captura de aves em Portugal

Ola a todos

Em baixo encontra-se a carta que acabei de enviar a SPEA.
Nao sei se isto pode começar algo de bom para as aves!
Como individuo nao consigo nada! , mas se todos apoiarem um pouco talvez consiga-mos com que a spea faça algo neste sentido.
Alguem tem ideias? os contactos certos dentro da spea/ ICN?
Um abraço
Joost Valkenburg



Caros leitores,

Mais uma vez foi com muito agrado que estive no Algarve nos dias de festa.

Durante a minha estadia dediquei-me à observação e anilhagem de aves’, e naturalmente à familia e amigos.
O que mais uma vez me desiludiu foi a presença em varios restaurantes/ tascas de “voadores” na ementa.
Serà que a SPEA nao pode promover uma campanha para parar a evoluçao que a captura ilegal de aves esta a tomar em Portugal. Eu digo isto porque ja nao so se trata dos “velhotes”no campo que armam umas ratoeiras para o petisco. Mas os passarinhos estao-se a tornar cada vez mais um negocio, 1 euro para um pasarinho despenado e limpo!!
Por conhecimento proprio sei que muitas vezes são os toxicodependentes que apanham as aves para vender e assim conseguir $ para mais uma dose de desgraça.
Sera que nao se pode fazer o chamado loby para mudar as leis em Portugal? Porque, enquanto a lei permite a venda de “voadores” nos restaurantes ha negocio!! E as ratoeiras tambem sao legais, e redes de neblina tambem se pode comprar sem restrições em Portugal.

Espero que isto possa ajudar os nossos migradores e residentes!

Com os melhores comprimentos,

Joost Valkenburg
Oldenhof 82
6665 DW Driel
Holanda

Telf. 0031(0)264720737
Cel. 0031(0)644798448

Boas,

Lembro-me no meu tempo de garoto, ser essa prática (captura de pequenas aves para "petisco") muito comum por aqui durante todo o ano.
Eram montadas centenas de "ratoeiras" sistemáticamente e capturadas mortas dezenas de aves por dia. No início da invernada dos Piscos-de-peito-ruivo, chegava mesmo às centenas.
Actualmente caíu em desuso e num raio de muitos quilometros, já não se ouve falar sequer nisso.

Parece que ainda existe essa "tradição" noutros locais do país, infelizmente...

Porque, enquanto a lei permite a venda de “voadores” nos restaurantes ha negocio!!

Não me parece que seja assim tão linear... segundo me lembro, toda a "carne" vendida em restaurantes tem que ser certificada por um centro de abate homologado para tal. Até mesmo a "caça" tem de ter vistoria veterinária para poder ser servida em restaurantes... No caso dos "passarinhos" não existe qualquer controlo.
Aqui, sugeria denúncia à ASAE de todos os restaurantes / tascas que praticassem tal actividade.

E as ratoeiras tambem sao legais, e redes de neblina tambem se pode comprar sem restrições em Portugal.

De facto, essa é uma grande lacuna em termos legislativos...
A Convenção de Berna, ratificada para Portugal e regulamentada pelo D. L. 316/89, proibe a utilização dos seguintes métodos de captura:

ANEXO IV

Meios e métodos da caça e outras formas interditas de exploração

(...)

Aves

Laços (3)

Viscos.

Ganchos.

Animais vivos, cegos ou mutilados utilizados como chamariz.

Gravadores.

Aparelhos eléctricos capazes de matar ou de atordoar.

Luzes artificiais.

Espelhos ou outros objectos capazes de causarem encadeamento.

Dispositivos para iluminar os alvos.

Dispositivos de mira munidos de ampliadores de imagem ou de transformadores.

Explosivos.

Redes.

Armadilhas.

Veneno e isco envenenado ou anestesiante.

Armas semiautomáticas ou automáticas, cujo carregador comporte mais de dois cartuchos.

Aviões.

Veículos automóveis em movimento.

Mas não prevê nada em relação à sua comercialização. Ou seja, os meios e métodos apenas são proibidos quando estão a ser utilizados...
Por isso se vê meios deste tipo à venda em qualquer feira e nada se pode fazer!
Só mesmo uma alteração à legislação. Até porque não faz sentido andarmos atrás dos ditos "passarinheiros" até os apanhar em flagrante, quando se podia combater parte do problema na origem.
Acaba por se tornar um desperdício de recursos na fiscalização, que fica muito aquem de qualquer percentagem significativa em termos de eficácia, e acaba por "estimular" de alguma forma os infractores... enquanto 1 é apanhado, 100 escapam impunes...(Se der dinheiro, vá de arriscar...).

Olá Francisco

Quanto à questão dos passarinhos em tascas e restaurantes encontram-se à venda em grandes superficies, passeriformes congelados, normalmente com proveniência da China, que para um restaurante fica muito mais barato do que comprar a um euro por exemplar a um provável toxicodependente que se dedique à matéria.

Quanto à questão das capturas, era perfeitamente normal, nos meios rurais esta situação acontecer. Penso que alguns ou mesmo muitos de nós, iniciaram-se no mundo das aves dessa maneira. Agora, só muito raramente é que sei de capturas ilegais de aves na minha aldeia. O ultimo foi um recem-habitante aqui na povoação, que descobri que era agente da PSP e que foi prontamente denunciado pelos vizinhos. Portanto começa a existir uma mudança no comportamento das pessoas em relação a esta matéria.

Um abraço

Paulo

Ola

Francisco,
Assim aos poucos fico a saber um pouco mais sobre as leis em Portugal.
No algarve, mais precisamente na zona de Silves infelizmente ainda se encontra muitas vezes ratoeiras amadas ou os vestigios de aonde elas estiveram.

Paulo,
eu de facto tambem conheço o sabor dos passarinhos,quando era criança era pratica corrente no outono , passei a minha infancia no campo... sei que nao é desculpa mas se os vizinhos o faziam, mesmo contra a vontade dos meus pais eu tambem o fazia.
Desconhecia o facto dos passeriformes chineses nas grandes superficies comerciais, asim de facto nao faz sentido comprar as aves nativas, o que nao tira inportancia ao problema, so o muda para outro continente.

agradeço os vossos comentarios,

Mais reacçoes sao sempre bemvindas

Um abraço
Joost

scirpaceus escreveu:Olá Francisco

Quanto à questão dos passarinhos em tascas e restaurantes encontram-se à venda em grandes superficies, passeriformes congelados, normalmente com proveniência da China, que para um restaurante fica muito mais barato do que comprar a um euro por exemplar a um provável toxicodependente que se dedique à matéria.

Boas Paulo,
De facto nunca me apercebi disso. No entanto já vi em tascas de Lisboa um letreiro "Há Passarinhos" e no fundo eram apenas Codornizes de criação industrial...

scirpaceus escreveu:
Quanto à questão das capturas, era perfeitamente normal, nos meios rurais esta situação acontecer. Penso que alguns ou mesmo muitos de nós, iniciaram-se no mundo das aves dessa maneira. Agora, só muito raramente é que sei de capturas ilegais de aves na minha aldeia. O ultimo foi um recem-habitante aqui na povoação, que descobri que era agente da PSP e que foi prontamente denunciado pelos vizinhos. Portanto começa a existir uma mudança no comportamento das pessoas em relação a esta matéria.

Um abraço

Paulo

Concordo. Por aqui também é raro detectar-se capturas ilegais para esse fim (detecta-se com mais facilidade a captura de fringilídeos com fins ornamentais). No entanto de vez em quando ainda dou com "terreiros" que foram utilizados recentemente para armar ratoeiras de pássaros (também chamadas de "costelas" ou "esparrelas").
Ou seja, o problema não tem de modo algum a escala que tinha no meu tempo de miudo, mas ainda ocorre. Isto por aqui, porque sei de fontes fidedignas, que noutros locais do país, continua a ser prática comum.
Ora o que me lixa nisto é o facto de ver em feiras, "bué" destes meios à venda e que todos sabemos que vão (mais tarde ou mais cedo) servir para práticas ilegais e não poder fazer nada!
A não ser que passe o dia na feira a topar quem compra as ditas ratoeiras, seguir o comprador até saber onde mora e esperar pacientemente (coisa que pode levar uma hora ou um mês) até que este se dicida ir armar as ditas cujas. Aí já tenho bases legais para actuar, mas será que justifica o esforço, quando se podia ter "cortado" o mal pela raiz (neste concreto, a exposição para venda), caso isso estivesse previsto na lei?

Quanto a mim, deveria estar previsto a autorização para venda e detenção de quaisquer meios de captura ilegais previstos no DL 316/89.
Assim, meios que sabemos muito bem para que fins específicos se destinam (ratoeiras, redes, etc.), pura e simplesmente não eram autorizados. A autorização estaria restrita à comercialização e detenção para fins científicos!
Creio que se eliminava grande parte da oferta e consequentemente, grande parte da utilização ilegal.

O problema é que podem dar argumentar outra utilização a esse tipo de armadilhas. Por exemplo, se argumentarem que os "costelos" são para apanhar ratos, torna-se dificil proibir a sua comercialização. O mesmo se passa com a vulgar pressão-de-ar. Sabemos que quem as compra não é para fazer treino de tiro-ao-alvo, que é essa a justificação para a venda. Mas todos sabemos qual é sua unica utilização.

Abraço

Paulo

No caso da carabina de pressão-de-ar, não há volta a dar, mas nas ratoeira tipo "costelo" toda agente sabe que não funcionam para apanhar ratos. Para ratos existe e sempre existiu outro tipo de ratoeiras específicas, embora algumas se pareçam com os "costelos" (sobretudo para ratazanas) e que também servem para captura ilegal de aves de maior porte, como perdizes, gaios, pêgas e afins...

Olá a todos,

Desde que estou no Algarve confirmo uma atípica tendência para a captura de aves com recurso a "ratoeiras", deslocada, ao que parece, do que se passa actualmente no resto do País.

Um amigo meu, incansável, insiste em recolher o maior número destas armadilhas na zona de Silves. Já me chegou a mostrar mais de 200.

Um dia disse-me que pensava entregar as ditas ratoeiras à GNR mas que um outro amigo o terá dissuadido com o argumento de que estaria a arriscar-se pois esta actividade é vista na região com complacência e que poderia mesmo dar-se o caso de o agente ser, ele próprio, um prevaricador.

Enfim!

Abraços
KasKo

Olá a todos,

Numa pesquisa pela internet dei de caras com uma rara noticia: a detenção de um individuo que caçava aves com armadilhas. Atentem à lista de espécies onde até 2 Fringilla montifringilla não escaparam.

A noticia do Diário Digital/Lusa:

Algarve: Detido homem por caçar aves selvagens com armadilhas
O Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR de Faro deteve hoje um homem de 39 anos na posse de 70 aves mortas e 74 armadilhas.

De acordo com fonte da GNR, o indivíduo, residente em São Brás de Alportel, dedicava-se à captura das aves em armadilhas artesanais no interior de uma reserva de caça concessionada à Associação de Vizinhos dos Machados de São Brás de Alportel.

O crime de que o homem é suspeito pode ser punido com pena de prisão até 6 meses ou pena de multa até 100 dias.

Fonte da GNR disse à Lusa que este tipo de detecções é relativamente raro, uma vez que «é muito difícil apanhar alguém em flagrante praticando estes delitos».

Na sua posse, o suspeito tinha 42 piscos-de-peito-ruivo ( erithacus rubela), 14 tordos (turdus philomelos), 9 toutinegras-de-barrete-preto (sylvia atricapilla), 2 Melros (turdus merula), 2 tentilhões-montês ( fringilla montifringilla) e 1 cartaxo-comum (saxicola torquata).

Das 74 armadilhas, 30 encontravam-se armadas para captura.

O indivíduo, detido hoje àS 13:00, foi notificado para ser ouvido no Tribunal Judicial da Comarca de Faro dia 10 de Dezembro de 2007 pelas 09:30.

Diário Digital / Lusa



Link: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=308399

Tenho de concordar que o Algarve e Baixo Alentejo são provavelmente os locais do país onde a tradição de armar aos "pássaros" se encontra mais enraizada. Desde pequeno que oiço e observo algumas situações bizarras:

- Utilização de cola para apanhar ratazanas colada em pequenos paus para apanhar sobretudo Carduelis carduelis;

- Utilização de milho moido com veneno para ratos para apanhar indiscriminadamente todas as aves granívoras. Eu lembro no início dos anos 90 (era eu um puto), de o meu tio encontrar no concelho de Odemira, várias centenas de Emberiza calandra, Carduelis carduelis, Fringilla coelebs, Carduelis chloris e outras, mortas por este método;

- Em poços ode existam dormitórios de Passer domesticus, cobrem a entrada com uma rede e literalmente apanham todas as aves presentes;

- No Alentejo descobri um método bárbaro de apanhar Vanellus vanellus: prende-se uma estaca no chão e nesta ata-se uma gita com um azol na ponta com uma minhoca - agora imaginem um Abibe capturar a minhoca, ficar preso ao anzol e debater-se durante horas até à chegada de uma morte agoniante;

- No Algarve ouvi falar muitas vezes da captura de crias de corujas e mochos no ninho para crias em casa como animal de estimação:

- A utilização de costelas (localmente conhecidas com loisas) é generalizada no Algarve, parecendo ser muito comum no Barrocal;

Acredito que outros métodos igualmente agressivos e ilegais ocorram um pouco por toda a região. Do meu ponto de vista, uma das formas de lidar com o problema passa pela consciencialização e sensibilização das populações, no entanto esta mudança de cultura levará pelo menos uma ou duas gerações.

A fiscalização da forma como se processa em Portugal, aliada a uma tradição fortemente enraizada nas gentes do Sul de Portugal, peca pela conivência das autoridades locais, as quais actuam em meios pequenos, onde toda a gente se conhece.