Natureza ao assalto do Paralelo 38
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Natureza ao assalto do Paralelo 38
Natureza ao assalto do Paralelo 38
Há quase seis décadas, a linha que hoje separa as Coreias era um campo de batalha. Soviéticos, americanos e coreanos, dos dois lados, chocaram naquela estreita faixa de terra, sobre o Paralelo 38, até concordarem numa trégua que traçou por ali uma das fronteiras mais geladas da Guerra Fria.
Desde então que os soldados vigiam, de um lado e do outro, aquela terra de ninguém, mantendo-a uma das mais impenetráveis do planeta. O corredor de 4 quilómetros de largo e 238 de comprimento que une o mar Amarelo e o mar de Leste, de cada lado da península coreana, é um completo vazio de gente. E na ausência de humanidade, foi a natureza que tomou de assalto o lugar.
Com o passar dos anos, as crateras abertas pelas bombas foram cobertas de verde e o silvar das balas e os gritos dos homens calaram-se para se fazerem ouvir os animais. A terra, que está na linha de tensão entre os Governos inimigos de Pyongyang e Seul, tornou-se num improvável santuário animal.
"Este é o melhor lugar do mundo para observar grous [ave pernalta]," explicou ao jornal espanhol El Mundo o biólogo, Yin Ik Tae, da localidade de Cheorwon, uma das mais próximas da fronteira.
Segundo o cientista sul-coreano juntam-se ali cinco das 15 espécies de grous existentes no planeta. Entre elas estão os raros grous-de-coroa-vermelha, dos quais só restam 2500 espécimes em todo o mundo. A maioria chega aos arrozais e colinas da zona desmilitarizada no Inverno. No Verão, quando a temperatura sobe, migram para a Sibéria à procura do frio.
A partida dos grous não leva a vida daquele lugar que, apesar dos constrangimentos, começa a atrair cada mais turistas. No pico do calor, o lago Dongson é o ponto de encontro de outras espécies de aves como garças, corvos-marinhos-de-faces-brancas e águias-pesqueiras.
O lago estende-se para lá da zona desmilitarizada de fronteira, alguns quilómetros para dentro do território da Coreia do Sul. Essa ainda é uma zona restrita aos militares e para lá entrar é necessária uma autorização do exército.
Recentemente, os agricultores começaram a trabalhar os campos. Mas ninguém ali dorme. Ao entardecer todos regressam, deixando a terra, disputada pelas duas superpotências, entregue à bicharada.
Além das aves, outros animais e plantas raros encontram refúgio entre as fortificações erguidas pelos coreanos do Norte e do Sul. O tigre- -da-sibéria, o leopardo-oriental e o urso-negro asiático são dos mais espectaculares. Na fauna, destacam-se o bordo-da-noruega e a zelkova.
As regras forçadas pela divisão da Península da Coreia são o melhor seguro de vida deste ecossistema que está quase à mesma latitude que Portugal - Lisboa também é cruzada pelo Paralelo 38.
A zona desmilitarizada faz um contraste absoluto com o restante território da Coreia do Sul, sobrepovoado - 48 milhões de habitantes para cem mil km2 - e repleto de fábricas poluentes. Esta Coreia capitalista e liberal entrou em industrialização acelerada nas últimas décadas, a ponto de se tornar na 12.ª economia do mundo.
Por isso, ao contrário da Coreia do Norte, rural e subdesenvolvida, as preocupações ambientais começaram a entrar na agenda de Seul e a zona de fronteira assume um interesse especial.
Há vários projectos para que a reserva se torne património da Humanidade da UNESCO. Uma das iniciativas conta com o apoio do fundador da CNN, Ted Turner, depois de ter feito uma visita, em 2005.
Para isso, é necessário que as duas Coreias se entendam e a Península seja reunificada. Um sonho longe de se tornar realidade. Nos últimos meses, Pyongyang desafiou o mundo e ameaçou a vizinha ao lançar vários mísseis e fazer o segundo teste nuclear da sua história. Mas enquanto os coreanos continuarem de costas voltadas, a natureza continuará senhora do Paralelo 38.
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1305750
Há quase seis décadas, a linha que hoje separa as Coreias era um campo de batalha. Soviéticos, americanos e coreanos, dos dois lados, chocaram naquela estreita faixa de terra, sobre o Paralelo 38, até concordarem numa trégua que traçou por ali uma das fronteiras mais geladas da Guerra Fria.
Desde então que os soldados vigiam, de um lado e do outro, aquela terra de ninguém, mantendo-a uma das mais impenetráveis do planeta. O corredor de 4 quilómetros de largo e 238 de comprimento que une o mar Amarelo e o mar de Leste, de cada lado da península coreana, é um completo vazio de gente. E na ausência de humanidade, foi a natureza que tomou de assalto o lugar.
Com o passar dos anos, as crateras abertas pelas bombas foram cobertas de verde e o silvar das balas e os gritos dos homens calaram-se para se fazerem ouvir os animais. A terra, que está na linha de tensão entre os Governos inimigos de Pyongyang e Seul, tornou-se num improvável santuário animal.
"Este é o melhor lugar do mundo para observar grous [ave pernalta]," explicou ao jornal espanhol El Mundo o biólogo, Yin Ik Tae, da localidade de Cheorwon, uma das mais próximas da fronteira.
Segundo o cientista sul-coreano juntam-se ali cinco das 15 espécies de grous existentes no planeta. Entre elas estão os raros grous-de-coroa-vermelha, dos quais só restam 2500 espécimes em todo o mundo. A maioria chega aos arrozais e colinas da zona desmilitarizada no Inverno. No Verão, quando a temperatura sobe, migram para a Sibéria à procura do frio.
A partida dos grous não leva a vida daquele lugar que, apesar dos constrangimentos, começa a atrair cada mais turistas. No pico do calor, o lago Dongson é o ponto de encontro de outras espécies de aves como garças, corvos-marinhos-de-faces-brancas e águias-pesqueiras.
O lago estende-se para lá da zona desmilitarizada de fronteira, alguns quilómetros para dentro do território da Coreia do Sul. Essa ainda é uma zona restrita aos militares e para lá entrar é necessária uma autorização do exército.
Recentemente, os agricultores começaram a trabalhar os campos. Mas ninguém ali dorme. Ao entardecer todos regressam, deixando a terra, disputada pelas duas superpotências, entregue à bicharada.
Além das aves, outros animais e plantas raros encontram refúgio entre as fortificações erguidas pelos coreanos do Norte e do Sul. O tigre- -da-sibéria, o leopardo-oriental e o urso-negro asiático são dos mais espectaculares. Na fauna, destacam-se o bordo-da-noruega e a zelkova.
As regras forçadas pela divisão da Península da Coreia são o melhor seguro de vida deste ecossistema que está quase à mesma latitude que Portugal - Lisboa também é cruzada pelo Paralelo 38.
A zona desmilitarizada faz um contraste absoluto com o restante território da Coreia do Sul, sobrepovoado - 48 milhões de habitantes para cem mil km2 - e repleto de fábricas poluentes. Esta Coreia capitalista e liberal entrou em industrialização acelerada nas últimas décadas, a ponto de se tornar na 12.ª economia do mundo.
Por isso, ao contrário da Coreia do Norte, rural e subdesenvolvida, as preocupações ambientais começaram a entrar na agenda de Seul e a zona de fronteira assume um interesse especial.
Há vários projectos para que a reserva se torne património da Humanidade da UNESCO. Uma das iniciativas conta com o apoio do fundador da CNN, Ted Turner, depois de ter feito uma visita, em 2005.
Para isso, é necessário que as duas Coreias se entendam e a Península seja reunificada. Um sonho longe de se tornar realidade. Nos últimos meses, Pyongyang desafiou o mundo e ameaçou a vizinha ao lançar vários mísseis e fazer o segundo teste nuclear da sua história. Mas enquanto os coreanos continuarem de costas voltadas, a natureza continuará senhora do Paralelo 38.
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1305750
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25577
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