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Taxonomia das aves

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Mensagem por Gonçalo Elias Seg Fev 21, 2011 2:31 pm

Nos últimos anos tem havido bastantes alterações taxonómicas respeitantes a diversas espécies de aves que ocorrem em Portugal. Este problema, já de si potencialmente gerador de confusões e mal-entendidos (uma vez que a bibliografia mais recente usa uma terminologia que muitas vezes diverge da da bibliografia mais antiga), é agravado pelo facto de nem todas as autoridades seguirem os mesmos critérios, fazendo com que algumas espécies tenham vários nomes, o que origina muitas dúvidas e algumas confusões.

O presente tópico tem por objectivo o de agregar informações sobre esta temática, de modo a contribuir para o esclarecimento de todos.
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Mensagem por Carlos Vilhena Seg Fev 21, 2011 4:27 pm

Concordo.
Sempre pensei que o Cyanistes caeruleus, o Periparus ater e o Lophophanes cristatus eram "primos" próximos do Parus major, mas afinal são mais afastados. What a Face
Isto é pior que o acordo ortográfico lol!
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Mensagem por Gonçalo Elias Seg Fev 21, 2011 4:41 pm

Bem, já começaste a lançar a confusão... geek

Esses casos que referes nem sequer são considerados pela AERC TAC (www.aerc.eu), que continua a correr tudo a Parus. Para ser franco nem sei muito bem quem são as entidades que consideram essas designações...



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Mensagem por pedrocardia Seg Fev 21, 2011 6:17 pm

Olá,

Para quem tiver em casa o livro das Aves de Portugal do D. Carlos I sugiro o seguinte exercício:

1 - folheiem o livro prestando atenção aos nomes vulgres e os nomes científicos de cada espécie;
2 - contem quantos nomes científicos se mantêm idênticos aos actualmente usados;
3 - contem quantos taxa se mantêm no mesmo género;
4 - contem quantas espécies são nomeadas por um nome comum que ainda hoje reconhecem como seno aplicado à mesma espécie.

Eu tive uma surpresa quando fiz isto...

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Mensagem por Gonçalo Elias Ter Fev 22, 2011 1:08 pm

Fica aqui um apanhado das principais alterações aprovadas pela AERC e que dizem respeito a aves portuguesas (a documentação completa encontra-se aqui).

1 - Alterações aprovadas em 2003:

Pardela-sombria - separada em 6 espécies, das quais duas ocorrem em Portugal: Puffinus puffinus e Puffinus mauretanicus (anteriormente eram consideradas subespécies de Puffinus puffinus).
Ganso-patola - passa a designar-se Morus bassanus (era Sula bassana)
Flamingo-rosado - passa a designar-se Phoenicopterus roseus (por separação da população europeia e africana que era considerada subespécie de Phoenicopterus ruber)
Águia-imperial - a designar-se Aquila adalberti (por separação da população ibérica que era considerada subespécie de Aquila heliaca)
Gaivota-argêntea - separada em 6 espécies, das quais quatro ocorrem ou já ocorreram em Portugal: Larus argentatus, Larus michahellis (esta é a mais comum, que nidifica na nossa costa), Larus cachinnans e Larus smithsonianus (anteriormente eram consideradas subespécies de Larus argentatus)
Gaivina-de-bico-preto: passa a designar-se Sterna nilotica (era Gelochelidon nilotica)
Petinha-aquática (ribeirinha) - separada em 3 espécies, das quais duas ocorrem em Portugal: Anthus spinoletta e Anthus petrosus (anteriormente eram consideradas subespécies de Anthus spinoletta).
Felosa-pálida - passa a designar-se Hippolais opaca (por separação da população ibérica e marroquina que era considerada subespécie de Hippolais pallida).
Felosa-comum - separada em 4 espécies, das quais duas ocorrem em Portugal: Phylloscopus collybita e Phylloscopus ibericus (anteriormente eram consideradas subespécies de Phylloscopus collybita).
Estrelinha-real ou de-cabeça-listada (bis-bis na Madeira) - separada em 2 espécies: Regulus ignicapilla e Regulus madeirensis (anteriormente eram consideradas subespécies de Regulus ignicapillus - notar a alteração de grafia).
Picanço-real - passa a designar-se Lanius meridionalis (por separação da população ibérica que era considerada subespécie de Lanius excubitor).
Trigueirão - passa a designar-se Emberiza calandra (era Miliaria calandra).

2 - Alterações aprovadas em 2010:

Pardela pequena: passa a designar-se Puffinus baroli (era Puffinus assimilis)
Águia de Bonelli: passa a designar-se Aquila fasciata (era Hieraaetus fasciatus)
Águia-calçada: passa a designar-se Aquila pennata (era Hieraaetus pennatus)
Borrelho-ruivo: passa a designar-se Charadrius morinellus (era Eudromias morinellus)
Abibe-sociável: passa a designar-se Vanellus spinosus (era Hoplopterus spinosus)
Gaivota-pequena: passa a designar-se Hydrocoloeus minutus (era Larus minutus)
Gaivota de Sabine: passa a designar-se Xema sabini (era Larus sabini)
Gaivina-de-bico-vermelho ou Garajau-grande: passa a designar-se Hydroprogne caspia (era Sterna caspia)
Andorinha-do-mar-anã: passa a designar-se Sternula albifrons (era Sterna albifrons)
Gaivina-de-dorso-preto: passa a designar-se Onychoprion fuscatus (era Sterna fuscata)
Andorinha-dáurica: passa a designar-se Cecropis daurica (era Hirundo daurica)

Reversão de decisões anteriores:
Gaivina-de-bico-preto: recupera o nome Gelochelidon nilotica (tinha sido alterado para Sterna nilotica)


Convém frisar que estes são os casos considerados pela AERC, contudo outras entidades seguem critérios diferentes e podem não reconhecer alguns dos casos referidos acima, mas considerando outros casos.

Por exemplo, a Birdlife International não considera o caso do Lanius meridionalis, que continua a designar por Lanius excubitor; não considera igualmente as alterações propostas pelo AERC em 2010. por outro lado, a mesma Birdlife considera o Priolo como espécie (ao passo que a AERC o considera uma subespécie do dom-fafe).

Assim, quando for adoptada um determinado sistema, convém referir qual o sistema que estamos a seguir.
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Mensagem por Pedro Andrade Qua Fev 23, 2011 1:40 pm

Olá a todos

Compreendo que haja muito negativismo relativamente às mudanças taxonómicas dos últimos anos, mas é minha opinião que isso deve ser visto como um sinal que a sistemática é uma ciência viva, e que continua nos dias de hoje a ser actualizada em conjunto com a evolução de outras ciências (genética e não só). Sei que esta ciência está numa posição ingrata, porque para qualquer pessoa que não seja sistemata conta mais como uma ferramenta (e por isso tem necessariamente que ser de fácil utilização) do que como ciência por direito próprio. Por outro lado, temos que ter em atenção que só pode ter validade como ferramenta se a racionalização científica for bem feita.

Sempre que há grandes mudanças as pessoas que seguiam os esquemas antigos são apanhadas na confusão, mas penso que devemos ver isto como sendo um período de transição – os ornitólogos do futuro não terão os mesmos problemas em mudar os nomes das aves.
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Mensagem por Pedro Andrade Sex Abr 08, 2011 5:06 pm

Aqui vai uma tentativa de ressuscitar este tópico; seguem duas referências onde se discute a mudança do verdilhão de Carduelis chloris para Chloris chloris:

Dutch avifaunal list: changes 1977-1998
http://www2.mnhn.fr/crbpo/IMG/pdf/Sangster_et_al_1999_CSNA_1977-98_ARDEA.pdf
"Phylogenetic analyses of morphological characters (Raikow 1978; 1985) and short mitochondrial DNA sequences (Fehrer 1996) provide congruent evidence that Chloris is more closely related to Pyrrhula than to Carduelis. Because two independent studies suggest that Chloris is not part of the Carduelis clade and identify the same sister-taxon (Raikow 1978; Fehrer 1996), whereas inclusion of Chloris in Carduelis is supported by only one study (Van den Elzen & Nemeschkal 1991), recognition of Chloris for the greenfinches is justified."

Character distribution in cardueline finches
http://mbe.oxfordjournals.org/content/13/1/7.full.pdf
"Based on cytochrome b sequences, C. carduelis was more similar to the Serinus group (including S. mozambicus) than to C. chloris (table 2, figs. 2 and 3). In contrast, close affinities of C. carduelis and C. chloris have been proposed based mainly on plumage and behavioral characters (Desfayes 1971; van den Elzen and Nemeschkal 1991). In the most detailed study on Goldfinches and Greenfinches (Gtittinger 1978), they were suggested to represent different lineages. Actually, C. carduelis and C. chloris never clustered in phylogenetic analyses, not even with lower bootstrap percentages (table 3). Instead, C. chloris frequently grouped with P. pyrrhula in the cytochrome b trees."

Neste último artigo mostram diagramas simplificados do parentesco evolutivo destes grupos:

--+-- grupo externo
...`-- Carduelinae
........|-- Coccothraustes coccothraustes
........`--+--+-- Chloris chloris
.............|....`-- Pyrrhula pyrrhula
.............`--+-- Carduelis carduelis
..................`-- Serinus
.......................|-- Serinus mozambicus
.......................`--+-- Serinus serinus
............................`-- Serinus canaria
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Mensagem por Pedro Andrade Sáb Abr 09, 2011 4:13 am

Hoje encontrei informações sobre mudanças taxonómicas nas gaivotas (Larini):

Molecular phylogeny and plumage evolution in gulls (Larini)
http://www.gull-research.org/papers/16crochet.pdf

E um site que resume as alterações: http://www.museum.lsu.edu/~remsen/SACCprop250.html

Basicamente, o trabalho conclui que o género Larus, como reconhecido tradicionalmente, não forma um grupo monofilético, ou por outras palavras, um grupo com um antepassado comum e que inclui todos os seus descendentes (com verdadeiro significado evolutivo). Uma alternativa seria passarem todos os Larini (icluindo Rissa e Xema) a ser Larus, mas isso iria diminuir o detalhe na classificação; assim, para manter grupos monofiléticos e manter detalhe na classificação procedeu-se à revalidação de géneros antigos, como Hydrocoleus ou Chroicocephalus.
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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Abr 09, 2011 2:27 pm

Bom, se a moda pega, então há montes de géneros antigos para recuperar. Aqui ficam alguns:

- Spatula clypeata
- Acanthus cannabina
- Ardeola ibis
- Squatarola squatarola
- Machetes pugnax

Very Happy
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Mensagem por Pedro Andrade Sáb Abr 09, 2011 2:51 pm

A recuperação ou não de géneros antigos dependerá sempre de cada caso. O mais importante nestes casos, e o que normalmente leva à mudança de nome, é a necessidade da manutenção da monofilia dos grupos - só grupos com um antepassado comum bem definido e que incluem todos os descendentes nesse grupo são grupos que deverão ser considerados válidos (atenção que ainda há muitos biólogos que discordam desta necessidade de rigidez; pessoalmente penso que é a forma mais acertada de considerar os grupos válidos porque torna mais fácil defini-los e porque assim adquirem sentido evolutivo).

Por exemplo, no caso das gaivotas que acima referi, o mais importante é garantir que estamos a falar de grupos monofiléticos. A partir daí é uma questão de bom senso por parte do autor, não se pode dizer que haja uma nomenclatura "correcta" ou "errada". Considerar todos os Larini como Larus, ou dividir em vários géneros (desde que todos monofiléticos) acaba por ser um pouco indiferente, e cabe à experiência e bom senso do taxonomista tomar uma decisão equilibrada entre manter a classificação com o mínimo de alterações mas assegurar que seja informativa.
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Mensagem por Gonçalo Elias Sáb Abr 09, 2011 3:51 pm

Pedro Andrade escreveu:cabe à experiência e bom senso do taxonomista tomar uma decisão equilibrada

O facto de ser necessário, tal como sugeres, recorrer ao "bom senso" mostra bem, em minha opinião, a tremenda carga de subjectividade associada a estas questões.
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Mensagem por Pedro Andrade Sáb Abr 09, 2011 4:32 pm

Exactamente, há uma carga de subjectividade associada às designações científicas, até pelo próprio acto de tentar classificar a Natureza em categorias discretas!

No entanto, se usarmos linhas orientadoras, nomeadamente usar apenas grupos monofiléticos e ter atenção à própria carga histórica associada aos nomes, podemos restringir o potencial de subjectividade associado à escolha ao mesmo tempo que evitamos mudar mais do que é necessário.
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Mensagem por Henk Feith Seg Abr 11, 2011 2:24 pm

Parece-me que as aves não se ralam muito com essas coisas típicas do Homem. Venha mais uma minhoca e quero lá saber do carimbo que me querem espetar na testa!

Acredito que seja tudo para o bem da ciência e territórios circundantes, mas por vezes tenho dúvidas se é mesmo de ciência que se trata, ou de algum protagonismo pessoal dos cientistas Twisted Evil Não se esqueçam do apêndice que pendura lá no fim do nome...

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Mensagem por Pedro Andrade Seg Abr 11, 2011 6:34 pm

Para elas é indiferente, para nós não, por isso é que fomos nós a inventar estes truques... Smile

Quanto a isso do protagonismo, não duvido que hajam autores a ganhar publicações à custa de novos esquemas taxonómicos, mas o apêndice que fica a seguir ao nome raramente será do autor contemporâneo, a não ser que descubram uma espécie completamente nova. Segunda as regras da nomenclatura zoológica, quer uma subespécie passe a espécie, quer se o género de uma espécie for alterado, a autoria é sempre do autor original dessa subespécie/espécie, e não de quem fez a revisão.

http://www.nhm.ac.uk/hosted-sites/iczn/code/includes/page.jsp?article=50&nfv=
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Mensagem por Gonçalo Elias Qua Nov 16, 2011 6:52 am

Aqui fica um relatório recente do BOU com algumas alterações.

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1474-919X.2011.01155.x/pdf

Entre as mais relevantes, saliento a alteração do nome científico do verdilhão para Chloris chloris.
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Mensagem por Rafael Matias Qua Nov 16, 2011 11:44 am

Entre as mais relevantes não destaco de todo o verdilhão, mas sim o reconhecimento do priolo (FINALMENTE!) como espécie de direito próprio. Note-se que isto não é um relatório do BOU, mas sim do BOURC-TSC (Brit. Orn. Union Rarities Committee - Taxonomic Sub-Committe), o que são coisas muito diferentes. São propostas (e não decisões!) feitas pelo sub-comité taxonómico e que cabe posteriormente ao BOURC aceitar ou não. Depois disto, a BOU pode aceitar (ou num extremo, discordar) as propostas, mas não tem que ser imediato. Não fará sentido a BOU não aceitar, mas isto deve ser explicado.
Uma vez que vários dos membros do presente BOURC-TSC são também dos membros mais cautelosos e que pedem mais estudos esclarecedores em casos "borderline" do AERC-TAC, isto deixa a porta aberta para que o priôlo seja de uma vez por todas reconhecido internacionalmente como espécie por todas as entidades sem reservas (embora a SPEA desde há muito o faça). Imagino que nas próximas recomendações da AERC este caso esteja já incluido e o tema encerrado. O estudo que motivou a alteração foi o seguinte (Ricardo Lopes é co-autor):
Töpfer, T., Haring, E., Birkhead, T.R., Lopes, R.J., Severinghaus, L.L., Martens, J. & Päckert, M. 2011. A molecular phylogeny of bullfinches Pyrrhula Brisson, 1760 (Aves: Fringillidae). Mol. Phylogenet. Evol. 58: 271–282.
Boas observações
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Mensagem por Gonçalo Elias Qua Nov 16, 2011 12:58 pm

Rafael Matias escreveu:isto deixa a porta aberta para que o priôlo seja de uma vez por todas reconhecido internacionalmente como espécie por todas as entidades sem reservas (embora a SPEA desde há muito o faça).

Sim, é verdade, a SPEA já o reconhecia há muito, contudo parece-me que não é muito claro qual é a lista sistemática ou a classificação que a SPEA segue (pelo menos para mim isso não está claro).

Nota que, conforme já referi no tópico das sternas, a lista do CPR é seguida pelo CPR nas suas publicações, mas não pela SPEA.
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Mensagem por Rafael Matias Qua Nov 16, 2011 1:17 pm

Sim, mas não me cabe aqui falar pela SPEA nem pelo CPR. Haverá razões para essas diferenças, fundamentadas ou não. No caso do priôlo é fácil de perceber. Uma espécie (ou taxon) que esteja em perigo crítico como é o caso e sendo preciso convencer urgentemente a opinião pública de que é importante proteger e assim obter fundos para projectos de conservação não beneficia da (extrema) lentidão das revisões taxonómicas e que por vezes seja preciso contornar as regras. Os fundos obtidos pela SPEA para o efeito foram e são usados de forma muito eficiente e claramente beneficiaram o priôlo. Caso fosse considerado subespécie seria muito mais difícil (digo eu atendendo ao que é o costume nestas coisas) conseguir os mesmos fundos. A conservação e a taxonomia são coisas diferentes mas uma pode valer-se da outra... O papel do CPR não é fazer conservação e por isso as coisas nem sempre batem certo mas é perfeitamente compreensível e neste caso concreto penso que legítimo que essa atitude seja tomada (do meu ponto de vista). A taxonomia pode esperar mas a conservação rege-se por prazos diferentes, pois enquanto se decide e não decide o priôlo desaparece... Não me cabe a mim fazer juízos acerca das decisões internas (ou falta delas) da SPEA. Já o Noticiário Orn segue o IOC por razões práticas tanto quanto sei, mas no Anuário (o Noticiário impresso) haverá certamemte uniformização. O CPR nunca teve que se pronunciar acerca do priôlo uma vez que a lista sistemática das aves dos Açores ainda está em produção. Repara que, por outro lado, a SPEA usa a taxonomia da AERC em relação à Cyanopica quando podia não o fazer.

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Mensagem por pedro121 Qua Nov 16, 2011 1:38 pm

Rafael Matias escreveu: O CPR nunca teve que se pronunciar acerca do priôlo uma vez que a lista sistemática das aves dos Açores ainda está em produção.

A serio? uma excelente noticia, não sabia que estava na calha, e para a Madeira?
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Mensagem por Gonçalo Elias Qua Nov 16, 2011 1:49 pm

Rafael Matias escreveu:Uma espécie (ou taxon) que esteja em perigo crítico como é o caso e sendo preciso convencer urgentemente a opinião pública de que é importante proteger e assim obter fundos para projectos de conservação não beneficia da (extrema) lentidão das revisões taxonómicas e que por vezes seja preciso contornar as regras. Os fundos obtidos pela SPEA para o efeito foram e são usados de forma muito eficiente e claramente beneficiaram o priôlo. Caso fosse considerado subespécie seria muito mais difícil (digo eu atendendo ao que é o costume nestas coisas) conseguir os mesmos fundos. A conservação e a taxonomia são coisas diferentes mas uma pode valer-se da outra... O papel do CPR não é fazer conservação e por isso as coisas nem sempre batem certo mas é perfeitamente compreensível e neste caso concreto penso que legítimo que essa atitude seja tomada (do meu ponto de vista).

Rafael, não digo o contrário. Nada do que eu escrevi sugere que os projectos de conservação não deveriam ter lugar.

O meu ponto é apenas este: a partir do momento em que os splits passam a ser feitos por razões de conservação, passando o critério científico para segundo plano, isso retira credibilidade às classificações taxonómicas (no que à parte científica diz respeito).

Rafael Matias escreveu:A taxonomia pode esperar mas a conservação rege-se por prazos diferentes, pois enquanto se decide e não decide o priôlo desaparece...

Repara: eu entendo a urgência da questão no que diz respeito à conservação...

O que eu não consigo entender é isto: se alguém considera, justificadamente ou não, que o priolo deve ser tratado como espécie e se a AERC não reconhece ao priolo o estatuto de espécie, ao passo que ha outras entidades que o reconhecem como tal, então porque carga de água é que se continua a seguir a AERC? Sendo esta uma espécie tão relevante [a nível nacional] não seria mais apropriado seguir uma entidade que reconhecesse o bicho?

Rafael Matias escreveu:Não me cabe a mim fazer juízos acerca das decisões internas (ou falta delas) da SPEA. Já o Noticiário Orn segue o IOC por razões práticas tanto quanto sei, mas no Anuário (o Noticiário impresso) haverá certamemte uniformização. O CPR nunca teve que se pronunciar acerca do priôlo uma vez que a lista sistemática das aves dos Açores ainda está em produção. Repara que, por outro lado, a SPEA usa a taxonomia da AERC em relação à Cyanopica quando podia não o fazer.

Não se trata de fazer quaisquer juízos. Trata-se apenas de alertar para uma situação - a multiplicidade de nomenclaturas - que tem gerado alguma confusão entre a comunidade de observadores. Porque a mesma espécie aparece referenciada com nomes diferentes em publicações de uma mesma entidade. As pessoas ficam, por vezes, com a sensação de que os nomes estão sempre a mudar e às tantas já não sabem qual é o nome que devem utilizar...

1 abraço,
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Mensagem por Rafael Matias Qua Nov 16, 2011 1:51 pm

A da Madeira está também em produção paralela, bastante adiantada e está prevista para 2013, sendo que a dos Açores será para 2012. A das Selvagens é a mais complexa...
Só no final deste processo é que será de esperar que a SPEA adopte a lista do CPR sem restrições, no meu entender.

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Mensagem por Gonçalo Elias Qua Nov 16, 2011 1:54 pm

Rafael Matias escreveu:Repara que, por outro lado, a SPEA usa a taxonomia da AERC em relação à Cyanopica quando podia não o fazer.

Olha que não usa sempre. Por exemplo, neste relatório do LIFE Sisão, página 193, a espécie é referida como Cyanopica cooki:

http://life-sisao.spea.pt/fotos/editor2/06_relatorio_final_anexos.pdf
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Mensagem por pedro121 Qua Nov 16, 2011 2:10 pm

Rafael Matias escreveu:A da Madeira está também em produção paralela, bastante adiantada e está prevista para 2013, sendo que a dos Açores será para 2012. A das Selvagens é a mais complexa...

Muito bem! Já agora porque é que a das Selvagens é a mais complexa? não é a mais curta?
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Mensagem por Rafael Matias Qua Nov 16, 2011 2:20 pm

Gonçalo, como disse acima sinceramente não me cabe a mim dizer o que a SPEA deve ou não fazer nem me parece que esta discussão deva ter aqui lugar. Pela minha parte não farei mais comentários a esse ponto.
Quanto aos splits serem feitos por razões de conservação: é justamente isso que a AERC não faz. A SPEA não fez nem tem o poder de fazer splits (não é uma entidade com essa vocação), apenas adopta um nome, de um bicho que foi descrito em 1866. É livre de o fazer. Os primeiros a alterar a nomenclatura foram Hartert e Ogilvie-Grant em 1905 e não apresentaram QUALQUER argumento para o fazer. A partir daí a confusão instalou-se um pouco. Portanto talvez o erro tenha sido dos segundos que acharam que seria uma subespécie do bullfinch da Europa. Mostra-se agora, com um entender da taxonomia e sistemática muito diferente, com técnicas e interpretações actuais, que isto deverá ter sido um erro. O bicho foi originalmente descrito como espécie... É curioso que quando o priôlo foi descrito, Bocage (o grande naturalista) veio a terreiro dizer que não era possível e que eram fêmeas de dom-fafe...
Por um lado dizes que não se deve fazer splits em função de necessidades de conservação (concordo, como disse acima), por outro dizes que devemos escolher a entidade que usa a taxonomia que mais nos convém. Se isto não é contraditório...
A multiplicidade de nomenclaturas é aparente. Se leres com atenção o documento da AERC-TAC de 2003 verás que muitas das tuas dúvidas recentes (Chroicocephalus, etc) estão lá referidas e bem explicadas, mas continuam em estudo. Há graus de cautela diferentes de cada instituição face a novas descobertas. O grande problema da AERC é a sua lentidão, o que de certa forma é responsabilidade de todos os comités, mas é na minha opinião a entidade que apresenta as melhores decisões. Uma vez que muitas pessoas que estão a ler isto não deverão saber, a AERC (Association of European Rarities Committes) engloba todos os comités de raridades europeus. Tem um sub-comité taxonómico encarregue de avaliar, estudar, decidir e divulgar as questões relacionadas com a taxonomia de espécies do Paleárctico Ocidental. Os elementos votantes deste comité incluem o BOURC (o comité inglês), o holandês, entre outros. Parece mais ou menos claro que as decisões assim tomadas são mais cautelosas do que as tomadas por uma única destas entidades e do meu ponto de vista mais valiosas (embora mais lento devido à quantidade de entidades envolvidas, com pontos de vista distintos por vezes). Deve ser o melhor comité taxonómico actual do meu ponto de vista. Assim, seguir uma entidade que é europeia e não de um único país deverá ser mais abrangente e robusta. Penso que não há qualquer razão para seguir um sub-comité taxonómico de um qualquer país (seja inglês, holandês, o que quer que seja), quando existe uma instituição internacional à qual adere o comité nacional que produz trabalho da mais alta qualidade (embora lento, como disse).
Não sei que mais te diga sobre este assunto.

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Mensagem por Rafael Matias Qua Nov 16, 2011 2:25 pm

As espécies referidas para as Selvagens muitas vezes não têm qualquer documentação que seja passível de ser avaliada, o que coloca questões complexas sobre o que se considera um registo seguro ou não... Durante as minhas muitas idas a essas ilhas tentei documentar tudo por forma a tentar obter registos de espécies mal documentadas, mas muitas espécies permanecem sem registos 100% fiáveis o que é pena e problemático. Seria a lista mais curta sim, mas conta com mais espécies do que se possa julgar pois os acidentais são muitíssimos...

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