Salinas de Alverca - 14 de Janeiro de 2008

Boas,

Segunda-feira de tarde, eu mais o Rui Durão demos uma saltada às Salinas de Alverca um bocado às cegas, mas com esperanças de ver uns patos-de-bico-vermelho (Netta rufina). Ia também com alguma curiosidade/apreensão para ver qual o andamento da apregoada ETAR de Alverca, e foi uma dor de alma ver um enorme cercado de tapumes mesmo à entrada do acesso ao que resta da zona húmida. Camiões iam e vinham por entre tapumes da Somague e Mota-Engil (curiosa aliança...) e pensei: "prontos!, já arrebentaram com esta treta toda..."
Passado o choque inicial e tendo verificado que as obras não passavam aquela ribeirinha fétida onde uma série de guinchos (Larus ridibundus) petiscava, verificámos que a parte da zona húmida ainda se mantinha intacta, se bem que algo desolada de aves... Ou assim parecia à primeira vista.
O que saltou de imediato à vista foi a total ausência de patos, salvo um casal de patos-reais (Anas platyrhynchos) que passou em vôo. Não sei se isto se deve à perturbação causada pelas obras, se por caçadores (não sei se é permitida a caça naqueles terrenos, não andei à procura e não encontrei cartuchos usados no solo, salvo um preservativo usado). Bandos de verdilhões (Carduelis chloris) e pintassilgos (Carduelis carduelis) esvoaçavam pelo local, acompanhados por um grupinho de lavercas (Alauda arvensis) que volta não volta levantava vôo. Estávamos nisto de micar o passarinho quando vemos vir lançada a grande velocidade uma ave com maus instintos à flor do bico. Qual não foi o meu espanto por dar de caras com uma fêmea/juvenil de esmerilhão (Falco columbarius), voando apressadamente sobre a vegetação na nossa direcção, tendo-nos elegantemente sobrevoado e seguido para o Tejo. Passado pouco tempo, eramos sobrevoados por um tartaranhão-azulado (Circus cyaneus) macho, também ele afoito na caça ao pito pequeno. Junto às pistas, um número interessante (digo eu!) de sete águias-sapeiras (Circus aeruginosus) rondava a zona, juntamente com outras três espécies de rapinas.
Patos, nem vê-los, mas já rapinas havia e em quantidade. Aparentemente tanto verdilhão, pintassilgo e milheirinha tem condão de ser chamariz para falcões e tartaranhões e outras rapinas esfaimadas. Lá regressámos com uma dose de rapinas e com um certo alívio por ver que a zona ainda se mantinha mais ou menos na mesma (e isso inclui infelizmente o estado horrendo daquelas nauseabundas ribeiras azul-acinzentadas).
Depois desta passeata fiquei com curiosidade acerca de duas coisas. Primeiro, qual é o estatuto de conservação daquela área? Não valeria a pena tentar recuperar as salinas como zona protegida, criando trilhos e um posto de observação e integrando/protegendo esta zona tão interessante em tão descaracterizada zona urbana?
Segundo, será que a ETAR pode benificar aquela zona húmida? Pus-me aqui a pensar e, não sabendo nada sobre como funcionam estas estações, pergunto-me se esta pode ajudar a manter os níveis de água nos tanques/talhões.

E resumindo, o local em números neste dia, que nunca se sabe quando as observações possam vir a ser úteis para a protecção do local...

Phalacrocorax carbo 2
Bubulcus ibis ~10
Ardea cinerea 3
Anas platyrhynchos 2
Circus aeruginosus 7 (1 macho)
Circus cyaneus 1 macho
Buteo buteo 1
Elanus caeruleus 1
Falco tinnunculus 1 macho
Falco columbarius 1 fêmea/juvenil
Gallinula chlorops 3
Vanellus vanellus ~5
Tringa ochropus ~5
Larus ridibundus ~20
Larus fuscus ~5
Streptopelia decaocto 2
Alauda arvensis ~30
Galerida cristata 4
Anthus pratensis ~5
Motacilla alba ~5
Erithacus rubecula 2
Saxicola torquata 1
Turdus merula 2
Sylvia melanocephala ~5
Cettia cetti 2
Phylloscopus collybita/brehmii ~5
Passer domesticus 5
Carduelis cannabina ~5
Carduelis carduelis ~20
Carduelis chloris ~80
Serinus serinus ~10

...e a bela da exótica:
Estrilda astrild ~30