Onde acaba a observação e começa a perturbação?
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Gonçalo Elias
Agostinho Tomás
6 participantes
Fórum Aves :: Aves :: Aves de Portugal
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Onde acaba a observação e começa a perturbação?
Quero dar entrada neste forum a um assunto que a mim me faz pensar muitas vezes.
É a passagem da informação e mesmo a divulgação da localização de aves que se encontram em perigo.
Todos os que observam aves, há muito ou pouco tempo, sabem que a paciência, o silencio e a imobilidade são fundamentais para boas observações sem que se perturbe, ou perturbando ao mínimo, as aves. Mas não somos todos iguais, há uns mais pacientes que outros, há aves mais susceptíveis que outras.
Tenho visitado (2-3 vezes/ano) a zona de um casal de A. adalberti, penso que desde 2004, em 90% das vezes vi pelo menos um individuo, nunca soube nem procurei o ninho, o meu sitio de observação é humanizado e sempre o mesmo, durante estes anos levei três pessoas comigo duas delas viram os indivíduos.
Nestes casos parece-me que se deverá ter bastante cuidado com as pessoas que se leva e a quem se diz.
Possivelmente existem outras opiniões, por isso gostava de levar este assunto a debate neste forum.
Cumprimentos a tod@s
A. Tomás
P.S. – Penso que este ano vi o ninho e têm duas crias. Embora a foto não seja boa (também não é esse o objectivo) este é um dos indivíduos.
É a passagem da informação e mesmo a divulgação da localização de aves que se encontram em perigo.
Todos os que observam aves, há muito ou pouco tempo, sabem que a paciência, o silencio e a imobilidade são fundamentais para boas observações sem que se perturbe, ou perturbando ao mínimo, as aves. Mas não somos todos iguais, há uns mais pacientes que outros, há aves mais susceptíveis que outras.
Tenho visitado (2-3 vezes/ano) a zona de um casal de A. adalberti, penso que desde 2004, em 90% das vezes vi pelo menos um individuo, nunca soube nem procurei o ninho, o meu sitio de observação é humanizado e sempre o mesmo, durante estes anos levei três pessoas comigo duas delas viram os indivíduos.
Nestes casos parece-me que se deverá ter bastante cuidado com as pessoas que se leva e a quem se diz.
Possivelmente existem outras opiniões, por isso gostava de levar este assunto a debate neste forum.
Cumprimentos a tod@s
A. Tomás
P.S. – Penso que este ano vi o ninho e têm duas crias. Embora a foto não seja boa (também não é esse o objectivo) este é um dos indivíduos.
Agostinho Tomás- Número de Mensagens : 173
Idade : 47
Local : Ponte de Sôr
Data de inscrição : 18/06/2007
Re: Onde acaba a observação e começa a perturbação?
Olá Agostinho,
Penso que o tema é muito interessante e abre espaço a um amplo debate.
Em primeiro lugar parece-me importante distinguir entre aquilo que efectivamente causa perturbação e a percepção (humana) do que constitui perturbação. Dito de outra forma, é frequente haver situações em que um observador, num determinado local, acha que está a perturbar as aves. Outro observador nas mesmas circunstâncias acha que não. Porquê? Porque têm percepções diferentes sobre o grau de perturbação que estão a provocar ou sobre o limite de tolerância das aves em causa. Qual deles terá razão? Se calhar ambos, ou nenhum. Salientei deliberadamente a palavra "acha" para frisar o carácter subjectivo desta percepção.
Já me aconteceu estar no campo com outro observador a fotografar uma colónia de aves de rapina e o outro observador ter insistido comigo para irmos embora, a fim de "não chatearmos os bichos". Na ocasião fiquei a pensar quem estaria a sentir maior desconforto: se as aves, por eu estar a fotografá-las nas imediações da colónia, se o outro observador pelo facto de eu estar (supostamente) a perturbar as aves.
Fica aqui esta contribuição para o debate.
1 abraço,
Gonçalo
Penso que o tema é muito interessante e abre espaço a um amplo debate.
Em primeiro lugar parece-me importante distinguir entre aquilo que efectivamente causa perturbação e a percepção (humana) do que constitui perturbação. Dito de outra forma, é frequente haver situações em que um observador, num determinado local, acha que está a perturbar as aves. Outro observador nas mesmas circunstâncias acha que não. Porquê? Porque têm percepções diferentes sobre o grau de perturbação que estão a provocar ou sobre o limite de tolerância das aves em causa. Qual deles terá razão? Se calhar ambos, ou nenhum. Salientei deliberadamente a palavra "acha" para frisar o carácter subjectivo desta percepção.
Já me aconteceu estar no campo com outro observador a fotografar uma colónia de aves de rapina e o outro observador ter insistido comigo para irmos embora, a fim de "não chatearmos os bichos". Na ocasião fiquei a pensar quem estaria a sentir maior desconforto: se as aves, por eu estar a fotografá-las nas imediações da colónia, se o outro observador pelo facto de eu estar (supostamente) a perturbar as aves.
Fica aqui esta contribuição para o debate.
1 abraço,
Gonçalo
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25658
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Re: Onde acaba a observação e começa a perturbação?
Para mim informação "de qualidade" é sempre melhor que nenhuma informação, ou pior ainda, desinformação! Sobretudo neste fórum onde supostamente estão apenas pessoas altamente sensibilizadas para o problema da perturbação.
De qualquer das formas, a questão da perturbação e até onde podemos ir é algo que me interessa muito. Eu tipicamente sou daqueles que se sente sempre algo incomodado por se aproximar das aves... mas não vejo isso necessariamente como algo positivo. Outra questão relacionada é a perturbação que causamos não apenas às aves mas aos outros elementos do ecossistema, incluindo as pessoas!
Julgo que em casos concretos de salvaguarda (e.g. rapinas) teremos de ser pragmáticos e impor certas restrições e medir na medida do possível quais os efeitos dessas medidas nos objectivos a que nos propomos na conservação da(s) espécie(s) / individuos.
De qualquer das formas, a questão da perturbação e até onde podemos ir é algo que me interessa muito. Eu tipicamente sou daqueles que se sente sempre algo incomodado por se aproximar das aves... mas não vejo isso necessariamente como algo positivo. Outra questão relacionada é a perturbação que causamos não apenas às aves mas aos outros elementos do ecossistema, incluindo as pessoas!
Julgo que em casos concretos de salvaguarda (e.g. rapinas) teremos de ser pragmáticos e impor certas restrições e medir na medida do possível quais os efeitos dessas medidas nos objectivos a que nos propomos na conservação da(s) espécie(s) / individuos.
Localização das observações
Olá a todos
Este tema dá que pensar e cria-me muitas dúvidas...
Andam os observadores e os fotografos de aves preocupados em não perturbar, criam-se por vezes situações de fundamentalismo, e:
Chega o dia 15 de Agosto, abertura de caça, loucura total. Então?
Tudo é devassado, tudo é perturbado, nada se respeita, o barulho e a lixeira deixada pelos caçadores está à vista de todos e mais perturbador... matam, matam indiscriminadamente.
Dá que pensar, cria-me dúvidas e não tenho resposta.
Este tema dá que pensar e cria-me muitas dúvidas...
Andam os observadores e os fotografos de aves preocupados em não perturbar, criam-se por vezes situações de fundamentalismo, e:
Chega o dia 15 de Agosto, abertura de caça, loucura total. Então?
Tudo é devassado, tudo é perturbado, nada se respeita, o barulho e a lixeira deixada pelos caçadores está à vista de todos e mais perturbador... matam, matam indiscriminadamente.
Dá que pensar, cria-me dúvidas e não tenho resposta.
Romão Machado- Número de Mensagens : 93
Data de inscrição : 05/07/2007
Re: Onde acaba a observação e começa a perturbação?
Volto a pegar neste tema, apesar de já ter mais de um ano, pois parece-me um assunto que não se desactualiza e que merece uma análise mais aprofundada.
Pessoalmente tenho dúvidas sobre se existe excesso de perturbação causada pelos observadores de aves. Os casos de que até hoje ouvi falar de perturbação em Portugal e que tiveram impacto (negativo) sobre as aves, nomeadamente na estabilidade dos locais de reprodução, foram causados por actividades que nada tinham a ver com observação de aves (as chamadas "actividades radicais") ou então por parte de observadores de aves profissionais (aqueles que supostamente deveriam ter mais cuidado e responsabilidade).
Até à data nunca ouvi falar de casos no nosso país em que as aves fossem seriamente prejudicadas pela presença de observadores de aves amadores, cujo único objectivo era a observação ou a recolha de fotografias. Admito, contudo, que o problema tenha uma dimensão mais séria, por isso gostaria de convidar outros participantes a pronunciarem-se sobre esta questão: a perturbação por parte dos observadores de aves constitui ou não um problema?
1 abraço,
Gonçalo
Pessoalmente tenho dúvidas sobre se existe excesso de perturbação causada pelos observadores de aves. Os casos de que até hoje ouvi falar de perturbação em Portugal e que tiveram impacto (negativo) sobre as aves, nomeadamente na estabilidade dos locais de reprodução, foram causados por actividades que nada tinham a ver com observação de aves (as chamadas "actividades radicais") ou então por parte de observadores de aves profissionais (aqueles que supostamente deveriam ter mais cuidado e responsabilidade).
Até à data nunca ouvi falar de casos no nosso país em que as aves fossem seriamente prejudicadas pela presença de observadores de aves amadores, cujo único objectivo era a observação ou a recolha de fotografias. Admito, contudo, que o problema tenha uma dimensão mais séria, por isso gostaria de convidar outros participantes a pronunciarem-se sobre esta questão: a perturbação por parte dos observadores de aves constitui ou não um problema?
1 abraço,
Gonçalo
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25658
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Re: Onde acaba a observação e começa a perturbação?
Alo Goncalo,
acho que a resposta correcta para esta questao e um chuto para canto, tanto pode como nao. No entanto a prudencia aconselha a que, em caso de duvida, se ponha o bem estar das aves a frente da vontade de melhor as observar ou fotografar - e todos sabemos como as vezes e dificil resistir a tentacao. Outra coisa a lembrar e o exemplo que deixamos perante os outros. Como observadores de aves somos ainda um grupo pequeno (somos? estou a falar de cor...) e pouco (re)conhecido pela populacao (mais uma vez estou a falar da minha percepcao), e e bom nao ser conhecido pelas piores razoes - gente capaz de tudo para melhor ver uma ou um grupo de aves, traduzindo-se isto em desgaste desnecessario para as aves (nomeadamente se sao migradoras e precisam de descanso), trespasse de propriedade privada, etc... E sempre bom observar prudencia e dar um bom exemplo de uma actividade de ar livre feita como deve ser.
Deixo aqui uma historia que me foi contada por uma colega, creio que se passou na California, em que um grupo de observadores de aves na senda de um Black Rail (bicho notoriamente esquivo e raro), acabaram por pisotear a ave na busca da mesma, resultando na morte desta. Desfecho tragico que resultou com certeza em grandes observacoes de todos os detalhes da plumagem da ave...
Abraco,
Pedro
acho que a resposta correcta para esta questao e um chuto para canto, tanto pode como nao. No entanto a prudencia aconselha a que, em caso de duvida, se ponha o bem estar das aves a frente da vontade de melhor as observar ou fotografar - e todos sabemos como as vezes e dificil resistir a tentacao. Outra coisa a lembrar e o exemplo que deixamos perante os outros. Como observadores de aves somos ainda um grupo pequeno (somos? estou a falar de cor...) e pouco (re)conhecido pela populacao (mais uma vez estou a falar da minha percepcao), e e bom nao ser conhecido pelas piores razoes - gente capaz de tudo para melhor ver uma ou um grupo de aves, traduzindo-se isto em desgaste desnecessario para as aves (nomeadamente se sao migradoras e precisam de descanso), trespasse de propriedade privada, etc... E sempre bom observar prudencia e dar um bom exemplo de uma actividade de ar livre feita como deve ser.
Deixo aqui uma historia que me foi contada por uma colega, creio que se passou na California, em que um grupo de observadores de aves na senda de um Black Rail (bicho notoriamente esquivo e raro), acabaram por pisotear a ave na busca da mesma, resultando na morte desta. Desfecho tragico que resultou com certeza em grandes observacoes de todos os detalhes da plumagem da ave...
Abraco,
Pedro
Pedro Fernandes- Número de Mensagens : 703
Local : Rabat
Data de inscrição : 01/07/2007
Re: Onde acaba a observação e começa a perturbação?
Vivam,
sem dúvida uma questão interessante.
Na minha opinião, não creio que possa constituir grande problema.
E ao assumir esta minha posição, fundamento-me numa "permissa", já antes referida por alguém:
- todos os que frequentam(os) este forum são(omos) amigos das aves e procuram(os) salvaguardar sempre o seu bem-estar.
Caberá a cada um de nós ter consciência dos limites e das - também já referidas - "tentações".
A única situação em que creio que essa perturbação possa realmente acontecer (e também apenas não se salvaguardando ainda maiores distâncias e limites) é aquando das chamadas "saídas de campo colectivas." Andar no mato na companhia de um ou dois observadores é uma coisa, com nove ou dez já é outra.
Nada de extremismos. Impere o bom-senso.
sem dúvida uma questão interessante.
Na minha opinião, não creio que possa constituir grande problema.
E ao assumir esta minha posição, fundamento-me numa "permissa", já antes referida por alguém:
- todos os que frequentam(os) este forum são(omos) amigos das aves e procuram(os) salvaguardar sempre o seu bem-estar.
Caberá a cada um de nós ter consciência dos limites e das - também já referidas - "tentações".
A única situação em que creio que essa perturbação possa realmente acontecer (e também apenas não se salvaguardando ainda maiores distâncias e limites) é aquando das chamadas "saídas de campo colectivas." Andar no mato na companhia de um ou dois observadores é uma coisa, com nove ou dez já é outra.
Nada de extremismos. Impere o bom-senso.
Miguel Gaspar- Número de Mensagens : 57
Idade : 50
Local : Moita
Data de inscrição : 24/04/2008
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