ESPÉCIE: Andorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestris)

Crio este tópico a propósito de uma frase escrita pelo Jorge Araújo da Silva no tópico dos registos tardios.

A frase foi esta:

Araújo da Silva escreveu:Pensei que finalmente iria inscrever a "andorinha-de-inverno" no estuário do Cávado, mas não.

Fiquei a pensar bastante nisto e fiquei a pensar porque é que até hoje nunca viste nenhuma andorinha-das-rochas no Cávado.

Depois de rever as minhas observações pessoais e de fazer algumas pesquisas no e-bird, constatei algo que gostaria de partilhar:
- existem muitos registos desta andorinha em lagoas costeiras (lagoa de Albufeira, lagoa de Santo André, lagoa de Óbidos, barrinha de Mira); estas lagoas têm em comum o facto de estarem isoladas do mar através de cordões dunares, logo são águas paradas, não sujeitas a correntes nem à influência das marés;
- em contrapartida, são raros os registos em estuários (para além do Cávado, saliente-se que a espécie não ocorre habitualmente nos estuários do Mondego, do Sado, do Tejo ou do Minho);
- nalgumas zonas estuarinas a espécie pode ser vista com regularidade - é o caso das rias de Alvor e de Aveiro, contudo tanto quanto sei em ambos os casos as aves não ocorrem sobre as águas livres do estuário, mas antes sobre zonas de água parada; concretamente, no caso da ria de Alvor, a espécie frequenta apenas as zonas de sapal inundado que estão protegidas pelo dique, estando assim isoladas do estuário - já as observei lá a voar e, embora se aproximem muitas vezes do dique, não parecem gostar muito de passar para o estuário; na ria de Aveiro, a espécie pode ser vista muitas vezes nas salinas, por exemplo junto à Universidade de Aveiro, mas creio que não ocorre na ria propriamente dita.

Isto leva-me a suspeitar que a espécie não gosta de estuários. Se isto for verdade, ajudará a explicar a ausência de registos que tens notado.

1 abraço,
Gonçalo

talvez não goste é da falta de insectos na água salgada ou salobra, quando comparada com a da água doce. Pode ser essa a razão.

Carlos Pacheco escreveu:
talvez não goste é da falta de insectos na água salgada ou salobra, quando comparada com a da água doce. Pode ser essa a razão.

mas olha que a água das lagoas costeiras (e das salinas de Aveiro ou dos sapais do Alvor) não é propriamente doce... é salobra.

Sim, e há alguns mosquitos e outros insectos que toleram alguma salinidade, mas em zonas com água muito salina praticamente não há insectos. O meu ponto era que a presença deve estar relacionada com a abundância de insectos.

Bem-hajas pelo tópico, Gonçalo.

Parece-me que devo aceitar as vossas convicções, mas não estou à espera de que façam da foz do Cávado o seu habitat de eleição... bastava-me que PASSASSEM por cá ainda há poucos dias as vi próximo da foz do Ave (irra)

Gonçalo Elias escreveu: lagoa de Óbidos, barrinha de Mira); estas lagoas têm em comum o facto de estarem isoladas do mar através de cordões dunares, logo são águas paradas, não sujeitas a correntes nem à influência das marés;

no caso da lagoa de Óbidos isso não é verdade, ela não está isolada do mar, não são aguas paradas e tem correntes e marés! Por outro lado elas não andam sobre a lagoa, mas sim sobre uma parte no fundo da lagoa onde existe um dique com poças de agua da chuva, portanto cumprido os requesitos

De acordo Carlos, mas tanto quanto me recordo a espécie não ocorre habitualmente junto a zonas de água corrente, nomeadamente rios de grande caudal, mesmo que a água seja doce (não estou aqui a considerar os paredões das barragens nem outro tipo de construções, refiro-me mesmo aos planos de água). Será que o facto de a água estar parada é importante?

pedro121 escreveu:no caso da lagoa de Óbidos isso não é verdade, ela não está isolada do mar, não são aguas paradas e tem correntes e marés! Por outro lado elas não andam sobre a lagoa, mas sim sobre uma parte no fundo da lagoa onde existe um dique com poças de agua da chuva, portanto cumprido os requesitos

Tens razão, não está isolada do mar, mas nota que a amplitude da maré na lagoa é muito pequena (o efeito gargalo na barra da lagoa impede a maré de ter a mesma amplitude que tem no mar aberto). E de qualquer forma não é água corrente (não é bem um estuário, embora tenha o rio Real), por isso eu chamar-lhe-ia uma água semiparada.

Ao longo do alto e médio Tejo é frequente vê-las sobre a água, que em zonas mais paradas (sob influência das albufeiras), mas também em águas em movimento, por exemplo ao longo dos rios Erges, Ponsul, Ocreza ou Baságueda. Se houver paparoca elas andam lá e, no período reprodutor, a distância aos locais de nidificação também deve influir

Pois, provavelmente nas zonas de nidificação também se alimentam sobre água corrente.

Aquilo que referi acima se calhar só se aplica às zonas onde são exclusivamente invernantes, nomeadamente zonas húmidas costeiras.

É certo que tudo isto é um pouco especulativo, a verdade é que elas não se alimentam em estuários - ao contrário de outras andorinhas, parece-me, mas essas outras são estivais, e se calhar no Verão há mais insectos em água salobra...?

Isso seguramente! Para quem costuma anilhar limícolas em salinas em zonas estuarinas a diferença na quantidade de mosquitos é abismal entre o verão e o inverno

Carlos Pacheco escreveu:Isso seguramente! Para quem costuma anilhar limícolas em salinas em zonas estuarinas a diferença na quantidade de mosquitos é abismal entre o verão e o inverno

De acordo, mas mais uma vez saliento que a questão aqui não são as salinas - há "andorichos" nas salinas durante o Inverno! - mas sim as zonas de água livre.

Existe uma colónia já com bastantes indivíduos em Cascais e sobre uma pequena praia que apenas existe durante a maré vazia, portanto apenas água salgada e que tenha reparado elas caçam sobre essa pequena baía.

José Frade escreveu:Existe uma colónia já com bastantes indivíduos em Cascais e sobre uma pequena praia que apenas existe durante a maré vazia, portanto apenas água salgada e que tenha reparado elas caçam sobre essa pequena baía.

Quando escreves "colónia" isso quer dizer que elas nidificam na zona?

Gonçalo Elias escreveu:

José Frade escreveu:Existe uma colónia já com bastantes indivíduos em Cascais e sobre uma pequena praia que apenas existe durante a maré vazia, portanto apenas água salgada e que tenha reparado elas caçam sobre essa pequena baía.

Quando escreves "colónia" isso quer dizer que elas nidificam na zona?

É bem provável, embora ainda não o possa confirmar, mas estão por lá o ano todo.

José Frade escreveu:

Gonçalo Elias escreveu:

José Frade escreveu:Existe uma colónia já com bastantes indivíduos em Cascais e sobre uma pequena praia que apenas existe durante a maré vazia, portanto apenas água salgada e que tenha reparado elas caçam sobre essa pequena baía.

Quando escreves "colónia" isso quer dizer que elas nidificam na zona?

É bem provável, embora ainda não o possa confirmar, mas estão por lá o ano todo.

Frade , já à 3 anos que as observo , suponho que se trate da mesma colónia de facto no passado Domingo lá estava 6 exemplares a voarem sobre a Marina de Cascais , normalmente estão poisadas no edificio histórico adjacente à biblioteca e junto a Praia que está debaixo da ponte.

Segundo esta lista do Pedro Marques a espécie nidifica agora perto de Oeiras!

https://ebird.org/view/checklist/S48003584

292 contadas esta manhã no dormitório de Altura, Castro Marim - um novo recorde para o local (o anterior máximo era de 215).

Há pelo menos mais dois grandes dormitórios na região: um em Santa Catarina da Fonte do Bispo, Tavira, onde há umas semanas contei 205 e outro em Monte Gordo, VRSA, que é o maior que conheço e onde em anos anteriores cheguei a fazer uma contagem de 550.

Já agora ficam aqui umas imagens do dormitório de Monte Gordo, tiradas num dos Invernos anteriores.