Uso de gravações para atrair as aves
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Fórum Aves :: Aves :: Aves de Portugal
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Re: Uso de gravações para atrair as aves
Olá Camilo.
Obrigado pela resposta.
Aqui ficam alguns comentários:
Isso pode ser assim em teoria. Na prática, porém, as coisas passam-se de forma um pouco diferente.
Primeiro, porque nem todos os projectos de anilhagem têm como objectivo aumentar o conhecimento das espécies ou contribuir para a conservação - por exemplo, há projectos de educação ambiental em que a anilhagem é usada como forma de divulgação e sensibilização das pessoas (escolas, público em geral), não constituindo, por si só, um projecto de conservação.
Segundo, porque nem todos os projectos que visam aumentar o conhecimento das espécies são desenvolvidos com objectivos de conservação; assim, parece-me importante separar uns dos outros.
Terceiro, porque mesmo que essas informações sejam de facto recolhidas com o objectivo / intenção de desenvolver acções de conservação, isso nem sempre acontece. Conheço casos em que os dados recolhidos com recurso a chamamentos nunca foram devidamente trabalhados. O alegado prejuízo foi causado e a informação ficou com quem a recolheu.
E quarto, porque mesmo nos casos em que os dados são trabalhados, muitas vezes nós [com este "nós" refiro-me à comunidade ornitológica em geral e não apenas aos anilhadores] não sabemos o que é que acontece aos dados. Os dados são recolhidos e depois os resultados desses trabalhos não são divulgados. Ou então são divulgados de forma muito restrita que dificilmente está disponível para a comunidade ornitológica (e muito menos para a população em geral). Ora eu acredito que não se pode fazer conservação sem envolver a população. E para envolver a população é preciso sensibilizá-la e fazê-la interessar-se por estes assuntos (nomeadamente dando-lhe acesso ao conhecimento). E aqui chegamos à questão das fotografias.
Se o autor da foto guardar a imagem só para si, então uma boa fotografia é apenas isso. Contudo, se essa foto for divulgada, partilhada, com outros membros da comunidade e com a sociedade em geral, então pode ter um valor tremendo ao dar a conhecer o nosso património natural.
O interesse pela observação e fotografia de aves disparou nos últimos anos, devido às portas que a tecnologia digital abriu de obter boas fotografias. Conheço dezenas de pessoas que se começaram a interessar pelas aves exactamente por este motivo e conheço até quem tenha passado de caçador a fotógrafo.
A partilha de imagens de aves através da internet (nomeadamente através do flickr e de outras plataformas semelhantes) veio permitir à população em geral ter acesso a imagens e a conhecimento que até há meia dúzia de anos estavam ao alcance de muito poucos.
Isto é uma forma de valorizar o nosso património natural (e as aves em particular). Mesmo não sendo um projecto científico ou de conservação, a actividade de fotografia de aves pode dar um contributo muito importante nesse sentido.
Exacto. Não existe uma escala que permita medir o que é que vale mais: se a divulgação de uma boa foto, se a realização de um estudo com o objectivo de obter informação sobre os movimentos das aves. Tudo depende da sensibilidade e das motivações de cada um.
Eu não sou um biólogo. E não me considero um artista. E no entanto, como já referi acima, penso que as fotos podem ter imenso valor, se devidamente divulgadas, e especialmente se essa divulgação contribuir para promover o interesse pelos nossos valores naturais.
Em jeito de remate, gostaria de referir que conheço diversas publicações feitas por entidades públicas (Estado) e privadas (associações) que utilizaram fotos de pessoas que recorrem habitualmente ao uso de chamamentos. Não sei se os responsáveis por essas edições questionaram os fotógrafos sobre as técnicas utilizadas para obter essas fotos, nomeadamente se utilizaram gravações. Nem isso me parece relevante. Eu penso que uma foto divulgada numa galeria da internet tem tanto valor como uma foto publicada num livro editado por uma organização (pública ou privada) ligada ao ambiente. Com uma diferença: a fotografia que está na net provavelmente chega a um público muito mais alargado.
1 abraço,
Gonçalo
Obrigado pela resposta.
Aqui ficam alguns comentários:
Camilo Carneiro escreveu:Um pouco penso que sim. O uso de sons na anilhagem permite um aumento significativo na captura/recaptura dos animais, de modo a que se possam recolher mais dados e ao aumentar o numero de aves com anilhas aumentar a taxa de recaptura no futuro, que leva, também, a maior recolha de dados. Serão todos estes dados que nos darão informações fundamentais para o conhecimento das espécies e da sua conservação.
Isso pode ser assim em teoria. Na prática, porém, as coisas passam-se de forma um pouco diferente.
Primeiro, porque nem todos os projectos de anilhagem têm como objectivo aumentar o conhecimento das espécies ou contribuir para a conservação - por exemplo, há projectos de educação ambiental em que a anilhagem é usada como forma de divulgação e sensibilização das pessoas (escolas, público em geral), não constituindo, por si só, um projecto de conservação.
Segundo, porque nem todos os projectos que visam aumentar o conhecimento das espécies são desenvolvidos com objectivos de conservação; assim, parece-me importante separar uns dos outros.
Terceiro, porque mesmo que essas informações sejam de facto recolhidas com o objectivo / intenção de desenvolver acções de conservação, isso nem sempre acontece. Conheço casos em que os dados recolhidos com recurso a chamamentos nunca foram devidamente trabalhados. O alegado prejuízo foi causado e a informação ficou com quem a recolheu.
E quarto, porque mesmo nos casos em que os dados são trabalhados, muitas vezes nós [com este "nós" refiro-me à comunidade ornitológica em geral e não apenas aos anilhadores] não sabemos o que é que acontece aos dados. Os dados são recolhidos e depois os resultados desses trabalhos não são divulgados. Ou então são divulgados de forma muito restrita que dificilmente está disponível para a comunidade ornitológica (e muito menos para a população em geral). Ora eu acredito que não se pode fazer conservação sem envolver a população. E para envolver a população é preciso sensibilizá-la e fazê-la interessar-se por estes assuntos (nomeadamente dando-lhe acesso ao conhecimento). E aqui chegamos à questão das fotografias.
Camilo Carneiro escreveu:Uma boa fotografia é apenas isso, o que não é pouco.
Se o autor da foto guardar a imagem só para si, então uma boa fotografia é apenas isso. Contudo, se essa foto for divulgada, partilhada, com outros membros da comunidade e com a sociedade em geral, então pode ter um valor tremendo ao dar a conhecer o nosso património natural.
O interesse pela observação e fotografia de aves disparou nos últimos anos, devido às portas que a tecnologia digital abriu de obter boas fotografias. Conheço dezenas de pessoas que se começaram a interessar pelas aves exactamente por este motivo e conheço até quem tenha passado de caçador a fotógrafo.
A partilha de imagens de aves através da internet (nomeadamente através do flickr e de outras plataformas semelhantes) veio permitir à população em geral ter acesso a imagens e a conhecimento que até há meia dúzia de anos estavam ao alcance de muito poucos.
Isto é uma forma de valorizar o nosso património natural (e as aves em particular). Mesmo não sendo um projecto científico ou de conservação, a actividade de fotografia de aves pode dar um contributo muito importante nesse sentido.
Camilo Carneiro escreveu:E é claro que isto leva a uma discussão acerca do valor das coisas.
Para os artistas uma boa foto se calhar tem mais valor do que o conhecimento acerca da migração de uma espécie, mas para os biólogos já é ao contrário.
Exacto. Não existe uma escala que permita medir o que é que vale mais: se a divulgação de uma boa foto, se a realização de um estudo com o objectivo de obter informação sobre os movimentos das aves. Tudo depende da sensibilidade e das motivações de cada um.
Eu não sou um biólogo. E não me considero um artista. E no entanto, como já referi acima, penso que as fotos podem ter imenso valor, se devidamente divulgadas, e especialmente se essa divulgação contribuir para promover o interesse pelos nossos valores naturais.
Em jeito de remate, gostaria de referir que conheço diversas publicações feitas por entidades públicas (Estado) e privadas (associações) que utilizaram fotos de pessoas que recorrem habitualmente ao uso de chamamentos. Não sei se os responsáveis por essas edições questionaram os fotógrafos sobre as técnicas utilizadas para obter essas fotos, nomeadamente se utilizaram gravações. Nem isso me parece relevante. Eu penso que uma foto divulgada numa galeria da internet tem tanto valor como uma foto publicada num livro editado por uma organização (pública ou privada) ligada ao ambiente. Com uma diferença: a fotografia que está na net provavelmente chega a um público muito mais alargado.
1 abraço,
Gonçalo
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25661
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Gonçalo Elias escreveu:
E quarto, porque mesmo nos casos em que os dados são trabalhados, muitas vezes nós [com este "nós" refiro-me à comunidade ornitológica em geral e não apenas aos anilhadores] não sabemos o que é que acontece aos dados. Os dados são recolhidos e depois os resultados desses trabalhos não são divulgados. Ou então são divulgados de forma muito restrita que dificilmente está disponível para a comunidade ornitológica (e muito menos para a população em geral). Ora eu acredito que não se pode fazer conservação sem envolver a população. E para envolver a população é preciso sensibilizá-la e fazê-la interessar-se por estes assuntos (nomeadamente dando-lhe acesso ao conhecimento). E aqui chegamos à questão das fotografias.
Gonçalo
Os dados trabalhados e publicados?
Podes encontrar alguns disponíveis em http://www.apaa.pt/documentos01.html e outros vão estar disponiveis aos interessados conforme post neste forum. É óbvio que os teus dados tambem ficariam bem colocados nestas listas.
Deduzo pelas tuas palavras que os teus dados estão disponíveis ao grande publico, quanto mais não seja para os envolver e sensibilizar, porque senão as tuas palavras não fazem sentido algum para mim. Posso saber onde?
Abraço
Paulo
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Olá Paulo,
Nota por favor que eu não disse que não havia dados trabalhados e publicados.
O que eu disse é que há casos em que esses dados não são publicados ou não estão disponíveis (claro que há outros casos em que estão, como tu muito bem assinalaste).
Com todo o prazer. Podíamos começar por colocar lá a última apresentação sobre os Apus pallidus que fiz no encontro de anilhadores que decorreu em Sintra, o que achas? Diz-me por favor em que formato queres que te envie a informação.
Não estão, mas vão estar. E é claro que podes saber onde. Passo a explicar:
Como certamente sabes, actualmente eu só anilho no Parque Natural da Arrábida (PNA) - aliás a minha credencial só me permite anilhar nessa zona. Como também penso que sabes, eu não integro o projecto Estações de Esforço Constante, uma vez que não disponho de condições para anilhar com a regularidade que esse projecto impõe.
A actividade de anilhagem que tenho desenvolvido nos últimos anos enquadra-se num projecto de inventariação da avifauna do PNA, conforme proposta que entreguei em devido tempo ao coordenador da Central Nacional de Anilhagem. Nessa proposta refere-se que através deste projecto se pretende
Ou seja a proposta que entreguei junto da entidade competente para enquadrar a actividade de anilhagem que desenvolvo no PNA prevê exactamente a divulgação junto do grande público, sob a forma de livro e em formato não técnico, com o objectivo de promover o interesse e sensibilizar a população para os valores naturais daquela área protegida.
O livro sobre o estuário do Sado a que faço referência é este.
Espero ter esclarecido as tuas dúvidas.
1 abraço,
Gonçalo
scirpaceus escreveu:
Os dados trabalhados e publicados?
Podes encontrar alguns disponíveis em http://www.apaa.pt/documentos01.html e outros vão estar disponiveis aos interessados conforme post neste forum.
Nota por favor que eu não disse que não havia dados trabalhados e publicados.
O que eu disse é que há casos em que esses dados não são publicados ou não estão disponíveis (claro que há outros casos em que estão, como tu muito bem assinalaste).
scirpaceus escreveu:É óbvio que os teus dados tambem ficariam bem colocados nestas listas.
Com todo o prazer. Podíamos começar por colocar lá a última apresentação sobre os Apus pallidus que fiz no encontro de anilhadores que decorreu em Sintra, o que achas? Diz-me por favor em que formato queres que te envie a informação.
scirpaceus escreveu:Deduzo pelas tuas palavras que os teus dados estão disponíveis ao grande publico, quanto mais não seja para os envolver e sensibilizar, porque senão as tuas palavras não fazem sentido algum para mim. Posso saber onde?
Não estão, mas vão estar. E é claro que podes saber onde. Passo a explicar:
Como certamente sabes, actualmente eu só anilho no Parque Natural da Arrábida (PNA) - aliás a minha credencial só me permite anilhar nessa zona. Como também penso que sabes, eu não integro o projecto Estações de Esforço Constante, uma vez que não disponho de condições para anilhar com a regularidade que esse projecto impõe.
A actividade de anilhagem que tenho desenvolvido nos últimos anos enquadra-se num projecto de inventariação da avifauna do PNA, conforme proposta que entreguei em devido tempo ao coordenador da Central Nacional de Anilhagem. Nessa proposta refere-se que através deste projecto se pretende
- Elaborar uma lista, tão completa quanto possível, das espécies que ocorrem na área do Parque Natural da Arrábida
- Caracterizar a abundância e a fenologia de cada uma das espécies observadas na área
- Produzir um documento que apresente os resultados do projecto. Este documento poderá vir a adquirir a forma de livro, por exemplo ao estilo do recentemente publicado “As Aves do Estuário do Sado” ou outro formato que se considere apropriado.
Ou seja a proposta que entreguei junto da entidade competente para enquadrar a actividade de anilhagem que desenvolvo no PNA prevê exactamente a divulgação junto do grande público, sob a forma de livro e em formato não técnico, com o objectivo de promover o interesse e sensibilizar a população para os valores naturais daquela área protegida.
O livro sobre o estuário do Sado a que faço referência é este.
Espero ter esclarecido as tuas dúvidas.
1 abraço,
Gonçalo
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25661
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Caro Gonçalo
Dando a minha opinião sobre a tua questão inicial "em tua opinião, quais são os benefícios
("científicos ou outros") que podem justificar o uso de gravações para
atrair as aves?".
Não queria tornar este post numa bipolarização anilhadores versus fotógrafos, mas respondo abordando alguns aspectos do uso de chamamentos. Conforme sabemos, existem normas legais que
proibem a "perturbação das aves, nomeadamente na altura da reprodução, migração etc, etc..." Artº 11º do DL n.º 140/99 de 24 de abril, alterado pelo 49/2005, de 24 de Fevereiro. Tambem sabemos que quem está muito preocupado com a sorte dos golfinhos no Japão escusa de a cumprir, mas os anilhadores têm de estar credenciados para que possam utilizar chamamentos especialmente em períodos de reprodução ou de migração. Tambem sei que ao solicitar estas autorizações, o Coordenador Nacional da Anilhagem telefona-me e pergunta "para que queres isto?"
O "isto" serve por vezes para capturar indivíduos específicos, durante o periodo de reprodução mais rapidamente (em caso de sucesso de captura e marcação mais rapidamente abandonamos o território) escusando-se as várias tentativas em vários dias, como serve para capturar espécies durante o periodo migratório, para estudos específicos como foi o caso do Euring Swallow Project desenvolvido pela Euring.
A utilização de chamamentos no desenvolvimento de estudos científicos é desenvolvida por indivíduos que sabem, ou pelo menos foram treinados para o fazer e sabem quais as implicações que esta técnica têm sobre as aves visadas e que sabem quando devem "parar", mesmo que a perturbação não seja visível. E volto a referir mais uma vez, que a utilização de chamamentos para o desenvolvimento de estudos cientificos contam-se pelos dedos de uma mão.
Os benefícios desta técnica de utilização de chamamentos é positiva quando suplanta as técnicas normais. Posso esticar uma rede de captura e esperar que a espécie-alvo que pretendo estudar seja capturada, o que pode demorar anos ou utilizar chamamento e a captura faz-se em questão de minutos.
Em relação aos fotógrafos, na minha opinião, a grande maioria não está preparada para utilizar os chamamentos, porque não consegue identificar os problemas que podem vir a causar. Daí o post inicial que originou esta troca de argumentações. Mas nada que não tenha solução, mas que será dificil de atingir. Seria mais inteligente se fosse feita a pergunta de quais cuidados deviam ter com a utilização de chamamentos ao invés de apontar o rol das matanças à laia de justificação.
Sobre aquele bláblá em que abordaste a questão da divulgação dos dados, etc e tal, considerei-a uma mera conversa da treta , pois na minha opinião, tu mesmo acabaste por desmentir as tuas próprias palavras com o post seguinte.
Abraço
Paulo
Dando a minha opinião sobre a tua questão inicial "em tua opinião, quais são os benefícios
("científicos ou outros") que podem justificar o uso de gravações para
atrair as aves?".
Não queria tornar este post numa bipolarização anilhadores versus fotógrafos, mas respondo abordando alguns aspectos do uso de chamamentos. Conforme sabemos, existem normas legais que
proibem a "perturbação das aves, nomeadamente na altura da reprodução, migração etc, etc..." Artº 11º do DL n.º 140/99 de 24 de abril, alterado pelo 49/2005, de 24 de Fevereiro. Tambem sabemos que quem está muito preocupado com a sorte dos golfinhos no Japão escusa de a cumprir, mas os anilhadores têm de estar credenciados para que possam utilizar chamamentos especialmente em períodos de reprodução ou de migração. Tambem sei que ao solicitar estas autorizações, o Coordenador Nacional da Anilhagem telefona-me e pergunta "para que queres isto?"
O "isto" serve por vezes para capturar indivíduos específicos, durante o periodo de reprodução mais rapidamente (em caso de sucesso de captura e marcação mais rapidamente abandonamos o território) escusando-se as várias tentativas em vários dias, como serve para capturar espécies durante o periodo migratório, para estudos específicos como foi o caso do Euring Swallow Project desenvolvido pela Euring.
A utilização de chamamentos no desenvolvimento de estudos científicos é desenvolvida por indivíduos que sabem, ou pelo menos foram treinados para o fazer e sabem quais as implicações que esta técnica têm sobre as aves visadas e que sabem quando devem "parar", mesmo que a perturbação não seja visível. E volto a referir mais uma vez, que a utilização de chamamentos para o desenvolvimento de estudos cientificos contam-se pelos dedos de uma mão.
Os benefícios desta técnica de utilização de chamamentos é positiva quando suplanta as técnicas normais. Posso esticar uma rede de captura e esperar que a espécie-alvo que pretendo estudar seja capturada, o que pode demorar anos ou utilizar chamamento e a captura faz-se em questão de minutos.
Em relação aos fotógrafos, na minha opinião, a grande maioria não está preparada para utilizar os chamamentos, porque não consegue identificar os problemas que podem vir a causar. Daí o post inicial que originou esta troca de argumentações. Mas nada que não tenha solução, mas que será dificil de atingir. Seria mais inteligente se fosse feita a pergunta de quais cuidados deviam ter com a utilização de chamamentos ao invés de apontar o rol das matanças à laia de justificação.
Sobre aquele bláblá em que abordaste a questão da divulgação dos dados, etc e tal, considerei-a uma mera conversa da treta , pois na minha opinião, tu mesmo acabaste por desmentir as tuas próprias palavras com o post seguinte.
Abraço
Paulo
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Olá Paulo,
Concordo totalmente que não se deve bipolarizar aqui a questão dos anilhadores versus fotógrafos (e já expliquei aqui porque é que usei o exemplo da anilhagem).
Voltemos assim à questão do uso dos chamamentos em geral.
Se queres citar o decreto-lei que enquadra a questão da perturbação, então peço-te que o cites como deve ser. O texto desse D.L. diz o seguinte:
O texto não diz que as aves são perturbadas pelo uso de gravadores (podes dizer que isso é uma questão de bom senso, mas eu continuo a dizer, como aliás digo desde o início desta discussão: venham os estudos que demonstrem que a utilização de chamamentos constitui um factor de perturbação das aves e os efeitos que essa perturbação pode ter).
Além disso falta definir o que é que se entende por "efeito significativo". Isso é definido arbitrariamente?
Que implicações são essas a que fazes referência?
E qual é a base para decidir quando é que se deve parar?
Mais uma vez, é apenas o bom senso de cada um ou existe um estudo concreto que forneça indicações concretas relativamente a esta matéria?
Estás a quantificar os benefícios resultantes da utilização dessa técnica, mas nada referes quanto aos supostos prejuízos.
Isto significa que os fins justificam os meios?
Dois comentários:
primeiro, e insistindo na questão que já coloquei atrás, que problemas são esses a que fazes referência? é que desde o início desta conversa toda que ouço falar dos problemas mas continuo sem saber qual a base para afirmar que existem problemas - são suposições ou isso está estudado?
segundo, e admitindo que os fotógrafos não estão preparados (ou sensibilizados) para os supostos problemas decorrentes da utilização de gravações, pergunto-te se verias com bons olhos que fosse levada a cabo uma acção de sensibilização junto dos fotógrafos com vista a assegurar que o uso de gravações era feito de modo a "saber quando devem parar".
Eu não desmenti coisa nenhuma. Mantenho tudo o que escrevi. Sumariamente, eu defendo que a informação obtida seja devidamente divulgada e procuro fazer a minha parte. Há casos em que me parece que isso não acontece, conforme expliquei acima (e não me estava a referir apenas aos trabalhos de anilhagem).
1 abraço,
Gonçalo
Concordo totalmente que não se deve bipolarizar aqui a questão dos anilhadores versus fotógrafos (e já expliquei aqui porque é que usei o exemplo da anilhagem).
Voltemos assim à questão do uso dos chamamentos em geral.
scirpaceus escreveu:Conforme sabemos, existem normas legais que proibem a "perturbação das aves, nomeadamente na altura da reprodução, migração etc, etc..." Artº 11º do DL n.º 140/99 de 24 de abril, alterado pelo 49/2005, de 24 de Fevereiro.
Se queres citar o decreto-lei que enquadra a questão da perturbação, então peço-te que o cites como deve ser. O texto desse D.L. diz o seguinte:
É proibido (...) perturbar esses espécimes, nomeadamente durante o período de reprodução, de dependência, de hibernação e de migração, desde que essa perturbação tenha um efeito significativo
O texto não diz que as aves são perturbadas pelo uso de gravadores (podes dizer que isso é uma questão de bom senso, mas eu continuo a dizer, como aliás digo desde o início desta discussão: venham os estudos que demonstrem que a utilização de chamamentos constitui um factor de perturbação das aves e os efeitos que essa perturbação pode ter).
Além disso falta definir o que é que se entende por "efeito significativo". Isso é definido arbitrariamente?
scirpaceus escreveu:A utilização de chamamentos no desenvolvimento de estudos científicos é desenvolvida por indivíduos que sabem, ou pelo menos foram treinados para o fazer e sabem quais as implicações que esta técnica têm sobre as aves visadas e que sabem quando devem "parar", mesmo que a perturbação não seja visível.
Que implicações são essas a que fazes referência?
E qual é a base para decidir quando é que se deve parar?
Mais uma vez, é apenas o bom senso de cada um ou existe um estudo concreto que forneça indicações concretas relativamente a esta matéria?
scirpaceus escreveu:Os benefícios desta técnica de utilização de chamamentos é positiva quando suplanta as técnicas normais. Posso esticar uma rede de captura e esperar que a espécie-alvo que pretendo estudar seja capturada, o que pode demorar anos ou utilizar chamamento e a captura faz-se em questão de minutos.
Estás a quantificar os benefícios resultantes da utilização dessa técnica, mas nada referes quanto aos supostos prejuízos.
Isto significa que os fins justificam os meios?
scirpaceus escreveu:Em relação aos fotógrafos, na minha opinião, a grande maioria não está preparada para utilizar os chamamentos, porque não consegue identificar os problemas que podem vir a causar.
Dois comentários:
primeiro, e insistindo na questão que já coloquei atrás, que problemas são esses a que fazes referência? é que desde o início desta conversa toda que ouço falar dos problemas mas continuo sem saber qual a base para afirmar que existem problemas - são suposições ou isso está estudado?
segundo, e admitindo que os fotógrafos não estão preparados (ou sensibilizados) para os supostos problemas decorrentes da utilização de gravações, pergunto-te se verias com bons olhos que fosse levada a cabo uma acção de sensibilização junto dos fotógrafos com vista a assegurar que o uso de gravações era feito de modo a "saber quando devem parar".
scirpaceus escreveu:Sobre aquele bláblá em que abordaste a questão da divulgação dos dados, etc e tal, considerei-a uma mera conversa da treta , pois na minha opinião, tu mesmo acabaste por desmentir as tuas próprias palavras com o post seguinte.
Eu não desmenti coisa nenhuma. Mantenho tudo o que escrevi. Sumariamente, eu defendo que a informação obtida seja devidamente divulgada e procuro fazer a minha parte. Há casos em que me parece que isso não acontece, conforme expliquei acima (e não me estava a referir apenas aos trabalhos de anilhagem).
1 abraço,
Gonçalo
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25661
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Boas
Só hoje estou a ver este post e gostava de também dar um pequeno contributo para a questão.
Não utilizo emissões de chamamentos para observação/fotografia/censos excepto para o caso de censo de rapinas nocturnas por ser a metodologia** mais utilizada (quase diria única) para verificar a presença/ausência de várias espécies numa determinada área, sem uma prospecção exaustiva por ninhos ou regurgitações (egagrópilas para quem gostar mais do termo ). É de registar que estes chamamentos apenas são eficazes (e não o são para todas as espécies) durante a época de reprodução pois fora deste período a frequência de vocalizações/respostas a emissões é, regra geral, diminuta.
Como a perturbação causada por este método ainda não foi suficientemente estudada sou da opinião que este apenas deverá ser aplicado em situações que:
- Não haja outra forma eficaz de obter os mesmos dados/resultados;
- Haja uma finalidade, que não seja unicamente pessoal, para a sua aplicação;
- Seja utilizado com moderação e sentido de responsabilidade.
Um observador, um fotógrafo, um ornitólogo ou qualquer outro interessado em aves, se possui objectivos suficientemente ambiciosos para que este método seja necessário, certamente conhecerá suficientemente a biologia das espécies para as quais emite as vocalizações para avaliar onde, quando e como o aplicar!
Desculpem o testamento
Cumprimentos
Filipe
**A metodologia consiste em emitir, para cada espécie, 3 min. de vocalizações, seguidos de 2 minutos de escuta.
Só hoje estou a ver este post e gostava de também dar um pequeno contributo para a questão.
Não utilizo emissões de chamamentos para observação/fotografia/censos excepto para o caso de censo de rapinas nocturnas por ser a metodologia** mais utilizada (quase diria única) para verificar a presença/ausência de várias espécies numa determinada área, sem uma prospecção exaustiva por ninhos ou regurgitações (egagrópilas para quem gostar mais do termo ). É de registar que estes chamamentos apenas são eficazes (e não o são para todas as espécies) durante a época de reprodução pois fora deste período a frequência de vocalizações/respostas a emissões é, regra geral, diminuta.
Como a perturbação causada por este método ainda não foi suficientemente estudada sou da opinião que este apenas deverá ser aplicado em situações que:
- Não haja outra forma eficaz de obter os mesmos dados/resultados;
- Haja uma finalidade, que não seja unicamente pessoal, para a sua aplicação;
- Seja utilizado com moderação e sentido de responsabilidade.
Um observador, um fotógrafo, um ornitólogo ou qualquer outro interessado em aves, se possui objectivos suficientemente ambiciosos para que este método seja necessário, certamente conhecerá suficientemente a biologia das espécies para as quais emite as vocalizações para avaliar onde, quando e como o aplicar!
Desculpem o testamento
Cumprimentos
Filipe
**A metodologia consiste em emitir, para cada espécie, 3 min. de vocalizações, seguidos de 2 minutos de escuta.
Filipe Martins- Número de Mensagens : 162
Idade : 41
Local : Seia
Data de inscrição : 26/05/2008
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Viva a todos!
Desculpem meus senhores, mas tenho que dizer isto:
É a velha mania à Portuguesa, em que o "trabalho mais importante do mundo é o meu e quem percebe disto sou eu e mais ninguém". Durante toda a minha vida tenho vindo a dar para este peditório e os resultados não têm sido nada bons!
Será que não devemos ter a mente aberta por forma a conhecer e respeitar o trabalho dos outros?
Será que, porque a mensagem não é a meu favor, devo liquidar o mensageiro?
O trabalho do Sr Taylor tem tanto valor como o trabalho do Sr. X ou do Sr Y, seja lá em que lugar do mundo for!
Pelo menos tem o mérito de existir e estar publicado, embora para aves específicas, é verdade!
Estou neste momento a lembrar-me da velha história do Monge Fraciscano que, durante uma das suas longas caminhadas pelos jardins do mosteiro, meditando, quase pisava um carreiro de formigas. Reparou a tempo e saltou, ficando felicíssimo por não ter morto uma sequer! Só que ao fazê-lo não reparou que tinha acabado de esmagar uma carocha em vias de extinçao!
Desculpem meus senhores, mas tenho que dizer isto:
É a velha mania à Portuguesa, em que o "trabalho mais importante do mundo é o meu e quem percebe disto sou eu e mais ninguém". Durante toda a minha vida tenho vindo a dar para este peditório e os resultados não têm sido nada bons!
Será que não devemos ter a mente aberta por forma a conhecer e respeitar o trabalho dos outros?
Será que, porque a mensagem não é a meu favor, devo liquidar o mensageiro?
O trabalho do Sr Taylor tem tanto valor como o trabalho do Sr. X ou do Sr Y, seja lá em que lugar do mundo for!
Pelo menos tem o mérito de existir e estar publicado, embora para aves específicas, é verdade!
Estou neste momento a lembrar-me da velha história do Monge Fraciscano que, durante uma das suas longas caminhadas pelos jardins do mosteiro, meditando, quase pisava um carreiro de formigas. Reparou a tempo e saltou, ficando felicíssimo por não ter morto uma sequer! Só que ao fazê-lo não reparou que tinha acabado de esmagar uma carocha em vias de extinçao!
Abraços
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Olá.
Nos casos em que a anilhagem é utilizada como meios de educação ambiental são usados sons para atrair as aves?
Eu acho que pelo facto de um projecto não ser desenvolvido com intuito de conservação, os dados que recolhe poderão vir a ser utilizados para tal.
Se os dados são tratados e se a informação chega à comunidade já é outro novelo, no meu ver, que possivelmente também tem muita linha para desenrolar.
Compreendo perfeitamente o valor que uma fotografia pode ter, no entanto acho que é possível a sua obtenção sem chegar ao nível de perturbação que abriu esta discussão. Ao que o Gonçalo me vai perguntar: que perturbação? Estudos? Não sei se os há, se não, confesso.
Também é possível chegar aos mesmos resultados (mais uma vez o caso da anilhagem) sem recorrer a chamamentos mas como o Paulo Tenreiro referiu seria muito mais complicado e em muito mais tempo.
Cumprimentos,
Camilo.
Nos casos em que a anilhagem é utilizada como meios de educação ambiental são usados sons para atrair as aves?
Eu acho que pelo facto de um projecto não ser desenvolvido com intuito de conservação, os dados que recolhe poderão vir a ser utilizados para tal.
Se os dados são tratados e se a informação chega à comunidade já é outro novelo, no meu ver, que possivelmente também tem muita linha para desenrolar.
Compreendo perfeitamente o valor que uma fotografia pode ter, no entanto acho que é possível a sua obtenção sem chegar ao nível de perturbação que abriu esta discussão. Ao que o Gonçalo me vai perguntar: que perturbação? Estudos? Não sei se os há, se não, confesso.
Também é possível chegar aos mesmos resultados (mais uma vez o caso da anilhagem) sem recorrer a chamamentos mas como o Paulo Tenreiro referiu seria muito mais complicado e em muito mais tempo.
Cumprimentos,
Camilo.
Camilo Carneiro- Número de Mensagens : 124
Idade : 37
Data de inscrição : 22/09/2008
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Olá Camilo,
A discussão já vai longa mas as conclusões são bastante ténues.
Das intervenções dos vários participantes observo o seguinte:
1 - Nenhum dos participantes deste Forum apresentou qualquer estudo que demonstre que o uso de gravações induz perturbação nas aves. Tudo aquilo que tem sido escrito até ao momento sobre a perturbação assenta em meras suposições. Face à ausência de evidências, tenho bastante dificuldade em aceitar a tese da existência de perturbação e começo a acreditar que existem bastantes preconceitos (não fundamentados) relativamente ao uso de gravações.
2 - Surpreendentemente, nenhum dos participantes se declarou incondicionalmente contra o uso de gravações. O que me parece haver é um número considerável de pessoas que são da opinião que o uso de gravações é legítimo em determinadas situações (estudos científicos, projectos de conservação, anilhagem) e não noutras (realização de fotografias, por exemplo). Este facto, em conjunto com a ausência de evidências científicas de que o uso de gravações cause perturbação (conforme referi no ponto 1) leva-me a pensar que a actividade de recolha de fotografias é encarada por algumas pessoas como uma actividade "menor" ou "menos nobre" - no sentido em que não é bem visto o recurso a gravações na realização dessa actividade. Isto acaba por ser um mero juízo de valor assente em opiniões pessoais não fundamentadas. Não me revejo nesse ajuizamento.
3 - Pegando no teu último parágrafo, "Também é possível chegar aos mesmos resultados (mais uma vez o caso da anilhagem) sem recorrer a chamamentos mas como o Paulo Tenreiro referiu seria muito mais complicado e em muito mais tempo" verifico que os benefícios do uso das gravações na situação que referes não são para as aves mas sim para as pessoas. Usa-se gravações porque é prático. Mas é exactamente isso que se passa com a realização de fotografias: usa-se gravações porque é prático. Ou seja, em ambos os casos estamos a falar de tornar mais confortável a realização da actividade para as pessoas envolvidas, ainda que com (supostos?) prejuízos para as aves (a tua afirmação de que os dados poderão vir a ser utilizados para fins de conservação é, mais uma vez uma suposição, tal com é uma suposição se eu escrever que as fotografias poderão vir a ser utilizadas num livro sobre património natural e conservação).
4 - Para terminar, deixo uma sugestão a todos aqueles que acreditam que há perturbação mas não sabem como demonstrá-lo: que tal promover a realização de um estudo científico, uma coisa bem estruturada, que tenha por principal objectivo demonstrar os efeitos da utilização de gravações no bem-estar das aves (nomeadamente no sucesso reprodutivo)? Penso que seria um tema interessante para uma tese de doutoramento e, ao que tudo indica, é um campo onde ainda há muito terreno a desbravar.
Abraço,
Gonçalo
A discussão já vai longa mas as conclusões são bastante ténues.
Das intervenções dos vários participantes observo o seguinte:
1 - Nenhum dos participantes deste Forum apresentou qualquer estudo que demonstre que o uso de gravações induz perturbação nas aves. Tudo aquilo que tem sido escrito até ao momento sobre a perturbação assenta em meras suposições. Face à ausência de evidências, tenho bastante dificuldade em aceitar a tese da existência de perturbação e começo a acreditar que existem bastantes preconceitos (não fundamentados) relativamente ao uso de gravações.
2 - Surpreendentemente, nenhum dos participantes se declarou incondicionalmente contra o uso de gravações. O que me parece haver é um número considerável de pessoas que são da opinião que o uso de gravações é legítimo em determinadas situações (estudos científicos, projectos de conservação, anilhagem) e não noutras (realização de fotografias, por exemplo). Este facto, em conjunto com a ausência de evidências científicas de que o uso de gravações cause perturbação (conforme referi no ponto 1) leva-me a pensar que a actividade de recolha de fotografias é encarada por algumas pessoas como uma actividade "menor" ou "menos nobre" - no sentido em que não é bem visto o recurso a gravações na realização dessa actividade. Isto acaba por ser um mero juízo de valor assente em opiniões pessoais não fundamentadas. Não me revejo nesse ajuizamento.
3 - Pegando no teu último parágrafo, "Também é possível chegar aos mesmos resultados (mais uma vez o caso da anilhagem) sem recorrer a chamamentos mas como o Paulo Tenreiro referiu seria muito mais complicado e em muito mais tempo" verifico que os benefícios do uso das gravações na situação que referes não são para as aves mas sim para as pessoas. Usa-se gravações porque é prático. Mas é exactamente isso que se passa com a realização de fotografias: usa-se gravações porque é prático. Ou seja, em ambos os casos estamos a falar de tornar mais confortável a realização da actividade para as pessoas envolvidas, ainda que com (supostos?) prejuízos para as aves (a tua afirmação de que os dados poderão vir a ser utilizados para fins de conservação é, mais uma vez uma suposição, tal com é uma suposição se eu escrever que as fotografias poderão vir a ser utilizadas num livro sobre património natural e conservação).
4 - Para terminar, deixo uma sugestão a todos aqueles que acreditam que há perturbação mas não sabem como demonstrá-lo: que tal promover a realização de um estudo científico, uma coisa bem estruturada, que tenha por principal objectivo demonstrar os efeitos da utilização de gravações no bem-estar das aves (nomeadamente no sucesso reprodutivo)? Penso que seria um tema interessante para uma tese de doutoramento e, ao que tudo indica, é um campo onde ainda há muito terreno a desbravar.
Abraço,
Gonçalo
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25661
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Olá a todos,
O Gonçalo, com a sua habitual sapiência fez um bom resumo do que foi dito... assino por baixo.
Só acrescentaria o seguinte, se me é permitido:
1- também ninguém o provou, mas não é de excluir a possibilidade de as gravações até estimularem (positivamente) as aves. Ou, o que será mais provável, haverá casos e casos, uns positivos outros negativos (se calhar neutros) conforme a espécie, a época do ano, o sexo, etc...
2- (suspiros!) pessoas como tu, Gonçalo, deviam estar à frente dos nossos jornais e revistas, e dos organismos de ambiente e ONGs!
3- pois, o pessoal “ambientalista” esquece muitas vezes aquela espécie... o Homo sapiens
4- Eu não tenho esses meios e capacidade, mas gostaria que tal estudo fosse realizado.
Pela minha parte, enquanto um estudo desses não é feito, “cautela e caldos de galinha”: só uso gravações em certos casos. Porque, por um lado, não estar provado que não faz mal, não quer dizer que não faça. Por outro, em termos meramente fotográficos, parece-me que o uso dos sons serve essencialmente aqueles que querem apenas um retrato o mais próximo possível da ave, só que, para mim, a fotografia de aves é muito mais do que apenas retratos...
Reforçando a ideia do Gonçalo de que existem muitos preconceitos, não deixa de ser curioso que tão pouca gente admita usar sons, quando é sabido que muitas mais os usam...
O Gonçalo, com a sua habitual sapiência fez um bom resumo do que foi dito... assino por baixo.
Só acrescentaria o seguinte, se me é permitido:
1- também ninguém o provou, mas não é de excluir a possibilidade de as gravações até estimularem (positivamente) as aves. Ou, o que será mais provável, haverá casos e casos, uns positivos outros negativos (se calhar neutros) conforme a espécie, a época do ano, o sexo, etc...
2- (suspiros!) pessoas como tu, Gonçalo, deviam estar à frente dos nossos jornais e revistas, e dos organismos de ambiente e ONGs!
3- pois, o pessoal “ambientalista” esquece muitas vezes aquela espécie... o Homo sapiens
4- Eu não tenho esses meios e capacidade, mas gostaria que tal estudo fosse realizado.
Pela minha parte, enquanto um estudo desses não é feito, “cautela e caldos de galinha”: só uso gravações em certos casos. Porque, por um lado, não estar provado que não faz mal, não quer dizer que não faça. Por outro, em termos meramente fotográficos, parece-me que o uso dos sons serve essencialmente aqueles que querem apenas um retrato o mais próximo possível da ave, só que, para mim, a fotografia de aves é muito mais do que apenas retratos...
Reforçando a ideia do Gonçalo de que existem muitos preconceitos, não deixa de ser curioso que tão pouca gente admita usar sons, quando é sabido que muitas mais os usam...
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Não sou um perito na àrea, mas observei com interesse este tópico, que basicamente chega a "conclusões" (ou falta delas) semelhantes a discussões similares em outros fóruns, nomeadamente anglófonos.
Sem procurar muito (um curto "google") permitiu-me chegar a alguns casos sobre efeitos de playback.
A primeira coisa que me saiu foi uma discussão muito interessante sobre efeitos do playback em zonas tropicais.
Nessa análise (que julgo que não foi nenhum estudo rigoroso) observou-se que em zonas onde os guias (que iam mostrar as aves aos turistas) usavam diariamente chamadas durante 10-15 min, as aves tinham desaparecido, enquanto que em zonas onde os guias não usavam chamadas, as aves continuavam no local.
Uma referência que fazem aos estatutos dos birdwatchers americanos é a seguinte:
Nessa discusão também se fizeram referência a alguns estudos rigorosos, embora se admita a insuficiência desses estudos. Um desses estudos descreve efeitos claros do uso de chamadas no comportamento sexual de chickadees (os "chapins" americanos). Também vi descrito os casos já referidos em que os predadores parecem aproveitar-se do uso de chamadas (utilizadas neste caso para a realização de estudos científicos) para caçar. Um dos artigos referidos até era de um português (Paulo Mota) que mostra efeitos do uso de chamadas no comportamento dos chamarizes (Serinus serinus).
Não vi nenhum exemplo de um estudo que claramente mostrasse efeitos perniciosos globais no sucesso reprodutos de uma espécie de aves, mas que há efeitos, isso acho que não há dúvida. O que me parece mais ou menos consensual em tudo o que vi é que mais do que alguns minutos (>10) de uso de playback é considerado como podendo ser prejudicial a algumas espécies de aves, principalmente em época de reprodução. Por isso sou da opinião que o playback pode ser utilizado, mas deve ser de curta duração (<5 min) e ocasional (não repetido no espaço nem no tempo). Isso obviamente à falta de estudos que mostrem a presença / ausência de efeitos em determinadas espécies.
Sem procurar muito (um curto "google") permitiu-me chegar a alguns casos sobre efeitos de playback.
A primeira coisa que me saiu foi uma discussão muito interessante sobre efeitos do playback em zonas tropicais.
Nessa análise (que julgo que não foi nenhum estudo rigoroso) observou-se que em zonas onde os guias (que iam mostrar as aves aos turistas) usavam diariamente chamadas durante 10-15 min, as aves tinham desaparecido, enquanto que em zonas onde os guias não usavam chamadas, as aves continuavam no local.
Uma referência que fazem aos estatutos dos birdwatchers americanos é a seguinte:
Section 1(b) of The American Birding Association Principles of Birding Ethics (ABA member handbook, 2003, p.
24) states: “Limit the use of recordings and other methods of attracting birds, and never use such methods in heavily
birded areas or for attracting any species that is Threatened, Endangered, or of Special Concern, or is rare
in your local area.”
Nessa discusão também se fizeram referência a alguns estudos rigorosos, embora se admita a insuficiência desses estudos. Um desses estudos descreve efeitos claros do uso de chamadas no comportamento sexual de chickadees (os "chapins" americanos). Também vi descrito os casos já referidos em que os predadores parecem aproveitar-se do uso de chamadas (utilizadas neste caso para a realização de estudos científicos) para caçar. Um dos artigos referidos até era de um português (Paulo Mota) que mostra efeitos do uso de chamadas no comportamento dos chamarizes (Serinus serinus).
Não vi nenhum exemplo de um estudo que claramente mostrasse efeitos perniciosos globais no sucesso reprodutos de uma espécie de aves, mas que há efeitos, isso acho que não há dúvida. O que me parece mais ou menos consensual em tudo o que vi é que mais do que alguns minutos (>10) de uso de playback é considerado como podendo ser prejudicial a algumas espécies de aves, principalmente em época de reprodução. Por isso sou da opinião que o playback pode ser utilizado, mas deve ser de curta duração (<5 min) e ocasional (não repetido no espaço nem no tempo). Isso obviamente à falta de estudos que mostrem a presença / ausência de efeitos em determinadas espécies.
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Caro Gonçalo,
Não sei porque tens que rematar o assunto, embora concorde que já vai longo. Eu certamente não assino por baixo da tua apreciação algo tendenciosa. Senão vejamos:
1. Apesar de ninguém ter apresentado um estudo demonstrando efeitos negativos das gravações (esse estudo provavelmente não existe), a ausência de estudo não implica ausência de impactos, e existe ainda a "opinião informada" e o "princípio da precaução" ambos válidos neste âmbito e referidos anteriormente. Isto pode não satisfazer a tua necessidade de dados concretos, especialmente quando assumes uma postura de "advogado do diabo", mas estas ideias não podem ser desconsideradas. Adicionalmente, mesmo que não haja impactos negativos, eu referi-me o uso das gravações como uma má prática para quem pretende observar aves (algo que os foristas parecem ter concordado - pelo menos não contestaram!). Também não me parece que exista qualquer preconceito (eu fui o primeiro a fazer a crítica e como sabes uso gravações regularmente, na anilhagem e em recenseamentos, e também sou observador e fotógrafo!).
2. É evidente que ninguém seria totalmente contra o uso de gravações. Isto porque as gravações têm benefícios óbvios, e o impacto do seu uso esporádico e de curta duração não deve ser muito maior do que atravessar um território de uma ave nidificante a pé, e é certamente menor do que atravessá-lo de carro (mas podendo evitar-se, tanto um como outro, melhor!). (O seu uso prolongado, em períodos críticos é outra história.) Mas a tua referência à fotografia, inicialmente a título de exemplo, não implica que esta é uma actividade menor nem ninguém fez essa referência (para alguém que necessita de dados concretos para algumas coisas, fazes muitas suposições noutras!). Aliás, quase todos fazemos fotografia, que tem outros impactos muito maiores do que os causados pelas gravações!
3. Não vejo como é que as gravações poderiam ser benéficas paras as aves; é evidente que o benefício é para o fotógrafo, anilhador ou observador, e ninguém referiu nenhum exemplo contrário.
4. Finalmente, o trabalho que sugeriste não serve certamente para um doutoramento; tem pouco interesse científico e conservacionista (servirá talvez para um mestrado de Bolonha?!). Existe, no entanto, bastante trabalho feito sobre a perturbação em geral, impacto de ruído e luz artificial, e até evolução acústica (e não só) das aves que se adaptaram às (ruidosas) cidades, o que permite estabelecer alguns paralelismos com o tema em discussão.
Cumprimentos
Júlio
Não sei porque tens que rematar o assunto, embora concorde que já vai longo. Eu certamente não assino por baixo da tua apreciação algo tendenciosa. Senão vejamos:
1. Apesar de ninguém ter apresentado um estudo demonstrando efeitos negativos das gravações (esse estudo provavelmente não existe), a ausência de estudo não implica ausência de impactos, e existe ainda a "opinião informada" e o "princípio da precaução" ambos válidos neste âmbito e referidos anteriormente. Isto pode não satisfazer a tua necessidade de dados concretos, especialmente quando assumes uma postura de "advogado do diabo", mas estas ideias não podem ser desconsideradas. Adicionalmente, mesmo que não haja impactos negativos, eu referi-me o uso das gravações como uma má prática para quem pretende observar aves (algo que os foristas parecem ter concordado - pelo menos não contestaram!). Também não me parece que exista qualquer preconceito (eu fui o primeiro a fazer a crítica e como sabes uso gravações regularmente, na anilhagem e em recenseamentos, e também sou observador e fotógrafo!).
2. É evidente que ninguém seria totalmente contra o uso de gravações. Isto porque as gravações têm benefícios óbvios, e o impacto do seu uso esporádico e de curta duração não deve ser muito maior do que atravessar um território de uma ave nidificante a pé, e é certamente menor do que atravessá-lo de carro (mas podendo evitar-se, tanto um como outro, melhor!). (O seu uso prolongado, em períodos críticos é outra história.) Mas a tua referência à fotografia, inicialmente a título de exemplo, não implica que esta é uma actividade menor nem ninguém fez essa referência (para alguém que necessita de dados concretos para algumas coisas, fazes muitas suposições noutras!). Aliás, quase todos fazemos fotografia, que tem outros impactos muito maiores do que os causados pelas gravações!
3. Não vejo como é que as gravações poderiam ser benéficas paras as aves; é evidente que o benefício é para o fotógrafo, anilhador ou observador, e ninguém referiu nenhum exemplo contrário.
4. Finalmente, o trabalho que sugeriste não serve certamente para um doutoramento; tem pouco interesse científico e conservacionista (servirá talvez para um mestrado de Bolonha?!). Existe, no entanto, bastante trabalho feito sobre a perturbação em geral, impacto de ruído e luz artificial, e até evolução acústica (e não só) das aves que se adaptaram às (ruidosas) cidades, o que permite estabelecer alguns paralelismos com o tema em discussão.
Cumprimentos
Júlio
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Boas,
Duas notas avulsas e mal fundamentadas:
-Há uns tempos, creio que no Avesforum, alguém citou o caso de um estudo sobre o Rouxinol-do-mato (julgo que era esta a espécie) com recurso a gravações e, para surpresa dos investigadores, os machos destruíam as posturas quando se emitiam vocalizações de outros machos perto dos ninhos.
-Há menos tempo, um artista colocou uma foto de Melro-azul no portal Fotonatura e na descrição contou que o bicho não ligou às vocalizações dos seus congéneres, mas, quando se encontrava perto de esgotar o repertório do seu MP3 (com mais de 100 espécies), resolveu inesperadamente aproximar-se...
No meu caso, faço fotografia de aves há mais de uma dúzia de anos e nunca usei gravações, devido ao princípio da precaução e por considerar que se trata de um mau princípio. Claro que se fosse para um programa da BBC ou do malogrado Félix os fins justificariam os meios. Como tal, causa-me bastante apreensão pensar que certos "fotógrafos de natureza", que acabaram de comprar uma câmara, mas até podiam ter comprado una cana de pesca, andem por aí armados de MP3, a aproximar-se de ninhos, a perturbar dormitórios, etc.
Como "quem não sabe é como quem não vê", é importante que neste tipo de fóruns não se passe a mensagem de que tudo são facilidades (sorry Gonçalo) e muito menos aquela "se há indivíduos que matam pássaros porque é que não nós não lhe podemos causar danos menores?".
Abraços,
Luis
Duas notas avulsas e mal fundamentadas:
-Há uns tempos, creio que no Avesforum, alguém citou o caso de um estudo sobre o Rouxinol-do-mato (julgo que era esta a espécie) com recurso a gravações e, para surpresa dos investigadores, os machos destruíam as posturas quando se emitiam vocalizações de outros machos perto dos ninhos.
-Há menos tempo, um artista colocou uma foto de Melro-azul no portal Fotonatura e na descrição contou que o bicho não ligou às vocalizações dos seus congéneres, mas, quando se encontrava perto de esgotar o repertório do seu MP3 (com mais de 100 espécies), resolveu inesperadamente aproximar-se...
No meu caso, faço fotografia de aves há mais de uma dúzia de anos e nunca usei gravações, devido ao princípio da precaução e por considerar que se trata de um mau princípio. Claro que se fosse para um programa da BBC ou do malogrado Félix os fins justificariam os meios. Como tal, causa-me bastante apreensão pensar que certos "fotógrafos de natureza", que acabaram de comprar uma câmara, mas até podiam ter comprado una cana de pesca, andem por aí armados de MP3, a aproximar-se de ninhos, a perturbar dormitórios, etc.
Como "quem não sabe é como quem não vê", é importante que neste tipo de fóruns não se passe a mensagem de que tudo são facilidades (sorry Gonçalo) e muito menos aquela "se há indivíduos que matam pássaros porque é que não nós não lhe podemos causar danos menores?".
Abraços,
Luis
Luís Venâncio- Número de Mensagens : 100
Data de inscrição : 15/06/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Estou 100% de acordo com o Júlio e com o Luís.
É verdade que não há suficientes estudos científicos sobre o efeito dos play-backs sobre as aves. Mas com tudo o que já sabemos sobre as aves é impossível pensar-se que obrigar uma Carriça a estar uma hora e meia em histeria não tem impacto.
O canto e a defesa do território são comportamentos que têm custos energéticos muito elevados para as aves e só por isso é que são eficazes (para além do aumento no risco de exposição a predadores). São demonstrações de força, como um braço de ferro.
É assim que as aves medem a qualidade dos seus vizinhos.
Para uma Carriça em plena época de reprodução as horas do dia quase não chegam para a frenética necessidade de busca de alimento. Estar uma hora e meia em histeria certamente não ajuda.
Provavelmente se fizermos isto uma só vez o impacto não será exagerado, mas se repetirmos a dose em dias consecutivos, o caso será outro.
Posto isto, uma vez que trabalho com aves há muitos anos, e já usei metodologias bem mais intrusivas do que o play-back, não sou contra o uso desta técnica. O que digo é que temos que ter consciência que tem impactos negativos e que deve ser usada com parcimónia. É com a nossa consciência que devemos decidir se os benefícios que vamos colher superam os impactos negativos que vamos causar.
Abraços, Filipe
É verdade que não há suficientes estudos científicos sobre o efeito dos play-backs sobre as aves. Mas com tudo o que já sabemos sobre as aves é impossível pensar-se que obrigar uma Carriça a estar uma hora e meia em histeria não tem impacto.
O canto e a defesa do território são comportamentos que têm custos energéticos muito elevados para as aves e só por isso é que são eficazes (para além do aumento no risco de exposição a predadores). São demonstrações de força, como um braço de ferro.
É assim que as aves medem a qualidade dos seus vizinhos.
Para uma Carriça em plena época de reprodução as horas do dia quase não chegam para a frenética necessidade de busca de alimento. Estar uma hora e meia em histeria certamente não ajuda.
Provavelmente se fizermos isto uma só vez o impacto não será exagerado, mas se repetirmos a dose em dias consecutivos, o caso será outro.
Posto isto, uma vez que trabalho com aves há muitos anos, e já usei metodologias bem mais intrusivas do que o play-back, não sou contra o uso desta técnica. O que digo é que temos que ter consciência que tem impactos negativos e que deve ser usada com parcimónia. É com a nossa consciência que devemos decidir se os benefícios que vamos colher superam os impactos negativos que vamos causar.
Abraços, Filipe
Filipe Canário- Número de Mensagens : 71
Idade : 51
Local : Lisboa
Data de inscrição : 06/07/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Já agora, encontrei na net um protocolo de censo de carriças realizado pela Audobon (supostamente feito por quem mais percebe de carriças):
http://ar.audubon.org/files/Audubon%20Arkansas/documents/Survey%20Instructions.pdf
Esta é a frase que me chamou mais a atenção:
http://ar.audubon.org/files/Audubon%20Arkansas/documents/Survey%20Instructions.pdf
Esta é a frase que me chamou mais a atenção:
Once the 6-mintue survey period is over you should proceed to another survey point. If you
absolutely need another look at a bird to determine its identity you may select a track to play.
However, please be aware that when a bird responds to playback its normal routine is disrupted.
Too much disturbance can be detrimental. Do not overplay vocalizations or play them when not
surveying. Please use common sense and keep the bird’s well being in mind.
Filipe Canário- Número de Mensagens : 71
Idade : 51
Local : Lisboa
Data de inscrição : 06/07/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Caros,
A questão está, como seria óbvio (mas não o é, e não sei porquê!), no uso cuidado das gravações. Não há estudos suficientes? Pois não, mas também não os há para saber que impacto tem, por exemplo, a contagem de ovos. No entanto, as contagens de ovos são práticas comuns em teses de mestrado... deviam deixar de existir? Claro que não! Mas, se um cientista lá fosse todos os dias contar os ovos, ou retirasse algum para a sua colecção privada, etc, toda a gente acharia mal. É uma questão de tentar ter bom senso, mesmo que bom senso seja algo difícil de definir.
Só quem nunca tentou ser fotógrafo da natureza (ou da vida selvagem), é que pode achar que a fotografia da natureza não é desvalorizada, quando comparada com outras actividades relacionadas com bichos.
Qualquer pessoa que o tenha tentado, no nosso país, percebe que o fotógrafo da natureza é aqui completamente desvalorizado. Já o disse aqui no fórum: mesmo com boas recomendações as portas não se abrem e somos olhados de lado. Desde “perturbar as aves” a, pasmem-se, “divulgar a zona”, tudo serve para ser atirado ao nariz do fotógrafo.
Se montamos um abrigo, extraordinariamente bem camuflado e eficaz, entramos lá para dentro de madrugada e saímos à noite, estamos a “stressar” a águia muito rara. Mesmo que ela continue na sua vidinha, calmamente. Já quem lá vai contar ovos, pôr anilhas e/ou transmissores, tirar sangue, etc, esses têm magia na ponta dos dedos e não stressam os bichos, lol. E não é por uns fazerem mal, eu também posso. Nada disso, antes pelo contrário: esses trabalhos são meritórios, tal como o é o da fotografia. Sem a fotografia (parada ou em movimento) o mundo natural seria muito mais pobre.
Abraços
A questão está, como seria óbvio (mas não o é, e não sei porquê!), no uso cuidado das gravações. Não há estudos suficientes? Pois não, mas também não os há para saber que impacto tem, por exemplo, a contagem de ovos. No entanto, as contagens de ovos são práticas comuns em teses de mestrado... deviam deixar de existir? Claro que não! Mas, se um cientista lá fosse todos os dias contar os ovos, ou retirasse algum para a sua colecção privada, etc, toda a gente acharia mal. É uma questão de tentar ter bom senso, mesmo que bom senso seja algo difícil de definir.
Só quem nunca tentou ser fotógrafo da natureza (ou da vida selvagem), é que pode achar que a fotografia da natureza não é desvalorizada, quando comparada com outras actividades relacionadas com bichos.
Qualquer pessoa que o tenha tentado, no nosso país, percebe que o fotógrafo da natureza é aqui completamente desvalorizado. Já o disse aqui no fórum: mesmo com boas recomendações as portas não se abrem e somos olhados de lado. Desde “perturbar as aves” a, pasmem-se, “divulgar a zona”, tudo serve para ser atirado ao nariz do fotógrafo.
Se montamos um abrigo, extraordinariamente bem camuflado e eficaz, entramos lá para dentro de madrugada e saímos à noite, estamos a “stressar” a águia muito rara. Mesmo que ela continue na sua vidinha, calmamente. Já quem lá vai contar ovos, pôr anilhas e/ou transmissores, tirar sangue, etc, esses têm magia na ponta dos dedos e não stressam os bichos, lol. E não é por uns fazerem mal, eu também posso. Nada disso, antes pelo contrário: esses trabalhos são meritórios, tal como o é o da fotografia. Sem a fotografia (parada ou em movimento) o mundo natural seria muito mais pobre.
Abraços
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Barrento,
Como pessoa que conta ovos, põe anilhas e tira sangue (entre outras maldades) acabei de assumir que tenho consciência de que essas actividades têm impactos, inclusivamente escrevi um artigo há uns anos sobre os riscos para as aves da anilhagem de crias no ninho.
Concordo que as boas práticas se aplicam a tudo o que interfira com a vida das aves. Não separo a investigação da fotografia ou da observação de aves.
Cabe ao investigador/conservacionista/fotógrafo/birdwatcher ter consciência dos impactos que causa (mantendo-se informado, consultando bibliografia, consultado especialistas, aprendendo com as asneiras que faz), respeitar a legislação e agir com bom senso.
Não questiono, de todo, o valor da fotografia de natureza e apenas citei o exemplo da fotografia da Carriça porque foi o que iniciou a discussão.
Abraço, Filipe
Como pessoa que conta ovos, põe anilhas e tira sangue (entre outras maldades) acabei de assumir que tenho consciência de que essas actividades têm impactos, inclusivamente escrevi um artigo há uns anos sobre os riscos para as aves da anilhagem de crias no ninho.
Concordo que as boas práticas se aplicam a tudo o que interfira com a vida das aves. Não separo a investigação da fotografia ou da observação de aves.
Cabe ao investigador/conservacionista/fotógrafo/birdwatcher ter consciência dos impactos que causa (mantendo-se informado, consultando bibliografia, consultado especialistas, aprendendo com as asneiras que faz), respeitar a legislação e agir com bom senso.
Não questiono, de todo, o valor da fotografia de natureza e apenas citei o exemplo da fotografia da Carriça porque foi o que iniciou a discussão.
Abraço, Filipe
Filipe Canário- Número de Mensagens : 71
Idade : 51
Local : Lisboa
Data de inscrição : 06/07/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Caro Barrento,
Eu sou um ávido fotógrafo, especialmente macro e paisagem, mas também de aves, e nunca tive a percepção de que os fotógrafos eram desvalorizados. De qualquer forma, esse não é o tema desta discussão.
O impacto da visita aos ninhos está estudado, bem como do uso de anilhas, da colheita de sangue etc. A título de exemplo, sugiro que leiam o seguinte:
MAYER-GROSS et al. 1997. The effect of observers visiting the nests of passerines: an experimental study. Bird Study 44, 53-65.
BROWN & BROWN 2009. BLOOD SAMPLING REDUCES ANNUAL SURVIVAL IN CLIFF SWALLOWS (PETROCHELIDON PYRRHONOTA). The Auk 126(4):853-861.
PIERCE et al. 2007. Plastic colour rings and the incidence of leg injury in flycatchers (Muscicapidae, Monarchidae). Ringing & Migration 23, 205–210.
Também há estudos que não evidenciam nenhum impacto, e há detalhes dos procedimentos que os permitem minimizar. Estes impactos obrigam a que haja uma justificação à priori para realizar estas actividades, que normalmente são avaliadas pelas entidades responsáveis que emitem as respectivas licenças. Não vejo razão para que o mesmo não suceda com as gravações.
Júlio
Eu sou um ávido fotógrafo, especialmente macro e paisagem, mas também de aves, e nunca tive a percepção de que os fotógrafos eram desvalorizados. De qualquer forma, esse não é o tema desta discussão.
O impacto da visita aos ninhos está estudado, bem como do uso de anilhas, da colheita de sangue etc. A título de exemplo, sugiro que leiam o seguinte:
MAYER-GROSS et al. 1997. The effect of observers visiting the nests of passerines: an experimental study. Bird Study 44, 53-65.
BROWN & BROWN 2009. BLOOD SAMPLING REDUCES ANNUAL SURVIVAL IN CLIFF SWALLOWS (PETROCHELIDON PYRRHONOTA). The Auk 126(4):853-861.
PIERCE et al. 2007. Plastic colour rings and the incidence of leg injury in flycatchers (Muscicapidae, Monarchidae). Ringing & Migration 23, 205–210.
Também há estudos que não evidenciam nenhum impacto, e há detalhes dos procedimentos que os permitem minimizar. Estes impactos obrigam a que haja uma justificação à priori para realizar estas actividades, que normalmente são avaliadas pelas entidades responsáveis que emitem as respectivas licenças. Não vejo razão para que o mesmo não suceda com as gravações.
Júlio
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Este tema é interessante e cada vez será mais importante se a comunidade de
fotógrafos/observadores/investigadores continuar a aumentar porque os pequenos impactos serão amplificados.
Na ausência de estudos que comprovem que uma técnica não é
prejudicial, devemos ter todos o máximo de cautela na sua utilização.
Com o aumento dos praticantes algumas técnicas, para as quais não se sabe ou com pequenos impactos, podem se tornar menos recomendáveis caso o custo/beneficio não seja claramente positivo para a conservação das espécies.
fotógrafos/observadores/investigadores continuar a aumentar porque os pequenos impactos serão amplificados.
Na ausência de estudos que comprovem que uma técnica não é
prejudicial, devemos ter todos o máximo de cautela na sua utilização.
Com o aumento dos praticantes algumas técnicas, para as quais não se sabe ou com pequenos impactos, podem se tornar menos recomendáveis caso o custo/beneficio não seja claramente positivo para a conservação das espécies.
nunes- Número de Mensagens : 73
Data de inscrição : 14/05/2009
Re: Uso de gravações para atrair as aves
E será que este tópico num forum cujos membros podem não ser apenas fotógrafos, observadores e investigadores, não poderá ter mais efeitos menos recomendáveis?
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Pedro Marques escreveu:E será que este tópico num forum cujos membros podem não ser apenas fotógrafos, observadores e investigadores, não poderá ter mais efeitos menos recomendáveis?
Como assim Pedro? Não percebi...
Abraço!
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Como assim Pedro? Não percebi...
Paulo, este tópico pode ser facilmente lido por membros ou não do Forum (visto que, está acessível sem ser necessário o registo no mesmo) e as intenções do leitor podem não ser as melhores!!
Abraço,
Pedro
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Olá a todos,
Filipe, afinal estamos de acordo: "bom senso"!
Julio, não discordo que existisse autorização para o fotógrafo usar sons, mas tenho a certeza que faltará imenso para se chegar a isso, porque não haverá a mínima vontade que um fotógrafo (um não biólogo, não cientista, um "outsider") possa "manipular" os animaizinhos. Se não sentes isso na pele, estás cheio de sorte. Sugiro-te que vás para fotógrafo. mas irás perceber que o fotojornalista é incómodo pq não vai só fotografar as coisas boas...
O tema deste tópico é o uso de sons por um fotógrafo para fotografar uma carriça. E que mal tem se falar da desvalorização do fotógrafo? É assim tão fora do tema? Tu dizes num post acima (em resposta ao Gonçalo) "eu referi-me o uso das gravações como uma má prática para quem pretende observar aves" (não para a fotografia) e esse é que, definitivamente, não era o tema, mas não tem mal nenhum: as conversas são como as cerejas...
Eu nunca disse que vocês achavam que o fotógrafo da natureza não tinha direito de usar sons. O que eu disse é que muita gente não põe a fotografia ao nível de outras práticas. O que eu quis dizer é que nem nos deixam fotografar, quanto mais usar sons. Já fui escorraçado de uma zona protegida, por um guarda, quando tinha autorização do director da reserva para fazer um artigo para a NG. A maioria dos pedidos que fiz para fotografar em determinadas zonas/espécies foram recusados. Agora imaginem se lhes dissesse que usava sons...
Mas, é claro, devem ser usados com cuidado e deveria ser necessária autorização como para qualquer uso.
Abraços
Filipe, afinal estamos de acordo: "bom senso"!
Julio, não discordo que existisse autorização para o fotógrafo usar sons, mas tenho a certeza que faltará imenso para se chegar a isso, porque não haverá a mínima vontade que um fotógrafo (um não biólogo, não cientista, um "outsider") possa "manipular" os animaizinhos. Se não sentes isso na pele, estás cheio de sorte. Sugiro-te que vás para fotógrafo. mas irás perceber que o fotojornalista é incómodo pq não vai só fotografar as coisas boas...
O tema deste tópico é o uso de sons por um fotógrafo para fotografar uma carriça. E que mal tem se falar da desvalorização do fotógrafo? É assim tão fora do tema? Tu dizes num post acima (em resposta ao Gonçalo) "eu referi-me o uso das gravações como uma má prática para quem pretende observar aves" (não para a fotografia) e esse é que, definitivamente, não era o tema, mas não tem mal nenhum: as conversas são como as cerejas...
Eu nunca disse que vocês achavam que o fotógrafo da natureza não tinha direito de usar sons. O que eu disse é que muita gente não põe a fotografia ao nível de outras práticas. O que eu quis dizer é que nem nos deixam fotografar, quanto mais usar sons. Já fui escorraçado de uma zona protegida, por um guarda, quando tinha autorização do director da reserva para fazer um artigo para a NG. A maioria dos pedidos que fiz para fotografar em determinadas zonas/espécies foram recusados. Agora imaginem se lhes dissesse que usava sons...
Mas, é claro, devem ser usados com cuidado e deveria ser necessária autorização como para qualquer uso.
Abraços
Uso de som para atrair e fotografar aves
Sou fotografo de natureza, como passatempo, tendo como profissão "calcetador de mar"...
Numa das minhas incursões por campos de Salreu, faminto e sedento entrei numa pequena tasca. Chamou-me a atenção um quadro que dizia o seguinte: "Aqui entram caçadores, pescadores e outros tipos de mentirosos".
Enquanto comia uma sandes de cachucho frito e bebia um copo de água do luso, olhei , tornei a olhar, voltei a olhar e deu-me que pensar:
Esta não é para mim, ao menos tenho os registo daquilo que afirmo e digo ter visto. E eles mesmos modesto, já serviram para ilustrar tratados científicos!
Vamos deixar de ser fundamentalistas, tipo "meninos " que vão para o campo uma vez por ano e aí, e se estiverem a ser observados, não pisam as ervinhas como verdadeiros pseudo-conservadores e salvadores da natureza.
Esta já existia antes de andarem por cá e vai continuar a andar depois de irem fotografar ou observar os "alados"no céu...(sou de opinião que fotografos de aves e observadores vão todos para o céu, nenhuns tem pecados).
Eu também uso o som para atrair as aves e depois as fotografar, mas sou incomodado com o barulho do trânsito, do comboio a passar, com os marenotos, com os apanhadores de cabras(pequeno camarão que habita nas salinas de Aveiro), pescadores, caçadores, enfim por uma infinidade de gente que anda por todo o lado.
"Bom senso é o que nós precisamos"
Romão Machado
Numa das minhas incursões por campos de Salreu, faminto e sedento entrei numa pequena tasca. Chamou-me a atenção um quadro que dizia o seguinte: "Aqui entram caçadores, pescadores e outros tipos de mentirosos".
Enquanto comia uma sandes de cachucho frito e bebia um copo de água do luso, olhei , tornei a olhar, voltei a olhar e deu-me que pensar:
Esta não é para mim, ao menos tenho os registo daquilo que afirmo e digo ter visto. E eles mesmos modesto, já serviram para ilustrar tratados científicos!
Vamos deixar de ser fundamentalistas, tipo "meninos " que vão para o campo uma vez por ano e aí, e se estiverem a ser observados, não pisam as ervinhas como verdadeiros pseudo-conservadores e salvadores da natureza.
Esta já existia antes de andarem por cá e vai continuar a andar depois de irem fotografar ou observar os "alados"no céu...(sou de opinião que fotografos de aves e observadores vão todos para o céu, nenhuns tem pecados).
Eu também uso o som para atrair as aves e depois as fotografar, mas sou incomodado com o barulho do trânsito, do comboio a passar, com os marenotos, com os apanhadores de cabras(pequeno camarão que habita nas salinas de Aveiro), pescadores, caçadores, enfim por uma infinidade de gente que anda por todo o lado.
"Bom senso é o que nós precisamos"
Romão Machado
Romão Machado- Número de Mensagens : 93
Data de inscrição : 05/07/2007
Re: Uso de gravações para atrair as aves
Boas,
Salvo as excepções e, neste caso, o Gonçalo é obviamente uma delas, nestas discussões costuma haver dois tipos de intervenientes:
-Os que dedicam o seu tempo à conservação da natureza e que se precocupam com as possíveis agressões;
-Os que se limitam a disfrutar dela, seja através da caça, da pesca, da condução todo-o-terreno, da fotografia, da observação, etc., e que não têm preocupações.
Abraços,
Luis
Salvo as excepções e, neste caso, o Gonçalo é obviamente uma delas, nestas discussões costuma haver dois tipos de intervenientes:
-Os que dedicam o seu tempo à conservação da natureza e que se precocupam com as possíveis agressões;
-Os que se limitam a disfrutar dela, seja através da caça, da pesca, da condução todo-o-terreno, da fotografia, da observação, etc., e que não têm preocupações.
Abraços,
Luis
Luís Venâncio- Número de Mensagens : 100
Data de inscrição : 15/06/2007
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