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ESPÉCIE: Pato-trombeteiro (Anas clypeata)

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Mensagem por Gonçalo Elias Dom Jun 14, 2015 10:29 am

Hoje na Quinta do Lago vi um macho de pato-trombeteiro a entrar em eclipse. Foi a primeira vez que vi esta espécie em Portugal durante o mês de Junho.

Sei que há observações anteriores neste mês (há algumas no e-bird) e até existem registos de nidificação confirmada, mas creio que não há nenhum sítio em Portugal onde a sua nidificação seja considerada regular.

Alguém tem mais informação?
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Mensagem por pedro121 Dom Jun 14, 2015 11:01 am

Humm, que eu saiba não, não há reprodução regular, estava um macho na lagoa de Óbidos à uns dias, mas esta semana não o vi.

Mas por falar nisso quais são as espécies de patos que se reproduzem regularmente em Portugal? Real, Frisada e Pato-de-bico-vermelho? e o Zarro?
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Mensagem por PNicolau Dom Jun 14, 2015 11:31 am

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Mensagem por Gonçalo Elias Dom Jun 14, 2015 11:50 am

Bem, sobre os clypeata as informações de que disponho são estas:

A nidificação desta espécie no nosso país parece ser bastante rara e irregular (Rufino 1989a, Equipa Atlas 2008). No entanto, é necessário pôr a hipótese de que, dada a sua ocorrência em pequenas zonas húmidas do interior alentejano e do Algarve, possa passar com frequência despercebida.
Em 1979 foi confirmada a sua reprodução no Açude do Monte das Pereiras, Évora (Rufino et al. 1980). Existem diversas outras observações primaveris, que sugerem a possibilidade de nidificação no Alentejo e no baixo Tejo (e.g. C. Pereira in NO 2001, B. Small & R. Chittenden in NO 2007).
No Algarve, a reprodução foi confirmada na Lagoa dos Salgados, onde, em 2001, o número de casais foi estimado em 3-4 (Ministro & Fernandes 2002); a espécie voltou a nidificar nesse local na Primavera seguinte (J. Ministro) e ainda em 2006 e 2007 (R. Eufrásia in NO 2009). Também na Quinta do Lago, Ria Formosa, em 2003, foram observados juvenis com 10 a 15 dias de idade (M. Lecoq, C. Fonseca). Existem outras observações primaveris no Algarve, nomeadamente no Ludo e na Quinta do Lago, Ria Formosa, sem que se tenha confirmado a nidificação (N. Fonseca, NO 2004).
- fonte Aves de Portugal - Ornitologia do território continental

todos os anos nidificam no Ludo
- a fonte é esta mas depois vai-se a ver os comentários e esse "todos os anos" refere-se aos últimos 4...
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Mensagem por RicBarrela Ter Jun 16, 2015 11:48 am

Gonçalo,

A semana passada observei 1 casal na Lagoa dos Salgados, próximo do observatório poente, junto ao cômoro do esgoto (entre o observatório e a rede). O macho estava com a plumagem bastante composta (mais próxima da nupcial do que de eclipse).

Observei igualmente dias antes, na lagoa do campo de golfe localizada mais a norte, 3 machos e 1 fêmea. Por seu turno, estes, estavam todos em eclipse.

É possível que existam agradáveis surpresas nestas valas/lagoas (37.098633, -8.330757), dado ser nesta "zona inacessível" que se encontrava o grosso dos anatídeos.

Cumprimentos,

RMB

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Mensagem por David Rodrigues Dom Jul 19, 2015 11:49 am

Nos últimos anos tenho visto sempre a espécie todo o ano em S. Jacinto, sendo que alguns dos bichos tinham sido marcados por nós - actualmente anda apenas um macho marcado...
Há 2 ou 3 anos andou sempre um casal que tínhamos marcado em Março, sendo que poderão ter nidificado algures na Ria de Aveiro pois a fêmea deixou de ser observada durante cerca de 2 meses e quando foi novamente observada tinha juvenis voadores com ela - ficou sempre a dúvida se seriam dela...
Esta é uma das espécies em que há quem defenda que não se cace em Portugal devido à reduzida população reprodutora. Essa posição não faz sentido pois no inverno temos mais de 10000 bichos da espécie e em Espanha a população reprodutora é estimada em 3200 casais, dos quais 1600 na bacia do Rio Douro e 510 na bacia do Rio Guadiana (Palomino & Molina, 2009) - imaginem de onde vieram os casais que se reproduzem em Portugal...
As populações reprodutoras em Portugal desta e das outras espécies "polémicas" de patos cinegéticos, na prática seriam beneficiadas se a caça às aves aquáticas apenas começasse no início de Outubro e existisse uma efectiva gestão dos locais de nidificação.  
Não posso deixar de referir que o início da caça aos patos não foi toda adiada para Outubro pois alguns insistiram em interditar a caça a algumas espécies de patos cinegéticos... Mad

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Mensagem por Gonçalo Elias Dom Jul 19, 2015 5:17 pm

Olá David,

Concordo com o que referes sobre o possível adiamento para Outubro.

Mas não percebi bem esta parte,

David Rodrigues escreveu:Não posso deixar de referir que o início da caça aos patos não foi toda adiada para Outubro pois alguns insistiram em interditar a caça a algumas espécies de patos cinegéticos... Mad

podes elaborar p.f.?

1 abraço,
Gonçalo
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Mensagem por David Rodrigues Dom Jul 19, 2015 6:35 pm

Foi um desabafo...
Sem querer "elaborar demasiado" refiro apenas que chegaram a existir propostas dos serviços de caça para a caça aos patos só começar em Outubro (em diversas épocas), mas alguns técnicos supostamente mais ligados à Conservação da Natureza boicotaram os acordos pois insistiram na proibição da caça a algumas espécies de patos cinegéticos. O resultado foi sempre o começo da caça em Agosto e a todas as espécies - lá se foi a Conservação da Natureza...
Quando não há acordo técnico os políticos decidem sempre a favor do lado onde há mais pressões/votos...
Já agora, o último e o actual calendário venatório continua a sofrer do mesmo, com o detalhe de interditar a caça ao Marreco. Se em teoria poderá parecer que faz sentido, na prática não faz: - em Portugal são contados em média 7 marrecos em Janeiro e a população europeia está estimada em 2 milhões.
Na prática, caçar ao marreco em Portugal não afecta em nada a população europeia.
Na prática, não se consegue destingir os marrecos das marrequinhas, em situação de caça, especialmente as fêmeas jovens, e eu vejo marrecos o ano todo!...
Na prática, um caçador de marrequinhas pode ser preso por caçar um marreco. É preciso ter muito azar mas não faz sentido isso poder acontecer...
Nas fotos de www.pt-ducks.com tenho uma foto que compara as asas das fêmeas jovens das 2 espécies.

Já agora, não sou caçador mas defendo e ensino aos meus alunos que a caça é uma das melhores formas de gerir e fomentar um recurso natural que é a fauna selvagem.

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Mensagem por Gonçalo Elias Seg Jul 20, 2015 9:16 am

Obrigado pelo esclarecimento.

Creio que a proibição da caça ao marreco estará relacionada (?) com o facto de a população nidificante ser muito reduzida?
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Mensagem por António Cláudio Heitor Qui Jul 23, 2015 3:24 pm

Desculpem a "colherada", mas esta conversa faz-me lembrar a situação os estorninhos: duvido que o impacto de possibilitar a caça às duas espécies fosse significativo, mas de certo que eliminaria a possibilidade de confusão e de ilegalidade no acto de caça sem querer, pois distinguir as duas é um desafio.
Ou seja, tenho de concordar com o David, eliminar o conflito é fundamental para a conservação da natureza e enquanto não nos sentármos à mesa e chegarmos a um compromisso quem fica a perder são os valores naturais e as populações que deles dependem.
Mas desculpem o desabafo.
Cumprimentos
Cláudio

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Mensagem por pedro121 Sex Jul 24, 2015 6:53 am

Gonçalo Elias escreveu:
Creio que a proibição da caça ao marreco estará relacionada (?) com o facto de a população nidificante ser muito reduzida?

Sim, mas isso é importante por algum motivo, ou seja as aves que ocasionalmente nidificam em Portugal são importantes por algum motivo? constituem uma população?? que eu saiba são apenas casais ocasionais, sem continuidade temporal. faz sentido que uma espécie com as características do marreco tenha protecção especial? para mim não faz já que ser ou não considerado espécie cinegética para mim não altera nada, ou seja não é por não ser considerado espécie cinegética que se vai estabelecer uma população reprodutora estável.
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Mensagem por Gonçalo Elias Sex Jul 24, 2015 7:01 am

O pato-trombeteiro tem em Portugal o estatuto "Em PERIGO" (população reprodutora).

Quanto ao marreco, parece-me que nem sequer faz parte do Livro Vermelho...
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Mensagem por pedro121 Sex Jul 24, 2015 11:02 am

Gonçalo Elias escreveu:O pato-trombeteiro tem em Portugal o estatuto "Em PERIGO" (população reprodutora).

Isso é interessante já que sugere que a população reprodutora diminuiu, ou é porque são tão poucos? e sempre foram? de qualquer modo não me parece que seja minimamente relevante qualquer politica para proteger a "meia dúzia" de aves reprodutoras quando no inverno ficam completamente misturadas com as invernantes.

Só uma questão, eu não sou especialista em caça nem em conservação, mas penso que para efeitos práticos a melhor forma de conservação das espécies de patos nidificantes é continuar a proibir a caça nos principais locais de invernada e garantir a fiscalização eficaz. E sim, se a época de caça começar mais tarde não se perde nada, já que é uma medida que visa diminuir a % de fêmeas de pato-real abatidas, logo se houver mais fêmeas para o ano seguinte irá haver mais patos, o que é mais ou menos lógico e do interesse dos caçadores.

Outro ponto que eu sempre que falo com caçadores aqui na zona tenho que explicar é que a espécie de pato que é mais caçada pelos caçadores e que de resto é a que lhes interessa mais por ser a maior é o pato-real e é precisamente a que suporta melhor o esforço de caça (mais que uma postura, cria em qualquer lado etc) e é a que menos interessa aos observadores, existem uma serie de questões laterais, mas proibir a caça de espécies que na pratica são facilmente confundíveis com espécies cinegeticas é uma daquelas decisões que pode fazer sentido na secretaria mas na vida real não faz nenhum sentido.

O melhor exemplo é o dos estorninhos, como já foi dito que sentido faz permitir a caça a um e não a outro?? quem é que num bando em voo vai ser capaz de identifica-los, e alem disso eles são caçados com caçadeiras, será que o pessoal que fez a lei não sabe como funciona uma caçadeira? não é propriamente uma arma de precisão!



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Mensagem por Gonçalo Elias Sex Jul 24, 2015 2:10 pm

pedro121 escreveu:
Isso é interessante já que sugere que a população reprodutora diminuiu, ou é porque são tão poucos? e sempre foram?

Creio que sim, mas nota que os estatutos de ameaça do LV foram feitos tendo por base apenas a população portuguesa e não a europeia - e é por isso que o perna-vermelha-comum está "criticamente em perigo Laughing
http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/patrinatur/lvv/resource/doc/aves/tri-tot

pedro121 escreveu:de qualquer modo não me parece que seja minimamente relevante qualquer politica para proteger a "meia dúzia" de aves reprodutoras  quando no inverno ficam completamente misturadas com as invernantes.

Se o objectivo for o de teres mais espécies nidificantes, faz.
Mas se olhares para a conservação como algo que não conhece (ou não devia conhecer) fronteiras, não faz.

pedro121 escreveu:Só uma questão, eu não sou especialista em caça nem em conservação, mas penso que para efeitos práticos a melhor forma de conservação das espécies de patos nidificantes é continuar a proibir a caça nos principais locais de invernada e garantir a fiscalização eficaz.

Não percebi o teu raciocínio. As aves que ocorrem nos principais locais de invernada podem nada ter a ver com a população nidificante.

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Mensagem por pedro121 Sáb Jul 25, 2015 8:34 am

Gonçalo Elias escreveu:
Não percebi o teu raciocínio. As aves que ocorrem nos principais locais de invernada podem nada ter a ver com a população nidificante.

Eu estava a pensar nos patos-de-bico-vermelho que penso invernarem em Santo André e outras zonas húmidas portuguesas, ou seja no caso dessa espécie a maioria da população reprodutora deve ser residente e "invernar" cá, ou estou a ver mal o filme? E claro o zarro-comum no Algarve se assumirmos que são residentes, e as frisadas, haverá dados sobre o que faz a população reprodutora?

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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Jul 25, 2015 10:29 am

A resposta às tuas questões encontra-se no livro "Aves de Portugal - ornitologia do território continental", do qual sou co-autor, e que cito:

Netta rufina
As aves que ocorrem em Portugal fora da época de reprodução deverão ser oriundas maioritariamente de Espanha, conhecendo-se pelo menos quatro recapturas de aves anilhadas nesse país.

Aythya ferina
Após a época reprodutora, o número de zarros aumenta, nalgumas zonas húmidas nacionais, já a partir de Julho. Esta primeira vaga de migradores poderá resultar da chegada de aves maioritariamente provenientes de Espanha, local de origem de muitas dos zarros recapturados em Portugal (Anexo 1). Por outro lado, só em Dezembro se nota um acréscimo muito significativo no número de aves invernantes, sendo os números máximos atingidos em Janeiro; os efectivos começam a diminuir progressivamente em Fevereiro e as últimas aves são vistas em Abril e, por vezes, Maio (Encarnação s/ data, Costa & Guedes 1996). As aves que chegam durante o Outono e no início do Inverno poderão ser provenientes de latitudes mais elevadas, nomeadamente da Europa de leste, de onde provinham aves recapturadas que foram anilhadas ainda como crias (por exemplo, da ex-URSS [Anexo 1, ver também Rodrigues et al. 2006]).

Anas strepera
As populações nidificantes deverão ser principalmente residentes, mas não existem dados concretos que comprovem esta hipótese. Fora da época de criação, os contingentes nacionais são reforçados por aves migradoras, vindas do estrangeiro. O número de frisadas em certas zonas húmidas costeiras, como a Lagoa de Santo André ou o estuário do Sado, começa a aumentar em pleno Verão (e.g. Catry 1993a). O número de aves no país aumenta bastante a partir de Outubro, atingindo máximos em Dezembro e Janeiro e começando a diminuir a partir de Fevereiro (Costa & Guedes 1996). As concentrações de frisadas verificadas no Verão e no início do Outono dever-se-ão, provavelmente, à chegada de aves com origem ibérica, ao passo que os picos de abundância invernais poderão dever-se a aves originárias de fora da Península Ibérica (Catry 1993a). Conhecem-se recapturas de aves anilhadas em Espanha, em Inglaterra, na Holanda e na Alemanha.
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Mensagem por pedro121 Seg Jul 27, 2015 2:06 am

Gonçalo Elias escreveu:A resposta às tuas questões encontra-se no livro "Aves de Portugal - ornitologia do território continental", do qual sou co-autor, e que cito:

Mais ou menos...

[quote="Gonçalo Elias"]
Netta rufina
As aves que ocorrem em Portugal fora da época de reprodução deverão ser oriundas maioritariamente de Espanha, conhecendo-se pelo menos quatro recapturas de aves anilhadas nesse país.

Não é propriamente claro em relação as aves que se reproduzem em Portugal, fazem parte do efectivo invernante? por uma questão de lógica sim, mas...

Gonçalo Elias escreveu:
Após a época reprodutora, o número de zarros aumenta, nalgumas zonas húmidas nacionais, já a partir de Julho. Esta primeira vaga de migradores poderá resultar da chegada de aves maioritariamente provenientes de Espanha, local de origem de muitas dos zarros recapturados em Portugal (Anexo 1). Por outro lado, só em Dezembro se nota um acréscimo muito significativo no número de aves invernantes, sendo os números máximos atingidos em Janeiro; os efectivos começam a diminuir progressivamente em Fevereiro e as últimas aves são vistas em Abril e, por vezes, Maio (Encarnação s/ data, Costa & Guedes 1996). As aves que chegam durante o Outono e no início do Inverno poderão ser provenientes de latitudes mais elevadas, nomeadamente da Europa de leste, de onde provinham aves recapturadas que foram anilhadas ainda como crias (por exemplo, da ex-URSS [Anexo 1, ver também Rodrigues et al. 2006]).

Zero de informação sobre a população reprodutora, alias pelo indicado no texto até se pode assumir que não há população reprodutora.

Gonçalo Elias escreveu:
As populações nidificantes deverão ser principalmente residentes, mas não existem dados concretos que comprovem esta hipótese. Fora da época de criação, os contingentes nacionais são reforçados por aves migradoras, vindas do estrangeiro. O número de frisadas em certas zonas húmidas costeiras, como a Lagoa de Santo André ou o estuário do Sado, começa a aumentar em pleno Verão (e.g. Catry 1993a).

No caso da frisada já é mais útil indicando que as aves devem ser residentes.
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Mensagem por Gonçalo Elias Seg Jul 27, 2015 3:00 am

Sim, é verdade, as citações não são totalmente conclusivas, mas reflectem o conhecimento actual (à data do livro).

A verdade é que se sabe muito pouco sobre os movimentos das populações reprodutoras e não me parece que se possa inferir que são residentes apenas porque uma espécie anda por cá durante todo o ano. A rotatividade na maioria das espécies é enorme, muito maior do que qualquer um de nós possa imaginar.

Vem-me à memória um dos episódios que mais me marcou, no já distante ano de 1990. Nessa altura eu já era um visitante regular da ria de Alvor e nesse local é habitual ver-se um ou dois guarda-rios quando se vai dar uma volta pelo estuário. Uma pessoa poderá ser tentada a dizer que a espécie é residente e que anda sempre por lá um indivíduo "residente". Pois bem, no Verão de 1990 foi feita uma campanha de anilhagem no caniçal da Abicada e quase todos os dias era capturada um ou dois guarda-rios, o mais giro é que eram todos indivíduos diferentes, em pouco mais de um mês foram anilhados, se a memória não me falha, 33 guarda-rios diferentes!
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Mensagem por pedro121 Seg Jul 27, 2015 3:21 am

Gonçalo Elias escreveu:
A verdade é que se sabe muito pouco sobre os movimentos das populações reprodutoras e não me parece que se possa inferir que são residentes apenas porque uma espécie anda por cá durante todo o ano. A rotatividade na maioria das espécies é enorme, muito maior do que qualquer um de nós possa imaginar.

Certo, e pelo que sei não há nenhum "estudo" dirigido a estas espécies (Zarro e Pato-de-bico-vermelho), ou seja parece haver mais informação sobre as aves invernantes do que sobre as aves nidificantes, era especialmente útil fazer alguma coisa em relação ao Zarro-castanho Aythya nyroca para tentar perceber se criam ou não no Algarve com regularidade e se são residentes e qual o grau de hibridação com o Zarro-comum.

E em relação ao pato-de-bico-vermelho era interessante ver para onde vão os reproductores.

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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb maio 11, 2019 9:48 am

Nidificação confirmada de pato-trombeteiro em Castro Verde: fêmea com 10 crias vista por mim e pelo Tom Tams na passada segunda-feia (mas sei que o José Godinho já tinha visto as aves no mesmo local um dia antes).

https://ebird.org/portugal/view/checklist/S55905813

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