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Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal

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Mensagem por Alexandre_Leitão Sáb Ago 20, 2016 3:46 pm

Na minha percepção:

Qualquer uma das espécies estepárias está em regressão, umas de forma mais brutal (Circus pygargus, Otis tarda, Coracias garrulus, Oenanthe hispanica, Pterocles orientalis), outras menos brutal mas ainda assim de forma acentuada (Tetrax tetrax, Melanocorypha calandra, Burhinus oedicnemus, Falco naumanni). Destas, a maior parte viu a suas populações (e área de distribuição) diminuir acentuadamente nos últimos tempos, para níveis que são próximos da metade (ou menos) do que foram há um para de décadas atrás. De desaparecimentos do nordeste transmontano, à Beira Baixa, à subsistência de bolsas diminutas no alto Alentejo, a regressão foi (e vem sendo) notória. Não sei o que se possa passar com Anthus campestris e Calandrella brachydactyla, mas imagino que não seja coisa boa. A regressão de que falo refere-se ao evoluir da população nos últimos 20/25 anos. Veja-se o que tem acontecido à área de habitats disponível para estepárias, que, na prática, se mantêm com alguma saúde no Campo Branco/Mértola. Ou ainda, algumas nocturnas, como a Tyto alba, o Caprimulgus ruficollis ou Athene noctua.

Para além das espécies que já foram referidas em expansão, acrescento quatro outras que, a meu ver parecem estar em expansão, pelo menos na metade sul do território e que acho que também na metade norte: Bubo bubo, Pernis apivorus, Passer hispaniolensis e Petronia petronia. Mas admito que possa haver um certo enviesamento no incrementar do esforço de observação a que temos assistido nos últimos anos, e que pode trazer alguma artificialização na percepção da expansão destas espécies (ena, tanta cacofonia...).
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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Ago 20, 2016 3:55 pm

Falco naumanni? Essa é para mim uma das espécies que está em expansão. Não sei se houve alguma contracção nos últimos anos mas há 25 anos era bicho que praticamente não havia em Portugal, com excepção da pequena colónia de Mértola e pouco mais...
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Mensagem por Alexandre_Leitão Sáb Ago 20, 2016 4:21 pm

hmmm, não tenho essa ideia. Talvez contracção da população de francelhos possa ser exagerado para os últimos 25 anos, mas também não tenho ideia de haver uma expansão que se apalpe
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Mensagem por Paulo Lemos Sáb Ago 20, 2016 6:55 pm

Não me parece que as alterações físicas ou supressão de habitat expliquem tudo, pois nos locais que acompanho não coincide absolutamente no caso de predadoras de invertebrados em geral, sobretudo das migradoras.
Muito habitat continua "visualmente" inalterado mas desocupado ou escassamente colonizado (nem exponho exemplos por tão elevado numero de espécies e habitats).
Exceptuando as nocturnas, afinal quantas das insectívoras migradoras tendem a "aumentar" ou se mantêm "estáveis"?

Quem há muitos anos está atento aos invertebrados, uma coisa pode confirmar: em habitats mais secos de vegetação rasteira e escassa, a sua "regressão" em densidade e diversidade decaiu brutalmente. Hoje encontro abundância relativa mais pontualmente, "numa abundância típica dos locais menos favoráveis outrora", concentrando-se sobretudo nas orlas arborizadas, húmidas ou outras diversas incluindo as humanizadas. Tem sido uma tendência crescente, entre flutuações algo desprezáveis.
Para os menos atentos, mas minimamente, tentem lembrar-se da omnipresença de espécies tão abundantes (nuvens!), em campos em clareiras, como por exemplo o Calliptamus barbarus. Hoje, na maioria do território nacional "salta um aqui" e "outro ali" ou podem estar bastante dispersos ou mesmo ausentes onde eram "enxames" de forma continua por vasta extensão.
E esta não é, das possíveis, uma das presas preferidas das aves (é dura, tem pouca musculatura e demasiada "massa em ovos" muito espessa na fêmeas adultas, difícil de digerir) tal como não o são os Hymenoptera cuja tendência de declínio é mundialmente reconhecida. Muitas das presas favoritas, essas vão rareando realmente.

Das insectívoras migradoras, faço uma ressalva para as insectívoras especializadas nocturnas, porque até a população de Caprimulgus ruficollis tem se mantido estável no litoral Oeste desde há uns 15 anos para cá quando detectada como nidificante (mas desde quando nidifica não sei), os mesmos locais ocupados e diria até com mais 2 locais novos com menos de 5 anos (alguma info de nid. confirmada foi para o ultimo atlas). O habitat pode ser misto, semi-aberto, agricola/matagal med. sobre areia ou argila/margas ou calcários, coincidindo e partilhado com a outra espécie. Também se vê muito mais a norte nas beiras mas são observações de Agosto (ainda não descobri "se" e onde nidificam ou são pouco predispostos a cantar como alguns do Oeste). De qualquer modo o nicho alimentar dos Caprimulgus não é comparável aos das diurnas.

As rapinas nocturnas também parecem ter diminuído em densidade no Litoral Oeste (sobretudo o outrora omnipresente Asio otus e parece-me já em falta o Otus scops, diminuiram a Tyto e o Athene apenas aumentando a Strix sobretudo em zonas costeiras do Litoral Oeste entre Peniche e Nazaré (no que até me pareceu uma (re)colonização a partis dos 90s).

Coincidência ou não, não apenas as populações de invertebrados tenderam a "cair". Por motivos que não me é possível identificar, desde há uns 25 anos pelo menos, e em 3 regiões do país pelo menos, as populações de roedores são uma miragem de outrora em qualquer habitat e seja de que espécie de trate, mesmo considerando flutuações que parecem ocorrer em picos mais breves (não faço ideia porquê, mas suspeito de doenças e também as populações menos isoladas de género Rattus têm dificuldades em permanecer em "alta" durante muito tempo, como acontecia antigamente). A inferior densidade de roedores parece-me bastante notória em habitat do tipo estepe.

Tudo isto não implica menosprezar perda ou alteração de habitat em termos de conservação, bem pelo contrário. Quanto mais dispersos ou raros os recursos alimentares, mais se sente a falta de espaço e das melhores oportunidades.
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Mensagem por HL Seg Ago 22, 2016 4:24 pm

Alexandre_Leitão escreveu:De desaparecimentos do nordeste transmontano, à Beira Baixa, à subsistência de bolsas diminutas no alto Alentejo, a regressão foi (e vem sendo) notória.

E não só! A acreditar na palavra de alguns locais que relatam a presença de M. calandra e C. pygargus, na beira litoral, a zona de Sicó, Alvaiázere e Ansião, nas décadas de 50 a 70.
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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Nov 12, 2016 1:26 pm

Tenho a sensação de que o Accipiter gentilis pode estar a aumentar, pelo menos na região de Lisboa.

Durante 30 anos nunca vi nenhum no distrito de Lisboa, este ano em apenas três meses já vi a espécie em 4 ocasiões, em 4 concelhos diferentes (Amadora, Sintra, Cascais e Alenquer). É açor a mais para aquilo a que estava habituado.

Mais alguém tem essa percepção relativamente a esta espécie?
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Mensagem por Carlos Pacheco Sáb Nov 12, 2016 2:47 pm

Está seguramente Gonçalo. Quase de certeza absoluta que há um casal em Monsanto e também tenho observado em período reprodutor noutros locais, como Sintra ( vertentes norte sul da serra). O Jorge Vicente seguramente poderá elucidar melhor pois tem feito uma recolha notável em tod a região do Oeste
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Mensagem por Paulo Lemos Sáb Nov 12, 2016 6:23 pm

Gonçalo Elias escreveu:

Mais alguém tem essa percepção relativamente a esta espécie?

Tendo em conta o que sei do conhecimento actual desta espécie (e para o passado coloca-se uma grande interrogação), afirmo seguramente que nas ultimas 3 décadas não está a aumentar em áreas minhas conhecidas.

1 (regra?!)- Apesar de a espécie poder multiplicar-se muito rapidamente (exemplos de países nortenhos que passarem a defender mais apertadamente esta espécie, outrora alvo de perseguição mais precisa e implacável do que em Portugal), e apesar de há tempos ter "acusado" o nosso açor de poder estar a evoluir/divergir para uma "forma" mais adaptável a subtis alterações no nicho que ocupa mais junto à civilização (mas o açor não é nada novo nesses espaços há décadas ou séculos), um aumento não faz sentido apontar-se como certo ou relevante em menos de meia dúzia de anos. Poderá haver sempre flutuações normais e Invernos menos rigorosos por exemplo, ou flutuações das suas presas, certo?

2- Para o observador de aves comum, é daquelas aves que só depois de observada uma meia dúzia de vezes, se multiplica em observações. E continuará uma ave de detecção menos fácil para o observador comum, através de observação directa e também na confirmação da correcta identidade (porque de facto é umas das observações mais comuns no país, já que das mais detectáveis à distancia ou indirectamente ou com ajudas/indícios indirectos). Há inúmeras formas de os detectar indirectamente, com a mesma ou até superior segurança de uma observação directa. Para lá do comportamento das aves observadas, podem ser listados níveis relativamente seguros de confirmação de presença ou nidificação (que não constam nos métodos do novo atlas por exemplo) e todos quase sempre se nos revelam muito antes de toparmos um ninho ou o casal. Mas provavelmente estas vias são pouco exploradas pelo grosso dos observadores e portanto menos açores "de comportamento normal" detectados. E quanto à sua nidificação também: muitos ninhos não primam pela conspicuidade ou relevância especial, nem as aves são visíveis ou audíveis (ou identificáveis!) perto deles durante a maior parte do tempo a não ser que usemos paciência.

3- Quando estudei em Lisboa, morei no Restelo e vi frequentemente a espécie (adultos) entre zonas arborizadas dessa área e Monsanto, especialmente quando saia de manhã cedíssimo (bahhhh...) e provavelmente os bichos invadiam as ruas de betão (mas nunca vi, sabendo de deviam atravessar essa zonas pelo menos). Vi com o meu colega essa espécie no arvoredo perto do CRAS, no dia em que entreguei uma águia-calçada ferida (não me lembro do dia mas foi há uns anos). Também em meados de 2000 algumas descrições de bttistas atacados em monsanto por uma espécie que corresponde a açor perto do ninho (no comportamento e características de alguns mais agressivos) e não me deixam muita margem de que nidificam açores com sucesso há anos, em mais do que 1 local de Lisboa. Mais importante: Todos os dias em que visitei os trilhos de btt da Serra de Sintra, desde 2000 e poucos, observei essa espécie em diferentes zonas algo remotas entre si e é tecnicamente impossível que não nidifiquem lá desde "sempre", pois têm "tudo".
Não sei qual a presa preferida nessas zonas mas há rolas turcas e pombos, isso é certo. Se alturas não houve Lisboa sem açores, só apontaria culpa ao envenenamento de pombos e a mais nada de que me lembrasse.

4- Na zona costeira onde vivo (vários concelhos como Bombarral, Óbidos, Peniche, Nazaré, Alcobaça, Caldas da Rainha e especialmente mais a interior em relevo arborizado, a população parece-me ter diminuído ou quando muito mantém-se estável. Se dá uma sensação contrária, aponto (e sublinho!) para alterações comportamentais que a tornam directamente visível nos últimos tempos e as causas para tal são fáceis de colocar em hipótese. O casal do Braço da Barrosa (novo casal desde há 3 anos mas já consta espécie como nidificante em lista "publica" minha desde 2001, e nunca de lá desapareceu com esse estatuto, aliás 2-3 casais normalmente incluindo 2 margens) é exemplo "bruto" disso nas opções que os animais tomam e como se exibem no espaço. Refiro este local como mero exemplo mas não é dos locais melhor povoados.
Os habitat nesta zona do Oeste, mantêm-se relativamente constantes em termos quantidade e qualidade de espaço favorável para o açor, compensando-se a destruição pontual de habitat pelo exodo rural e outras situações semelhantes de abandono. Aparentemente, o crescente proliferar de trilhos de btt pelas matas não prejudicou esta espécie (já na minha opinião para as bonelli será um caso diferente).
Estranhamente, os casais nidificantes de buteo são bem "menos" desde os 80s e 90s, rapina que partilha quase os mesmos tipos de espaço e até ninhos próximos com açor, como exemplo máximo observado na "brogueira" em meados de 90, 5m de distancia com apenas uma árvore entre as escolhidas, ninhos algo baixos em Pinus médios (mas velhos)). Ninhos mais diluídos curiosamente, mesmo que por coincidência detectasse essa diminuição de buteos após a caça abrandar (mas por razões diversas as suas presas também, muito seguramente roedores, répteis, anfibios e sobretudo alterações na população de coelhos).
A presença de açor residente-nidificante nesta área litoral, que se estende para um "Este" menos regularmente percorrido por mim (mas cheio de observações e de alarmes de aves contra) continua muito idêntica à do passado em zonas propicias, bem como um numero perceptivamente inalterado de observações de indivíduos jovens que se espalham um pouco mais abertamente pelos habitat depois de Julho ou, mais importante ainda, jovens ainda dependentes que vocalizam e denunciam o spot (mas não é muito frequente ouvir isso por cá, diga-se). Às vezes também se detectam açores que nidificaram bem sucedidos ao acossarmos uma cria ainda dependente, geralmente foge apenas a escassos metros. Estes, e também jovens mais velhos e idem os adultos durante todo o ano, podem tal como o gavião passar muito tempo escondidos perto do chão ou em poisos salientes do mesmo, entre matos e carrascais e não obrigatoriamente nas árvores e isto muito perto de caminhos e povoações.
Tudo isto é possível juntar-se numa perspectiva muito fiel do que tem acontecido por cá desde meados dos anos 80, pelo espaço que fui percorrendo e a cada ano.
Testemunhos de terceiros sobre a espécie também são fiáveis.

4- Falei em alterações no comportamento: Desde os 80s pelo menos (devido à minha atenção só a partir daí) é 100% garantido observar diariamente açor antes do amanhecer, em certas zonas envolventes às Caldas onde não nidificam a menos de 1-2km, mas tornou-se mais fácil nos últimos 10 anos durante o restante período do dia, de forma crescente, portanto uma alteração apenas comportamental e não um aumento. A perseguição à sua "nova" preferencial presa também os obriga a mostrarem-se mais, pois a rola foge em linha recta em vez de se esconder no pombal e buracos afins como os pombos fatelas, e alimenta-se em zonas que obrigam o açor a entrar no campo de visibilidade humana (e sabem-no bem, habituam-se e perdem temporariamente algum do habito secretivo que lhes vem inato quase maníaco). Os despojos observados contudo não aumentaram nos locais correctos para os encontrarmos, bem pelo contrário, parecem menos regulares e menos abundantes e há até zonas onde não se encontram (impensável isto acontecer há <10 anos atrás).
Há contudo a hipótese de o local do ninho passar a ser escolhido mais perto da cidade, devido ao êxodo rural nos limites da cidade e à mudança de comportamento humano aí (mentalidade muito menos rural e virada para isso) onde quase falta a velha perseguição "defensiva" contra as rapinas (menos tiros fora de época!), especialmente onde há as presas favoritas, isto pelo menos nas Caldas e concelhos vizinhos por onde sei.

6- Em algumas aldeias nas beiras longe da costa (em relevo e ecologia menos influenciada pela presença humana) o açor parece ter diminuído desde os 70-80s, apesar de apenas poder ter observado a redução nos últimos 5 anos deste medos de 90s. Menos alarmes de aves que o denunciam, menos vestígios nos matos e pinhais mais propícios, menos testemunhos de ataques, e até parte dos gaios já não "cantam" com a inclusão de um grito de açor. E ao que me parece, menos aves em geral, menos presas disponíveis (quer silvestres quer eventuais domésticas nas vilas e aldeias como tenho verificado), poderão em parte explicar uma possível maior diluição por territórios deste género em toda a região talvez.
Bem... pelas beiras até a minha avó conhecia a espécie desde miúda, que localmente rara, não era Wink.

A detectar, o que pode ser fácil em grande parte do Oeste por exemplo:

- Despojos e dejectos em certos nichos abrigados, não muito fácil descrever por palavras como sítios de eleição em florestais e semi-florestais, e/ou penas do próprio predador sob os poisos preferidos (e há sempre alguns criteriosamente escolhidos que com alguma experiência são fáceis de localizar bem como os nichos certos). Não necessariamente o que se consideram verdadeiros depenadouros, muito menos na época de cria pois vejo que trazem de bem longe, dos locais de caça, as presas já preparadas. Não vou falar de como distinguir uma presa de açor pois dá para aqui mais 40 linhas.
Por vezes, desde o Outono até à Primavera e sobretudo na pré-primavera, muitos casais "namoram" em locais de alguma beleza "labiríntica" cheios de poisos de diferente alturas e toços caídos, e aí deixam resíduos extra (que incluem dejectos, penas deles e algumas das presas e "bolas" de regurgitação), sendo depois mais fácil confirmar se há um casal residente nos arvoredos próximos, já que posteriormente o ninho pode ser situado relativamente longe em local menos espectável na primavera e os animais serem menos detectáveis (por vezes escolhido outro local tão longe como do outro lado do vale, rio, várzea, etc e o outro sitio quase não receber visitas do casal) e observam-se menos despojos e afins. Pelo que vejo (mas pode ser tendencioso) os 1ºs namoros coincidem mais com apenas locais de eleição do que com locais definitivamente escolhidos para ninho. Talvez porque constantemente esses locais atraem visitas de congéneres durante todo o ano (em plumagem jovem ou não) ou porque na primavera algo muda para tornar esse lugar menos seguro. Um bom sitio pode dar-nos a oportunidade e observar 5 ou mais exemplares por dia e observações certas durante todo o ano, portanto e apesar de nunca ter assistido a lutas sérias, possivelmente o casal afasta-se para spot mais sossegado (suposição).
Não sei se em geral o mesmo casal permanece junto todos os anos e no mesmo território a nidificar (vi casos em que sim consecutivos) mas independentemente disso um "bom" território pode ter a nidificação garantida por décadas a fio.

- Os ninhos após a época de nidificação estão quase sempre bastante destruídos pois os jovens quase voadores brincam neles como terroristas. Assim ficam para o Inverno ou piores, ou pouco fica lá em cima. Também se notam geralmente os galhos verdes (ou já secos) por baixo, mas pode não haver este indício nem na época de nidificação quando estão mais frescos (ou algum animal os tira, ou não são colocados no ninho, ou não caem do mesmo?). As diferenças permitem-me identificar bastantes ninhos e confirmar local, sobretudo os observados no passado a cada ano e a sua idade muitas vezes onde adultos e vestígios eram vistos regularmente. A espécie pode ter preferências por habitats maduros ou intrincados com zonas fechadas e muitos poisos salientes, mas não completamente exigente no relevo e aceita o típico padrão desordenado dos nossos focos florestais, não importa a espécie de árvore, e nem necessita de completa distancia do movimento humano (estradas, caminhos, casas com quintais, fábricas, etc., mesmo que nas imediações haja zonas mais isoladas). Pode fazer ninhos em local muito espectável para as velhas definições livrescas da espécie ou onde ninguém se lembraria de procurar, por ex. nas nossas absurdas concentrações de Pinus pinaster de baixa altura (grupos jovens que acabam subdesenvolvidos) mais no topo possível. Também e sobretudo em grupos de P. pinaster médio/maduro, ninho do meio até ao topo (sempre junto ao tronco), em P. radiata idem, em P. pinea nas 1ªs ou secundárias bifurcações mais junto possível do tronco, em Eucalipto idem a diversas alturas a partir do meio (em "absurdas" concentrações des eucaliptos não depende dos seus tamanhos mas sim da idade, que proporcione plataforma segura). Geralmente localizado no meio de outras árvores, dai não ser detectado facilmente mas também já vi exposto numa orla, mesmo junto a campos intensamente cultivados e enquanto em redor se cortavam regularmente outros focos.
O ninho pode alternar de foco arborizado para distancias consideráveis se os "7 em 7" anos dos cortes de eucaliptos assim obriga, mas geralmente o açor não faz ninho nessas árvores regularmente cortadas e sim nas que por vezes são deixadas de pé (pinus ou a mesma espécie) ou em pequenos nichos/filas de árvores próximos que depois do recrescimento da monocultura ficam mais protegidos com continuidade arborizada, tal como acontecia na Barrosa, ou seja conforme os cortes proporcionam barreiras ou continuidade variável ao longo dos anos. Mais vulgarmente claro, nas monoculturas esquecidas ao corte que mais raramente percorro (como já confirmou o Jorge Vicente por cá em mais de que 1 zona se me lembro).
Nas beiras só (e procurei) vi um ninho, por sorte em Q. rubor nos 80s.

- Os gritos de aviso das outras aves são, de facto, a mais útil ferramenta disponível para detectar um açor e até identificar o seu sexo ou idade, mesmo que raro para uma localização onde apenas passam sem deixar vestígios significativos (ou especialmente aí, já que as aves não estão acostumadas e alarmam apenas pela sua presença e não diante de um comportamento especial). Depende da cada pessoa e de cada local, e da sua experiência de campo, a interpretação dos avisos e alarmes de certas aves. Podemos seguir sobretudo os corvideos que acossam por vezes os açores (sobretudo fêmeas), mas pode haver duvida em locais ou ecologia que desconhecemos, necessitando-se então de uma observação directa a partir dessa ajuda (apesar de muitas vezes só possível se o açor se desloca menos furtivo, independente do habitat). Deve lembrar-se por aqui o Helder Cardoso quando olhavamos o Paul de Tornada da Margem Este ao fim de dia algures, quando lhe disse estar uma fêmea açor a movimentar-se fora do seu âmbito "descontraido" do outro lado do paul, e que algo estaria para acontecer, tão certo como as gralhas assim o indicavam (e eu ali conhecia bem as gralhas). Comportamento e tons específicos e um gaio juntava-se à festa. Na verdade o açor criava e cria na margem norte, variando o ninho de zona, desde os 80s.
isto foi em 2002, 2003 (?) quando lhe disse que "há" dessa espécie "comum" "cá" por todo o lado e que as gralhas a denunciam.

Porque a espécie aumentaria agora?

Excluindo a possibilidade de detecções recentes desta espécie como fruto apenas de maior percepção e reconhecimento (não apenas "olhos" mas todo o mecanismo da percepção que faz milagres), é também possível que as tais observações em Lisboa e afins sejam mais um indicio de que as tais mais recentes alterações comportamentais, no Oeste pelo menos (que se reflectem em > conspicuidade), são possíveis. E talvez porque os açores encontram menor risco de assassinato por columbófilos e em quintas (não sei se há menos columbófilos, se envelheceram, mas há mais rolas e ninguém se preocupa com elas), e como têm sido reprimidos de facto ao longo dos anos junto a povoações, tal tenho visto e ouvido confessado.

Boas observações.



Editei melhor o texto (chiça, é complicado nestas janelinhas dos fóruns), mas quem tiver duvidas, pergunte que eu desenvolvo mais. Com números mais concretos e dados como manda a lei também é possível.
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Mensagem por Gonçalo Elias Dom Nov 13, 2016 1:13 am

Paulo Lemos escreveu:quem tiver duvidas, pergunte que eu desenvolvo mais

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Mensagem por Paulo Lemos Dom Nov 13, 2016 1:13 am

Pardal comum e pardal montez.
Como estarão estas duas espécies no resto do país?

Causas para eventual declínio podem ser empiricamente identificadas talvez, pois até são sugeridas pela malta do campo (alterações do ambiente rural e afins, já não se veem "daqueles" bandos nem campos de cereais, ou de "bons" cereais) e não sei como estava a situação antes de possivelmente ter beneficiado das politicas "cerealíferas" de há uns uns anos em Portugal que, na verdade, foram calamitosas para o ambiente mas favoreceram (hipoteticamente?) os pardais.
Mas... o que vos parece em cada região?

No Oeste passa-se isto:

Pardal-comum: Acho que vou meter um comedouro lá fora. Cada vez vejo menos na cidade e fora dela. De centenas de colónias dispersas em continuidade, cada vez há menos e casais isolados encontram-se há aqui e acolá, num mapa mal preenchido. Outrora até criavam farta e abertamente nas árvores, grandes ninhos comunitários (ninhos "colados"). Não é raro, mas comparativamente parece-me das espécies que mais diminuiu em numero nos últimos 30 anos e ilusório será talvez julgar pela abundância das concentrações após Verão, nos dormitórios, pois haverá talvez menos dormitórios apesar de acolherem muitas aves.

Pardal montês. Havia em todas as quintas e ruínas da minha zona e até nidificava nos buracos de oliveiras, mas hoje confina-se a alguns velhos locais sempre em reduzido numero ou pares.
A tendência local é mesmo desaparecerem, mal os locais e os campos envoltos se alterem em definitivo.

Acontece ter havido uma espécie indígena diferente, que entretanto se extinguiu totalmente (ou quase?) da minha zona do Oeste, mas não por aparente acção de predadores, que é o "campestre" Melolontha papposa cuja ecologia coincide bastante com a que mais favorece a presença de pardais (parece no resto do país) e portanto parece-me que um determinado equilíbrio em "riqueza campestre" nunca se tornou tão rasco a nível local no Oeste, pelos vistos nem antes, nem agora depois da tal política ser praticada. O Melolontha papposa poderia ser considerado uma praga, mas desapareceu por estas bandas...
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Mensagem por José Frade Dom Nov 13, 2016 10:19 am

Gonçalo Elias escreveu:
Paulo Lemos escreveu:quem tiver duvidas, pergunte que eu desenvolvo mais

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Mensagem por Paulo Lemos Dom Nov 13, 2016 11:23 am

Gonçalo Elias escreveu:
Paulo Lemos escreveu:quem tiver duvidas, pergunte que eu desenvolvo mais

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José Frade escreveu:
Gonçalo Elias escreveu:
Paulo Lemos escreveu:quem tiver duvidas, pergunte que eu desenvolvo mais

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Não me tentem alien

Faltou tanta coisa.
Se pudesse apontar abundância local dessa espécie, talvez em meados dos 80s quando a quantidade de pombos-ferais que se via nos campos e no ar por todo o lado superava qualquer presa possível vista até hoje.
E havia muitos mais estorninhos nidificantes e tantas outras aves. Havia mais zonas cobertas por árvores (apesar da tal compensação referida, havia de facto mais território coberto por árvores maduras e continuamente), bem sossegadas, menos áreas ardidas, etc. Sem comparação possível. E viam-se jovens e adutos um pouco por toda a parte, mesmo que a minha percepção fosse inferior à de hoje.
Os pinhais em volta das Caldas (ou que se consideravam na propria localidade) estavam cheios de despojos desta espécie. Chegávamos a perseguir os machos em flagrante para lhes roubar as presas Wink .
No parque D. Carlos no Verão, os pombos andavam sempre alarmados contra ataques (pânico frequente)... hoje nem por isso.
Se a caça que já foi muito intensa por cá, nunca conseguiu reprimir o bútio (que como já disse foi muito mais abundante, com exemplares leucísticos residentes 6 ou mais anos em zonas "de chumbo" intenso), certamente nunca o terá feito com o açor nesta região.

Nas beiras observavam-se com alguma regularidade a caçar e, nessas localizações, os corvideos alarmavam até contra os machos. Uma algazarra audível a quilómetros, por vezes um comboio de 10-20 gralhas a anteceder e a preceder uma caçada. Posso garantir que durante os últimos anos só vi 2 machos em voo alto de deslocação (juv e adulto) e nem sei onde (ou se) criam perto.
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Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal - Página 4 Empty Re: Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal

Mensagem por Paulo Lemos Dom Nov 13, 2016 2:54 pm

Bem... frames e fotos que existam do "passado", muita coisa está arquivada em discos, em vídeos não publicados e ainda não descarreguei os cartões todos deste ano, mas encontrei um exemplo dos mais típicos para a minha zona talvez mostre como a nidificação pode passar despercebida a muita gente, até aos que procuram menos exaustivamente ninhos de rapinas. Encontram-se bastantes zonas arborizadas próximas com árvores maduras e bem altas, mais recatadas do que este tosco pinhal raquítico, mas o spot escolhido foi "isso", e o pinheiro hum... ok serve.
Obviamente não revelo localização aqui, mas é um velho território no Concelho das Caldas longe de "lagoas, várzeas e pauis".


Por cá, alguem resolve sempre plantar mais árvores em menos espaço, convencido de que vai obter muita madeira... mas elas pouco crescem e chegam a envelhecer e a morrer assim subdesenvolvidas. Mas, alguns bichos gostam. Pena que o fogo por vezes também...
O pinheiro em causa é mais baixo com uma trifurcação que permite uma base segura. Com atenção, notam-se folhas de eucalipto já meio ressequidas no ninho.
Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal - Página 4 R75fg7

Grandes troncos na base hein? Bacanal de Pinus pinaster: raízes e copas entrelaçam-se, alguns troncos mais um pouco tocavam-se. Seria de esperar um ninho de quê aqui? E que planta tão bem escolhida para "desinfestar o ninho" (rebentos de eucalipto frescos, caídos).
Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal - Página 4 2gwygpf

Não demasiado perto do ninho, sinal de que pousou aqui um açor com uma rola já amanhada e a comeu. Os restos (ossos maiores) provavelmente foram levados por carnívoro nocturno (como quase sempre) e os vestígios são em geral raros, especialmente se a presa principal é a rola ou estorninho.
Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal - Página 4 286u4oy

Um dos mais evidentes vestígios na zona: a muda dos adultos, para além de alguma penugem branca típica dos jovens que é normalmente arrastada e dispersa pelo vento para bem longe do ninho (às vezes nota-se e vale a pena localizar a fonte!).
Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal - Página 4 2ufr80n

Estorninho fresquinho. Mas diz o filho para o pai: come-o tu!! Quero rolinhas!
Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal - Página 4 2r7oufq

Um ninho em Monsanto ou na Serra de Sintra pode situar-se em qualquer lugar, a meu ver. Dentro ou fora de vedações. Tendo em conta o emaranhado de acácias nalgumas zonas, só desejo bom trabalho a topá-los todos Very Happy. Em Alenquer, perto de "Montejunto em geral e arredores costumava ver açores também, sobretudo nas primeiras visitas antes de a serra estar tão despida. No Cadaval (a menos de 2km da vila para Sul) com um velho amigo achei um ninho em P. radiata em meados de 90s, que no ano seguinte foi usado por Bufo-pequeno. Nunca vi os açores mas levei de lá penas para recordação (ainda hoje as tenho).
Por curiosidade, a dieta "forte" desses bufos era o coelho bravo, muitos deles doentes (mixomatose pareceu-me). Montes de "metades" espalhadas pelo chão a uns 20m do ninho.
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Mensagem por Paulo Lemos Dom Dez 11, 2016 6:31 pm

Já que esta imagem me inspirou
alex67 escreveu:https://2img.net/h/oi65.tinypic.com/ftljzd.jpg

Nas ultimas semanas estive mais atento e activo no "cerne" do território de alguns açores residentes, para averiguar algumas duvidas e comparar observações passadas:

1- se noto alteração/diversidade no comportamento e em voo.
2- se noto mais tolerância à aproximação.
3- se noto mais exemplares

1 (resultado) - Até hoje não tive mais de meia centena de oportunidades para ver de perto e manusear um açor, mas suficientes para notar subtil diversidade nos mesmos. Por muito subtil que seja, na prática pode resultar em efeitos menos subtís (não sei se devo defini-la como diversidade fenotípica mas é um facto), a partir de características anatómicas que influenciam o formato, mobilidade e em suma funcionalidade da asa, sobretudo pormenores da plumagem. Na prática, cada ave é bastante dotada e versátil em termos psico-motores mas ainda assim limitada ao seu "físico" definido pela genética, já para não falar às particularidades  genéticas que ditam directamente o comportamento da ave (não só como causas isoladas como combinações partir deste binómio, a fisionomia se adaptando ao comportamento e vice versa, moldando-se a musculatura, tendões, esqueleto, etc., influenciando movimento e hábitos, tal como acontece ao longo da vida de qualquer criatura).
Noutras espécies (passeriformes como por exemplo evidente nos picanços) a diversidade é surpreendente, o que permite a colonização de vários tipos de habitat e adaptação a relações bióticas. Nota-se mesmo, ex-situ ou em liberdade, maior ou menor capacidade ou predisposição de certas "linhas" (geneticamente sem duvida) para, por exemplo, se movimentarem em campo aberto ou em contrapartida para saltarem de ramo em ramo no meio da vegetação densa, e também diversas índoles comportamentais (daí que por exemplo o picanço real pode ser uma ave bastante elusiva, conforme localização/habitat).

No açor parece haver algo semelhante. Umas das características talvez mais influentes é a subtil forma das remiges e retrizes. Se menos delgadas (e tb rigidez ou qualquer forma especial), num conjunto menos atarracado tornam, em teoria ,a ave mais rápida em voo/perseguição livre e menos ágil em espaços apertados. Há 3 Invernos atrás, manuseei uma fêmea imatura cujas penas de voo eram especialmente delgadas, uma ave surpreendentemente torpe em espaços apertados (por muito que tentasse) e de voo barulhento, em contraste com outras que tenho observado.
Observações das ultimas semanas no Concelho das Caldas e Alcobaça, parecem apontar ambos os sexos como "seguidores" de voo mais tipo falcão, do que me lembro de alguma época passada, especialmente se mudam de poiso ou de área no seu território (não voo de caça). Nalguns casos até dá para dúvidas.
De costas ou de frente, o macho pode mesmo ser confundido com o falcao peregrino ou mesmo peneireiro, sempre que a posição não permite distinção da silhueta e tamanho, devido aos batimentos fluidos, pouco amplos e voo deslizante e recto sem "avarias", sobretudo nos adultos, e pouco notórios os ângulos entre a cauda, asas e corpo/uropígio (características Accipiter). As asas parecem também estreitas e finas muitas vezes (resultado da adaptabilidade normal de uma asa e da decisão da ave para a usar de determinada forma, circunstancial ou que se torna recorrente numa ave adulta).
Vários machos adultos e experientes têm frequentemente sido observados em longas perseguições a estorninho, no verão, exibindo um voo semelhante ao do pombo (batimentos decididos, remados sem pausa e com mudanças de inclinação do corpo), o que na minha experiência é vulgar desde há muitos anos, mas a surpresa é haver cada vez mais fêmeas nessa tendência, contra rolas.

2 (resultado) - Todos os açores para os quais dirigi perseguição repetida nas ultimas semanas (às vezes longa por terreno difícil, mas as pequenas avezitas no territorio ajudam), deixaram aproximar-se bastante mais do que há uns 15 anos atrás. É possível passar a uns 15-20 metros de um açor adulto que confia na sua "camuflagem", no alto dos pinheiros ou escondido perto do chão, em vegetação densa (muito delgadinho a esperar que passemos por ele). Um dos machos foge apenas a 5-10m em voo descontraido, por vezes ascendente na minha direcção, sobrevoando-me calmamente (batidas de asas pouco amplas) e numa das vezes só fugiu porque eu corria na sua exacta direcção (sem eu saber onde ele estava ao certo) quase a ponto de atropelamento e não de uma simples passagem ao lado (a uns 5m). Na época de cria, esse exemplar nem "desentufa" as subcaudais quando me aproximo ou decide fugir, sendo uma ave com a qual nunca cultivei qualquer relação. Há ali qualquer coisa a pender para o interespecífico ou pelo menos territorial, devido a perda de temor do Homem!  Laughing ).
Poderá ser isto acontecer mais recentemente, devido a menor pressão da caça e não a um aumento de efectivos. A espécie nem sempre foge e prefere esconder-se esperando que o perigo passe por ela, mas nunca a estas distancias antes e tão exposta.

3 (resultado) - Não.
Observei, além de menos vestígios, menos imaturos nas zonas/poisos sossegados e mais propícios a esta espécie, que dantes recebiam mais do 1-2 espécimes regularmente ou diariamente observados, especialmente no fim do verão e outono quando os jovens já independentes treinam uns com os outros (ou uns contra os outros) em voos rasantes e explorações entre a vegetação.


Portanto, não parece que a espécie aumente porque observações se multiplicam (porque o habitat, esse não aumenta aqui certamente e nem as presas no total) mas principalmente porque tem sido menos furtiva nos últimos anos, até nos hábitos de nidificação. E há, pelo menos a nível local ao longo do país, a possibilidade de uma crescente tendência para singrarem açores mais dotados ao "voo aberto" (ou alto voo?) e menores, talvez.
Outro detalhe que vou notando nos últimos 2 anos no litoral Oeste mais civilizado, é a captura de presas menores pela fêmea (vêem-se mesmo em voo com pequenas presas nas garras até ao ninho e poucos despojos de aves maiores perto), portanto também essa se expõe mais do que me lembro antes, e pelo tamanho é mais facilmente reconhecível como Açor. O macho passa muito despercebido como açor para a maioria dos observadores, até em voo aberto, e os corvideos não o alarmam muito ou de todo.
Possivelmente, as rolas são mais "hormonadas" do que qualquer outra ave e os animais podem andar mais excitados durante todo o ano, sendo menos intolerantes aos perigos e mais activos.
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Mensagem por Paulo Lemos Sáb Jan 21, 2017 3:35 pm

Um dos "n" ninhos anuais de Açor do "Oeste", este em território situado entre Casais dos Morgados e S. Martinho do Porto (apenas uma jovem fêmea chegou a voar neste caso). Frames retirados do original em Dez 2003 (a data real deve ser Julho). O pinhal tinha sido parcialmente cortado em Maio/Junho e nem sei como deixaram a árvore do ninho em pé, mesmo no limite.

Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal - Página 4 Qq8mth

Espécies que estão a aumentar / regredir em Portugal - Página 4 2wm05ky

Se há algo a separar por aqui, não me oponho.
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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Fev 04, 2017 1:13 pm

http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2017-01-12-Menos-aves-no-inverno-pode-dever-se-a-mudancas-do-clima-ou-problemas-de-conservacao
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Mensagem por Tissot Sáb Fev 04, 2017 1:26 pm

Gonçalo Elias escreveu:http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2017-01-12-Menos-aves-no-inverno-pode-dever-se-a-mudancas-do-clima-ou-problemas-de-conservacao

Gostei particularmente da espécie "pompa"!!!! Very Happy
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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Fev 04, 2017 1:42 pm

Tissot escreveu:Gostei particularmente da espécie "pompa"!!!! Very Happy

Upumpa epomps Laughing
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Mensagem por Paulo Lemos Sáb Fev 04, 2017 1:57 pm

A "pompa" tem populações estáveis? Na minha zona não tem certamente. foi das que mais "regrediu".

Já que estamos no campo das hipóteses, fixe, fixe, era estudarem como alterações ambientais (ou outras causas) afectam as espécies de invertebrados preferidas destas duas aves (abibes e tarambolas douradas) e a abundância/extensão de solos propícios às mesmas (já falei disso por aqui). Se as alterações nos solos derivam das "alterações climáticas, não sei. Mas a razão pela qual essas aves não vêm mais para Sul, poderá ser mais complexa para além de encontrarem bom clima mais a norte: por exemplo, já não encontrarem bons recursos mais a Sul.
Há uma relação entre os ciclos de vida dos invertebrados e a latitude (que afecta abundância e regularidade).
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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Fev 04, 2017 2:08 pm

Para mim não é nada evidente que as populações invernantes de abibes e tarambolas-douradas estejam a diminuir.
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Mensagem por Paulo Lemos Sáb Fev 04, 2017 3:29 pm

Gonçalo Elias escreveu:Para mim não é nada evidente que as populações invernantes de abibes e tarambolas-douradas estejam a diminuir.


É certo que nos 80 viam-se por aqui aos "montes" (bandos) e em qualquer lugar, até na cidade. Pela janelas do carro via-os por todo a parte. E havia minhocas e mais minhocas.
Mas não faço ideia se agora há menos, ou se estão noutros lugares (ou regiões).
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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Fev 04, 2017 4:58 pm

Paulo Lemos escreveu:
Gonçalo Elias escreveu:Para mim não é nada evidente que as populações invernantes de abibes e tarambolas-douradas estejam a diminuir.


É certo que nos 80 viam-se por aqui aos "montes" (bandos) e em qualquer lugar, até na cidade. Pela janelas do carro via-os por todo a parte. E havia minhocas e mais minhocas.
Mas não faço ideia se agora há menos, ou se estão noutros lugares (ou regiões).

As variações a nível local têm muitas vezes a ver com alterações de uso do solo e podem não espelhar a tendência global.
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Mensagem por Paulo Lemos Qui Abr 13, 2017 2:31 pm

Até agora em 2 dias de buscas, na região das Caldas da Rainha, Riparia riparia nidificantes estão quase a "zero".
Algumas paredes já com décadas de uso anterior e ainda com buracos, estão desertas.
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Mensagem por Gonçalo Elias Qui Abr 13, 2017 3:32 pm

as riparia são muito móveis, facilmente trocam um areeiro antigo e já endurecido por uma parede nova, acabada de escavar e muito mais fofinha Smile
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Mensagem por Paulo Lemos Qui Abr 13, 2017 4:13 pm

Por isso eu disse "até agora em 2 dias", mas já deu para ver que alguma coisa não corre bem.
Os locais prospectados sempre estiveram ocupados, cada um deles durante décadas, até há poucos anos.
Nem estou a ver onde possam mais nidificar, perto das Caldas, mas vou estar atento.
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