Atlas das aves nidificantes

Gonçalo Elias escreveu:
Olhando para o mapa, podemos agrupar os distritos em termos de grau de cobertura:
- cobertura bastante avançada (mais de dois terços das quadrículas feitas) - Bragança, Vila Real
- cobertura média (entre um e dois terços) - Porto, Aveiro, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Santarém, Lisboa, Évora, Beja
- cobertura muito baixa (menos de um terço) - Viana do Castelo, Braga, Viseu, Leiria, Setúbal, Portalegre, Faro

Verificamos assim que apenas no nordeste transmontano a cobertura está já adiantada. E verificamos também que há sete distritos nos quais a cobertura não chegou sequer a um terço das quadrículas. A situação no noroeste (Braga + Viana do Castelo) é especialmente crítica, pois a cobertura nesta região não chega sequer aos 25%; além disso, também no Algarve, numa grande parte do Alentejo e em certas áreas do centro há ainda falhas importantes de cobertura.

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Eu estou agradavelmente surpreendido com a cobertura de Bragança e Vila Real, não percebo a situação de Lisboa, como é que o distrito com maior numero de observadores e que não tem assim tantas quadriculas não está completo?

Tanto quanto sei, as quadriculas que pertencem, ainda que apenas parcialmente, a áreas protegidas estão reservadas para o ICNB, pelo que não são atribuídas a voluntários.

No caso de Lisboa muitas das quadrículas por fazer pertencem a áreas protegidas (Sintra-Cascais, Estuário do Tejo ou Montejunto), pelo que a existência de muitos voluntários não é relevante neste caso.

Gonçalo Elias escreveu:A este ritmo, serão necessários pelo menos mais cinco épocas de trabalhos de campo (ou seja, até 2022 inclusive) para conseguir visitar a totalidade do território. A alternativa seria publicar o atlas com a cobertura incompleta, o que espero sinceramente que não venha a acontecer.

Já se adivinhava desde o final do primeiro ano de visitas. Apenas posso falar de Vila Real, distrito em que participei nos dois primeiros anos com 7 quadrículas acho. Excelente cobertura até agora para um distrito de interior graças a uma excelente coordenação e esforço do Paulo Belo. Caso haja intenções/necessidades de prolongar o atlas por 3-4 anos, que não faz qualquer sentido, só o teremos daqui a 6-7 anos, o que será muito muito triste para a ornitologia nacional.

João Tomás escreveu:Caso haja intenções/necessidades de prolongar o atlas por 3-4 anos, que não faz qualquer sentido, só o teremos daqui a 6-7 anos, o que será muito muito triste para a ornitologia nacional.

Achas mesmo que ter sete anos de trabalhos de campo não faz sentido? Eu acho que é preferível isso do que publicar com metade do território em branco.

Creio ser relevante lembrar que o primeiro atlas teve sete anos de campo (1978-1984) e o segundo atlas também teve sete anos (1999-2005). No primeiro caso não sei, mas no segundo posso dizer que o plano inicial era fazer em cinco, tendo-se depois chegado à conclusão de cinco anos não eram suficientes, pelo que se prolongou para sete. Não sendo os resultados perfeitos, pelo menos os mapas não ficaram cheios de buracos.

Ora havendo a experiência de dois atlas anteriores, ambos com financiamento, em que foram necessários sete anos para visitar a totalidade do território, eu não percebo porque é que não se aprende com a experiência acumulada (que nos diz que com financiamento são precisos sete anos para cobrir o país todo) e se alimenta ideias irrealistas de que vai ser possível num atlas sem financiamento cobrir a totalidade do território em quatro ou cinco anos.

Gonçalo Elias escreveu:Achas mesmo que ter sete anos de trabalhos de campo não faz sentido? Eu acho que é preferível isso do que publicar com metade do território em branco.

Mais uma vez fica provado que o plano inicial não era suficiente. Então para que existia o fim em 2018? Ou o plano inicial pressupunha condições e meios que entretanto foram alterados/cortados ou este período de tempo foi desde o início irrealista. E isso para mim é muito triste.

Talvez uma mistura das duas coisas. Talvez uma expectativa de que iria haver dinheiro a jorrar para apoiar este projecto, juntamente com uma fé de que os ornitólogos de norte a sul do país iriam acorrer em massa para terem a oportunidade de participar neste projecto. Ou seja, não se aprendeu nada com os projectos anteriores.

Gonçalo Elias escreveu:Ou seja, não se aprendeu nada com os projectos anteriores.

Pois, este ponto é o que me deixa mesmo triste.

No dia 17 de Março escrevi isto:

Gonçalo Elias escreveu:Olhando para o mapa, podemos agrupar os distritos em termos de grau de cobertura:
- cobertura bastante avançada (mais de dois terços das quadrículas feitas) - Bragança, Vila Real
- cobertura média (entre um e dois terços) - Porto, Aveiro, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Santarém, Lisboa, Évora, Beja
- cobertura muito baixa (menos de um terço) - Viana do Castelo, Braga, Viseu, Leiria, Setúbal, Portalegre, Faro

Decorridas as duas primeiras semanas de trabalho de campo, resolvi ir ao ebird ver como estava a cobertura este ano. Concretamente, para os sete distritos que estão mais atrasados em termos de cobertura, fui pesquisar quantas quadrículas já foram visitadas na época corrente (ou melhor, quantas já tem dados). Eis os resultados:

Viana do Castelo - 0
Braga - 0
Viseu - 0
Leiria - 0
Setúbal - 0
Portalegre - 0
Faro - 1

A seguir fui pesquisar alguns distritos de cobertura média, e os resultados são:

Coimbra - 0
Santarém - 0
Évora - 0
Beja - 0

Começo a questionar-me quantas pessoas ainda acreditam realmente que este atlas é para fazer até ao fim. É que a este ritmo, nem sete anos serão suficientes para conseguir uma boa cobertura do território...

Gonçalo Elias escreveu:
Começo a questionar-me quantas pessoas ainda acreditam realmente que este atlas é para fazer até ao fim. É que a este ritmo, nem sete anos serão suficientes para conseguir uma boa cobertura do território...

Pois, repara numa coisa, eu sei que não é o caso no Algarve, mas cá em cima tem chovido e não é pouco, falando por mim, enquanto o tempo não melhorar fico em casa.

pedro121 escreveu:Pois, repara numa coisa, eu sei que não é o caso no Algarve, mas cá em cima tem chovido e não é pouco, falando por mim, enquanto o tempo não melhorar fico em casa.

Concordo com o Pedro, que não tem estado muito bom tempo. E não te esqueças que a norte do Douro a época ainda não começou.

pedro121 escreveu:Pois, repara numa coisa, eu sei que não é o caso no Algarve, mas cá em cima tem chovido e não é pouco, falando por mim, enquanto o tempo não melhorar fico em casa.

Pois eu já estava à espera que alguém escrevesse isso... mas digo-te uma coisa, no segundo atlas de nidificantes, que começou em 1999, a primeira volta ia de 15 de Março a 15 de Maio, logo em 1999 o tempo esteve razoavelmente bom durante quase toda a primeira volta, e no entanto a maioria das pessoas que só tinha uma quadrícula atribuída resolveu deixar a primeira visita para o último fim-de-semana possível (8 e 9 de Maio), logo por azar nesse fim-de-semana choveu bastante no país todo, imagina o que isso fez à qualidade dos dados. Na segunda volta quase toda a gente deixou para fins de Junho / inícios de Julho, quanto estava já um calor brutal, portanto também dados muito fracos. Nos anos seguintes registou-se uma tendência semelhante de deixar as visitas para os últimos dias do prazo.

No CAC acontecia e acontece o mesmo, aliás neste caso os dados são bem visíveis no ebird quando seleccionamos o número de visitas é visível um pico no número de visitas na última semana de Abril e outro na última semana de Maio.

Isto para dizer o seguinte: eu compreendo que o facto de ter estado mau tempo sirva de justificação para as pessoas não terem ainda feito visitas, mas não acredito que a situação fosse muito diferente se estivesse bom tempo, porque a experiência mostra que existe uma propensão dos observadores em deixar as visitas para os últimos dias da época, qualquer que seja o estado do tempo.

João Tomás escreveu:E não te esqueças que a norte do Douro a época ainda não começou.

Na metodologia não existe qualquer referência a essa diferença de datas, mas pronto, daqui a 15 dias vemos como está a situação.

Hoje foram inseridas duas listas referentes a duas tétradas no distrito de Santarém.

Mas isto faz-me um bocado de confusão: não era suposto inserir os códigos para todas as observações? Ou por outra, as observações sem código também entram para o atlas?

https://ebird.org/portugal/view/checklist/S44112036

Gonçalo Elias escreveu:Na metodologia não existe qualquer referência a essa diferença de datas, mas pronto, daqui a 15 dias vemos como está a situação.

Pois, mas na notícia/email fazem referência a isso. E nos anos anteriores tem sido assim!

Gonçalo Elias escreveu:Hoje foram inseridas duas listas referentes a duas tétradas no distrito de Santarém.

Mas isto faz-me um bocado de confusão: não era suposto inserir os códigos para todas as observações? Ou por outra, as observações sem código também entram para o atlas?

https://ebird.org/portugal/view/checklist/S44112036

Mas ainda podem ser acrescentadas. Não sei!

João Tomás escreveu:Pois, mas na notícia/email fazem referência a isso. E nos anos anteriores tem sido assim!

Pois eu sei disso, mas o facto de na metodologia dizer outra coisa significa o quê? Que aquilo que está na metodologia "não é bem assim"?

João Tomás escreveu:Mas ainda podem ser acrescentadas. Não sei!

Claro que podem, eu só estranhei porque foi a primeira vez que vi uma lista com protocolo de atlas só com alguns códigos.


De resto, tirando aquelas duas tétradas, hoje não apareceu mais nenhuma lista de atlas (embora tenham aparecido 140 listas de outras saídas). Não foi muito diferente dos 15 dias anteriores. E assim se passou o mês de Março.

Será que Abril vai ser diferente?

Gonçalo Elias escreveu:Pois eu sei disso, mas o facto de na metodologia dizer outra coisa significa o quê? Que aquilo que está na metodologia "não é bem assim"?

Pois...

Gonçalo Elias escreveu:Claro que podem, eu só estranhei porque foi a primeira vez que vi uma lista com protocolo de atlas só com alguns códigos.


De resto, tirando aquelas duas tétradas, hoje não apareceu mais nenhuma lista de atlas (embora tenham aparecido 140 listas de outras saídas). Não foi muito diferente dos 15 dias anteriores. E assim se passou o mês de Março.

Será que Abril vai ser diferente? 

Não sei mesmo que te dizer 

Não há muito para dizer, em minha opinião a escassez de visitas reflecte o desinteresse por parte dos observadores.

Gonçalo Elias escreveu:Não há muito para dizer, em minha opinião a escassez de visitas reflecte o desinteresse por parte dos observadores.

Vamos ver as próximas semanas.

E com mais uma semana passada apenas encontrei uma lista respectiva a uma tétrada (de ontem) no distrito de Faro. Não sendo das melhores semanas para se ir para o campo a verdade é que o dia de ontem daria para fazer umas visitas. Enfim, menos uma semana para este ano de atlas

Sim, João, conforme já referi anteriormente, entendo que o tempo este ano não esteja especialmente favorável para fazer atlas, até porque o mau tempo tem calhado bastante ao fim-de-semana, mas não creio que se estivesse bom tempo a situação fosse muito diferente, pelas razões que já expus.

Gonçalo Elias escreveu:Sim, João, conforme já referi anteriormente, entendo que o tempo este ano não esteja especialmente favorável para fazer atlas, até porque o mau tempo tem calhado bastante ao fim-de-semana, mas não creio que se estivesse bom tempo a situação fosse muito diferente, pelas razões que já expus.

Eu sei eu sei. Por um lado gostava de continuar a ajudar, e já não o faço desde a segunda época de visitas, mas por outro sinto que o esforço não vai valer a pena.

João Tomás escreveu:Eu sei eu sei. Por um lado gostava de continuar a ajudar, e já não o faço desde a segunda época de visitas, mas por outro sinto que o esforço não vai valer a pena.

Sim, eu sei, já falamos sobre isso e eu entendo as tuas razões.

Já partilhei aqui o meu cepticismo em relação ao futuro deste projecto. O que mais me deixa céptico no meio disto tudo é que cada vez mais parece que o projecto está em piloto automático, sem qualquer tipo de acompanhamento por parte das entidades responsáveis. Há uma newsletter no início de cada ano a apelar à participação e de resto não há praticamente comunicação. Ora eu tenho alguma dificuldade em entender porque é que não há comunicação, porque é que não existe um site (ou um micro-site, ou blog) dedicado ao projecto, uma página de Facebook a bombar novidades, uma participação mais activa no Forum, uma publicação regular de newsletters a comunicar resultados, de modo a motivar os observadores... , hoje em dia a tecnologia existe para fazer tudo isto praticamente sem custos, bastava haver vontade, mas não é isso que acontece. Por isso a sensação com que fico é a de que este projecto não é verdadeiramente importante, nem mesmo para quem está nos lugares de decisão.

Gonçalo Elias escreveu:Já partilhei aqui o meu cepticismo em relação ao futuro deste projecto. O que mais me deixa céptico no meio disto tudo é que cada vez mais parece que o projecto está em piloto automático, sem qualquer tipo de acompanhamento por parte das entidades responsáveis. Há uma newsletter no início de cada ano a apelar à participação e de resto não há praticamente comunicação. Ora eu tenho alguma dificuldade em entender porque é que não há comunicação, porque é que não existe um site (ou um micro-site, ou blog) dedicado ao projecto, uma página de Facebook a bombar novidades, uma participação mais activa no Forum, uma publicação regular de newsletters a comunicar resultados, de modo a motivar os observadores... , hoje em dia a tecnologia existe para fazer tudo isto praticamente sem custos, bastava haver vontade, mas não é isso que acontece. Por isso a sensação com que fico é a de que este projecto não é verdadeiramente importante, nem mesmo para quem está nos lugares de decisão.

Sim. E a época já começou há umas semanas e nem sequer há a tal folha informativa anunciada no site! Mas sim, isso que dizes seria o mínimo a fazer quando o trabalho depende do voluntariado.

Não tem a ver com depender de voluntários ou não, mas sim com aquilo que se pretende para o projecto.

O atlas das aves marinhas teve direito a um site dedicado, por acaso bem agradável visualmente, com imensa informação sobre as espécies, fotos, etc: http://www.atlasavesmarinhas.pt/

O atlas das nidificantes não tem qualquer site. Tem apenas uma página com informação resumida.

Acho que isto é revelador da importância que é atribuída a cada um dos projectos. O atlas das aves marinhas foi tratado como um projecto "a sério", já o das nidificantes parece estar a ser encarado como sendo uma "coisita de amadores".

Gonçalo Elias escreveu:Não tem a ver com depender de voluntários ou não, mas sim com aquilo que se pretende para o projecto.

O atlas das aves marinhas teve direito a um site dedicado, por acaso bem agradável visualmente, com imensa informação sobre as espécies, fotos, etc: http://www.atlasavesmarinhas.pt/

O atlas das nidificantes não tem qualquer site. Tem apenas uma página com informação resumida.

Acho que isto é revelador da importância que é atribuída a cada um dos projectos. O atlas das aves marinhas foi tratado como um projecto "a sério", já o das nidificantes parece estar a ser encarado como sendo uma "coisita de amadores".

Certo, entendo o que queres dizer. Mas quando dependes de voluntários tens de apostar, e muito, na imagem, comunicação e divulgação.

João Tomás escreveu:Certo, entendo o que queres dizer. Mas quando dependes de voluntários tens de apostar, e muito, na imagem, comunicação e divulgação.

De acordo, embora eu desde o início considere que foi um erro querer fazer um projecto à escala nacional com base apenas em voluntários...

Ou seja, concordo que mais divulgação seria fundamental para conseguir mobilizar mais pessoas para realizar trabalho de campo, mas duvido que a cobertura completa seja atingida se não houver outro tipo de meios / recursos.