Cantos durante a noite

Ao longo dos anos tenho registado várias espécies de aves a cantar durante a noite.

Por "noite" entenda-se aqui o período de escuridão total, que apenas tem lugar após o fim do crepúsculo astronómico da tarde (quando o sol já desceu mais de 18 graus abaixo do horizonte) e o início do crepúsculo astronómico da manhã (quando o sol ainda está mais de 18 graus abaixo do horizonte). Quando o sol já está acima da linha de 18 graus, a escuridão não é total  - ainda que ao olho humano pareça que é - e algumas aves que habitualmente não cantam de noite começam a cantar activamente, como por exemplo cartaxos, rabirruivos e melros. Nos meses de Maio e Junho o período de escuridão total estende-se aproximadamente das 22h45m às 4h15m, embora a duração exacta varie com a data (no início de Maio é ligeiramente mais longo, das 22h30m às 4h30m) e com o local de observação, sendo um pouco mais longo a sul e mais curto a norte.

Durante este período de escuridão total, tal como acima está definido, já registei o canto das seguintes espécies:

- todos os Strigiformes (mochos e corujas)
- noitibós (ambas as espécies)
- Coturnix coturnix
- Burhinus oedicnemus
- Clamator glandarius
- Cuculus canorus
- Lullula arborea
- Troglodytes troglodytes (*)
- Erithacus rubecula (*)
- Luscinia megarhynchos
- Cettia cetti
- Acrocephalus arundinaceus

(*) - apenas em ambientes com iluminação artificial


Qualquer contribuição para enriquecer este tópico será bem-vinda

Ola,

Ja ouvi o Phoenicurus ochruros a cantar as 02:00h de umanoite e inverno, no jardim do infante, no Porto.

Pedro Cardia

Olá Pedro,

A situação que descreves foi em ambiente com iluminação artificial, certo?
Por acaso tenho ideia que também já ouvi essa espécie em zonas com iluminação, mas tenho de verificar as minhas notas.

Boas
Melro  (Turdus merula), ambiente com iluminação artificial.

Já agora deixo aqui um link para um outro tópico que refere diversas observações de pisco-de-peito-ruivo a cantar durante a noite:

Pisco com insónias

Ola Gonçalo,

Sim, foi em ambiente urbano e com iluminaçao artifical.
Nao sei se o "grito" dos Actitis hypoleucos conta como canto, mas e uma especie que ouço com freqencia a noite.

Pedro

Gonçalo Elias escreveu:Olá Pedro,

A situação que descreves foi em ambiente com iluminação artificial, certo?
Por acaso tenho ideia que também já ouvi essa espécie em zonas com iluminação, mas tenho de verificar as minhas notas.

pedrocardia escreveu:
Nao sei se o "grito" dos Actitis hypoleucos conta como canto, mas e uma especie que ouço com freqencia a noite.

Não estou a considerar chamamentos (em termos de chamamentos durante a noite já ouvi as coisas mais variadas, particularmente limícolas, incluindo Actitis hypoleucos, mas também outras aves aquáticas, como Ardea cinerea, por exemplo).

Venho reavivar este topico pois ja ha uns dias que ouço um melro a cantar a partir das 5h da manha em local com iluminaçao artificial

Lullula arborea muitas vezes sem qualquer iluminação artificial e em voo. Se bem me recordo também já ouvi outros alaudidios a fazer o mesmo. Seguramente Melanocorhypha calandra

Ora bem, de há cerca de uma semana até hoje que andam dois machos da espécie Phoenicurus ochruros em disputa territorial (e não só... ) em Sampaio, Ermesinde. Resultado: pelo menos um deles tem cantado de madrugada numa rua com luz artificial. Ainda esta madrugada ouvi-o cantar pelas 02:30h, por diversas vezes. Também já o escutei a cantar às 04-30h e um pouco mais tarde. E, para não variar, tem estado a chover bastante pela zona.

Nos últimos dias tenho registado o canto de Phoenicurus ochruros em diversas noites a partir das 3h ou 3h30 (muito antes dos primeiros alvores), mas em local com iluminação artificial.

Pela primeira vez ouvi um Turdus philomelos a cantar de noite, às 05:45h de ontem, dia 01/02/2017, em Sampaio (Ermesinde).

Já ouvi também, lá para as beiras, na época de nidificação e sem luz artificial.

A noite passada, Cettia cetti a cantar intensamente em dois locais diferentes, num caso às 2h30 e noutro às 3h45.

Estava lua cheia e fiquei com alguma curiosidade de descobrir se este factor é relevante.

Muitas Lullula arborea também (6+).

Onde foi?

o primeiro foi na ribeira da Foupana perto de Vaqueiros e o segundo em Cabanas (no segundo local há iluminação artificial mas no primeiro não).

Gonçalo Elias escreveu:o primeiro foi na ribeira da Foupana perto de Vaqueiros e o segundo em Cabanas (no segundo local há iluminação artificial mas no primeiro não).

Estava a estranhar onde tinhas ouvido tantas Lullula
Agora faz sentido

A minha resposta anterior referia-se aos Cettia.

As Lullula não foram todas no mesmo local, os registos foram espalhados por vários locais dos concelhos de Tavira e Alcoutim.

Os Cettia cantam sobretudo cedo de madrugada (> 2am), durante a Primavera, e pelo que sei independentemente da luz nocturna.
Tive 2 machos cativos e, nem fechados na despensa (para me deixarem dormir ), se calavam. O canto nocturno resumia-se uma estrofe mais ou menos especifica, a mais bonita, quase exclusiva para uso nocturno. Isto em ambos os exemplares (um com 4 estrofes e outro com 3 totais, uma delas mais nocturna).

Cantos nocturnos ontem na Poça do Vau, às 01h00.

Codorniz
Faisão-comum
Coruja-do-mato
Bufo-real
Rouxinol-comum
Noitibó-comum
Noitibó-de-nuca-vermelha (os pelo menos "2 casais" que já lá estão há mais de uma década, no mesmo sitio).

Paulo Lemos escreveu:(os pelo menos "2 casais" que já lá estão há mais de uma década, no mesmo sitio).

Não quer dizer que sejam as mesmas aves, quer dizer é que os mesmos territórios se têm mantido ocupados.

Eu julgo que quando um território "bom" fica livre ele é novamente ocupado em pouco tempo.

Por isso meti "2 casais" entre aspas. São sempre aves bem sucedidas com crias, no mesmo sitio.

Mas podem ser as mesmas aves, também.

Paulo Lemos escreveu:Por isso meti "2 casais" entre aspas. São sempre aves bem sucedidas com crias, no mesmo sitio.

Mas podem ser as mesmas aves, também.

Poder podem, já que os noitibós-de-nuca-vermelha podem viver até aos 13 anos (recorde conhecido), mas continuo a achar que um território que "vaga" é rapidamente reocupado.

Está isso provado acho eu, segundo alguns trabalhos que tenho lido de tempos a tempos para algumas espécies. Principalmente por jovens nascidos perto ou no mesmo.

No caso desta espécie, não consigo fazer qualquer apreciação sobre exigências de habitat ou outras condições propicias óbvias. Há aqui casais/"ninhos" em várzea arenosas + terras agrícolas com escassos grupos de árvores e também em matagal/floresta mediterrânica com calcários em argila + pomares em declive... e não é muito "comum" como a outra espécie. Mas os locais onde nidifica são os mesmos há muitos anos, havendo muito mais território disponível.

Aqui não consigo separar as espécies em termos de tipo de habitat. Talvez maior exigência em recursos, locais estratégicos, maiores presas?

Paulo Lemos escreveu:Está isso provado acho eu, segundo alguns trabalhos que tenho lido de tempos a tempos para algumas espécies. Principalmente por jovens nascidos perto ou no mesmo.

No caso desta espécie, não consigo fazer qualquer apreciação sobre exigências de habitat ou outras condições propicias óbvias. Há aqui casais/"ninhos" em várzea arenosas + terras agrícolas com escassos grupos de árvores e também em matagal/floresta mediterrânica com calcários em argila + pomares em declive... e não é muito "comum" como a outra espécie. Mas os locais onde nidifica são os mesmos há muitos anos, havendo muito mais território disponível.

Pergunto eu, e não seria interessante para a comunidade ornitológica e sociedade em geral colocar esses registos num portal/base de dados online (tipo ebird)? Assim haveria uma melhor percepção da área de distribuição da espécie, resultando num mapa mais completo. Isto já para não falar que iria contribuir para o atlas que está a ser realizado.

Faz-te confusão? A mim também. Mas o mundo não acaba aqui, nem hoje.

Os mesmos locais, para esta espécie (se não me engano sem números, mas sim os 1ª registos nas respectivas quadriculas), são os mesmos que dei para o antigo atlas, após ter contactado o ICNF (salvo erro) a informar que tinha informação interessante sobre algumas espécies (nunca me dispus a sistemáticas nem nunca percebi como funcionavam). Nada sei depois disso, desconheço o projecto e o resultado... portanto, talvez esta informação não sirva para nada. Ou talvez sirva, e se for útil para já, pois e só pedir aos responsáveis os dados.

Quanto à restante informação e perguntas pendentes "aqui e acolá":

Nos últimos anos (portanto muito mais recente do que a minha idade), proliferaram "n+1" portais nacionais e globais como bases de dados, já para não falar de bases de dados de "grupos", "associações" e tantos projectos afins... e até "pessoas" pareceram organizar por si só, uma "base" de determinado local. Por mais entusiasmado que fiquei com as iniciativas deste género e potencialidades (terá havido alguém mais entusiasmado?), digamos que, "uns mais do que outros" confiando ou desconfiando", atraindo-me ou desagradando-me (e até dos projectos internacionais já ouvi falar "mal")... só entrarei de facto num, após devido estudo sobre o assunto e projecto, sobre quem o gere, e sobre o meu contributo e objectivos nele.

Por outro lado, o "tipo" de informação que costumo procurar e recolher no campo (que raramente é observação sistemática... e quando o é, é muito especifica) tem outras vocações, que não encontram nesses sites o melhor palco para apresentação. No entanto, não é fácil e sim moroso apresentá-los pela via mais apropriada, requer imensa investigação, disponibilidade, ajuda e mais coisas (que me faltam, bem como meios e acessibilidade no geral).

Depois, há a questão da "sensibilidade" da própria informação, no meu desconhecimento de como, actualmente, se a usa, de como a usa, de quem a usa (seja no meio académico, investigação ou outro... e por todo o lado já vi ou confirmei muitos métodos que me desagradam(!)). Questiono também o problema da sua acessibilidade ao publico. É mais do que uma mera questão de princípios ou de éticas (que nem as defini para mim como contribuidor, nem vi bem definidas nos projectos ou não os estudei ainda, com tempo e "cabeça" para tal).


Já agora, também não sou uma espécie de dissidente de qualquer assunto nem projecto, sistema ou da sociedade (apesar de acreditar realmente haverem por aí muitos "e bons" dissidentes, sem impacto positivo nisso, o que é uma pena).
Bem... aparentemente, também me tirou do sério uma espécie de onda "publish or die" ou pretextos afins, ou um novo "yuppismo" (académico?!), que singra por aí. Entre outras coisas de gente melindrada e outros "chicos-pretextos" e sei lá mais o quê.

Por fim, já me "gasto" demais nestes assuntos, do que a minha vida e posses podem sustentar (ou melhor: para variar, devia fazer mais por ela, em vez de andar mais "ao bichos"?)
Bem...  venham lá agora sugerir que ando "às avessas", devendo contribuir em vez de me "armar em parvo" .

Só para não parecer tanto offtopic, regista isto "como o meu canto durante a noite" .