Mais uma tontada dos jornalistas?
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Mais uma tontada dos jornalistas?
Amigos,
Hoje, 5.1.08, dia em que a notícia dominante foi o cancelamento do Dakar, foi noticiado, nos telejornais da RTP, um "acontecimento fora do vulgar", a saber: grande bando de aves migratórias alimentando-se (capturando insectos em voo) sobre o Terreiro do Paço, em Lisboa. Em seguida, citaram um artigo da revista Science, dizendo que as aves estão a regressar mais cedo de África devido às alterações climáticas e que isto se trata de uma "adaptação evolutiva" (não sei se estou a citar correctamente mas não soou nada bem...).
Ora bem, as minhas perplexidades perante isto são:
1 - O bando que se via na imagem era, parece-me, de estorninhos. Ora, as duas espécies que ocorrem regularmente em Portugal são Sturnus unicolor, que é residente e S. vulgaris, que é invernante. Portanto, não vieram de África...
2- A formação destes grandes bandos de estorninhos é, tanto quanto sei, comum. Não percebo a admiração.
3- Sigo com alguma regularidade as observações que vão sendo feitas em Portugal e não me apercebi que esteja a ocorrer um regresso precoce de aves estivais.
Que opinam? Isto foi, como penso, uma acontecimento sem nada de extraordinário e, consequentemente, uma (grande) asneira dos jornalistas? As aves estivais estão mesmo a chegar mais cedo (neste ano e/ou nos últimos anos)?
Por fim, algumas dúvidas relativas aos estorninhos: julgo que estes bandos de estorninhos são, na sua maioria, ou mesmo na totalidade, de S. unicolor. Estou certo? Há, também, grandes aglomerações de S. vulgaris? Há bandos mistos? Há populações invernantes de S. unicolor? E estivais?
Hoje, 5.1.08, dia em que a notícia dominante foi o cancelamento do Dakar, foi noticiado, nos telejornais da RTP, um "acontecimento fora do vulgar", a saber: grande bando de aves migratórias alimentando-se (capturando insectos em voo) sobre o Terreiro do Paço, em Lisboa. Em seguida, citaram um artigo da revista Science, dizendo que as aves estão a regressar mais cedo de África devido às alterações climáticas e que isto se trata de uma "adaptação evolutiva" (não sei se estou a citar correctamente mas não soou nada bem...).
Ora bem, as minhas perplexidades perante isto são:
1 - O bando que se via na imagem era, parece-me, de estorninhos. Ora, as duas espécies que ocorrem regularmente em Portugal são Sturnus unicolor, que é residente e S. vulgaris, que é invernante. Portanto, não vieram de África...
2- A formação destes grandes bandos de estorninhos é, tanto quanto sei, comum. Não percebo a admiração.
3- Sigo com alguma regularidade as observações que vão sendo feitas em Portugal e não me apercebi que esteja a ocorrer um regresso precoce de aves estivais.
Que opinam? Isto foi, como penso, uma acontecimento sem nada de extraordinário e, consequentemente, uma (grande) asneira dos jornalistas? As aves estivais estão mesmo a chegar mais cedo (neste ano e/ou nos últimos anos)?
Por fim, algumas dúvidas relativas aos estorninhos: julgo que estes bandos de estorninhos são, na sua maioria, ou mesmo na totalidade, de S. unicolor. Estou certo? Há, também, grandes aglomerações de S. vulgaris? Há bandos mistos? Há populações invernantes de S. unicolor? E estivais?
João Rodrigues- Número de Mensagens : 29
Local : Linda-a-Velha
Data de inscrição : 07/11/2007
Re: Mais uma tontada dos jornalistas?
Olá João,
Tenho observado com alguma regularidade grandes bandos de estorninho-malhado (S. vulgaris) no Terreiro do Paço e nas zonas adjacentes (Cais do Sodré, Campo das Cebolas, etc.). É frequente haver grandes movimentações de estorninhos nesta zona, em especial ao fim da tarde, quando as aves chegam para os seus dormitórios. Também já os vi a sair, de manhã, passando sobre a zona de Moscavide. Tendo em conta a descrição que apresentas, estou em crer que se tratasse dos estorninhos-malhados que dormem em Lisboa durante esta época do ano.
Partindo deste pressuposto de que se tratava de facto de estorninhos-malhados, vamos aos comentários:
Está correcto na parte de serem aves migratórias, já que os S. vulgaris são invernantes. Já não está correcto no que se refere ao "fora do vulgar", pois as aves estão lá diariamente durante o Inverno. Parece-me que o acontecimento mais "fora do vulgar" foi um jornalista ter reparado nelas
Talvez estejam, mas isso não se aplica aos estorninhos-malhados, que não vêm de África, por isso o jornalista que desenvolveu o tema misturou "alhos com bugalhos".
mesmo não tendo lido o artigo da Science, a explicação parece-me algo especulativa. De qualquer forma, não se aplica aos estorninhos-malhados invernantes.
Totalmente de acordo.
Possivelmente o jornalista que fez a peça nunca tinha visto ou reparado em bandos desta dimensão e se calhar não se informou junto de quem o poderia esclarecer sobre o "fenómeno".
É difícil concluir algo sobre este assunto, porque segundo julgo saber não existem no nosso país dados, recolhidos de forma sistemática, que permitam chegar a alguma conclusão. Por isso não posso dizer se estão a chegar mais cedo ou não.
No caso das aves observadas em Lisboa são praticamente todas S. vulgaris. Há um grande dormitório no Cais do Sodré, muitas aves passam a noite em árvores mesmo por cima dos semáforos da Av. 24 de Julho e podes ver-lhes as pintas sem binóculos
O único local onde tenho observado bandos mistos com alguma regularidade é o Cabo Espichel.
Não disponho de dados para responder a esta questão. Os S. unicolor formam grandes bandos fora da época de cria e efectuam deslocações mas não sei a amplitude destas.
1 abraço,
Gonçalo
Tenho observado com alguma regularidade grandes bandos de estorninho-malhado (S. vulgaris) no Terreiro do Paço e nas zonas adjacentes (Cais do Sodré, Campo das Cebolas, etc.). É frequente haver grandes movimentações de estorninhos nesta zona, em especial ao fim da tarde, quando as aves chegam para os seus dormitórios. Também já os vi a sair, de manhã, passando sobre a zona de Moscavide. Tendo em conta a descrição que apresentas, estou em crer que se tratasse dos estorninhos-malhados que dormem em Lisboa durante esta época do ano.
Partindo deste pressuposto de que se tratava de facto de estorninhos-malhados, vamos aos comentários:
João Rodrigues escreveu:foi noticiado, nos telejornais da RTP, um "acontecimento fora do vulgar", a saber: grande bando de aves migratórias alimentando-se (capturando insectos em voo) sobre o Terreiro do Paço, em Lisboa.
Está correcto na parte de serem aves migratórias, já que os S. vulgaris são invernantes. Já não está correcto no que se refere ao "fora do vulgar", pois as aves estão lá diariamente durante o Inverno. Parece-me que o acontecimento mais "fora do vulgar" foi um jornalista ter reparado nelas
João Rodrigues escreveu:Em seguida, citaram um artigo da revista Science, dizendo que as aves estão a regressar mais cedo de África
Talvez estejam, mas isso não se aplica aos estorninhos-malhados, que não vêm de África, por isso o jornalista que desenvolveu o tema misturou "alhos com bugalhos".
João Rodrigues escreveu:devido às alterações climáticas e que isto se trata de uma "adaptação evolutiva" (não sei se estou a citar correctamente mas não soou nada bem...).
mesmo não tendo lido o artigo da Science, a explicação parece-me algo especulativa. De qualquer forma, não se aplica aos estorninhos-malhados invernantes.
João Rodrigues escreveu:Ora bem, as minhas perplexidades perante isto são:
1 - O bando que se via na imagem era, parece-me, de estorninhos. Ora, as duas espécies que ocorrem regularmente em Portugal são Sturnus unicolor, que é residente e S. vulgaris, que é invernante. Portanto, não vieram de África...
Totalmente de acordo.
João Rodrigues escreveu:2- A formação destes grandes bandos de estorninhos é, tanto quanto sei, comum. Não percebo a admiração.
Possivelmente o jornalista que fez a peça nunca tinha visto ou reparado em bandos desta dimensão e se calhar não se informou junto de quem o poderia esclarecer sobre o "fenómeno".
João Rodrigues escreveu:3- Sigo com alguma regularidade as observações que vão sendo feitas em Portugal e não me apercebi que esteja a ocorrer um regresso precoce de aves estivais (...) As aves estivais estão mesmo a chegar mais cedo (neste ano e/ou nos últimos anos)?
É difícil concluir algo sobre este assunto, porque segundo julgo saber não existem no nosso país dados, recolhidos de forma sistemática, que permitam chegar a alguma conclusão. Por isso não posso dizer se estão a chegar mais cedo ou não.
João Rodrigues escreveu:Por fim, algumas dúvidas relativas aos estorninhos: julgo que estes bandos de estorninhos são, na sua maioria, ou mesmo na totalidade, de S. unicolor. Estou certo? Há, também, grandes aglomerações de S. vulgaris?
No caso das aves observadas em Lisboa são praticamente todas S. vulgaris. Há um grande dormitório no Cais do Sodré, muitas aves passam a noite em árvores mesmo por cima dos semáforos da Av. 24 de Julho e podes ver-lhes as pintas sem binóculos
João Rodrigues escreveu:Há bandos mistos?
O único local onde tenho observado bandos mistos com alguma regularidade é o Cabo Espichel.
João Rodrigues escreveu:Há populações invernantes de S. unicolor? E estivais?
Não disponho de dados para responder a esta questão. Os S. unicolor formam grandes bandos fora da época de cria e efectuam deslocações mas não sei a amplitude destas.
1 abraço,
Gonçalo
Gonçalo Elias- Número de Mensagens : 25662
Idade : 56
Data de inscrição : 14/06/2007
Re: Mais uma tontada dos jornalistas?
Gonçalo Elias escreveu:João Rodrigues escreveu:3- Sigo com alguma regularidade as observações que vão sendo feitas em Portugal e não me apercebi que esteja a ocorrer um regresso precoce de aves estivais (...) As aves estivais estão mesmo a chegar mais cedo (neste ano e/ou nos últimos anos)?
É difícil concluir algo sobre este assunto, porque segundo julgo saber não existem no nosso país dados, recolhidos de forma sistemática, que permitam chegar a alguma conclusão. Por isso não posso dizer se estão a chegar mais cedo ou não.
Eu tenho a sensação de que existem indivíduos de algumas espécies estivais a chegar mais cedo. Mas trata-se apenas de uma "sensação" e como tal, apenas tem carácter especulativo.
De qualquer forma isso não é apenas de agora, pois as observações mais precoces que tenho desta matéria remontam à década de 90 e referem-se a Hirundo rustica (26 de Dezembro) e a Circaetus gallicus (5 de Fevereiro), o que considero muito cedo para as espécies em causa.
estorninhos
Caro João e outros,
Pois não é a primeira vez que os jornalistas, bem intencionados sem dúvida, metem a pata na poça, como foi já evidenciado. Em situações mais flagrantes, a SPEA já tem saído para o terreiro para esclarecer o assunto.
Houve mais um detalhe na peça sobre os os estorninhos (que nem chegaram a ser identificados na peça) que contava que os bandos estariam a alimentar-se. Bem, outro erro óbvio. A formação dos bandos é um fenómeno que habitualmente antecede o período de descanso nocturno das aves, cuja motivação é pouco clara mas poderá estar relacionada com o reforço da unidade do bando. Há fenómenos semelhantes em pardais comuns, que embora sem comportamento em voo, costumam concentrar-se em árvores antes de se "deitarem", com um período prolongado de chamamentos em grupo, com níveis de som por vezes inesperados (barulho dizem os meus vizinhos!).
Sobre as datas das chegadas, vejam o projecto Chegadas da SPEA, que acaba de iniciar a sua 6 época. Para quem quer receber o relatório de 2007, com os resultados dos 5 anos, basta enviar um e-mail para chegadas@sapo.pt.
Um grande abraço,
Henk Feith
Pois não é a primeira vez que os jornalistas, bem intencionados sem dúvida, metem a pata na poça, como foi já evidenciado. Em situações mais flagrantes, a SPEA já tem saído para o terreiro para esclarecer o assunto.
Houve mais um detalhe na peça sobre os os estorninhos (que nem chegaram a ser identificados na peça) que contava que os bandos estariam a alimentar-se. Bem, outro erro óbvio. A formação dos bandos é um fenómeno que habitualmente antecede o período de descanso nocturno das aves, cuja motivação é pouco clara mas poderá estar relacionada com o reforço da unidade do bando. Há fenómenos semelhantes em pardais comuns, que embora sem comportamento em voo, costumam concentrar-se em árvores antes de se "deitarem", com um período prolongado de chamamentos em grupo, com níveis de som por vezes inesperados (barulho dizem os meus vizinhos!).
Sobre as datas das chegadas, vejam o projecto Chegadas da SPEA, que acaba de iniciar a sua 6 época. Para quem quer receber o relatório de 2007, com os resultados dos 5 anos, basta enviar um e-mail para chegadas@sapo.pt.
Um grande abraço,
Henk Feith
Henk Feith- Número de Mensagens : 484
Data de inscrição : 19/06/2007
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