Rebanho de cabras alimenta esperança do regresso de ave ameaçada de extinção à Serra dos Candeeiros

Rebanho de cabras alimenta esperança do regresso de ave ameaçada de extinção à Serra dos Candeeiros
Data: 23 de Janeiro de 2011
Fonte: omirante.pt

Um rebanho de 150 cabras serranas “esforça-se” por devorar carrascal e alecrim, plantas que predominam no alto da Serra dos Candeeiros, na esperança de atrair casais de gralhas-de-bico-vermelho, ave ameaçada de extinção que se alimenta de insectos em vegetação rasteira.

O rebanho é, para já, a única parte visível de uma iniciativa desenvolvida há dois anos e meio pela associação ambientalista Quercus com a cooperativa de desenvolvimento local Terra Chã, sob “apadrinhamento” da Vodafone Portugal, que concedeu um financiamento de 150.000 euros para os cinco anos do projecto.

Sem certezas de que a gralha-de-bico-vermelho volte um dia a uma zona onde era muito vista no passado, o projecto quer pelo menos garantir que o pastoreio regresse à Serra dos Candeeiros, repondo os habitats adequados à permanência desta ave.

“Não sabemos se a gralha-de-bico-vermelho voltará a nidificar aqui. Isso cabe à própria natureza. Estamos a dar uma ajuda para que isso possa acontecer, mas não temos garantias”, disse Paulo Lucas, da Quercus, à agência Lusa.

Mais optimista, António Frazão, da cooperativa Terra Chã, confia que esta primavera se irá repetir o episódio ocorrido em 2010, em que um casal da espécie acompanhado das crias foi visto durante um mês na área de intervenção do projecto (400 hectares de terreno no topo da Serra dos Candeeiros).

Segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICN-B), que gere o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, na última década registou-se uma quebra de 50 a 80 por cento da população portuguesa da gralha-de-bico-vermelho, estimando-se que existam 500 indivíduos em todo o país.

Se o regresso da gralha-de-bico-vermelho à Serra dos Candeeiros é o objectivo central do projecto, o facto é que ele inclui outras vertentes, que podem garantir a sua continuidade findo o financiamento, ao mesmo tempo que são promotoras do desenvolvimento local.

Ana Mesquita Veríssimo, responsável pela área da sustentabilidade da Vodafone Portugal, e coordenadora do projecto, disse à Lusa que o que levou a empresa escolhê-lo quando em 2008 aderiu à iniciativa europeia Business in Biodiversity, promovida em Portugal pelo ICN-B, foi precisamente o prever a criação de mecanismos que garantam a sua continuação findos os apoios.

“O próprio rebanho pode ser fonte de rendimentos”, através da certificação do cabrito e do queijo feito a partir do leite produzido, ao mesmo tempo que se envolve a comunidade local, neste caso da aldeia de Chãos (freguesia de Alcobertas, Rio Maior), e se criam postos de trabalho, realçou.

Um novo impulso começou a ser dado este mês, com o início de um outro projecto candidatado pela Quercus ao programa Life Natura e que irá permitir aumentar o rebanho em mais 200 cabras e a construção de um estábulo (o actual é provisório) e de uma queijaria colectiva que permita a certificação do queijo.

“Vai permitir que se criem bases muito mais sólidas para o projecto andar por si próprio”, referiu Paulo Lucas.

O projecto está a ser monitorizado, desde 2010, pelo Centro de Biociências do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, que está a avaliar o impacto que o rebanho tem no terreno, para eventuais alterações no projecto.

http://www.omirante.pt/noticia.asp?idEdicao=54&id=43146&idSeccao=479&Action=noticia