Espécies florestais- São Pedro do Sul

Boa noite,

Desde pequeno que vou para a zona de São Pedro do Sul/Vouzela passar férias, e para além das magníficas paisagens, desde à algum tempo tenho procurado também "descobrir" a avifauna presente nesta zona.

Dominada por carvalhais, é uma zona propícia às espécies florestais, sendo que já avistei quase todas as espécies de chapins por aqui. Mas apenas estes se deixam avistar com facilidade, deixando a impressão "errada" de que este local possui muito pouca riqueza específica. Sendo que já fiz avistamentos de muitas outras espécies, estes foram sempre em pequeno número.

Recentemente consultei o atlas das aves nidificantes, e constatei que esta é uma região teoricamente excelente para Pica pau malhado grande (Dendrocopos major) e Pêto verde (Picus viridis), e bastante favorável para Gavião e Açor, embora em 3/4 anos apenas tenha 4/5 avistamentos de pica pau malhado grande e 1 avistamento de gavião. Nunca tendo observado as restantes espécies.

Isto leva-me a pensar que poderei não estar a utilizar as "técnicas" mais correctas para a prospecção destas espécies, que são mais esquivas e difíceis de detectar.

Venho portanto pedir ajuda, e perguntar qual será a melhor estratégia para conseguir observar estas espécies, de maneira a aumentar o número de avistamentos? Como são as estratégias e métodos que costumam utilizar no campo?

Muito Obrigado

Com os melhores cumprimentos
João Morgado

Olá João,

Aqui ficam algumas sugestões.


Para as espécies florestais, a audição é essencial, pois muitas espécies são detectadas auditivamente antes de o serem visualmente.

Deixo algumas ideias para melhorares as tuas capacidades de detecção:

- procura efectuar as saídas da parte da manhã, quando as aves são mais activas (este critério é mais relevante na Primavera e no Verão do que no Inverno, mas ainda assim a manhã tende a ser melhor);

- escolhe de preferência dias sem vento, em que a detectabilidade das aves aumenta (mexem-se mais e ouvem-se melhor);

- selecciona caminhos não asfaltados, longe de estradas e outras fontes de ruído ou perturbação;

- sábados são melhores que domingos, já que aos domingos há caça (mais perturbação e ruído);

- nota também que na Primavera as aves são vocalmente mais activas, nesta época o silêncio domina em muitas zonas florestais;

- tenta prospectar diferentes habitats, para aumentares o número de espécies detectadas;

- sempre que ouvires um som que te pareça ser de uma ave, vai atrás do mesmo até descobrires o seu emissor; passarás a associar o som à ave;

- mantém um registo daquilo que fores observando (por exemplo, fazendo uma lista das espécies observadas em cada saída) - assim irás vendo de que forma evolui a tua capacidade de detecção;

- por último sugiro que consultes a Lista das Aves do Distrito de Viseu, que te poderá ajudar a ter uma noção do que mais ocorre na região.


Espero que isto ajude.

1 abraço,
Gonçalo

Boa Noite Gonçalo,

Obrigado pelas dicas!

Eu vivo em Lisboa, e normalmente costumo fazer visitas regulares ao Estuário do Tejo e sempre que posso costumo seguir as dicas que indicou, porque melhoram bastante as probabilidades de encontrarmos mais aves, de mais espécies e com um comportamento mais activo e mais natural, e possuo também um caderno de campo em que anoto todos os dados relativos ao local,habitat, data, hora, espécies vistas e o seu nr etc

Mas normalmente nas lezírias ribatejanas ou no estuário, é relativamente fácil (se seguirmos as dicas referidas) de avistar e acompanhar as várias espécies, especialmente as rapinas ou as limícolas que se conseguem observar desde uma grande distancia a alimentarem-se, com binóculos ou telescópio. Sendo que até é possível fazer estas observações de dentro do carro, andando pelos caminhos de terra batida.

Mas infelizmente numa floresta encontramos outro cenário, em que as espécies estão melhor camufladas sendo mais difícil a sua detecção, e é mais fácil o observador ser detectado.

A minha estratégia tem sido uma prospecção activa do habitat caminhando por entre a floresta, tentando ir de encontro com as aves, mas num ambiente de completo silencio e com folhas pelo chão, é muito difícil não fazer qualquer ruído, e ser detectado... E sigo num rumo aleatório sem saber onde procurar ou para onde olhar...

Com esta estratégia não tenho estado a conseguir bons resultados, e tenho pensado em mudar para uma oposta, em que neste caso escolheria um sitio fixo para ficar num abrigo, durante um período de tempo à espera que algo viesse ter comigo... Mas a desvantagem é não saber quais seriam os melhores locais para fazer este tipo de abordagem...

Serão estas estratégias as mais adequadas para a observação dos pica paus ou do gavião? Ou teria de adoptar outro tipo de estratégia de forma a obter melhores resultados...

Peço desculpa pelo incómodo.

Cumprimentos
João Morgado

Olá novamente,

Como referi anteriormente, a detecção auditiva de aves é muito mais fácil na Primavera, quando está tudo a cantar, mas mesmo a partir de Fevereiro já há bastante actividade vocal, por isso não desanimes, que já não falta muito tempo.

Os dois pica-paus que referes são talvez um pouco mais frequentes em pinhal, especialmente de pinheiro-bravo maduro (isto é, aqueles mais altos com umas boas dezenas de anos). Sugiro assim que explores nesse habitat - há uns anos estive em Oliveira do Hospital na passagem de ano e lembro-me de ouvir o pica-pau-verde a cantar no dia 1 de Janeiro.

O gavião é uma espécie furtiva e só vais conseguir detectá-lo com bastante paciência, sugiro que procures em matas mistas com clareiras., pois assim tens mais hipótese de o ver a voar.

Quanto aos percursos, sugiro o seguinte: adquire (caso não o tenhas já) o mapa 1/25.000 da zona para onde costumas ir e analisa o mapa de modo a detectar eventuais zonas que te pareçam interessantes (as menos povoadas são as melhores). Depois escolhe três ou quatro percursos diferentes para prospectares. Não sei qual a extensão dos percursos que costumas fazer, mas eu sugiro percursos circulares com 4 ou 5 km, assim cobrirás uma área maior e tens mais hipóteses de ver espécies diferentes.

1 abraço,
Gonçalo

Olá João. Só uma pequena adenda às (excelentes) dicas do Gonçalo: Acho que vale a pena ouvires umas gravações dos dois pica-paus.
Tens aqui várias de Picus viridis
http://www.xeno-canto.org/browse.php?query=Picus+viridis&species_nr=
e aqui outras tantas de Dendrocopos major
http://www.xeno-canto.org/browse.php?query=Dendrocopos+major&species_nr=
Ouve diversas gravações de cada espécie, para ficares com uma ideia da variação individual e dos vários tipos de vocalizações.
Depois disso, aposto que passarás a detectar ambos os pica-paus em quase todas as tuas visitas às matas de S. Pedro do Sul!
Um abraço e boas observações,
Luís G

Muito Obrigado pelos conselhos Gonçalo e Luís!

Cumprimentos
João Morgado

Olá, João!
Não sou grande praticante de birdwatching. Não é que não goste, mas tenho pouco tempo livre e muitos hobbies diferentes onde o gastar. Uma coisa que costumava fazer nas matas aqui perto, era parar num sítio onde pudesse ter alguma cobertura, junto a uma linha de água ou pequena clareira, e esperar que as aves viessem ao meu encontro. Isso implicava ficar muito tempo no mesmo sítio (no inverno torna-se bastante desconfortável por causa do frio), mas, por vezes, era recompensado com algumas observações interessantes, a muito curta distância. Como o Gonçalo sugeriu, convém teres um bom conhecimento prévio da zona e detectar os locais mais frequentados pelas espécies que pretendes ver.
Boas observações!
Hugo

P.S.:Isso na tua mão é um lagarto-d’água?

Para os açores e penso que também para os gaviões vale a pena apostar em observar a partir de uma ponto alto na época de reprodução, ele fazem voos nupciais e são mais visiveis nessa altura