continua! As minhas questões são, para quem tenha eventuais teorias/confirmações: que está a acontecer (mudança de habitat, alterações climáticas, maior disponibilidade de comida, etc) para que esta espécie esteja a expandir os seus locais de reprodução tão para sul; segundo o ebird, o registo entre maio e julho (meses mais fiáveis para aves em reprodução e em que há menor possibilidade de migrações tardias) mais a sul do país foi na IBA Cabeção, em Julho de 2002. Este ano o Pedro Ramalho observou em junho um indivíduo no Parque da cidade das Caldas da Rainha e eu agora no Pinhal de Leiria. A segunda questão é, qual será, neste momento, o limite mais a sul da sua área de nidificação (vamos saber com o novo atlas, eu sei ); e por fim, há evidências deste fenómeno estar a acontecer com outras espécies reprodutoras mais a norte?

Aguardo pelas vossas teorias/explicações

Olá,

O Lanius collurio é outra das espécies com uma distribuição mais nortenha e que se expandiu bastante em Portugal nos últimos 20 anos. Mas está a ordens de magnitude de diferença do que acontece com o tordo.
Depois há a outra face do espelho, espécies meridionais que se têm expandido para norte. A Cecropis daurica é o caso que me parece mais espectacular. Mas o Apus pallidus está a seguir-lhe "os passo".
Provavelmente mais pessoas se lembrarão de outras espécies que se ajustem a um ou outro padrão.

Pedro Cardia

Olá,

Sugiro uma vista de olhos neste tópico.

Assim de repente alguém se lembra de mais alguma espécie que tenha aumentado de norte para sul a sua área de reprodução?

pedro121 escreveu:Assim de repente alguém se lembra de mais alguma espécie que tenha aumentado de norte para sul a sua área de reprodução?

Parus ater
Pica pica
Passer hispaniolensis

Gonçalo Elias escreveu:
Passer hispaniolensis

não fazia ideia, pensava que o eixo da expansão era leste -oeste

Agradeço as vossas respostas. Ninguém faz ideia do limite actual de reprodução do tordo pois não? Pergunta difícil x)

pedro121 escreveu:

Gonçalo Elias escreveu:
Passer hispaniolensis

não fazia ideia, pensava que o eixo da expansão era leste -oeste

Quando eu comecei a ver aves (final dos anos 80) só havia na Beira Baixa, no Alto Alentejo (zona de Nisa) e muito localmente na zona de Mourão.

Durante a década de que seguiu é que se expandiram nos distritos de Portalegre e Évora, tendo igualmente ocupado o de Beja e hoje ate já nidificam no Algarve.

João Tomás escreveu:Agradeço as vossas respostas. Ninguém faz ideia do limite actual de reprodução do tordo pois não? Pergunta difícil x)

Bem, até prova em contrario vou dizer que Caldas da Rainha é o limite da expansão, mas quanto tempo até criarem em Lisboa?

Gonçalo Elias escreveu:
Durante a década de que seguiu é que se expandiram nos distritos de Portalegre e Évora, tendo igualmente ocupado o de Beja e hoje ate já nidificam no Algarve.

Ok, não fazia ideia.

pedro121 escreveu:Bem, até prova em contrario vou dizer que Caldas da Rainha é o limite da expansão, mas quanto tempo até criarem em Lisboa?

Monsanto parece-me um local ideal e é se não andarem já por lá!

João Tomás escreveu:
Monsanto parece-me um local ideal e é se não andarem já por lá!

Eu aposto em Sintra.

Sim, o bosque bastante denso tamém é uma forte hipótese!

Olá.
Entrei no forum com ideia de criar um tópico num tema parecido e vejo este . A espécie coincide com as duas referidas por mim num texto que enviei aquando do 1º contacto para o Atlas, para as quais pretendia especialmente "orientar" interessados.
Basicamente, tenho ideia de que, quanto mais a Sul, mais associados a linhas importantes de água e terrenos húmidos estarão, com folhosas verdejantes, bem como ambientes ligados ao Homem (desde que perto de água como parques e agricultura tradicional). Não necessitam de arvoredo muito abundante e continuo, apenas o suficiente em focos junto de água.

O Turdus philomelus nidifica com sucesso já pelo 3º ano consecutivo no Concelho das Caldas -Nadadouro, havendo despiques acesos na Primavera. Este ano há 2 casais nidificantes em proximidade (praticamente em partilha de território). Faz 2 semanas que a prole de um casal saiu do ninho.
Há tb um possivel casal (pelo menos um macho) no Concelho de Óbidos.
Portanto, duvido que não hajam casos bem mais a Sul, até porque parece uma expansão bem rápida. Ainda há poucos anos tinham (parece) chegado às beiras e já vão aqui... parece uma praga :O.

Enganos podem haver também: em Março já se ouvem (e sempre se ouviram) invernantes a cantar, em dias de sol juntamente com as Phylloscopus, etc, mas hoje podem dar ilusão de que são os nidificantes, no inicio da época. E em contrapartida algumas aves nidificantes (ou em certos sítios) são pouco detectáveis, esquivas, cantam pouco, com frases muito apagadas e curtas, portanto podem escapar a quem pouco se fia nos sons.

Entretanto o Hélder Cardoso e depois eu observamos juvenis no Parque das Caldas da Rainha, portanto a reprodução está confirmada bem perto de Lisboa.

Ontem confirmei a reprodução desta espécie no Jardim do Cerco em Mafra, através da observação de juvenis.

Creio ser a confirmação mais a sul até à data.

Também os vejo em duas zonas não muito longe da Foz do Lisandro. Deve ser um pouco mais a Sul .

Nas Caldas (e Óbidos, Concelho), para além dos locais onde já é costume nidificarem, tenho ouvido entre Abril e Maio machos que se instalam temporariamente em zonas "florestais" de aspecto variado. Muito provavelmente indivíduos em busca de território, e a presença/ausência nos locais é uma confirmação rigorosa (sítios que frequento assiduamente e cujas características vão mudando no calendário e obriga as aves dispersar para outro, e depois para outro, e outro?).

Bem... mas isto não deve ser novidade, tal como já tinha dito algures que deverá estar a acontecer bem mais para Sul e até em Lisboa     . Duvido que não nidifiquem já a Sul de Lisboa com sucesso, já que estão sem duvida em expansão/dispersão intensas e numero por cá aumentou bastante.

Paulo Lemos escreveu:Também os vejo em duas zonas não muito longe da Foz do Lisandro. Deve ser um pouco mais a Sul .

Olhe que não, olhe que não  

Paulo Lemos escreveu:Bem... mas isto não deve ser novidade, tal como já tinha dito algures que deverá estar a acontecer bem mais para Sul e até em Lisboa     . Duvido que não nidifiquem já a Sul de Lisboa com sucesso, já que estão sem duvida em expansão/dispersão intensas e numero por cá aumentou bastante.

Não digo que não nidifiquem mais a sul, o que eu referi é que esta deve ser a confirmação de nidificação mais a sul.

Gonçalo Elias escreveu:

Não digo que não nidifiquem mais a sul, o que eu referi é que esta deve ser a confirmação de nidificação mais a sul.

E eu continuo a dizer para procurarem .

Paulo Lemos escreveu:

Gonçalo Elias escreveu:

Não digo que não nidifiquem mais a sul, o que eu referi é que esta deve ser a confirmação de nidificação mais a sul.

E eu continuo a dizer para procurarem .

para "procurarem" é preciso que alguém procure

Pois, já percebi que há pouca gente.
E sem duvida aves mais prioritárias para procurar (e nem eu estou a conseguir ter tempo...).

Não posso responder por outros, mas eu quando vou ver aves em geral estou a recolher informação para vários objectivos / projectos em simultâneo. Só muito raramente dedico tempo a procurar uma determinada espécie de forma sistemática e continuada.

A minha observação de tordo-comum em Mafra foi completamente fortuita, não fui lá à procura do tordo, mas é claro que a partir do momento em que registei a ocorrência achei interessante partilhar aqui

Há espécies que actualmente justificam buscas, de forma sistemática e continuada, caso contrário vai se perder a noção de muita "história natural" (relativamente recente) para este país e na temática. Casos do Dom-fafe, do Pisco de Peito azul e do Picanço de dorso ruivo entre outras.
Na minha opinião, estão mais do que em "regressão". Como "resíduo populacional" apenas ou talvez até desaparecidas (a minha observação do pisco na Estrela já é de 2012...).

Desde que observei extinções locais em poucos anos apenas noutras espécies (de muito abundante até zero), e depois de perceber alguns dos motivos na minha região, e após notar que apenas os velhos reprodutores ficaram por mais uns anos, até morrerem de velhos... é o que provavelmente acontecerá ou está a acontecer para essas 3 espécies pelo menos, quanto mais a Sul.

Este ano "desapareceu" um casal de Dom-fafe de onde tinha criado nos 3 anteriores. É assim tão simples como terem "limpo" umas matas/silvas/carvalhos, para plantar um olival. Não se mudaram para próximo sequer, aparentemente. As aves até podem até ter sucumbido, ao perderem uma valiosa área de protecção no seu território habitual.

Paulo Lemos escreveu:Há espécies que actualmente justificam buscas, de forma sistemática e continuada, caso contrário vai se perder a noção de muita "história natural" (relativamente recente) para este país e na temática. Casos do Dom-fafe, do Pisco de Peito azul e do Picanço de dorso ruivo entre outras.

Mas para que essas buscas sejam feitas, é preciso que alguém esteja disponível para, digamos, fazer disso uma prioridade.

Sem contar com as aves, a minha lista tem mais de 50 espécies na mesma situação "prioritária".
E já tenho perdido anos de buscas em vão para elas, onde dantes se viam aos montes. Quiçá espécies por descrever...
Portanto... (uff..).

(e sempre a gastar dinheiro "nisso")