Comboios, carros e... um búteo

Esta 'invasão' de rapinas no meio urbano é recente? Houve já algum post sobre o assunto que eu possa consultar? Intriga-me esta proximidade e gostava de saber o que tem levado estas aves a quererem viver paredes meias connosco. Procura de alimento? A destruição de habitat florestal por causa da construção selvagem (falo da margem sul, essencialmente) também terá a ver com isto?

Obrigada

Carina,

carina esteves cristovao escreveu:

Observei esta manhã pela janela do comboio da Fertagus, entre as estações de corroios e pragal, uma rapina (pareceu-me um búteo, mas não posso jurar) a passar mais ou menos à altura da janela (atenção que a linha é elevada naquele sítio) e a mais ou menos vinte metros, absolutamente impávida, alheia ao comboio e aos carros do outro lado. É impressionante ver um animal destes no meio da confusão do trânsito matinal, mas eu, claro, agradeço! Já a senhora que seguia a meu lado dispensava o susto que apanhou com o meu entusiasmo .

Pela descrição e pelo local, seria provavelmente um búteo ou um peneireiro.

carina esteves cristovao escreveu:Esta 'invasão' de rapinas no meio urbano é recente?

Há vários aspectos a considerar.
Primeiro, existe uma percepção de que sim, existe um aumento de rapinas em meio urbano.
Segundo, a verdade é que há hoje muito mais observadores e muito mais informação (este facto pode anular o pressuposto anterior).
Terceiro, o local onde observaste a ave não é bem urbano, mas sim periurbano - tem misto de habitações e bosquetes, baldios, campos, etc.) e as aves de rapina (e outras) são mais frequentes nesses habitats do que em meio urbano puro.

carina esteves cristovao escreveu:Houve já algum post sobre o assunto que eu possa consultar? Intriga-me esta proximidade e gostava de saber o que tem levado estas aves a quererem viver paredes meias connosco.

Sugiro estes
https://aves.forumeiros.com/t1004-jardins-e-parques-das-cidades?highlight=cidades
https://aves.forumeiros.com/t4351-as-aves-estao-a-procurar-as-cidades?highlight=cidades

carina esteves cristovao escreveu:Procura de alimento?

Sim, e também procura de locais de nidificação seguros e convenientes.

carina esteves cristovao escreveu:A destruição de habitat florestal por causa da construção selvagem (falo da margem sul, essencialmente) também terá a ver com isto?

Não necessariamente, porque nem todas as rapinas vivem em meio florestal. O peneireiro, por exemplo, frequenta habitats abertos.

tambem ha uma razão para as rapinas virem para mais perto das pessoas ...
cada vez ha menos terras cultivadas , em consequencia menos comida...
tenho um exemplo claro
No Alentejo da casa do meu pai até ao rio Tejo são cerca 4\5 km essa area até ha 20 anos atras era na sua grande parte era cultivada ... era visivél uma boa quantidade de : perdizes, codornizes, tordos ( na época deles) rolas bravas, estorninhos , cegonhas,
( cheguei a contar 30 cegonhas a comer gafanhotos no restôlho do trigo) e muitas rapinas dede peneirieros buteos , milhafres pretos, aguias cobreiras...
estas rapinas tinham muita comida para alem dos reptéis as ciras de varias aves ...
neste momento apenas tenho conhecimeto de um casal de buteo por lá ... o mato é tanto que num os reptéis as rapinas consegue, caçar..assim procuram terrenos mais e com mais comida..

Muito obrigada, Gonçalo.

Seria então um búteo. Mas também já vi um peneireiro por ali uma vez, pousado num poste, durante outra viagem. E ainda dizem que os transportes públicos são aborrecidos...

José,

Sim, também achei que a procura de alimento as obrigasse a vir para mais perto. No outro o dia, o meu marido estava a trabalhar no jardim e disse-me que ouviu um restolhar e quando levantou a cabeça já só viu uma ave grande (rapina, mas qual?) a apanhar alguma coisa no nosso muro e a ir-se embora com ela nas patas.
Eu fico muito contente por poder ver mais e de mais perto, mas por outro lado não deixo de ficar preocupada com isto, em termos do conforto dos animais.

carina esteves cristovao escreveu:quando levantou a cabeça já só viu uma ave grande (rapina, mas qual?) a apanhar alguma coisa no nosso muro e a ir-se embora com ela nas patas.

Sem mais elementos descritivos é difícil concluir alguma coisa...

carina esteves cristovao escreveu:Eu fico muito contente por poder ver mais e de mais perto, mas por outro lado não deixo de ficar preocupada com isto, em termos do conforto dos animais.

Podes explicar melhor? Porque te preocupa em termos de conforto?

Gonçalo Elias escreveu:

carina esteves cristovao escreveu:quando levantou a cabeça já só viu uma ave grande (rapina, mas qual?) a apanhar alguma coisa no nosso muro e a ir-se embora com ela nas patas.

Sem mais elementos descritivos é difícil concluir alguma coisa...

pois, o meu marido também não me deu muito mais do que isto era grande e acastanhado. Eu inclino-me para o peneireiro porque já tenho visto um a pairar várias vezes por cima da nossa casa e inclusivamente pousado num pinheiro do vizinho. Mas também podia ser o búteo que ronda o Castelo (vivemos muito perto), mas estou mesmo a adivinhar, pois não tenho mais dados.

carina esteves cristovao escreveu:Eu fico muito contente por poder ver mais e de mais perto, mas por outro lado não deixo de ficar preocupada com isto, em termos do conforto dos animais.

Podes explicar melhor? Porque te preocupa em termos de conforto?

Bem, porque me preocupa que a potencial escassez de alimento as levem a aproximar-se demais e a poder ter encontros com pessoas sem escrúpulos que lhes façam mal. Vá que uma ave esfomeada começa a levar a criação de capoeira que ande à solta... e o dono decide reagir da pior forma? Esse tipo de coisas. Não sei até que ponto a proximidade humana pode ser boa para as rapinas. Posso dizer que achei muita graça à notícia do falcão que nidificou numa floreira mas, ao ver a reportagem, não sei explicar, achei que havia ali alguma coisa profundamente errada. E pelo que vi o dono do prédio até parecia bastante consciencioso, a limitar acessos e a deixar de ouvir música para não incomodar, mas honestamente fez-me alguma confusão a vulnerabilidade da fêmea e estar ali exposta ao voyeurismo permanente. Provavelmente sou eu que tenho uma visão romântica das rapinas e da sua nobreza, e ainda não me habituei à banalização desta co-existência de proximidade. Serão decerto muito mais adaptáveis do que eu julgo e se calhar até estão a aumentar de número, não?
Já agora, qual tem sido a reacção da comunidade de ornitólogos/observadores? Há mais preocupações ou regozijo?

Há algumas espécies que se têm conseguido adaptar à presença humana, outras nem por isso.

Percebo as tuas preocupações, mas nota que pessoas sem escrúpulos capazes de fazer mal aos bichos não existem apenas nas cidades. Também as há em meio rural e não são poucas...

Sim, sim, tens toda a razão. E a impunidade até é capaz de ser maior, porque acaba por passar despercebida mais facilmente

Gonçalo Elias escreveu:Há algumas espécies que se têm conseguido adaptar à presença humana, outras nem por isso.

Percebo as tuas preocupações, mas nota que pessoas sem escrúpulos capazes de fazer mal aos bichos não existem apenas nas cidades. Também as há em meio rural e não são poucas...

e no meio rural passa muito mais despercebido qualquer anomalia porque há sitios onde não passa ninguem durante meses ou mesmo anos enquanto que na cidade e zonas circundantes ha muito mais movimento de pessoas ....
eu cunheço os dois meios e agora quando vou ao meio rural, em relação há 25 anos atras ... sitios e caminhos onde ia e passava estão completamente inassecivéis.... no ano passado fiu com o meu pai a um sitio onde costumava pescar ha 25\30 ( rio Tejo) anos atras e não consegui segiur o cominho daquel época tanto é o mato.... consegui a muito esforço chegar ao local mas demorando 40 minutos o que normalmente demorava 13\15 minutos...
de ceteza que se alguem fizesse fosse o que fosse a uma rapina naquele local ninguem nunca sabia..