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Sub-espécies

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Mensagem por Josés Qua Mar 02, 2011 2:08 am

Bom dia,
Como se detecta diferenças nas aves, para se considerar uma sub-espécie?
Como o caso dos pardais?

Tem-se em conta o padrão da ave mais comum? e detecta-se as diferenças em outras aves para afirmar que é uma sub-especie ou através de outro método?

Abraço
Ivo
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Mensagem por RicardoLima Qui Mar 03, 2011 12:55 pm

Bom dia,

Primeiro que tudo a tua pergunta, ao contrario do que possa parecer, nao e nada facil de responder.

Uma coisa e identificar as especies no campo e outra completamente diferente e descrever cientificamente as especies.

Para se descrever uma especie, e preciso identificar um grupo de individuos que se reproduzem entre si e produzem uma descendencia fertil com caracteristicas identicas as dos progenitores. As sub-especies teem uma definicao menos objectiva, e geralmente sao reconhecidas para distinguir grupos dentro de uma especie que se reproduzem entre si e apresentam caracteristicas distintas de outros grupos da mesma especie. A diferenca e que as sub-especies teem capacidade de se reproduzir entre si e dar descendentes ferteis identicos aos seus progenitores!

Esta classificacao em especies e subespecies e feita por especialistas a nivel global, que se baseiam na melhor informacao que esteja disponivel para cada grupo de seres vivos (animais, plantas, bacterias,fungos...). Na Europa ha um organismo (AERC TAC) que produz uma lista das especies de aves que sao reconhecidas pela comunidade cientifica.

Mesmo especies diferentes podem por vezes muito dificeis de distinguir no campo, como por exemplo no caso das felosinhas (Phylloscopus). Isto porque a distincao tanto de especies como de sub-especies e cada vez mais feita por metodos geneticos, que permitem identificar especies que parecem sao iguais mas biologicamente nao sao (chamadas de especies cripticas).

Com base nestas listas de especies e que surgem os guias de campo, que indicam as caracteristicas visiveis (ou audiveis), que permitem distinguir as diferentes especies ou subespecies. Ou seja, nao e possivel so indo para o campo saber a partida se se esta a observar uma especie ou subespecie distinta, e preciso levar um guia para comparar aquilo que se esta a observar com aquilo que ja foi descrito e catalogado!

Abraco,
RICARDO.

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Mensagem por Gonçalo Elias Qui Mar 03, 2011 2:47 pm

RicardoLima escreveu:Para se descrever uma especie, e preciso identificar um grupo de individuos que se reproduzem entre si e produzem uma descendencia fertil com caracteristicas identicas as dos progenitores.

Ricardo, tenho ideia que esta já não é considerada a definição-padrão, tendo vindo a ser substituída pelo ADN mitocondrial. Estou certo?

Aliás no caso do Priolo (e de outras populações geograficamente isoladas) é difícil saber se dão descendentes férteis com os dom-fafes.
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Mensagem por RicardoLima Qui Mar 03, 2011 5:04 pm

Pois, como eu disse a questao e bem complicada...

A definicao que eu dei (um pouco de cabeca e simplificando) e bastante geral e consensual. No entanto o conceito de especie e extremamente dificil de aplicar na pratica.

O caso do priolo (ou de qualquer outra populacao insular) e problematica, porque como a populacao esta geograficamente isolada nao se pode verificar se existe reproducao dos individuos dos dois grupos (continental e insular). Existem muitos outros casos problematicos, como por exemplo as bacterias que geralmente nem se "reproduzem entre si", apenas se dividem assexuadamente.

Com o desenvolvimento das tecnicas moleculares, cada vez mais e tida em conta a distancia genetica entre populacoes para indirectamente avaliar se estas serao proximas ou nao, e indirectamente inferir a sua capacidade de trocar material genetico. (O ADN mitocondrial e mais usado porque e passado directamente da mae para a descendencia e como tal nao e tao complicado como o ADN nuclear, que mistura a genetica de ambos os progenitores).

O problema com estas tecnicas e que nao existe uma distancia genetica que seja comum a todos os organismos e que a partir da qual se possa definir a linha entre especies e nao especies. E como tal o conceito de especie nao pode ser definido por criterios unicamente geneticos.

O que tende a acontecer hoje em dia (pelo menos com as aves) e que o cientista que esta a avaliar a delimitacao de especies de um determinado grupo faz o corte na distancia que e convencionalmente aceite como a linha de especie dentro do grupo de organismos em que esta a trabalhar, e por comparacao com casos em que seria possivel definir este limite com maior precisao. Infelizmente este metodo, apesar de ser o melhor que existe, e altamente dependente do grupo de organismos. A diferenca genetica que separa um macaco de um cao provavelmente nao seria suficiente para reconhecer duas especies de bacterias, simplesmente devido as diferencas biologicas dos dois tipos de organismos (mamiferos e bacterias).

Em casos complicados as tecnicas moleculares sao geralmente as mais esclarecedores, mas mesmo assim sao quase sempre suportadas por outro tipo de evidencias (morfologicas, comportamentais,ecologicas,...) porque, no caso particular que esteja em analise a distancia genetica so por si pode induzir em erro e levar a distincao de especies que nao o sao de verdade.

Outro caso complicado e o de especies com variacoes graduais ao longo da sua distribuicao. Cada populacao pode ser muito parecida e reproduzir-se com as populacoes vizinhas, mas quando se comparam os extremos da distribuicao eles nao se cruzam e as vezes tambem ja nem sao nada parecidas (pela acumulacao de pequenas diferencas ao longo da distribuicao). Ou seja, se esses extremos estivessem lado a lado poderiam ser "boas especies", mas na realidade nao o sao porque pode haver fluxo genetico entre os dois grupos atraves das populacoes intermedias. Esta e uma das razoes para continuar a reconhecer sub-especies.

Quando a Natureza esta em accao cria situacoes complexas, que desafiam os nossos melhores esforcos para a reduzir a um conceito simples de compreender. E o unico que podemos fazer e tentar chegar a um consenso sobre o melhor conceito possivel para um caso concreto e a partir dai criar novos conceitos para poder descrever melhor a realidade complexa da biodiversidade...

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Mensagem por Pedro Andrade Sex Mar 04, 2011 3:40 am

Não tenho muito a acrescentar ao que o Ricardo disse, apenas reforçar a ideia que qualquer tentativa que nós fazemos para agrupar seres vivos em categorias bem definidas ou delineadas esbarra sempre com o problema que essas categorias não existem na Natureza, apenas na nossa cabeça. Temos que pensar nos seres vivos como um conjunto de indivíduos a lutar cada um por uma vantagem, e se é verdade que podemos agrupar indivíduos segundo parecenças, isso apenas acontece porque os indivíduos conseguem trocar genes entre si ou, principalmente, porque descendem de um antepassado comum. Isto implica que dar definições a conceitos como "família", "ordem" ou mesmo "espécie" e "sub-espécie" tem um elevado grau de subjectividade associado.
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Mensagem por daniel.sobral Sex Mar 04, 2011 2:24 pm

Isto para não falar das trocas genéticas horizontais, que ocorrem ocasionalmente (talvez mais do que se pensa) mesmo em organismos mais "avançados".

Só uma pergunta aos patólogos: há híbridos de patos férteis?
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Mensagem por PedroSeixas Dom Mar 06, 2011 6:32 am

Bom dia Daniel Sobral:

Sim, infelizmente há hibridos de patos fertéis pale ... e não são poucos.

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Mensagem por L_Almeida Seg Mar 07, 2011 6:11 am

Olá,

Já agora, e após a explicação acima, seria possível explicar quais são os mecanismos genéticos que fazem com que uma espécie não se possa reproduzir com outra ?

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Mensagem por Josés Seg Mar 07, 2011 11:05 am

Obrigado Ricardo pela tua explicação,já deu para perceber um pouco como se processa tudo.

Abraço

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Mensagem por RicardoLima Qua Mar 09, 2011 10:53 pm

Geralmente tambem nao se consideram especies que apenas se reproduzem em situacoes extremas, como o cativeiro.

Existem muitos mecanismos de isolamento reprodutor que normalmente impedem os individuos de especies diferentes de se cruzarem, mas que nao actuam em cativeiro. Os tigres e os leoes sao um bom exemplo de especies faceis de cruzar em cativeiro, mas que na Natureza quase de certeza nao o fariam. Imagino que o mesmo se passa com muitos desses hibridos de patos que de vez em quando aparecem por ai: a grande maioria deve ser resultado de cruzamentos artificiais.

Os mecanismos de isolamento reprodutor geralmente nao sao de caracter genetico. Uma lista deste tipo de mecanismos pode ser encontrada em http://www.simbiotica.org/isolamento.htm

Estes mecanismos tambem podem ocasionalmente ser quebrados na Natureza, como foi recentemente descrito entre duas especies de gaivota no Anuario ornitologico da SPEA (http://www.spea.pt/pt/publicacoes/anuario-ornitologico/volume-7/). No entanto, considera-se que estes casos excepcionais nao interferem com o isolamento de duas especies, porque exactamente o seu caracter excepcional implica que nao existe um fluxo genetico regular entre as duas especies e que como tal a sua definicao nao fica em duvida. Ninguem esta a considerar que afinal Larus marinus e L. michahellis nao sao especies distintas por causa deste caso excepcional.

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Mensagem por Gonçalo Elias Qui Mar 10, 2011 2:05 am

Há um artigo interessante do G. Sacarrão que aborda esta questão acerca dos pardais:

Sacarrão, G. F. 1986a. O problema do isolamento reprodutor de Passer hispaniolensis (Temminck) em Portugal. Cyanopica III (4): 729-741.
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Mensagem por Josés Qui Mar 10, 2011 3:32 am

Esses mecanismos de isolamento reprodutor, estudei em Biologia, lembro-me disso das barreiras que podem existir isolando populações, tinha um exemplo com coelhos, que a barreira era um rio.

Abraço,
Josés
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Mensagem por L_Almeida Qui Mar 10, 2011 6:48 am

Caros,

Muito obrigado pelas explicações!

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