Taxonomia das aves

Rafael Matias escreveu:Por um lado dizes que não se deve fazer splits em função de necessidades de conservação

Rafael, por favor lê melhor o meu post.

Eu não escrevi em parte nenhuma que não se deve fazer splits em função de necessidades de conservação.

O que eu escrevi - e mantenho - é que a partir do momento em que os splits passam a ser feitos por razões de conservação, passando o critério científico para segundo plano, isso retira credibilidade às classificações taxonómicas (no que à parte científica diz respeito).

Há pois que fazer opções: ou privilegiamos a conservação, ou privilegiamos o rigor científico. As duas coisas nem sempre são compatíveis, era esse o aspecto que pretendi salientar.

Rafael Matias escreveu:por outro dizes que devemos escolher a entidade que usa a taxonomia que mais nos convém. Se isto não é contraditório...

Tendo em conta o que acabei de escrever, não há contradição nenhuma. Se o objectivo for priveligiar a conservação, é de toda a coerência escolher uma nomenclatura que favoreça esse objectivo.

Compreendo, mas não há nenhuma entidade que tenha uma taxonomia que favoreça todos os casos de espécies que carecem conservação. Umas favorecem uns, outras favorecem outros. O que não me parece legítimo é que se mude a referência conforme a necessidade...

Rafael Matias escreveu: Seria a lista mais curta sim, mas conta com mais espécies do que se possa julgar pois os acidentais são muitíssimos...

Ok, de qualquer modo não me parece prioritário, acho mais interessante a todos os níveis a lista para a Madeira e acima de tudo para os Açores

Rafael Matias escreveu:O que não me parece legítimo é que se mude a referência conforme a necessidade...

Rafael, eu partilho deste ponto de vista.

Mas nota que foste tu quem lá atrás escreveu:

Uma espécie (ou taxon) que esteja em perigo crítico como é o caso e sendo preciso convencer urgentemente a opinião pública de que é importante proteger e assim obter fundos para projectos de conservação não beneficia da (extrema) lentidão das revisões taxonómicas e que por vezes seja preciso contornar as regras.

Concordo Pedro. Tem sido muito trabalhinho...

Rafael Matias escreveu:Concordo Pedro. Tem sido muito trabalhinho...

E mal pago ainda por cima

Gonçalo, não vejo contradição.

Bom, se não vês contradição então eu não percebi o que quiseste dizer com "contornar as regras"... Se isso não se referia a mudar a referência por uma questão de conveniência / necessidade, então referias-te a quê?

Contornar as regras (por um caso ocasional) não quer dizer contornar as regras sempre e conforme nos convém, porque senão perde-se a credibilidade como é bom de ver...

Rafael Matias escreveu:Contornar as regras (por um caso ocasional) não quer dizer contornar as regras sempre e conforme nos convém, porque senão perde-se a credibilidade como é bom de ver...

Bom dia,

É claramente um tema interessante para discutir e que dá pano para mangas. É óbvio que apesar de actualmente as decisões de splits e alterações da ordem taxonómica estarem cada vez mais solidamente fundamentadas com trabalho científico de qualidade e muito mais escrutinado do que anteriormente, não deixa de haver uma grande carga subjectiva nas decisões. O critério de onde se traça a "linha divisória" continua a ser muito dúbia e muitas vezes vai ao encontro dos objectivos / tendência dos investigadores. Algumas vezes por questões de conservação ou associadas, nomeadamente na obtenção de fundos para projectos, nos quais as ilhas são uma mina de ouro, dado que geralmente possuem populações pequenas e que sendo classificadas como espécies, passam quase automaticamente a ameaçadas, logo potencialmente financiadas para conservação, quer por questões puristas de ciência, como é mais ou menos o caso das lagartixas na Península Ibérica, em que a distinção de algumas "espécies" só se faz com análise de uma amostra de sangue.
É, na minha opinião, importante que se conciliem os pontos de vista, aspecto que é muito difícil e moroso, e que haja um equilíbrio de "ambas as forças", as que insistem na mudança e as que resistem a esta, que seja fundamentado e sólido. Mas é bom que haja mudança e que estas "forças" continuem a puxar cada uma para seu lado.
O que me parece essencial no caso Português é que haja adopção de uma das diferentes opções, seja ela qual for e que esta seja mantida sem andar com excepções de conveniência. Outro aspecto que a meu ver deve pesar nesta decisão é o que é formalmente adoptado pelo Estado Português/União Europeia. Não me parece que seja lógico, por exemplo, a LPN ou a SPEA seguirem uma opção e o ICNB outra. Depois vai haver incongruências.
Do ponto de vista prático estas alterações são uma grande dor de cabeça é para as bases de dados, como por exemplo a da anilhagem, dado ser muito difícil produzir alterações que cubram estas alterações...

Abraço

Carlos

Sem dúvida um tema interessante.
A propósito de referências taxonómicas mundiais:
http://pdpaixao.blogspot.com/p/borr.html

Hoje reparei que a BirdLife International já considera o pica-pau-verde-ibérico como uma espécie de pleno direito: Picus sharpei.

http://www.birdlife.org/datazone/speciesfactsheet.php?id=112655

Gonçalo Elias escreveu:Hoje reparei que a BirdLife International já considera o pica-pau-verde-ibérico como uma espécie de pleno direito: Picus sharpei.

Sim, vamos ver o que a AERC diz, mas não sei se vai pegar, pelo menos para já.

Não tem que pegar. A AERC e a BirdLife estão em desacordo numa série de espécies.

Vou aproveitar este tópico para construir um documento que compare a taxonomia seguida por diferentes entidades.

A ideia será listar apenas as espécies para as quais existem actualmente divergências de terminologia entre as várias entidades (por exemplo Larus ridibundus / Chroicocephalus ridibundus), indicando quem é que usa o quê.

O documento que daqui resultar poderá ser disponibilizado em pdf ou noutro formato a todos os interessados.

Boa iniciativa.

Concordo, será tremendamente útil!

Gonçalo Elias escreveu:

O documento que daqui resultar poderá ser disponibilizado em pdf ou noutro formato a todos os interessados.

Yes please  

Obrigado pelas palavras de apoio.

Não posso para já prometer um prazo, porque irei fazendo isto em função da disponibilidade, de qualquer forma tenho a expectativa de que durante o mês de Novembro o documento fique pronto.

Se alguém quiser ajudar, pode colocar aqui nomes de espécies que sabe ou suspeita que têm designações diferentes (p. ex. Parus caeruleus, Egretta alba), assim reduz-se a probabilidade de haver espécies que escapam à compilação porque eu próprio nem sei bem de quantas espécies estamos a falar.

Assim de repente lembro-me de alguns:
- Larus ridibundus
- Larus sabini
- Hirundo daurica
- Saxicola torquata

Obrigado Helder e Pedro pelas contribuições, logo que tenha novidades colocarei neste tópico.

Mais alguns para a colecção:

Sterna / Hydroprogne caspia
Apus / Tachymarptis melba
Sturnus / Pastor roseus
Parus / Periparus ater
Parus / Lophophanes cristatus

Mais 2:
Cercotrichas / Erythropygia galactotes
Hirundo / Cercropis daurica