Anatídeos na Beira Baixa

Caros,

Gostava de partilhar convosco algumas observações minhas em duas barragens no concelho de Idanha-a-Nova. Desde alguns anos visito os locais e eles não param de me surpreender em termos de riqueza de anatídeos (e não só). O Atlas das Aves Invernantes não reflete a riqueza aqui encontrada.

Só como exemplo, na minha última visita, dia 2 de janeiro, observei 7 espécies distintas, com efetivos muito elevados para algumas delas. Vejam:
Aythya fuligula 100 ex (51 machos contados)
Aythya ferina 200 ex (110 machos contados)
Anas plathyrhynchos 30 ex (15 machos contados)
Anas crecca +10 ex (8 machos contados)
Mareca strepera (1 casal) (normalmente em efetivos muito superiores, como por exemplo 27 ex no dia 24/12/2020 na barragem pequena)
Mareca penelope + 20 ex (13 machos contados)
Spatula clypeata + 30 ex (20 machos contados)

Acrescentam-se:
Alopochen aegyptiana (2 ex, residentes)
Tachybaptus ruficollis (circa de 5 ex)
Phalacrocorax carbo
Gallinago gallinago
Vanellus vanellus
Pluvialis apricaria
Fulica atra

Todas estas espécies são regulares, embora variáveis em número de efetivos. No verão acrescenta-se Anas querquedula (possivelmente nidificante, com casais observados em junho) e vários casais de Podiceps cristatus. Limícolas ocorrem regularmente, embora em efetivos baixos. Registos mais notáveis de Calidris pugnans e Calidris alpina.

Trata-se de duas barragens privadas, uma de dimensão considerável (Barragem das Carvalhas), outra menor (sem nome na CM), e situam-se a sul da estrada que vai de Idanha para Proença-a-Velha. As barragens têm margens suave com vegetação ripícola, algumas ilhas e pedras saídas da água.

As observações tem quase todos registo fotográfico (digiscoping, de qualidade mediocre, mas permite confirmar ID na maioria dos casos) e estão no iNaturalist para quem quiser ver.

Para mim, estas barragens mostram a importância que estas locais húmidos têm para a biodiversidade (não só aves, tenho registo no local de lontra, texugo, raposa, gamo), em forte contraste com as grandes barragens, como por exemplo o vizinho Barragem de Carmona, normalmente sem aves digno de registo).

Gostava de saber se têm conhecimento de outros locais no interior de Portugal com efetivos e diversidade comparáveis.

Abraço, Henk Feith

De facto é um local de excelência para aves aquáticas no interior.

Acrescento também outras observações relevantes feitas anteriormente:

Anas acuta
Chlidonias hybrida
Chlidonias niger
Ardea purpurea
Platalea leucorodia

Também houve recentemente registos de Aythya nyroca na região

Quanto a esta parte:

Henk Feith escreveu:O Atlas das Aves Invernantes não reflete a riqueza aqui encontrada.

De facto a cobertura do atlas de invernantes parece-me ter ficado com demasiadas lacunas e isso reflecte-se nos mapas de distribuição de diversas espécies.

Conheço bem o local Henk. É de facto muito bom e destaca-se ao nível regional. Comparável naquela zona, só conheço uma barragem perto de Brozas, que é brutal, quer a nível de espécies, quer de números (que creio serem maiores). No Alentejo há algumas também muito boas, destacando a lagoa dos Patos e outra mais a sul, perto de Beringel que tinha uma diversidade e números espetaculares para a dimensão.

Na dos Carvalhos também já vi flamingos!

Hoje andava por lá um marreco com plumagem nupcial, juntamente com um considerável número de zarros, negrinhas, frisadas e patos-reais.



Com alguns varrimentos foi possível contar quase 30 negrinhas, um número que me parece excecional para esta altura do ano em Portugal.

Foto de um dos vários grupos:

Sim, é algo tardio para os fuligulas, mas saliento que eles nidificam em pequenos números na metade norte de Espanha e que no primeiro atlas de nidificantes a sua nidificação foi considerada provável no nosso país.

Não é inédito as A. fuligula até bastante tarde aí na região (nos Carvalhos e noutra pequena albufeira a sul de Idanha, mas nesta pontualmente). Houve anos em que até me questionei se não estariam a nidificar, mas nunca consegui confirmar. Acabaram sempre por desaparecer, mas creio que vale a pena insistir. Não conheço outros locais no país onde permaneçam regularmente até tão tarde e, como referi, podem mesmo nidificar

Essas represas que mencionam serão o local desta minha antiga lista, junto a Proença-a-Velha ?

https://ebird.org/checklist/S30874445

Pedro

Olá Pedro,
Não, são outras, mais para Este. Essa que referes também é interessante, mas esse local é geralmente inacessível, pois é privado e o terreno está fechado a cadeado. Naquela zona está cada vez mais difícil aceder a estes locais, pois está tudo fechado

Carlos Pacheco escreveu:...pois é privado e o terreno está fechado a cadeado. Naquela zona está cada vez mais difícil aceder a estes locais, pois está tudo fechado

Não vá alguém querer levar um pedaço da terra para casa!

No passado dia 22 de maio continuavam cerca de 10 ex. de Aythya fuligula na Albufeira dos Carvalhos, quase sempre em pares. Juvenis ainda nada, se é que vão aparecer.

Maio já é significativo, mas não decisivo se forem das populações mais a norte, ainda está a passar muita coisa para cima.

Hoje as negrinhas continuavam no local. Contei 12. Andava um bando sempre junto com 7 aves que não consegui descartar serem juvenis do ano (Já bem grandes).



Andavam também 2 Aythya nyroca.

Numa das respostas anteriores (mais acima) eu escrevi isto:

"no primeiro atlas de nidificantes a sua nidificação foi considerada provável no nosso país."

Acrescento que na região de Idanha-a-Nova foi considerada possível. Se tiveres interesse coloco aqui a foto da página.

Pois o objetivo dos posts que tenho feito era exatamente para tentar acompanhar a presença da espécie e eventualmente confirmar a nidificação que até então seria "possível".

Já que é uma espécie que tem vindo a diminuir seria bastante interessante encontrar aqui uns bichos a criar.

Eu em Agosto vou estar em Penamacor, posso lá dar um salto, as aves da direita parecem ser juvenis, uma fêmea adulta à esquerda?

João, o local é visível de um ponto de acesso publico?

Pedro, a barragem é até visível da N353, mas é bastante longe e mesmo com telescópio é algo difícil identificar a maioria das espécies, principalmente nesta época de mais calor.

Eu há uns tempos consegui autorização do dono, mas não tenho como contactá-lo diretamente.

Está situação já se repete há vários anos, tal como para A. ferina, mas eu nunca consegui confirmar reprodução