Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal

Entre as que estão a aumentar esqueci-me de um incrivelmente óbvia: Gelochelidon nilotica.

Talvez me digam que não, é generalizada mas parece-me que a poupa Upupa epops praticamente desapareceu daqui da zona da Póvoa era muito abundante até aos anos 60 segundo medissem junto aos campos masseira no litoral a Norte. Lembrei-me disto porque só hoje vi a minha primeira deste ano e foi em Esposende.
Em compensação vi, hoje também, um milhafre preto em Monção junto ao rio Minho e ao que parece são numerosos por lá. Quando dei aulas por lá há 27 anos atrás era completamente impensável ver um milhafre

Embora não me considere com experiência de campo suficiente, já em várias conversas informais, inclusive com técnicos do ICN, fiquei com a sensação que a opinião em relação ao chasco-preto é que a sua distribuição pode estar a aumentar, possivelmente associada à expansão da viticultura no Douro Superior.

Mas, embora considerada CR em Portugal, não sei se haverá algum censos robusto para monitorizar diferenças.

Da minha experiência e passando uma vista de olhos rápida pelos meus apontamentos gostaria de trocar as seguintes ideias:

A Cyanopica cyanus tem vindo a desaparecer de alguns locais onde ocorria, principalmente à volta de Lisboa, não têm essa percepção? Posso vos dizer que não me recordo da última vez que a registei na minha quadrícula CAC (Manique do Intendente) e havia, pouco, mas havia.

Porque não o Garrulus glandarius a aumentar? Parece-me bem mais comum, incluindo em Lisboa, e bem mais atrevido/habituado à nossa presença.

Relativamente à Ardea cinerea também registo um ligeiro aumento.

Uma espécie que me parece estar a diminuir é o Aegithallos caudatus, mas neste caso é mais um feeling.

Relativamente à codorniz noto nos últimos anos não uma alteração, mas uma adaptação ao "novos" habitates, como vinhas e olivais em produção integrada.

Cumprimentos
António Heitor

António Cláudio Heitor escreveu:
A Cyanopica cyanus tem vindo a desaparecer de alguns locais onde ocorria, principalmente à volta de Lisboa, não têm essa percepção? Posso vos dizer que não me recordo da última vez que a registei na minha quadrícula CAC (Manique do Intendente) e havia, pouco, mas havia.

É possível que tenha havido diminuições a nível local, aliás isso acontece com várias espécies, parece-me.

António Cláudio Heitor escreveu:Porque não o Garrulus glandarius a aumentar? Parece-me bem mais comum, incluindo em Lisboa, e bem mais atrevido/habituado à nossa presença.

Concordo que o gaio se tornou mais comum em Lisboa (penetrou em meio urbano?)

Entre as espécies que estão a diminuir, creio que é de assinalar o caso da Ixobrychus minutus, a qual me parece ter desaparecido (ou diminuído fortemente) em várias áreas onde ocorria anteriormente, como o paul do Boquilobo, o estuário do Sado ou a lagoa de Santo André.

Gonçalo Elias escreveu:Entre as espécies que estão a diminuir, creio que é de assinalar o caso da Ixobrychus minutus, a qual me parece ter desaparecido (ou diminuído fortemente) em várias áreas onde ocorria anteriormente, como o paul do Boquilobo, o estuário do Sado ou a lagoa de Santo André.

Tens dados para essa espécie?

Olá,

Concordo com o Ixo Min mas a minha opinião é apenas fundamentada com dados de um local, a Barrinha de Esmoriz.
Na década de 90 esta espécie tinha garantidamente mais do que um casal reprodutor. Já neste milénio só aparece em alguns anos e em muitos casos serão provavelmente, aves em passagem que assentaram ali por uns dias. Tornou-se um reprodutor irregular.

Para a lista das espécies que estão em diminuição lanço outro infeliz candidato: Pardal-montês (Passer montanus). Aqui no NO de Portugal parece-me que a sua abundância e distribuição caiu muito mesmo. Mais alguém acha o mesmo?

Pedro Cardia

pedrocardia escreveu:
Para a lista das espécies que estão em diminuição lanço outro infeliz candidato: Pardal-montês (Passer montanus). Aqui no NO de Portugal parece-me que a sua abundância e distribuição caiu muito mesmo. Mais alguém acha o mesmo?

Creio que sim, pelo menos nalgumas áreas. Aqui no Algarve já foi muito mais frequente do que é na actualidade.

Também em sítios como o estuário do Sado me parece que diminuiu, vendo no e-bird por exemplo há muito mais observações desse local na década de 1990 que em anos recentes.

Gonçalo Elias escreveu:
Também em sítios como o estuário do Sado me parece que diminuiu, vendo no e-bird por exemplo há muito mais observações desse local na década de 1990 que em anos recentes.

Não sei se é linear, o perfil dos observadores pode ser diferente e causar diferenças nas espécies detectadas, alem disso tenho a sensação que o Sado é menos visitado actualmente, ou as visitas são menos abrangentes.

Concordo, aqui na zona da Póvoa era frequente nas freguesias interiores que em espaços arborizados quer nos quintais e periferias de campos. Este ano o primeiro que vi foi em Maio

pedro121 escreveu:Não sei se é linear, o perfil dos observadores pode ser diferente e causar diferenças nas espécies detectadas, alem disso tenho a sensação que o Sado é menos visitado actualmente, ou as visitas são menos abrangentes.

És capaz de ter razão, no final dos anos 80 e início dos anos 90 o Sado era um dos meus locais favoritos, não só pela elevada diversidade mas também porque era um sítio onde dava para ir de comboio (e eu na altura não tinha carro). Para além das aquáticas, o sítio era também muito interessante para aves florestais.

Entretanto a área foi sendo objecto de sucessivas restrições de acesso, primeiro da Herdade do Pinheiro e depois no Zambujal, as zonas mais interessantes ficaram interditas e isso tornou o Sado globalmente menos acessível. Isto poderá ter contribuído para a redução do número de registos de algumas espécies (mas isso não invalida que tenha havido uma diminuição).

Gonçalo Elias escreveu: Isto poderá ter contribuído para a redução do número de registos de algumas espécies (mas isso não invalida que tenha havido uma diminuição).

Sim, claro, a esse propósito quando este ano fizemos o Big Day, pardal montes foi das espécies que foram colocadas nas de dificuldade media-alta e foi uma sorte termos dado com eles na ponta da erva porque de facto pelo Sado nem sinal

Em relação ao Garçote para já só foi detectado em 4-5 quadriculas do atlas...

pedro121 escreveu:Em relação ao Garçote para já só foi detectado em 4-5 quadriculas do atlas...

Nota que os dados das visitas sistemáticas do atlas não são uma boa indicação da tendência populacional desta espécie - esse tipo de prospecção funciona bem para passeriformes e quejandos, mas funciona mal para espécies coloniais ou nocturnas ou de hábitos secretivos e essas só vão lá com censos dirigidos.

Gonçalo Elias escreveu:mas funciona mal para espécies coloniais ou nocturnas ou de hábitos secretivos e essas só vão lá com censos dirigidos.

Sim, sem duvida, num percurso tipo atlas só com muita sorte é que dá com Garçote

pedro121 escreveu:

Gonçalo Elias escreveu:mas funciona mal para espécies coloniais ou nocturnas ou de hábitos secretivos e essas só vão lá com censos dirigidos.

Sim, sem duvida, num percurso tipo atlas só com muita sorte é que dá com Garçote

Exacto, eu no atlas anterior fiz cerca de 1000 tétradas (de 1 hora cada) e se memória não me falha só detectei garçote numa única ocasião - foi junto a um pequeno açude perto de Estremoz.

Gonçalo Elias escreveu:
Exacto, eu no atlas anterior fiz cerca de 1000 tétradas (de 1 hora cada) e se memória não me falha só detectei garçote numa única ocasião - foi junto a um pequeno açude perto de Estremoz.

Sim, eles são no mínimo complicados, talvez a espécie comum mais difícil (tirando as nocturnas ) de ser detectada usando a metodologia Atlas. Só mesmo com procura sistemática. Outras espécies complicadas de detectar são as rapinas pequenas, estou a apanhar menos do que pensaria, ou seja eu estou a atravessar territórios conhecidos e não dou com elas, é mesmo sorte.

pedro121 escreveu:
Sim, eles são no mínimo complicados, talvez a espécie comum mais difícil (tirando as nocturnas ) de ser detectada usando a metodologia Atlas. Só mesmo com procura sistemática. Outras espécies complicadas de detectar são as rapinas pequenas, estou a apanhar menos do que pensaria, ou seja eu estou a atravessar territórios conhecidos e não dou com elas, é mesmo sorte.

Locustella luscinioides também pode ser complicada nesse tipo de visita.

Gonçalo Elias escreveu:
Locustella luscinioides também pode ser complicada nesse tipo de visita.

Na primeira visita elas ainda estão a cantar, claro que implica ir aos locais mas em visitas matinais ou ao entardecer são relativamente fáceis de ouvir.

Sem dúvida, mas nota que o objectivo das visitas sistemáticas não é o de detectar espécies raras, mas sim espécies comuns.

mais duas espécies que me parecem estar com tendências de aumento nas últimas décadas:
Anser anser
Grus grus

Gonçalo Elias escreveu:mais duas espécies que me parecem estar com tendências de aumento nas últimas décadas:
Anser anser
Grus grus

Porque o dizes Gonçalo?

Bem, é apenas uma impressão porque não tenho contagens actualizadas (as contagens costumavam ser publicadas anualmente na década de 1990 mas em anos mais recentes isso não tem acontecido).

No caso dos Anser a sensação que tenho é que a população invernante do estuário tem vindo a aumentar e além disso têm vindo a surgir observações de invernantes em cada vez mais locais.

Quanto aos grous, tenho ouvido falar de números elevados, nomeadamente no núcleo de invernada mais importante que é o de Moura-Mourão.

Acrescento à lista das espécies que estão a aumentar:
Erithacus rubecula