Escrevedeira-dos-caniços subspécies lusitanica

Boas,

Numa pesquisa pela net dei-me conta que as duas subspecies (Emberiza schoeniclus lusitanica e Emberiza schoeniclus witherbyi) de Escrevedeira-dos-caniços mais raras que existem em Espanha foram consideradas pela SEO como a ave do ano 2009. De seguida fiz uma pesquisa pela net numa tentativa de perceber as razões do nome atribuído à subespécie lusitanica, pensando dever-se à sua preponderância no nosso território. No entanto, não encontrei informação que confirmasse esta suspeita, aliás, não fiquei sequer a perceber se esta subespécie é dada para Portugal.

Alguém me sabe dar mais informação sobre esta subespécie?

Abraços
Paulo Pereira

A subspécie E. s. lusitanica reside na zona ocidental e norte da Península Ibérica (Portugal, Galiza, País Basco). Tem sofrido forte regressão da área de distribuição, e parece estar bastante ameaçada, tal como a E. s. witherbyi. Tem sido sinonimizada com a subspécie nominal, mas também com a witherbyi, is a diagnose é ainda pouco conhecida. Mas, trabalho recente parece demostrar que se trata de facto de uma subspécie distinta, sendo mais pequena, escura/riscada que a subspécie nominal e a forma do bico parece ser um pouco diferente (cúlmen mais convexo) embora as dimensões do bico sejam semelhantes. (A witherbyi tem um bico muito mais grosso.) Também parece haver diferenças genéticas, sugerindo histórias evolutivas distintas.
Parte do meu trabalho com esta espécie é efectuado na área de Salreu, estarreja, onde devem nidificar mais de 50% dos indivíduos da subespécie lusitanica. Pelo que pude observar até agora, a productividade é baixa, mas ainda não é ainda possível dizer se é suficiente para compensar a taxa de mortalidade. De qualquer forma, as perspectivas de sobrevivência desta subspécie não parecem animadoras.
Cumprimentos
Júlio

Não sei a ajuda.

http://www.seo.org/media/docs/Escribano%20palustre%20monografia.pdf

Abraços
A. Tomás.

Obrigado pela informação.
Parece que a subespécie lusitanica terá até mais destaque, a avaliar pelos números apresentados, em Espanha do que em Portugal. A minha expectativa para a origem do nome seria encontrar uma razão ligada a uma ou mais populações que registasse uma expressão geográfica singular no contexto da distribuição ibérica.

Abraços
Paulo Pereira

Penso que a situação taxonómica desta espécie é um pouco confusa.

A existência de uma subespécie lusitanica, que nidificaria em Portugal e possivelmente na Galiza, é considerada por alguns autores, mas a existência desta subespécie não parece ser consensual e outros autores (nomeadamente o BWP = Cramp) optam por incluir a população portuguesa na subespécie witherbyi, cuja área de distribuição abrange toda a Península Ibérica e ainda as Ilhas Baleares, o sul de França e o norte de África. Assim, segundo o Cramp, em Portugal ocorrem duas subespécies: E. s. witherbyi como nidificante e a subespécie nominal como invernante.

Como curiosidade, refira-se que o taxon witherbyi foi descrito em 1923 por van Jordans, com base em aves colhidas em Alcudía, Espanha, enquanto que a E. s. lusitanica foi descrita por Steinbacger em 1930, com base em aves de Vila Franca de Xira.

1 abraço,
Gonçalo

O nome lusitanica deriva, evidentemente, da descrição original ter sido efectuda com base em espécimens capturados em Portugal.

Alerto para o facto desta espécie ser particularmente difícil de recensear, pois movimenta-se muito durante o período reprodutivo (defende apenas um pequeno território onde é construido o ninho e alimenta-se fora deste). A forma mais adequada de recensear é usar marcação individual e mapeamento de territórios. Por esse motivo, os números apresentados nos censos espanhois devem ser considerados apenas como estimativas grosseiras.

De qualquer forma, a subspécie lusitanica ainda é muito mais abundante em Portugal do que em Espanha, apesar de provavelmente já nao nidificarem no Baixo Mondego nem em outros locais a sul (excepção talvez de uma diminuta população no estuário do Sado). Na Ria de Aveiro nidificam várias centenas de casais e existem ainda pequenas populações mais a norte (estuário do Minho, por exemplo), excedendo largamente o número de indivíduos desta subspécie detectados no censo espanhol.
J.

Júlio Neto escreveu:De qualquer forma, a subspécie lusitanica ainda é muito mais abundante em Portugal do que em Espanha, apesar de provavelmente já nao nidificarem no Baixo Mondego nem em outros locais a sul (excepção talvez de uma diminuta população no estuário do Sado).

Tenho algumas dúvidas sobre se ainda existirá uma população no estuário do Sado. A última observação recente de que tenho conhecimento em época reprodutora foi efectuada em Maio de 2000 na zona da Carrasqueira.

1 abraço,
Gonçalo

Olá Júlio,

Relativamente a esta subespécie surgiu-me a seguinte dúvida: é possível distinguir (na mão ou no campo) as aves dessa subespécie relativamente às das populações que nos visitam como invernantes?

1 abraço,
Gonçalo

Existem as diferenças que descrevi numa mensagem anterior, mas ainda não sei qual a percentagem de indivíduos possível de identificar na mão ou no campo. Estamos a trabalhar nisso...
J.

Hoje de manhã observei um macho (provavelmente desta subespécie) nos caniçais do rio Coura, Caminha.

Não faço ideia se a espécie ainda é muito abundante como nidificante neste local, mas fica a informação.