Brita-ossos: Reintrodução na Andaluzia e últimos registos na fronteira portuguesa
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Brita-ossos: Reintrodução na Andaluzia e últimos registos na fronteira portuguesa
O Brita-ossos era uma espécie comum nas cordilheiras montanhosas ibéricas no início do séc.XX, mas com indicações de já se encontrar extinto em Portugal. No entanto, existe registo, em Espanha, de casais de quebra-ossos em duas zonas fronteiriças, ainda entre 1900 e 1940, concretamente na região da actual barragem da Chança (Mértola) e de Barrancos (Pico de Aroche, 712 metros). Um dado interessante a estudar, e que pode indiciar que os dois exemplares mortos em 1888 pelo Rei D. Carlos no Guadiana fizessem parte uma população maior, ainda estável e expressiva. A espécie, além de todo o tipo de perseguições e envenenamentos, era ainda muito apreciada em museus e colecções privadas, tendo Hiraldo publicado, em 1979, a informação de que 35 dos 54 ovos de Gypaetus Barbatus presentes em vários museus europeus eram provenientes da Andaluzia. As campanhas de perseguição intensificaram-se nos anos 60, promovidas e recompensadas pelo governo espanhol, com resultados especialmente nefastos nas serras da Andaluzia. Em 1958, 4 casais ainda tiveram nidificação confirmada nas serras de Cazorla e de Segura (Jaen) num total de 6 casais existentes. A última nidificação confirmada ocorreu em 1983, enquanto em 1987 foi observado o último indivíduo em liberdade. Os estudos posteriores, tendentes à sua reintrodução, indicavam que o “Parque Natural das serras de Cazorla, Segura e Las Villas” poderia suportar até 15 casais de Gypaetus. O projecto de reintrodução do Brita-ossos em Cazorla-Segura sofreu um importante desenvolvimento em Novembro de 2004, ao ser integrado no mais amplo projecto Life da Comissão Europeia, sendo então dotado de um orçamento total de 1.650.000 euros. Este projecto teve ainda um factor muito positivo a seu favor (tal como o de reintrodução em alguns países balcânicos) que foi o de poder colher ensinamentos e toda a experiência acumulada com a reintrodução nos Alpes, entre 1982 e a actualidade (ver meu post anterior sobre esse tema). O responsável máximo pelo projecto foi, entre 1996 e 2005, o Dr. Alex Llopis, coordenador também do centro de reprodução de Guadalentin. Este centro obteve a primeira reprodução com êxito em 2001, sempre com um mínimo de intervenção humana, sendo os “pollos” criados em exclusivo pelos seus pais. Entre 2001 e 2006, um total de 21 ovos deram origem a 12 eclosões, das quais 8 atingiram crias voadoras (1 a 3 por ano). Em 2007 o centro possuía 24 indivíduos, entre os quais se encontram já 3 casais com reprodução bem sucedida. Alguns recém-nascidos têm sido trocados com o projecto francês da Asters. Em 13 de Maio de 2006 ocorreu o grande momento do projecto: a libertação de 3 indivíduos na natureza, em plena serra de Segura. 3 machos, baptizados de Libertad (do centro espanhol de Guadalentin), Tono (de Viena, Áustria) e Faust (do Zoo de Liberec, Rép. Checa). Foram libertados com cerca de 100 dias de vida, tendo iniciado os primeiros voos com menos de 120 dias de vida. A partir daí, a sua estratégia de alimentação tem seguido a dos Grifos, sendo também vistos nos alimentadores. Um dado curioso, é que a prospecção de comida levada a cabo pelos jovens Gypaetus vai-se alterando ao longo da vida, deixando a companhia dos Grifos para passar a assumir voos de prospecção solitários, ao longo da linha de degelo, em busca de animais apanhados por avalanches. Estes juvenis libertados estão equipados transmissores GPS montados em arneses pélvicos, previamente testados em Grifos, com bons resultados. Tal seguimento por satélite tem permitido confirmar que as aves frequentam maciços fronteiros, não se confinando apenas à serra de Segura. Aliás, a Serra Nevada, Murcia e Albacete têm sido estudadas como localizações alternativas às serras de Segura e Cazorla, pela sua proximidade e pela disponibilidade de territórios e escarpas adequadas à ocupação de novos casais. A monitorização é ainda especialmente importante pela proximidade de importantes corredores migratórios para África, utilizados também por Grifos.
O projecto contempla ainda acções de divulgação junto de escolas, associações de caçadores e habitantes em geral, que levaram ao contacto com mais de 66.000 pessoas ao longo do período em causa (de 1996 até à actualidade). Por fim, uma referência às causas de morte dos quebrantahuesos em toda a Espanha (Pirenéus e Andaluzia) entre 1979 e 2004: Veneno (32% das mortes), linhas eléctricas ou teleskis (24%) e tiros (18%), entre outras causas. No entanto, em 1980, os tiros representavam ainda 60% das causa de morte, vindo a descer gradualmente, sendo agora o veneno a principal causa de morte. De referir um interessante método de combate ao veneno, a analisar em Portugal: Na Andaluzia foi criada em 2006 uma equipa cino-técnica em que um grupo de cães treinados detecta iscos e carcaças envenenadas. Um exemplo a seguir em Portugal, dados os bons resultados alcançados no país vizinho.
O projecto contempla ainda acções de divulgação junto de escolas, associações de caçadores e habitantes em geral, que levaram ao contacto com mais de 66.000 pessoas ao longo do período em causa (de 1996 até à actualidade). Por fim, uma referência às causas de morte dos quebrantahuesos em toda a Espanha (Pirenéus e Andaluzia) entre 1979 e 2004: Veneno (32% das mortes), linhas eléctricas ou teleskis (24%) e tiros (18%), entre outras causas. No entanto, em 1980, os tiros representavam ainda 60% das causa de morte, vindo a descer gradualmente, sendo agora o veneno a principal causa de morte. De referir um interessante método de combate ao veneno, a analisar em Portugal: Na Andaluzia foi criada em 2006 uma equipa cino-técnica em que um grupo de cães treinados detecta iscos e carcaças envenenadas. Um exemplo a seguir em Portugal, dados os bons resultados alcançados no país vizinho.
Morais- Número de Mensagens : 118
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Re: Brita-ossos: Reintrodução na Andaluzia e últimos registos na fronteira portuguesa
Morais escreveu:, existe registo, em Espanha, de casais de quebra-ossos em duas zonas fronteiriças, ainda entre 1900 e 1940, concretamente na região da actual barragem da Chança (Mértola) e de Barrancos (Pico de Aroche, 712 metros).
Olá Rogério,
Tens alguma referência bibliográfica sobre estes registos?
1 abraço,
Gonçalo
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25581
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Data de inscrição : 14/06/2007
Registo / Contacto
Olá Gonçalo Elias
Tenho apenas um mapa com as "Localizações históricas" do Gypaetus na Andaluzia, entre 1900 e 1940. Vê-se claramente as duas marcações sobre a fronteira. Sugiro um contacto com o autor que coligiu o mapa: Sérgio Couto Gonzalez, da Fundação Gypaetus, Calle Cataluña 8, 1ºA. 23009 Jaen, España.
sergiocouto@gypaetus.org
Mas depois quero saber toda essa info que ele forneça
Obrigado, um abraço
Tenho apenas um mapa com as "Localizações históricas" do Gypaetus na Andaluzia, entre 1900 e 1940. Vê-se claramente as duas marcações sobre a fronteira. Sugiro um contacto com o autor que coligiu o mapa: Sérgio Couto Gonzalez, da Fundação Gypaetus, Calle Cataluña 8, 1ºA. 23009 Jaen, España.
sergiocouto@gypaetus.org
Mas depois quero saber toda essa info que ele forneça
Obrigado, um abraço
Morais- Número de Mensagens : 118
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Local : Lisboa
Data de inscrição : 31/08/2009
Re: Brita-ossos: Reintrodução na Andaluzia e últimos registos na fronteira portuguesa
Gracias, hombre!
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25581
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Eles andam muito perto do Guadiana
As 9 aves libertadas entre 2006 e 2008 têm vindo a realizar importantes movimentos de dispersão, normais para a sua idade, esperando-se que se tornem sedentárias nos vales onde foram libertadas. 1 foi morta a tiro (de nome "Segura"), e as restantes têm evoluido por toda a zona central e leste da Península, com especial destaque para o périplo de "Tono", que se deslocou pelas serras de Levante até aos Pirineus. Libertado em Maio de 2006, regressou à Andaluzia em 12 de Outubro de 2008, numa viagem quase directa de 560 km. Outros exemplares, também seguidos por GPS, têm-se deslocado tão a norte como os Picos de Europa, ou o nosso bem próximo Parque de Sierra Morena Oeste, junto a Aracena e Aroche, quase na fronteira do Guadiana. Em Maio de 2009 foram libertadas mais 5 jovens fêmeas, num total de 14 aves, das quais 10 estão vivas.
Morais- Número de Mensagens : 118
Idade : 63
Local : Lisboa
Data de inscrição : 31/08/2009
Quebra Ossos "Cata" com GPS junto a Barrancos em Junho de 2010 e a Badajoz em Julho
A Fundação Gypaetus divulgou mapas de áreas utilizadas pelos vários Gypaetus libertados na Andaluzia. Contata-se que a fêmea "Cata", nascida em Viena, Austria, e libertada em 2009 na Andaluzia tem vindo com frequência à fronteira portuguesa: Em junho de 2010 esteve junto à fronteira de Barrancos, em Aroche e La Contienda, enquanto que em Julho do mesmo ano esteve nos Baldios de Peñalobar, Badajoz. Estas são notícias muito encorajadoras para uma observação futura que possa vir a ocorrer em território nacional, e que não é confirmada desde finais do séc. XIX (1888).
Podem ser consultados estes mapas e restante informação em:
http://www.juntadeandalucia.es/medioambiente/web/1_consejeria_de_medio_ambiente/dg_gestion_medio_natural/biodiversidad/static_files/fauna/quebrantahuesos/situaci%F3n%20junio%202010%202.pdf
Um abraço
Podem ser consultados estes mapas e restante informação em:
http://www.juntadeandalucia.es/medioambiente/web/1_consejeria_de_medio_ambiente/dg_gestion_medio_natural/biodiversidad/static_files/fauna/quebrantahuesos/situaci%F3n%20junio%202010%202.pdf
Um abraço
Morais- Número de Mensagens : 118
Idade : 63
Local : Lisboa
Data de inscrição : 31/08/2009
Re: Brita-ossos: Reintrodução na Andaluzia e últimos registos na fronteira portuguesa
Boas
Eu já outro dia tinha comentado com um colega que é uma questão de tempo, com a expansão em Espanha é inevitavel que os juvenis em dispersão passem a fronteira, resta saber onde, quando e se permanecem algum tempo.
Eu já outro dia tinha comentado com um colega que é uma questão de tempo, com a expansão em Espanha é inevitavel que os juvenis em dispersão passem a fronteira, resta saber onde, quando e se permanecem algum tempo.
pedro121- Número de Mensagens : 16022
Idade : 48
Local : Obidos
Data de inscrição : 14/02/2008
Re: Brita-ossos: Reintrodução na Andaluzia e últimos registos na fronteira portuguesa
Muito auspicioso!
Abraços
Abraços
jvicente- Número de Mensagens : 215
Idade : 47
Local : Alverca do Ribatejo
Data de inscrição : 08/01/2008
Re: Brita-ossos: Reintrodução na Andaluzia e últimos registos na fronteira portuguesa
Caçadores espanhóis testam com sucesso munições de cobre para diminuir a contaminação ambiental com chumbo
Filipa Alves (17-02-11)
Trata-se de uma iniciativa da Fundação Gypaetus, que já realizou duas reintroduções de quebra-ossos que acabaram por morrer por intoxicação com chumbo, e que pretende incentivar os caçadores a usar este tipo de munições, que não pressupõe riscos para o Ambiente em geral ou para as espécies ameaçadas em particular.
A fundação Gypaetus, uma organização sem fins lucrativos que tem trabalha para a conservação do quebra-ossos, Gypaetus barbatus, na Andaluzia (Espanha), promoveu a primeira eco-caçada, que envolveu a utilização de balas 100% de cobre em substituição das tradicionais munições com chumbo.
O chumbo é um metal pesado que contamina água e solos e que sofre um processo de bioacumulação, isto é, a sua concentração aumenta à medida que se sobe na cadeia alimentar. Deste modo, as espécies mais expostas são predadores de topo. Por outro lado, as aves de rapina necrófagas são especialmente vulneráveis porque se podem alimentar de presas abatidas por caçadores, o que pode resultar letal.
Foi este o caso de dois quebra-ossos reintroduzidos pela Fundação Gypaetus, que identifica a contaminação ambiental com chumbo um factor que condiciona o sucesso do projecto de reintrodução na Andaluzia, e que também constitui uma ameaça para outras espécies como a águia-imperial ou o abutre-negro.
Para a combater, a associação conservacionista está a empreender esforços no sentido de promover a utilização na actividade cinegética de munições não-contaminantes, como é caso das de cobre, e foi neste âmbito que a eco-caçada teve lugar.
O evento ocorreu num coto de caça no interior do Parque Natural de Cazorla, Segura e las Villas e foi bem-sucedido, com os caçadores a considerarem que as novas munições, que são compatíveis com as espingardas comuns e apenas ligeiramente mais caras, se comportaram à altura, tendo até superado a performance das munições convencionais em alguns casos.
Fonte: http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=20&cid=30698&bl=1
Filipa Alves (17-02-11)
Trata-se de uma iniciativa da Fundação Gypaetus, que já realizou duas reintroduções de quebra-ossos que acabaram por morrer por intoxicação com chumbo, e que pretende incentivar os caçadores a usar este tipo de munições, que não pressupõe riscos para o Ambiente em geral ou para as espécies ameaçadas em particular.
A fundação Gypaetus, uma organização sem fins lucrativos que tem trabalha para a conservação do quebra-ossos, Gypaetus barbatus, na Andaluzia (Espanha), promoveu a primeira eco-caçada, que envolveu a utilização de balas 100% de cobre em substituição das tradicionais munições com chumbo.
O chumbo é um metal pesado que contamina água e solos e que sofre um processo de bioacumulação, isto é, a sua concentração aumenta à medida que se sobe na cadeia alimentar. Deste modo, as espécies mais expostas são predadores de topo. Por outro lado, as aves de rapina necrófagas são especialmente vulneráveis porque se podem alimentar de presas abatidas por caçadores, o que pode resultar letal.
Foi este o caso de dois quebra-ossos reintroduzidos pela Fundação Gypaetus, que identifica a contaminação ambiental com chumbo um factor que condiciona o sucesso do projecto de reintrodução na Andaluzia, e que também constitui uma ameaça para outras espécies como a águia-imperial ou o abutre-negro.
Para a combater, a associação conservacionista está a empreender esforços no sentido de promover a utilização na actividade cinegética de munições não-contaminantes, como é caso das de cobre, e foi neste âmbito que a eco-caçada teve lugar.
O evento ocorreu num coto de caça no interior do Parque Natural de Cazorla, Segura e las Villas e foi bem-sucedido, com os caçadores a considerarem que as novas munições, que são compatíveis com as espingardas comuns e apenas ligeiramente mais caras, se comportaram à altura, tendo até superado a performance das munições convencionais em alguns casos.
Fonte: http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=20&cid=30698&bl=1
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25581
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Re: Brita-ossos: Reintrodução na Andaluzia e últimos registos na fronteira portuguesa
No passado mês de Abril completou 15 anos o Centro de Cria de Quebra-ossos de Guadalentin / Cazorla. A Fundação Gypaetus é a responsável actual pela sua gestão e o Centro integra a rede europeia de centros de cria, que teve os seus primeiros passos em 1985, com o centro Richard Faust, em Viena de Austria. O centro de Cazorla conta neste momento com 10 fêmeas e 10 machos, sendo "Segura" o exemplar mais idoso, com 45 anos, mas ainda reprodutor. Até ao momento, registaram-se já 22 nascimentos no centro, dos quais 10 corresponderam a crias libertadas na natureza, quer nos Alpes, quer na Andaluzia.
Morais- Número de Mensagens : 118
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