Anilhagem de tagazes na Albufeira do Caia

Boa tarde,

Serve o presente email para dar conhecimento dos resultados da primeira sessão da campanha de anilhagem de Sterna nilotica, vulgo tagaz, na Albufeira do Caia. A sessão contou com cerca de 25 participantes, entre os quais 2 elementos do corpo do SEPNA da GNR, que nos tem vindo a apoiar com a embarcação. Contamos também com o apoio de 2 biólogos da Universidade da Extremadura, com muita experiência nestas andanças, bem como vários ilustres e reconhecidos membros do grupo de anilhagem do Tejo, uma mão quase cheia de veterinários e mais uma quinzena de bem dispostos e entusiasmados voluntários, com idades compreendidas entre os 5 e os 70 anos.
Resultou numa manhã trabalhosa muito bem passada, na qual se marcaram 334 crias, das quais 113 com anilhas de cor, resultados que se podem considerar muitos bons!

Carlos,

Duas perguntas:
- Como tem evoluído a população destes bichos no local?
- Há controlos de anos anteriores?

1 abraço,
Gonçalo

Gonçalo,

Tem evoluído positivamente num contexto de médio longo termo, no entanto as populações destas espécies podem sofrer grandes flutuações interanuais devidas a diversos factores, nomeadamente o nível de água. O Luís Venâncio dará mais detalhes acerca de números concretos posteriormente, mas posso adiantar-te que após a colonização do Caia a população aumentou significativamente até cerca de 600 casais em 2009. Em 2010 passou para 0 (apesar de terem aparecido muitos adultos) porque o nível de água estava elevadíssimo e não havia ilhas. Em 2011 houve poucos casais reprodutores e sucesso muito baixo, parcialmente pela mesma razão (a ilha principal não estava disponível e as aves utilizaram ilhas alternativas, aparentemente menos favoráveis) e este ano ronda os 450 casais.

Quanto a controlos de anos anteriores, sim há muitos. Temos imensos de aves marcadas em colónias espanholas e já temos alguns das aves marcadas em 2008 e 2009, quer no Caia, quer em áreas de stopover (arrozais da Giganta, estuário do Tejo - 1 ind.) e em áreas de invernada, mais concretamente na Guiné-Bissau (1 ind.)
Como referi anteriormente, o Luís poderá concretizar com números mais tarde.

Não tinha ideia que a colonia fosse assim tão grande.

Não era, mas cresceu muito. Curiosamente o crescimento coincidiu com o declínio em algumas colónias espanholas, tendo-se constatado que os indivíduos aí anilhados estavam a aparecer no Caia. De certa forma foi essa a razão do início do nosso projecto.
Esta espécie é muito mal conhecida e aparentemente a sua dinâmica populacional é bastante complexa, tendo que ser analisada num contexto ibérico e não nacional.
A espécie parece estar a expandir-se pelo país, havendo diversas colónias em albufeiras no interior: Caia, Alqueva, Esporão, Beringel, Roxo e certamente algumas mais ainda por descobrir (por exemplo na zona de Évora).
Aproveito para dizer que há poucos dias andavam cerca de 70 indivíduos (provavelmente não reprodutores ou reprodutores que falharam) nos arrozais da Giganta, provavelmente já a preparar-se para migrar para África. Se andarem por lá estejam atentos às anilhas. Já se tem feito milagres com fotos muito distantes!

Boas,

Como uma imagem vale mais do que mil palavras, aqui fica um gráfico com o número de casais (média do intervalo, sendo que em 2009 foi de 600-700) e os números de aves anilhadas (os deste ano são estimativas):



Quanto a controlos de aves locais no local, temos um total de 8, envolvendo 4 aves de 2008 e 2 de 2009. A principal razão desta escassez é que as aves só regressam de África a partir do terceiro ano.

Relativamente a aves espanholas, temos cerca de 200 controlos de 80 aves diferentes.

Vê lá se queres aparecer dia 14!

Abraços, Luis

Obrigado Luís.

Duas perguntas:
- o que aconteceu em 2010?
- se as aves regressam a partir do 3º ano, não deveria agora haver muitos controlos de 2008 e 2009?

1 abraço,
Gonçalo

PNicolau escreveu:

Gonçalo Elias escreveu:Duas perguntas:
- o que aconteceu em 2010?

Carlos Pacheco escreveu:Em 2010 passou para 0 (apesar de terem aparecido muitos adultos) porque o nível de água estava elevadíssimo e não havia ilhas.

No ano passado quase não deu para ler anilhas por causa da vegetação muito alta, mas este ano estava à espera de ler umas quantas e infelizmente não tem sido possível. Penso que temos tido azar em ler quase só espanholas, mas a verdade é que se desconhece o grau de mortalidade ao longo da permanência em África, bem como a percentagem de aves que regressa logo no terceiro ano. Por outro lado, também podem estar a criar noutros locais.

Desde que o sítio permita o acesso de uma viatura, até não é difícil ler anilhas desta espécie, pois os bichos são muito tolerantes. Basta aproximar-mos lentamente do bando, ler o que houver para ler (com telescópio, claro) e ficar às espera que vão aparecendo mais.

Abraço, Luis

Luís Venâncio escreveu:Penso que temos tido azar em ler quase só espanholas

Azar? Eu acho isso uma grande sorte!

O facto de se saber que as aves espanholas vêm criar cá é tão ou mais interessante do que saber que as aves voltam ao local onde nasceram.

Azar era ver uma data de anilhas e não conseguir ler nenhumas

1 abraço,
Gonçalo

Sim, eu sei...

O que se passa é que em 2008 anilhámos com anilhas vermelhas cedidas pelos espanhóis, em 2009 começámos a anilhar com anilhas amarelas nossas e eu estou um bocado frustrado por ainda não ter lido nenhuma amarelinha.

Abraço, Luis

Já eu que fiz apenas algumas incursões este ano e li meia dúzia fui bafejado com 2 :-) Pura sorte!!!

Quem sabe, sabe!!

Nada disso Luís. Foi sorte mesmo! Também tive vezes em que havia centenas de aves mas nem uma anilhada (espanhola ou nossa).

Gonçalo:

- se as aves regressam a partir do 3º ano, não deveria agora haver muitos controlos de 2008 e 2009?

É preciso ver que a percentagem dessas aves que regressam ao local onde nasceram é desconhecida e que mesmo que aqui regressem muitas, são sempre uma percentagem relativamente pequena do total de aves presentes. Diría que os números estão dentro das expectativas, tendo em conta que ocorreu reprodução em diversos outros locais. Creio é que a partir do próximo ano o número de controlos das que marcamos em 2008 e 2009 vai engrossar. A ver vamos.