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Listas vitalícias e categorias C e E

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Mensagem por Luis Gordinho Seg Set 13, 2021 8:43 am

Olá a todos
Finalmente resolvi completar e curar a minha lista vitalícia de Portugal no PortugalAves/eBird.
Acrescentar as espécies em falta inserindo todos os dados antigos (1984-2011) seria uma tarefa demasiado morosa para o tempo que tenho em mãos e, provavelmente, para o tempo que terei nos próximos anos. Optei então por inserir apenas um registo de cada uma das espécies em falta na minha lista vitalícia. Mas um registo completo, com data e local exatos, útil para a base de dados do eBird. Essa foi a parte mais fácil, o difícil foi lidar com a seguinte regra da plataforma:
“Do NOT include in your list escaped pets - do not report domestic fowl, birds used in falconry, and pet birds - even if they are free-roaming - if they do not have established wild populations.”
(em “eBird rules and best practices”:
https://support.ebird.org/en/support/solutions/articles/48000795623-ebird-rules-and-best-practices)
O eBird não define quais as espécies que têm “established wild populations”, pelo que a referência deveria ser a lista oficial das aves de Portugal. Basicamente, as espécies da Categoria E não devem ser listadas no eBird. Nesta altura, sugiro que, quem estiver pouco familiarizado com as categorias classificativas, leia as definições curtas que colei no final. Os restantes penso que podem continuar a ler daqui. O problema é que a lista oficial das aves de Portugal é de 2007 e só para o Continente. Houve uma atualização em 2011 mas não cobriu as categorias C, D e E. A última atualização destas categorias foi em 2012 e relativa a 2011 (Anuário Ornitológico 9: 57-65). Nessa atualização, por exemplo Thectocercus acuticaudatus ainda surge na Categoria E o que, na minha opinião, ilustra bem a impraticabilidade de a usar como referência para as categorias C e E.
Sei que está em preparação uma nova atualização da lista, pelo que também encarei esta tarefa como uma oportunidade para contribuir para essa atualização. Com este post, espero ainda estimular outros a contribuírem também com os seus comentários. Provavelmente a lista oficial das aves de Portugal deverá seguir uma definição mais estrita de espécie naturalizada, enquanto o eBird poderá adotar uma definição mais abrangente, nomeadamente para estimular a inserção e compilação de dados para futuras atualizações. Não obstante, acho que seria bom haver alguma concordância entre as duas coisas e que o critério da lista oficial não necessita de ser demasiado estrito: há sempre a categoria C6.
Abaixo apresento um conjunto de listas que mostram como eu distribuiria atualmente as espécies exóticas pelas categorias C e E. A taxonomia e a ordem das espécies são as da última versão da lista de Clements e colegas, a utilizada pelo PortugalAves/eBird. Que me perdoem os utilizadores da taxonomia do IOC (CPR e outros). Para as espécies que já estão na Categoria C, não apresento argumentos. Para as que acho devem passar de E a C, apresento alguns dados de forma telegráfica e pouco sistemática. Espero que cheguem para justificar a minha opinião.

Notas sobre as listas: 1) Após o nome de cada espécie: categoria na 1.ª edição da Lista das Aves de Portugal (Matias et al. 2007) ou na subsequente atualização por Matias (2012, Aves exóticas em Portugal: ano de 2011. Anuário Ornitológico 9: 57-65); 2) Espécies com registos enquadráveis em várias categorias aqui foram incluídas apenas na categoria mais importante (considerando as categorias A a E, em ordem decrescente de importância); 3) Entre parêntesis espécies com registos no eBird de outros observadores.

C1
Chloephaga picta (era E): nidifica há 14 anos no Parque da Paz
Alopochen aegyptiaca (era E2): 392+ indivíduos, Centro-sul e litoral Norte, 4.097 registos
Phasianus colchicus (era E2): 17+ indivíduos, Centro e litoral Norte, 564 registos
Psittacula krameri (já era CE3)
Agapornis fischeri (era E): 34+ indivíduos, a sul de Lagoa-Porches, 37 observações
Poicephalus senegalus (era E3): 5+, Lisboa, 220 registos
Myiopsitta monachus (era E2): 20+ indivíduos; Lisboa, Porto e Portimão; 429 registos
(Amazona amazonica): 14 indivíduos, Lisboa, desde 2009 (Filipe Catry com. pess.)
Thectocercus acuticaudatus (era E3): 45+ indivíduos, região de Lisboa, 1.090 registos
Leiothrix lutea (era E1): Artigos Pereira 2017-20 (2Biol Invasions, Behaviour, Acta Ethologica)
Acridotheres cristatellus (já era CE3)
Ploceus melanocephalus (já era CE3)
Euplectes afer (já era CE3)
Lonchura punctulata (era E1): 120+ inds, litoral Porto-Algarve e Elvas, 683 observações
Estrilda astrild (já era C)
Amandava amandava (já era C)
Vidua macroura (era E2): 26+ indivíduos, litoral Estremadura-Minho, 373 observações

C4
Cairina moschata (era E2): 100+ indivíduos, continente e ilhas, n.º registos não pesquisável
Pavo cristatus: Nidifica no jardim do Palácio Pimenta e Tapada das Necessidades há décadas
Columba livia (era AC4E3)

C5
Branta canadensis
Cygnus olor
Aix galericulata (era E)
Oxyura jamaicensis (era C5E3)
Threskiornis aethiopicus (era E2)
Geronticus eremita

C6
Acridotheres tristis (era E2): Lisboa-Cascais, 16 registos, nidificação Campo das Cebolas 2005
Lonchura atricapilla (era CE3)

D (apresentada aqui para dar visão mais alargada da minha lógica – não é discutida no texto)
Dendrocygna bicolor
Anser caerulescens
Anser erythropus
Tadorna ferruginea (era BDE3)
Bucephala albeola
Phoeniconaias minor
(Streptopelia senegalensis – DE3)
Pelecanus onocrotalus (era DE3)
Aquila nipalensis
Corvus albus

E
(Anser indicus - E3): 1 registo de 2 indivíduos, Tavira
Anser cygnoides: 3 indivíduos, Coimbra-Aveiro, n.º registos não pesquisável
Cygnus atratus - E3: 4+ indivíduos, https://ebird.org/portugal/checklist/S74804788, 7 regs.
Callonetta leucophrys
Numida meleagris - E2: 6+ indivíduos, Baixo Alentejo e Algarve, n.º registos não pesquisável
Streptopelia roseogrisea var. risoria - E3: 4 regs de 1 ind; Viana, Golegã, Alcoutim e Terceira; Categoria C em Espanha
(Anthropoides virgo – DE3): 1 indivíduo, Esposende, 3 registos
Vanellus senegallus
(Leptoptilos crumenifer – DE3): 2 indivíduos, Óbidos e Arade, 2 registos
(Mycteria ibis – E3): 1 indivíduo, Arade, 3 registos
Eudocimus ruber
Melopsittacus undulatus – E2: inds isolados, Aveiro e Setúbal, n.º registos não pesquisável
(Agapornis roseicollis – E3): 1, Sintra,
(Cyanoliseus patagonus – E3): 1 registo de 1 indivíduo, Viana do Castelo
Psittacara mitratus
Euplectes orix – E3
Euplectes macroura – E3

Com base nesta nova lista (pessoal e provisória) de espécies da Categoria E, fiz uma “limpeza geral” à minha lista vitalícia, retirando os registos dessas espécies das listas diárias propriamente ditas e passando-os para os comentários a essas listas. Ora vejam:
Anser cygnoides: https://ebird.org/checklist/S31164899
Cygnus atratus: https://ebird.org/checklist/S31065066 (não retirada para já)
Callonetta leucophrys: https://ebird.org/checklist/S52619965
Numida meleagris: https://ebird.org/checklist/S44671858
Streptopelia roseogrisea: https://ebird.org/portugal/checklist/S94410819  (não retirada para já)
Vanellus senegallus: https://ebird.org/portugal/checklist/S94410093
Eudocimus ruber: https://ebird.org/checklist/S56966568
Melopsittacus undulatus: https://ebird.org/portugal/checklist/S94362932
Psittacara mitratus: https://ebird.org/checklist/S52619816
Euplectes orix: https://ebird.org/checklist/S20437564
Euplectes macroura: https://ebird.org/portugal/checklist/S23317958

Mais fácil do que retirar das listas indivíduos de espécies “da Categoria E” (ou melhor, da minha versão da Categoria E), foi retirar indivíduos que nem à Categoria E pertenciam. Isto por não serem verdadeiras fugas de cativeiro mas apenas aves em semi-liberdade, mantidas num cercado e não voadoras (naturalmente ou por terem asas cortadas). Deixo alguns exemplos:
https://ebird.org/checklist/S32969903
https://ebird.org/checklist/S23613672
https://ebird.org/checklist/S56035719

Ainda estou a lidar com algumas questões delicadas, como registos de aves mortas, especificidades taxonómicas (Buteo rufinus cirtensis, Saxicola maurus vs S. stejnegeri, Acrocephalus scirpaceus scirpaceus vs A. baeticatus ambiguous) e espécies da Categoria D. No entanto, acho melhor não entrar por aí, para não nos dispersarmos. O meu objetivo é mesmo saber o que pensam desta minha proposta de redistribuição das exóticas pelas categorias C e E. Isso e estimular outros observadores a curarem as suas próprias listas, nomeadamente para os filtros ficarem a funcionar melhor para todos. De qualquer modo, penso que aquelas questões não irão alterar grandemente a versão final da minha lista, que ficou nas 426 espécies.
No processo ainda descobri alguns erros na lista de Portugal (e.g. registos de Curruca cantillans e Phoenicopterus ruber) que um dos co-editores nacionais já fez o favor de corrigir.
Embora tenha aberto este tópico em nome pessoal, dado que estou neste momento a trabalhar para a SPEA (no 3.º Atlas de Aves Nidificantes e na revisão da Lista Vermelha das Aves), talvez convenha sublinhar que o texto acima traduz apenas a minha opinião pessoal e não a opinião da SPEA, da Comissão Científica do Atlas, ou outra.
Antecipadamente grato por quaisquer comentários que julguem oportunos, cumprimentos e boas observações,
Luís G


Categorias classificativas
A – espécies registadas num aparente estado selvagem, que contam com, pelo menos, um registo posterior a 1.1.1950.
B – espécies registadas num aparente estado selvagem, cujo último registo conhecido foi efetuado entre 1800 e 31.12.1949.
C – espécies naturalizadas (aquelas que tendo uma origem exótica, possuem populações reprodutoras, em estado selvagem, auto-suficientes, que se mantêm sem auxílio de novas introduções ou de alimentação artificial). Esta categoria pode ainda subdividir-se nas seguintes:
C1 – Espécies naturalizadas que ocorrem ou ocorreram apenas como resultado de uma introdução (p. ex. tecelão-de-cabeça-preta Ploceus melanocephalus);
C2 – Espécies naturalizadas com populações estabelecidas resultantes de introduções, mas que também ocorrem em estado selvagem (p. ex. o pato-real Anas platyrhynchos);
C3 – Espécies com populações reestabelecidas (naturalizadas) com sucesso em zonas que no passado fizeram parte da sua área de distribuição natural (p. ex. o camão Porphyrio porphyrio);
C4 – Espécies domesticadas com populações estabelecidas em estado selvagem (p. ex. o pombo-das-rochas Columba livia);
C5 – Espécies acidentais provenientes de populações estabelecidas (naturalizadas) noutros países (p. ex. o pato-rabo-alçado-americano Oxyura jamaicensis);
C6 – espécies naturalizadas cujas populações já não são consideradas como autosuficientes (i.e. já não se incluem na categoria C1) ou que são consideradas extintas (neste momento não há, em Portugal Continental, espécies que se incluam nesta categoria)

Categorias não incluídas na Lista das Aves de Portugal
D: espécies de estatuto indeterminado;
E: registos considerados como fugas de cativeiro

Em relação à categoria E, foram adotadas aqui as subcategorias criadas pelo Grupo de Aves Exóticas da SEO//Birdlife, na sua lista de 2006 (GAE 2006), que são as seguintes:
E1 Espécies das quais se tem verificado a nidificação de forma regular, havendo indícios de que se poderá estabelecer como espécie naturalizada; poderão vir a incluir-se na categoria C caso se justifique;
E2 Espécies das quais se tem verificado a nidificação de forma irregular ou ocasional sem indícios de se encontrarem em processo de estabelecimento;
E3 Espécies observadas de forma ocasional sem indícios de reprodução.
Luis Gordinho
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